quinta-feira, 23 de março de 2023

26 detidos em Paris. Franceses voltam às ruas contra aumento da idade da reforma

Com Macron em Bruxelas para participar no Conselho Europeu, França vive mais um dia de violentos protestos contra as alterações à idade da reforma. Em Paris já há 26 detidos, mas a polícia adianta que cerca de cem manifestantes black bloc têm vindo, a partir da retaguarda da manifestação na capital francesa, a partir vidros e a atirar pedras e outros projéteis aos agentes.

O black bloc é um movimento de protesto no qual os participantes se vestem de negro e tentam esconder as suas identidades através, por exemplo, do uso de máscaras para dificultar a responsabilização por quaisquer atos que venham a ser considerados criminosos. A polícia já utilizou gás lacrimogéneo na Praça da Ópera.

Na manifestação desta quinta-feira, que junta 820 mil pessoas - dados da polícia - é notória, escrevem os media franceses, a presença de mais jovens, dado que o estudantes universitários se juntaram ao movimento social que está a contestar a polémica iniciativa legislativa de Macron.

"É como se não existíssemos." O lamento é de Laurence Briens, um dos milhares de pessoas que protestam, esta quinta-feira, contra a aprovação do aumento da idade da reforma, levada a cabo pelo presidente Emmanuel Macron, que os sindicatos acusam de querer incendiar as ruas.

Este é o nono dia de greve e manifestação convocado pelos sindicatos, mas o primeiro desde a decisão que Macron tomou por decreto. O Governo francês invocou uma disposição constitucional na semana passada para que o projeto de lei fosse aprovado sem passar pela Assembleia Nacional francesa. O documento deverá agora passar por uma revisão do Conselho Constitucional de França antes de se tornar lei.

O Executivo de Macron sobreviveu a duas moções de censura na Câmara Baixa do Parlamento na segunda-feira.

"Estou muito chateada, trataram-nos como crianças", reclamou Briens, de 61 anos. Decidiu manifestar-se após ver a aguardada entrevista de Macron esta quarta-feira: "É como se não existíssemos, como se não nos ouvisse."

O presidente assumiu a "impopularidade" da reforma que quer ver adotada "até o final do ano" pelo "interesse geral" e deixou críticas aos sindicatos, à oposição e aos manifestantes mais radicais, que comparou a "subversivos".

O líder do sindicato CGT, Philippe Martínez, acusou Macron de "atirar gasolina para o fogo", em especial quando, há uma semana, várias cidades registaram protestos espontâneos, marcados pela queima de caixotes do lixo e acusações de violência policial.

Laurent Berger, líder do principal sindicato francês, CFDT, apelou a "ações não violentas" para manter o apoio da opinião pública, maioritariamente favorável às manifestações e opositora das alterações à lei.

Os sindicatos têm sido a base da contestação desde janeiro e, a 7 de março, conseguiram mobilizar entre 1,28 e 3,5 milhões de pessoas - segundo dados da polícia e dos organizadores, respetivamente -, nos maiores protestos contra uma reforma social em três décadas.

Esta quarta-feira, receberam o apoio de 300 profissionais da cultura, entre eles as atrizes Juliette Binoche e Camille Cottin, que num artigo publicado no jornal Libération pedem a revogação da lei que consideram "injusta".

A manifestação desta quinta-feira é a primeira desde que Macron impôs o seu plano por decreto e revela-se crucial para saber se se mantém viva a mobilização contra as alterações que ainda esperam aprovação final. A polícia prevê "entre 600 e 800 mil pessoas em 320 ações".

TSF com agências

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