Rosália Amorim* | Diário de Notícias | opinião
A presidente da TAP pode vir a receber um prémio de dois milhões de euros se os objetivos forem cumpridos. Na prática, os trabalhadores - e os portugueses, que se sentem acionistas da companhia, enquanto contribuintes - ficam com a clara sensação de que, quanto maiores forem os cortes e mais sacrifícios a líder pedir aos trabalhadores, melhor e mais gordo será o cheque com o bónus da presidente.
Quem fez e anuiu a este contrato? Numa empresa como esta, intervencionada e que suga dinheiro público, um bónus desta dimensão não pode ficar sem ser escrutinado, sem explicação aos contribuintes. O mesmo pode ser ofensivo tanto para estes como, em particular, para os trabalhadores da companhia.
Além do bónus, vamos aos salários: a administração executiva da TAP recebeu perto de 1,5 milhões de euros em salários no ano de 202. Nesta lista, estava ainda Alexandra Reis - que se sentou e levantou da cadeira de secretária de Estado do Tesouro, envolta em polémica, por ter auferido meio milhão de euros de indemnização -, que acabou por sair da TAP. Enquanto administradora, ganhou 245 mil euros em 2021, segundo o Relatório de Governo Societário desse ano.
Christine Ourmières-Widener, a presidente executiva, leva a maior fatia do bolo salarial, um terço do total: 504 mil euros anuais.
Os restantes quatro administradores arrecadaram, cada um, 245 mil euros. Nesse ano, segundo o documento, devido à difícil situação financeira da empresa, nenhum recebeu componentes variáveis ou prémios. Em plena pandemia, realmente era só o que faltava para ter mais uma cereja no topo do bolo.
Nascida em França e a trabalhar em Portugal, a presidente da TAP pode ainda receber até 30 mil euros de subsídio de residência.
O valor determinado para os
administradores executivos é o que mais pesa no total de remunerações da
transportadora, refletindo um corte de 30% devido à situação da empresa. Mas,
entre os administradores executivos e não-executivos, o Conselho Fiscal e a
Assembleia-Geral, a TAP pagou em 2021 quase dois milhões
Desse total, praticamente 353 mil euros foram pagos aos cinco administradores não-executivos.
Numa empresa privada, nada disto levantaria ondas. No privado são os acionistas que decidem e têm a faca e o queijo na mão e, para máximo desempenho e máxima meritocracia, deve mesmo haver retribuição e prémios a condizer. Numa empresa que ainda é pública, pede-se um pouco mais de decoro.
*Diretora do Diário de Notícias
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