Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião
Quem ontem escutasse Medina e Galamba podia jurar que nada do que aconteceu na TAP tem mão do governo de António Costa, que ambos servem. O novo CEO, Luís Rodrigues, "é um português com muita experiência, que até já esteve na administração da companhia", descrevia o novo ministro das Infraestruturas, como se não tivessem sido os seus camaradas Pedro Nuno Santos e António Costa a escolher os destinos da transportadora. Como se a opção por uma CEO estrangeira, através de um head hunter americano, não tivesse sido tomada pelo governo socialista como sinal de desprendimento - ainda que os mais cínicos digam que o governo não encontraria em Portugal quem lhe desfizesse a TAP em TAPzinha e desse a cara pelo despedimento de milhares de trabalhadores. Como se o empurrão dado a Miguel Frasquilho, pondo no seu lugar Manuel Beja a representar o acionista Estado, em 2021, não tivesse sido vontade do próprio António Costa.
"Notem que fizemos tudo com rapidez e transparência", sublinhava ontem Fernando Medina, feliz porque o caso que rebentou quando chamou Alexandra Reis ao seu gabinete, como secretária de Estado, está resolvido com a saída de um ministro, dois secretários de Estado, CEO e chairman da companhia, ao longo de três meses. Ainda que o tema não seja quanto Alexandra Reis recebeu porque foi forçada a sair, mas antes que o governo, o governo de António Costa, tenha firmado contratos nestes termos com os administradores da TAP. E se o primeiro-ministro ignorava o que Pedro Nuno Santos fazia, e é grave, ou tinha conhecimento, e é ainda mais incrível.
Para o PS, a tempestade passou e a maior prova disso é a insistência para ouvir em comissão de inquérito quem assinou a privatização. Não quem gastou milhões de euros dos cofres públicos para recuperar a transportadora para a esfera do Estado, sem racional que não o preconceito ideológico, para dois anos depois confessar a via da privatização como única saída. Não quem injetou, numa dúzia de meses, milhares de milhões na companhia, para cumprir os objetivos de reestruturação, contratando uma CEO por meio milhão de euros/ano, acrescidos de outro tanto em bónus caso cumprisse a missão para a qual fora contratada. Não quem renacionalizou a companhia travando o seu crescimento com investimento privado e substituindo-o por despedimentos em massa, corte de salários e rotas, enquanto se tentava comprar frotas de BMW e contratava empresas externas para assegurar o serviço que a anorética TAP já não consegue fazer.
Alexandra Reis, que já não estava na TAP e nem chegou a aquecer a cadeira no governo, vai agora ter de devolver a indemnização recebida - ainda que pudesse contestar o parecer da IGF, decidiu não o fazer. Ao contrário do que certamente fará a CEO, a quem foi retirada a cadeira e o tapete na reta final da reestruturação para a qual foi mandatada.
Venha o meio milhão, que nos vai dar jeito para pagar, além dos bónus que ontem Medina tentou por todos os meios fazer esquecer que são devidos a Christine Ourmières-Widener (os media apontavam para 2 milhões), a indemnização por despedimento irregular. Alegar "justa causa" é muito discutível quando a CEO cumpriu a parte mais dura da reestruturação para a qual foi mandatada e até negociou um acordo mais benéfico para a TAP na saída de Alexandra Reis.
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