Artur Queiroz*, Luanda
No Negage havia um fotógrafo profissional, o senhor Correia. Montou o estúdio na descida para o rio Kaua e era vizinho do grande camionista Arménio Bicho, tripulante de um camião Volvo BigJob. Do Kiseke ao Dambi, da Aldeia da Missão ao Puri, chegavam todos os dias grandes grupos de aldeãos para serem fotografados. Aquilo era mais do que feitiço!
O fotógrafo Correia tinha um grande banco corrido, construído pelo senhor Andrade Estraga a Tábua. Uns clientes sentavam-se, habitualmente mulheres e crianças, outros ficavam por trás de pé. As donas vestiam panos do Congo garridos e lenços na cabeça. Os homens punham camisa e casaco ou casacão de fardo, calçavam alpercatas de pneu. As crianças, calção ou vestidinho de chita. O artista metia a cabeça debaixo de um pano, focava e disparava. Depois metia o cliché numa bacia com revelador e ia aparecendo a fotografia, ante gritos de admiração de quem se via aparecer lentamente no papel.
Um dia pedi à minha Mamã para me levar à Foto Correia. Ela esperou que chegassem um sapatinhos de alvaiade à loja do senhor Esteves. Mandou fazer uma camisa de colarinhos longos em pano gabardina e uns calções de caqui. Assim vestido parecia mesmo um branco. A foto não foi feira no banco corrido mas lá dentro, no quintal. O fotógrafo meteu a cabeça debaixo do pano e disse-me: olha o passarinho! Eu olhei muito espantado e não vi passarinho nenhum. Fiquei furioso. A foto saiu estragada. Para sair uma coisa em condições o artista gastou seis clichés. Aquela foi a minha primeira foto. Uma festa!
O senhor Correia não facilitava
nada e quando as imagens apareciam no papel dizia logo: Paga já! Ninguém
recebia a foto sem primeiro pagar meia cinco por cada retrato e cinco angolares
pelas fotos de grupo mas os clientes tinham direito a cinco cópias. Caríssimo.
E não aceitava pagamentos
Em Luanda encontrei um fotógrafo paga já, no Largo do Kinaxixi, envolvimento da estátua chamada Maria da Fonte, que dizia imenso aos angolanos e particularmente aos luandenses. Malhas que o colonialismo tece. Agora está lá um mamarracho. Uma espécie de cadáver de prédio gigantesco, destemidamente plantado por cima da velha lagoa que foi enxugada para construir, nas bordas, o mercado e o edifício do museu. Eu recebia todos os dias meia cinco para comprar à dona Iria uma sandes de chouriço e uma cocopinha, na cantina do liceu. Não comia. Não bebia. Esbanjava o dinheiro no fotógrafo paga já.
Assim começou a minha carreira de falido. Pedia namoro a uma menina e se ela dizia que sim íamos logo ao Kinaxixi fazer uma fotografia. Um dia, quando recebemos as duas cópias, a princesa disse-me que afinal não podia aceitar o meu pedido porque era namorada espiritual do actor James Dean, falecido num desastre de automóvel. Não faz mal, meu amor! Eu não sou ciumento.
Nem imaginam o sucesso que tive desde então. Andava de amores com a namorada do James Dean! Engatatão mais bem-sucedido do que eu não existia da Vila Clotilde à Samba. Dos Coqueiros ao Bairro Operário e Sambizanga. E cada vez mais falido até atingir o estado supremo da falência aqui e agora.
Antes falido do que escriba paga já! O que vai por aí! É preciso difamar, manipular, mentir, acusar sem provas? Avançam os escribas paga já. Escrevem os recados que o dono envia e recebem logo os 30 dinheiros. Um tal Maurílio Luiele, dirigente da UNITA, também montou a quitanda. Escreveu isto: “Nos últimos tempos, multiplicam-se informações sobre práticas ou condutas pouco abonatórias praticadas por influentes membros do Poder Judiciário e de instituições executivas muito ligadas à administração da Justiça que comprometem assustadoramente a credibilidade da justiça em Angola”.
Pormenor a ter
O sicário Maurílio Luiele diz que as tais informações “também povoam, sobremaneira, o nosso ecossistema informativo actual, com destaque para as redes sociais, notícias ou denúncias que nem sequer são anónimas, do envolvimento de altos responsáveis do Ministério do Interior e do Serviço de Investigação Criminal no tráfico internacional de drogas”. Escreveu e recebeu. Mais um paga já implacável.
O sicário a soldo voltou à carga na amplificação de mentiras e calúnias. Ele é tudo o que os donos quiserem, até intriguista e leproso moral. Leiam o que escreve sobre a Presidente do Tribunal de Contas: “Justamente no momento em que traço estas linhas, entra-me telefone adentro uma notícia que diz ‘Presidente da República, RETIRA confiança política a Exalgina Gamboa em reunião mantida há instantes na cidade alta’! A notícia é falsa mas o sicário da UNITA quer isso mesmo, chafurdar na mentira e na falsidade.
O escriba paga já Maurílio deu um passo em frente na manipulação e já chama a esse lixo mediático “notícias”. Acaba assim o recado encomendado:
“O que está por trás desta
enxurrada de notícias que afectam contundentemente o Poder Judicial é algo bem
mais profundo, que urge esclarecer para bem do fortalecimento das instituições
republicanas que garantem a estabilidade política
É assim que a UNITA vê a democracia. Os donos encomendam “enxurradas” de lixo mediático, o Maurílio Luiele chama-lhes “notícias” e está feito. As vítimas têm de ser demitidas. Assim mandam os julgamentos na praça pública!
Outro escriba paga já é Ismael Mateus. Recebeu mundos e fundos para fazer um jornal que morreu à nascença. Colocaram-no à frente de uma instituição do Estado para o qual tinha tanta preparação como eu tenho para tripular o satélite Angosat II. Hoje é campeão do combate à corrupção. Recebeu os 30 dinheiros e escreveu isto:
“Governantes, juízes dos principais tribunais e membros da Polícia Nacional são acusados publicamente de casos de corrupção, nepotismo, impunidade e bajulação, sem que haja uma acção de responsabilidade política e prestação de contas perante os cidadãos. O tumular silêncio das autoridades e da imprensa oficial face às reiteradas denúncias coloca obviamente em risco não só a campanha pública de moralização do Presidente João Lourenço, mas também descredibiliza profundamente as mais fortes instituições do país, como são os tribunais superiores, a Assembleia Nacional e o Governo”.
Este escriba paga já usa a alcunha de jornalista e escreveu esta enormidade no Jornal de Angola! Ele diz que governantes, juízes e membros da Polícia Nacional “são acusados publicamente”. Por quem, Ismael? As acusações no Estado de Direito são feitas pelo Ministério Público e não pelos escribas paga já ao serviço do Miala ou da UNITA. E essas acusações são sujeitas ao contraditório. Só chegam a Tribunal se forem validadas por juízes ou juízas. Que parte o escriba paga já Ismael Mateus não percebe?
Para ninguém ter dúvidas, tal como o director o Novo Jornal, também Ismael quer colaborar com o Miala escondido atrás do “jornalismo investigativo”. Alguém explique a este escriba paga já que todo o jornalismo é investigativo. Para construir uma mensagem informativa com três parágrafos é preciso investigar. O resto é leprosaria moral atacando a honra do Jornalismo.
O regime democrático está em perigo. É preciso deitar abaixo o General Higino Carneiro e avançam os escribas paga já. Até recorreram a ataques racistas! Sabem quem foi um dos autores desse crime de ódio? Filomeno Vieira Lopes! Meteu-se com a UNITA já virou racista. Que eu saiba, os crimes de ódio não necessitam de queixa. O Ministério Público já devia ter anunciado um processo contra uma tal Mwang TV e os participantes na “Grande Conversa”: Master Ngola Vunji, Abdu Ferraz e o porcalhão Filomeno. Um cidadão angolano foi vítima do mais repugnante ataque racista. Fomos todos atacados. Fico à espera de ver o resultado.
O dono também recorreu a uma tal Neth Nahara, escriba paga já, mas fina. Não é uma kitata vulgar como o Filomeno ou o Ismael. Diz que está contaminada com o vírus da Sida e foi o General Higino Carneiro (dador de sangue, logo saudável!) que a contaminou. O Miala vai ser o sucessor de João Lourenço na Presidência da República. Até lá não fica pedra sobre pedra da Angola que milhões de angolanas e angolanos construíram. Chefe Poeira volta. Estás perdoado.
* Jornalista
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