terça-feira, 31 de janeiro de 2023

A ALIANÇA E O ABRAÇO AMIGO DO PSD DE MONTENEGRO A VENTURA E AO CHEGA

PORTUGAL

Nogueira Pinto, um papa da extrema-direita “democrática”, dá o chuto de saída em declarações ao Diário de Notícias sobre a campanha de mentalização do abraço amigo do PSD, falso social-democrata, ao partido de Ventura chefe do Chega. A aliança do PSD ao Chega está mais perto de se concretizar que antes de Montenegro assumir a chefia do partido fundado por Francisco Sá Carneiro. Aliás, o namoro já vem desde a chefia de Rui Rio, tendo progredido em laços secretos que só passam despercebidos aos portugueses eleitores mais distraídos ou… tendencialmente neofascistas. A política portuguesa é o que é, a extrema direita ganha terreno no país, na Europa e no mundo. Parece que quase todos se esqueceram dos anos tenebrosos do hitlerismo, do holocausto, das desumanidades do nazi-fascismo… e em Portugal do salazarismo opressor, criminoso, ditatorial. A desumanidade e antidemocracia avança a passos largos nas suas botas cardadas. É o que se pode tirar por ilação nas declarações que se segue, hoje publicadas no Diário de Notícias. Vão ler e reparem que há outros que declaram que não estão nada de acordo com o namoro e futura aliança PSD-Chega. Além disso também existem os desonestamente declarados "ainda titubeantes" mas secretamente na linha do Chega. Chega? Pudera!  (PG)

PSD recusa dizer não ao Chega

Jaime Nogueira Pinto diz que se vive, nos sociais-democratas, um "dilema agudo" que prolonga a "ambiguidade". O cenário de um acordo de governação entre PSD e Ventura não é "pacífico" no partido de Luís Montenegro.

Artur Cassiano | Diário de Notícias

Admite negociar um acordo parlamentar ou de governo tal como sugere André Ventura? A pergunta dirigida a Luís Montenegro ficou sem resposta.

Marques Mendes, atual conselheiro de Estado, é claro: "A ideia ambígua de que, se ganhar eleições, o PSD pode fazer um acordo com o Chega só beneficia o partido de André Ventura. À direita, dá um sinal de que votar num partido ou noutro é irrelevante, retirando assim voto útil ao PSD. Ao centro, impede o PSD de conquistar eleitores moderados. O PSD tem vantagem em fazer o que fez a IL: "cortar" com o Chega."

Jorge Moreira da Silva, candidato derrotado por Luís Montenegro nas últimas diretas do PSD, em maio de 2022, é mais direto ainda: com o Chega "nunca, jamais, em tempo algum". "Viola os nossos valores e princípios. E nisso não se transige." E vai mais longe: "Considero lamentável a presença do PSD na Convenção do Chega. É uma inaceitável normalização de um partido racista, xenófobo, extremista."

Na direção de Luís Montenegro, pelo que apurou o DN, a questão de "clarificar a posição" do partido não é "pacífica" [há quem como Paulo Rangel já tenha dito que "acordos com o Chega são uma linha vermelha inultrapassável"] e nem a todos - e aqui o leque do desagrado estende-se a alguns deputados e dirigentes locais - agradou que Miguel Pinto Luz, um dos seis vice-presidentes, não tivesse afastado, depois de o PSD ter sido atacado "violentamente" durante três dias na Convenção Nacional do Chega, a ideia "criada" por André Ventura de que está "aberta a possibilidade de começarmos a criar a tal alternativa [um governo PSD/Chega] que o Presidente da República pediu, caso o governo socialista caia" - o cenário de eleições antecipadas depois das Europeias foi admitido por Luís Montenegro em entrevista ao jornal Eco.

Durante a disputa interna pela presidência do PSD, o antigo secretário de Estado de Durão Barroso, ex-consultor de Cavaco Silva e antigo ministro do Ambiente no governo de Passos Coelho, disse [frase agora sublinhada] não ter dúvidas de que "enquanto o PSD não for claro [recusando o Chega], estamos a encolher a nossas chances eleitorais".

A resposta de Miguel Pinto Luz - que não viu "falta de clareza" no que disse no domingo -, de que "este não é o local, não é o tempo para fazer essa discussão", não tornou clara uma recusa do PSD [mas devia, dizem as fontes ouvidas pelo DN] às "exigências" do Chega, nomeadamente, por exemplo, ter "quatro a seis ministérios".

Nem sequer, e é outro reparo, foi "feliz" a comparação de que o "Chega joga o jogo da democracia um bocadinho como o Bloco de Esquerda", ou ter dito que o Chega é "o Bloco de Esquerda da direita (...), alguém que procura o desconforto, o berro, a acrimónia, para poder arregimentar cada vez mais apoios".

E porque razão ninguém quer, neste momento, dar a cara explicando o que defende? "Respeito institucional" pelo líder do partido.

A exceção é João Moura, deputado, que diz que o PSD "não tem de dizer [se aceita acordos], nem de estabelecer ou de deixar de estabelecer [linhas vermelhas]. O PSD neste momento o que tem de fazer é apresentar as suas propostas, dizer aquilo ao que vem".

"Porque é que haveremos de estar a antecipar uma dor?", pergunta. E responde: "É uma precipitação".

O também líder da distrital de Santarém, que fez parte da delegação social-democrata que esteve na Convenção do Chega, não considera "que seja uma ambiguidade coisinha nenhuma" não definir uma posição clara [dizer sim ou não a acordos de governo] porque "catalogar o espetro político da esquerda e da direita nada diz às pessoas". "As pessoas querem é ver os problemas resolvidos. Não tem a ver com se é de esquerda ou se é de direita", diz.

O antigo ministro-adjunto de Passos Coelho, Miguel Poiares Maduro, assumiu, em 2020, uma divergência evidente com esta tese, ao defender que "a ambiguidade [no caso, recusar dizer não] é um equívoco estratégico, porque vai levar a que se reforce cada vez mais o Chega".

"É a terceira força política na Assembleia da República. O que significa que há muito eleitorado que se reviu no partido Chega. É um partido que tem de ser levado em conta. Não há aqui uma barreira que se tem de estabelecer, não se tem de construir um muro em torno de um partido, seja ele qual for: da esquerda à direita, da extrema-esquerda à extrema-direita. Nós temos de respeitar a vontade popular e neste momento o respeito tem de ser maior porque eles têm 12 deputados", justifica João Moura.

O único senão, exemplifica o deputado social-democrata, são "os radicalismos quer de esquerda, quer de direita. Esses, sim, o PSD tem de os combater. Há uma barreira vermelha em vários temas: pena de morte, castração química, uma série delas, direitos humanos, igualdade de género... aqui o PSD coloca uma altíssima barreira vermelha. Não permitiremos nunca na sociedade democrática em Portugal que isso possa singrar".

Jaime Nogueira Pinto considera que "o Chega foi diabolizado, como seria diabolizado qualquer partido que aparecesse fora da correção política, social e cultural oficial do Regime. E, por isso, o PSD, que é um partido histórico do Regime, ideologicamente até próximo do PS e com ele parte do centrão que nos governa há quase meio século, tem dificuldade em passar essas "linhas vermelhas" que a esquerda decretou".

E aqui surge o dilema da "ambiguidade": "Considerando realidades e expectativas - a votação em Ventura nas presidenciais e as expectativas que as sondagens dão ao Chega -, será muito difícil, senão impossível, fazer-se hoje um governo alternativo ao PS sem o Chega. Daí o dilema agudo do PSD, entre entender-se com o Chega e enfrentar a "diabolização" mediática, ou não se entender e continuar na oposição. Não é mesmo nada fácil de resolver", afirma o professor e analista político doutorado em Ciência Política.

Ventura aponta a governo na Madeira

A pergunta foi feita a 27 de janeiro e ficou sem resposta. Admite, caso seja necessário para manter a maioria, um acordo parlamentar pós-eleitoral com o Chega ou afasta essa possibilidade? Miguel Albuquerque, presidente do governo regional da Madeira, que disse ao DN "não precisar do CDS [parceiro de coligação] para viver", optou pelo silêncio. Ventura, ao DN, afirmou que "se esse cenário [o PSD não conseguir maioria] se vier a verificar, o Chega avaliará" das "condições políticas para formar governo". Miguel Castro, líder regional do partido, admitiu: "Iremos sentar-nos à mesa e obviamente conversar". José Manuel Rodrigues, do CDS/Madeira, não acredita que seja preciso o Chega para governar, mas lembra ao PSD que "os casamentos também se desfazem".

Imagem: © Manuel de Almeida/Lusa e Leonardo Negrão/Global Imagens

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