quinta-feira, 23 de março de 2023

Portugal | UM PRESIDENTE A LIDERAR A OPOSIÇÃO? JÁ TIVEMOS

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

Se há coisa que os barómetros políticos têm mostrado ao longo dos últimos anos (não confundir com sondagens eleitorais) é que os índices de popularidade de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa correm em paralelo.

Se a do primeiro-ministro é elevada, ainda mais a do presidente. Se Costa derrapa, a avaliação a Marcelo degrada-se.

No barómetro que a Aximage faz para o JN percebe-se que, apesar de um ou outro sobressalto, a curva é descendente para ambos desde março de 2021 (estava a pandemia a começar a produzir os seus efeitos nefastos). O primeiro-ministro caiu de um pico de 61% de avaliações positivas, nessa altura, para o 24% de janeiro passado. Num percurso similar, ainda que alguns degraus acima, o presidente caiu de 72% de avaliações positivas para os atuais 45%.

Talvez isso ajude a explicar a mudança de atitude do presidente relativamente ao primeiro-ministro. Apesar de este último até ter, agora, o conforto de uma maioria absoluta. Se o presidente já não acredita na capacidade do primeiro-ministro, se não quer ficar associado a um eventual naufrágio, ou, ainda, se quer promover uma qualquer alternativa, certo é que o divórcio se aprofunda.

As últimas declarações de Marcelo sobre o Governo (e, portanto, sobre Costa) foram duríssimas. Depois da entrevista à RTP, em que desancou numa maioria "cansada" e "requentada", fez agora considerações violentas sobre o "Mais Habitação", uma "lei cartaz", que, "ao virar da esquina", é "inexequível". Resumindo: pura propaganda.

Não é uma novidade no nosso sistema político que em Belém esteja uma espécie de líder da Oposição. Foi assim com Mário Soares, que, nos anos 90, usou as suas presidências abertas para críticas ferozes ao então primeiro-ministro Cavaco Silva. A maioria absoluta do PSD aguentou até ao fim, mas o desgaste, instigado pelo então presidente socialista, abriu caminho ao PS. Veremos se a história se repete, agora com uma maioria absoluta do PS e um social-democrata em Belém.

*Diretor-adjunto

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