segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

GOLPE DE BRASÍLIA E A DIVISÃO ADMINISTRATIVA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os invasores de Brasília destruíram e roubaram documentos. O gabinete de um juiz do Tribunal Supremo foi totalmente vandalizado. Centenas de documentos espalhados pelo chão mostram que os “manifestantes” andavam à procura de papelada comprometedora para quem organizou, estimulou e financiou os assaltos que, segundo a lei brasileira devidamente alterada por Bolsonaro para atacar a esquerda, são actos terroristas.

O Brasil balança entre o golpismo de raiz nazi e a democracia. A Casa Branca repete até à exaustão que apoia o governo democrático saído das eleições que deram a vitória a Lula da Silva. Cheira-me a desculpa de mau pagador. O que aconteceu ontem em Brasília tresanda a golpe de estado à imagem e semelhança do que aconteceu no Chile quando a CIA derrubou o Presidente Allende e colocou no seu lugar o nazi Pinochet. Alguma coisa falhou à última hora para Biden bater com a mão no peito, numa confissão pungente de amor às forças políticas progressistas que ganharam as eleições no Brasil.

Os acontecimentos de domingo em Brasília estão envoltos numa nuvem de dúvidas e incertezas. Quando for explicado (se alguma vez alguém explicar…) o que foi destruído e roubado do Tribunal Supremo e do Palácio Presidencial então vai fazer-se luz. Uma coisa é certa. Instituições religiosas como a Igreja Universal do Reino De Deus estão implicadas no golpismo, pelo menos até à cintura. Mas é quase certo que a implicação vai até ao pescoço. O dono do negócio, Edir Macedo, bispo evangélico que se intitula “televangelista”, anunciou que vai deixar o Brasil, face à vitória do Presidente Lula da Silva. Quer ficar à frente do negócio mas para isso tem de afastar o Presidente Lula. 

O povão que sustenta a “igreja” não quer perder o “televangelista” e partiu para o golpe. Ninguém cante vitória antes do tempo porque a festa só agora começou. Milhares de golpistas entraram em catadupas na Casa da Democracia, no Tribunal Supremo e no Palácio Presidencial. Forças de segurança colaboraram no assalto. Governadores “bolsonaristas” (nazis) falam grosso. As próprias forças armadas têm admitido que quartéis sejam cercados pelos “manifestantes” desde as eleições, como se fosse normal cercar instalações militares. 

Só hoje a polícia decidiu mandar levantar o acampamento de golpistas em frente às instalações do quartel-general do Exército em Brasília. Mas noutros estados brasileiros já existem cortes de estradas e cercos a mais quartéis. 

No meio do golpe e face às conivências claras de forças armadas e de segurança, há um aspecto positivo e de aplaudir entusiasticamente. O Presidente João Lourenço, em cima da hora, condenou as forças golpistas em nome de Angola e na sua qualidade de presidente em exercício da CPLP. Honrou o nosso país e honrou o MPLA que é membro da Internacional Socialista e, portanto, anti nazi. 

Muda o disco. A administração da Sonangol considera “estratégica” a sua posição accionista no Banco Comercial Português (BCP) e na GALP. Até encara a hipótese de aumentar a posição no banco onde já é accionista de referência.

Afinal os “marimbondos” também fizeram coisas boas. É da mais elementar justiça lembrar que o Presidente José Eduardo dos Santos tomou a decisão de avançar para essas posições “estratégicas”. Estou em condições de revelar que os 20 por cento da Sonangol no BCP só não são mais porque o PCA da empresa na época, Manuel Vicente, não acompanhou um aumento de capital para o qual se tinha comprometido, o que causou sérios problemas à instituição. Agora, se houver aumento de capital, a petrolífera nacional não perderá a oportunidade de acompanhar.

Ainda bem. Temos de corrigir o que estás mal e melhorar o que está bem. Quanto mais não seja para não batermos em cheio no muro da má gestão. A GALP e o BCP são empresas importantes e é bom que uma empresa pública angolana tenha posições accionistas fortes nas duas. Parece que o sistema capitalista está feito para sacar lucros, quantos mais, melhor.

A CNN Portugal, pela voz de um agente avençado, atacou violentamente o Presidente João Lourenço por ter condenado os acontecimentos de ontem em Brasília. O filhote da CIA e do Biden disse que o Chefe de Estado também não é democrata porque recusou uma comissão internacional para avaliar os resultados eleitorais em Angola e Angola ainda tem muito caminho a percorrer até ser mesmo uma democracia.

Nada de novo. Mas esta CNN Portugal é parceira privilegiada da TPA e a estação da CIA em Lisboa é recebida em Angola com passadeira vermelha. Quem tem amigos assim, não precisa de inimigos. Olhem para o Rafael Marques e outros agentes do banditismo mediático. Comem na manjedoura do poder e cospem em quem lhes dá de comer.

Três instituições que se não existissem até as árvores cresciam ao contrário, acabam de dar um ar da sua graça. Os seus nomes: LAB, OPSA e ADRA. São o mesmo produto mas com nomes diferentes e nelas pontificam os mesmos inteligentes, mentores da tal “frente patriótica” porque têm vergonha de se apresentarem como criados às ordens do Adalberto.

LAB, OPSA e ADRA ontem convocaram para hoje uma conferência de imprensa para se pronunciarem sobre a proposta de Divisão Político-Administrativa “ e mais especificamente sobre o processo de consulta pública”. Porquê esta emergência se o processo já tem barbas?

Porque o Adalberto disse recentemente que a proposta não tem pés nem cabeça. Foi elaborado por quem não está bom do juízo. E os inteligentes do LAB, OPSA e da ADRA, caladinhos. Assim não justificam os fundos dos diamantes de sangue e ficam sem a massa! Para evitar a seca de dinheiro, vieram a correr convocar uma conferência de imprensa para falarem da proposta de Divisão Político-Administrativa. Vamos ver se têm juízo ou falta de vergonha e defendem a divisão administrativa herdada do colonialismo.

Confesso que estava à espera de uma “conversa na mulemba” no Novo Jornal do engenheiro agrónomo Fernando Pacheco. Saiu conferência de imprensa de LAB, OPSA e ADRA. Isto de dar a cara pelo banditismo político reinante tem que se lhe diga. Há que salvar as aparências.

*Jornalista

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