sexta-feira, 28 de abril de 2023

Portugal | IDEOLOGIA PARA COMBATER O FANATISMO

Paulo Baldaia | TSF | opinião

Não podemos olhar para o que o Chega fez no Parlamento, na receção ao Presidente brasileiro, como uma coisa indigna e depois encolher os ombros, defender que o melhor teria sido não fazer nada, deixar os deseducados na pateada, entregues à sua própria estupidez, sem os repreender. Quanta cumplicidade cabe no silêncio? Quantas vezes temos de lembrar que para que o mal triunfe basta que o bem nada faça?

Como pode a Direita democrática pretender fazer falsas equivalências, pretender ter como verdade absoluta que os extremos acabam sempre por se tocar? Em circunstâncias idênticas, vimos o PCP e o Bloco fazerem algo parecido com o que fez a iniciativa Liberal, mas nada que se parecesse com a incivilidade de Ventura e o seu grupo. O Chega é ódio, é discurso racista e xenófobo. A Direita democrática sabe o desgaste que tem sofrido por essa Europa fora com a extrema-direita, precisa de pôr os pés à parede e afastar-se de vez, sem mas nem meio mas, do Chega.

A vitimização que a Iniciativa Liberal procurou levar ao limite, tendo razões de queixa do tipo de conversa que foi tornada pública envolvendo as mais altas figuras do Estado, acabou por fazer com que fosse engolida pela voracidade do Chega, que rapidamente tomou conta da ocorrência. Acresce que é cada vez mais evidente que ao Partido Socialista interessa manter Ventura e o Chega na crista da onda, bem assim como a Augusto Santos Silva, há muito tempo em campanha para se mudar de um palácio para o outro. Que PSD e IL entendam haver mérito em jogar o jogo socialista é matéria para estudo futuro, para um momento em que a distância temporal nos permita olhar para este tempo, em que já todos estão em campanha, vendo mais do que o dia seguinte.

Sim, a maioria dos portugueses tem razões de queixa da vida. Sim, a sociedade portuguesa continua profundamente desigual. Sim, é preciso resolver os problemas das pessoas. Mas isso não se faz explorando o medo, nem espalhando o ódio. A Direita tem se afirmar politicamente como alternativa a uma maioria que não está capaz de se reinventar. Nem que fosse para a Esquerda sentir também a necessidade de vir a jogo. O país precisa de combater o fanatismo oportunista de André Ventura e do grupelho que o acompanha. O país está absolutamente necessitado de um bom debate ideológico, sobre socialismo, social-democracia, liberalismo... O país está absolutamente necessitado de discutir o papel do Estado.

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