terça-feira, 14 de março de 2023

Angola | BARRIGAS DE ALUGUER E A LATA DO ACOMODADO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O ministro da Economia, Mário Augusto Caetano João, está em Tóquio e numa entrevista à TPA disse que empresários japoneses têm em Angola uma barriga de aluguer para os seus negócios. Nisso os nipónicos são peritos, adoram alugar barrigas. Como sua excelência é muito jovem pode não saber mas eu informo. As grandes fábricas e marcas japonesas colaboraram activamente com o regime racista de Pretória. Para darem a volta às sanções da ONU, deslocalizaram grandes fábricas para a África do Sul e autorizaram os sul-africanos a fazer seus, vários modelos e marcas. A Toyota excedeu-se na colaboração. Só Washington e Londres foram tão colaborantes com o regime de apartheid e a Irmandade Africâner.

Os japoneses fizeram do couto mineiro de Cassinga uma barriga de aluguer altamente lucrativa. Descobriram que o minério de ferro tinha importantes indícios de oiro. Então eles começaram a exportar toneladas de inertes pelo porto mineiro do Giraul. No Japão separavam o ouro do ferro. Quando o “negócio” foi descoberto foram embora. Os japoneses são danados para roubar no peso e na medida. Como todos os imperialistas e colonialistas. 

O Presidente João Lourenço falou com o imperador, com a imperatriz e também com os empresários. Garantiu aos comilões dos indícios de oiro que “Angola respeita e protege a propriedade privada”. Alguém tem de explicar a sua excelência que o empresário angolano Carlos São Vicente ficou sem todas as suas propriedades, que já foram ocupadas por serviços do Estado sem que exista uma sentença transitada em julgado. Está preso. E continua preso pelo menos até ao fim do mandato presidencial. 

Os japoneses sabem que é assim. Mas em tempo de guerra não se limpam as armas. Na Ucrânia o armamento da OTAN (ou NATO) seja voador, blindado ou disparador é queimado mal entra no país. O Silicon Valley Bank faliu à conta da guerra. Os japoneses, vivaços, sabem que vão pagar forte e feio. Como pagaram a falência do Lehman Brothers. Os gringos vão pôr o ocidente alargado até ao Japão a pagar dez vezes mais do que perdem com este infausto acontecimento para a economia de mercado. 

Angola também recebe a factura. Mas com desconto. Porque hoje, ao lado do primeiro-ministro japonês, o Presidente João Lourenço declarou que condena a guerra na Ucrânia. Exigiu o fim dos combates. Porque o “povo ucraniano está a sofrer muito”. O povo russo também sofre. E em 2014 as hordas nazis de Kiev semearam a morte nas repúblicas independentistas do Leste. Segundo a ONU, aquela guerra teve contornos de limpeza étnica. Não conheço nenhuma declaração condenando esses massacres. Que continuam!

Nestas coisas a melhor forma de chegarmos a um consenso é pensar. O MPLA desencadeou a Luta Armada de Libertação Nacional no dia 4 de Fevereiro de 1961. Quando a direcção do movimento decidiu levar a guerrilha ao Leste, o novo presidente da União Soviética (hoje Federação Russa), Leonid Ilitch Brejnev, ignorou as relações do passado com a vanguarda revolucionária do Povo Angolano e condenou a guerra. Exigiu a Agostinho Neto o cessar-fogo imediato e a retirada das forças guerrilheiras para a República Popular do Congo e a Zâmbia. Porque os colonos e os militares ocupantes estavam a sofrer muito! (Isto é ficção)

Antes da Independência Nacional Angola foi invadida pelas tropas do Zaire de Mobutu e da África do Sul racista. O mesmo quadro depois do dia 11 de Novembro de 1975. Estavam as FAPLA lutando pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial quando o Presidente Andropov disse em Moscovo: Nós estamos contra a guerra em Angola. O MPLA deve calar as armas imediatamente, O povo sul-africano está a sofrer muito. Entreguem o Sul de Angola ao Savimbi. (Esta parte, felizmente, também é invenção minha)

Esta parte já não é ficção. As gloriosas FAPLA ganharam a guerra pela Soberana Nacional e a Integridade Territorial. Deram uma tareia militar aos karkamanos. Destroçaram o regime racista de Pretória, libertaram Nelson Mandela, libertaram o Povo Sul-africano do apartheid, libertaram a Namíbia. O senhor Gorbatchov proclamou: Ganharam a guerra? Então agora entreguem-se ao capitalismo que isso do socialismo acabou. Já está tudo tratado com o meu patrão Donald Reagan, presidente dos EUA. 

É isso mesmo. Angola não se meteu na Guerra da Ucrânia em 2014, quando existia uma limpeza étnica no Leste do país. Não tem nada que se meter agora. Porque significa uma traição a quem ajudou os angolanos a derrotar os colonialistas e os invasores estrangeiros. 

Gary Lineker foi uma estrela do futebol mundial e agora é comentador da BBC. Quando o governo de Londres decidiu prender e deportar todos os refugiados que cheguem às costas do Reino Unido, ele protestou e comparou esta medida às perseguições de Hitler. Uma política digna dos nazis. No respeito escrupuloso pela liberdade de expressão, o dono da BBC (governo de Londres) despediu Lineker. Ainda bem. A reacção foi esmagadora e teve de reintegrá-lo. Mas ficou provado que isso de Liberdade de Imprensa é só para as colónias e protectorados. Desgraçadamente a Angola entrou nesse clube de papel passado por Washington, Paris, Londres, Tóquio e outros membros do ocidente alargado até Luanda. 

Ismael Mateus foi admitido como repórter na RNA em 1982. Sabia tanto de jornalismo como eu sei de Finanças. Nada. Trepou na carreira sem saber nada de nada porque tinha na cozinha um padrinho influente: Francisco Simons. O Presidente José Eduardo dos Santos, em homenagem ao seu estado de nítido nulo, colocou-o à frente da Escola Nacional da Administração Pública. Um tacho para um acomodado de carreira.

Hoje continua atrombado ao Orçamento Geral do Estado à força toda. E desavergonhadamente diz que o recrutamento de funcionários públicos exige “a aplicação de critérios baseados no mérito e na competência e não em factores subjectivos como o amiguismo e a confiança pessoal”. A sorte dele é que ninguém lhe dá ouvidos. Caso contrário hoje mesmo era riscado das listas de pagamentos (recebe por várias) e finalmente tinha de vergar a mola para comer. Se ainda houver lugar para roboteiros…

O acomodado diz mesmo que “a ausência de critérios de avaliação por mérito e o excessivo poder discricionário dado aos chefes, criaram uma administração pública corrupta e parcial, que potencia a promoção dos bajuladores, intriguistas e familiares em detrimento dos trabalhadores honestos”. Este sabe do que fala quando fala dele próprio e se vê ao espelho.  

*Jornalista

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