terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Portugal | LUTAR PELOS DIREITOS

Nuno Marques* | Jornal de Notícias | opinião

Sobretudo nas semanas mais recentes, a luta dos professores tem ocupado grande parte da atenção dos meios de comunicação.

É inegável que a maioria das exigências apresentadas são justas e ninguém pode verdadeiramente dizer que haja alguma reivindicação que não seja razoável.

Salários congelados há vários anos, professores que nunca conseguiram entrar no quadro ou que continuam, ano após ano, a andar de casa às costas sem perspetivas de futuro são alguns desses problemas cuja resolução tem vindo a ser adiada.

Muitas destas exigências são transversais a vários setores profissionais, até mesmo do setor privado, mas nem isso pode servir de desculpa para ignorar ou desvalorizar a luta dos docentes.

Porém, se os motivos são, assim, mais do que justos, quanto aos métodos, bem, esses deixam muito a desejar e é também inegável que "as formas imaginativas" de fazer greve ameaçam ir além de uma luta justa e democrática.

As greves, uma forma válida de os trabalhadores lutarem pelos seus direitos, são feitas para causar dificuldades. Não há greves sem perturbação. Uma paralisação de transportes que não pare esses mesmos transportes ou uma greve de professores que não interrompa as aulas é inconsequente. Mas a imaginação dos sindicatos dos professores, alguns deles mais preocupados com guerras fratricidas, vai além desse objetivo.

Os pagamentos aos funcionários para fazerem greve e fecharem as escolas, as escalas rotativas e intermináveis de paralisações são apenas alguns exemplos. Não falando sequer das óbvias consequências para os alunos e para a qualidade do ensino, convém que os professores percebam quando estiverem perante a decisão de cruzar a linha que separa uma luta justa de um conjunto de exigências de um setor em risco de se fechar sobre si mesmo.

E, se perderem a noção desse momento, podem também perder o capital de apoio que conseguiram acumular. Com consequências que podem demorar muito tempo a ultrapassar.

*Editor-executivo adjunto

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