António Costa, primeiro-ministro de Portugal com sustentabilidade maioritária no Parlamento, falou ontem para os deputados e para os portugueses que ainda tiveram a paciência de o ouvir. A Assembleia da República cumpriu o seu destino de lavandaria quando Costa ali tentou limpar-se e tentou limpar alguns dos seus ministros e o seu partido detentor da maioria por votos dos que foram nas suas loas há alguns meses atrás. Lá falar falou, mas não convenceu. O que disse entrou a cem e saiu a duzentos pelos ouvidos e cérebros lusos da maioria dos portugueses que se sentem encalhados como o Tolin à beira da Praça do Comércio – Terreiro do Paço lisboeta. Encalhados porque sabem que quando ele for “despedido” e se realizarem novas eleições o PSD aliado à direita revanchista e extremista, nazifascista, irão governar novamente em detrimento dos interesses dos portugueses que os sustentam. A eles e aos interesses privados organizados em lóbis mafiosos dos mais ricos, sempre cada vez mais ricos enquanto os plebeus estão cada vez mais pobres mesmo que desencantem segundos empregos, como tantos existem. Mas nem isso os tira da pobreza envergonhada que mal dá para pagar as contas no final dos meses.
Portugal está nas mãos de trafulhas, ladrões, corruptos e de elites desonestas. Doutores da desonestidade rascas e descarados. Muitos deles sempre impunes. Uma máfia organizada que aproveita-se da desorganização e instabilidades que causa. Em Portugal e na União Europeia. No mundo.
Além de Costa e das gulas de trafulhas e outros mencionados há as greves, as lutas laborais dos trabalhadores da educação, dos professores e auxiliares da educação e vigilância dos alunos portugueses. Eles pedem RESPEITO. Qual quê, qual respeito, qual carapuça – pensa Costa para com os seus botões. E assim acontece com profissionais da saúde e tantos outros. Numa pequena frase elucidativa: todos os trabalhadores portugueses, com canudo e sem canudo estão sob as negras nuvens do desprezo, façam eles greves, contestem ou não contestem. Diferente do salazarismo fascista é só porque por enquanto ainda podemos contestar o dito desprezo, os maus-tratos e falta de respeito. É a única diferença sob a égide de um Partido Falsamente Socialista, que é governo e que para calar as imensas fomes das populações avança com esmolas esporádicas.
Com rapidez e clareza: o senhor Costa é um nojo de político que venceu eleições por tantas loas de enganos repetir, sabendo que de facto as alternativas para não vencer como venceu eram escassas ou nem existiam aos olhos dos portugueses facilmente manipuláveis e crentes em santos e santas que não existem, a não ser em formatos ilusórios e desonestos.
Bom dia. O Curto do Expresso vem a seguir. Interprete a prosa atrás como um desabafo sentido da maioria dos portugueses. Parece que sim.
Perto do almoço que talvez não chegue à sua mesa ou só em formato de migalhas, recordamos um dito histórico de Bandarra: “abram os olhos mulas”.
Siga para o Curto e não se vire
contra as greves em curso nem nas futuras. Os da saúde, os professores e todos
os trabalhadores portugueses merecem respeito e trabalho assente
MM | PG
FITA MÉTICA
Ricardo Marques, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia,
A ética republicana é uma séria candidata a palavra do mês. Tem andado por aí, reapareceu em força no debate de ontem no Parlamento e está como mexilhão agarrado à rocha – muito mais resistente do que, por exemplo, um qualquer secretário de Estado no atual governo.
O álbum deles, ou melhor, dos ex-secretários de Estado – uma coletânea que vai do turismo ao tesouro, passando pela agricultura – foi um dos temas principais da animada sessão que decorreu na Assembleia.
António Costa, que há uns dias mantinha uma espécie de dúvida metódica sobre a ação de alguns dos demissionários, alegando não conhecer ainda muitos elementos, surgiu agora demolidor nos argumentos, como se prova neste artigo do Expresso.
Dois exemplos, citando a obra acima referida.
1- “Quanto a Alexandra Reis, que saiu por causa da indemnização milionária que recebeu da TAP durante o processo de rescisão, Costa também não foi brando. O primeiro-ministro assumiu pela primeira-vez que a antiga governante “violou o Estatuto do Gestor Público” quando saiu da TAP para a NAV sem devolver parte da indemnização.”
2- “Sobre a ex-secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, que saiu do Governo por incompatibilidade com o ministro da Economia, Costa foi taxativo: situação de sair do Governo e ir para uma empresa à qual tinha concedido benefícios fiscais é ‘ilegal' e ‘não corresponde à ética republicana’”.
A este propósito, é importante lembrar que as opiniões sobre a dita “ética republicana” divergem, com PS e PSD a concordarem que se trata de um comportamento da ordem da “ética” e da “moral” que vai além do decretado na “lei”.
Nem por acaso, enquanto trocavam argumentos sobre o país no Parlamento, com muitos gráficos à mistura, os dois partidos que mais hipóteses têm de nomear governantes tiveram aquilo a é possível chamar um dia mau.
Mais em termos legais do que éticos.
Em Espinho, a história envolve um presidente de câmara do PS e um antigo presidente de câmara do PSD – que é agora vice-presidente da bancada social-democrata – que fez sete contratos com um escritório de advogados detido em 50 % pelo líder do PSD, Luís Montenegro. A operação da Polícia Judiciária, com o nome de código de Vortex, levou à detenção de cinco pessoas, entre elas o atual autarca de Espinho, o socialista Miguel Reis, por suspeitas de diversos crimes económicos alegadamente cometidos no licenciamento de obras. Foram ainda detidos três empresários, alguns ligados à área da construção civil em empresas sediadas nos concelhos de Espinho e do Porto. E ainda um funcionário da autarquia.
Hoje estarão todos em tribunal.
Ao fim do dia, soube-se que o presidente da Câmara de Condeixa-a-Nova, Nuno Moita, tinha apresentado a demissão de líder da Federação Distrital de Coimbra do Partido Socialista depois de ter sido condenado, com pena suspensa, pelo crime de participação económica em negócio. Nuno Moita salientou que, apesar da pena suspensa, não ficou impedido do exercício de cargos públicos ou políticos, mas considera que esta é "a decisão que se impõe".
Ora, após séculos de discussão filosófica que ocupou mentes tão brilhantes como Aristóteles, Platão, Kant e Hegel, e muitos outros – sempre preocupados com a complexa questão “O que devo fazer?” - chegou-se aqui em Portugal a uma conclusão original.
Para ultrapassar o impasse imposto pela realidade nacional na questão da ética (as últimas semanas provaram que na política cada um tem a sua; uns terão muita, outros pouca, alguns nenhuma, e isto, claro, passando ao lado da discussão sobre se a ética de cada um existe mesmo ou se existe apenas na forma em que é observada pelos adversários...), nasce algo a que se convencionou chamar MPCM, ou Mecanismo de Controlo Prévio das Nomeações.
Uma espécie de fita mética.
A verdadeira natureza do MPCM – no fundo, aquilo que é, o que será e como poderá funcionar funcionará este instrumento nascido na dialética Belém-São Bento - será revelada hoje por António Costa no Conselho de Ministros. Depois, lá pela hora de almoço, será apresentada ao país, que aguarda ansiosamente este avanço filosófico capaz de medir antecipadamente os níveis de ética de potenciais candidatos a membros do governo.
Depois do famoso “Palavra Dada é Palavra Honrada” teremos doravante o “Governante MPCMado é Governante Honrado”.
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O QUE ANDO A LER
Sou grande fã e tenho sempre à mão vários livros de consulta rápida - ou que podem ser lidos como tal. Isto é, do início para o fim, ao contrário, ou do meio para qualquer lado. Um dos mais recentes a integrar a minha modesta coleção é o “Portugal Lendário”, de José Viale Moutinho (Temas e Debates).
A maravilha destas obras, e dos recheados índices, é que nos permitem viajar à velocidade da luz.
Podemos começar em Caminha, onde esteve para nascer um centro de exposições transfronteiriço, e onde em tempos, reza a lenda, viveu alguém chamado Aginha, um perigoso salteador da Serra de Arga. “Até as criancinhas eram ameaçadas com o Aginha para comerem duas colheres de sopa”, conta Viale Moutinho.
Num ápice, vamos da 29 à 112, rumo a Vinhais, onde contos recentes falam de contas antigas. Outros, já quase esquecidos, resgatam ao tempo os feijões de Madre Garcia. “Sabia-se lá como é que ela fazia, mas a mesma quantidade de feijões administrada pelas mãos da Madre Maria Garcia durava mais tempo e para mais gente”.
São onze páginas até à 123, mesmo ali em Espinho, onde não há cabeça que não tenha problemas. A coisa não é nova. Diz-se que um dia apareceu perto de uma ribeira em Silvalde uma serpente com sete cabeças, que comia todos os animais de criação. O povo deu-lhe caça, matou-a e enterrou-a junto ao pilar de uma ponte romana. Para comemorar a luta, foi construída uma pequena capela.
“Porém, uma cheia da ribeira deitou abaixo a capela, e o azulejo que lá estava passou para a povoação, onde já mesmo o Largo da Bicha-das-Sete-Cabeças”, lê-se no livro.
Para quem não conhece, parece que o tal largo é mesmo ao lado do complexo de ténis, a dois quilómetros da Câmara Municipal de Espinho.
Desejo-lhe uma excelente quinta-feira. Amanhã há Expresso nas Bancas. E até lá estamos sempre consigo em expresso.pt
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