Artur Queiroz*, Luanda
Este fim-de-semana alargado é dos trabalhadores. Por isso tenho que fazer alguma coisa de útil. O meu contributo para que o Primeiro de Maio seja em cheio na vida dos que não têm biliões, triliões, minas, fazendas, empresas, carrinhos e omatapalos vou divulgar uma peça secreta dos arquivos da UNITA. Leiam com atenção porque da leitura destas informações depende a sobrevivência de todos, ricos, pobres, milionários e até ladrões dos diamantes de sangue, vulgo maninhos.
Os chefes da UNITA reuniram secretamente em Lisboa e dessa reunião saiu o futuro Governo do Galo Negro. O Gangsta vai ser ministro da Comunicação Social. Man Gena o ministro da Cultura. Chivukuvuku fica com a pasta das Escravas Sexuais e Fogueiras à Moda da Jamba. Abílio Camalata Numa é o ministro da Defesa Activa, pasta ministerial que consiste em matar quem não vestir uma camisola com a fotografia do Savimbi. O Tanaice Neutro é ministro dos Atentados e Destruições. Adalberto da Costa Júnior é o Vice Presidente da República mas sem pasta. Savimbi é o Presidente da República Vitalício. Vivo ou morto tanto faz.
Comandante em Chefe é Mihaela Webba. O tapete do seu gabinete é o Peregrino Wambu. Lukamba Gato o cadeirão. Ele coloca-se a quatro patas e a chefe senta a bunda nos seus costados. Depois de muita discussão, os conjurados aceitaram dar o lugar de chefe da casa militar do Savimbi ao revisor Rui Ramos, antigo combatente jurado, encartado e beneficiado.
O deputado Justino Pinto der Andrade é o poeta mor do reino. Foi intimado a fazer o hino nacional. Tenho orgulho de apresentar, em primeira mão, essa peça imortal que tem música do Bonga, o mais coerente de todos os angolanos a sacar dinheiro, até ao Diabo:
Queremos Savimbi/Que é nosso Rei/Queremos Savimbi/ Que é nosso Pai.
Refrão: Primeiro matar o Angolano e amar o Karkamano/Segundo matar o Angolano e adorar o Karkamano/terceiro matar o Angolano e servir o Karkamano /milésimo matar o Angolano às ordens do Karkamano.
Queremos a UNITA/Que é nossa Rainha/Queremos a UNITA/Que é nossa Mãe.
Refrão: Primeiro matar o Angolano e amar o Karkamano/Segundo matar o Angolano e adorar o Karkamano/terceiro matar o Angolano e servir o Karkamano / Bilionésimo matar o Angolano às ordens do Karkamano.
Acta Finda: Contra os angolanos marchar, marchar!
(Esta parte foi introduzida a pedido do Tio Célito e do António Cista, patronos da Constituição da República que vai chamar-se Angola com Calças Novas e Velhas Fogueiras). Manuel Rui, lamento mas ficaste desempregado.
A Bandeira Nacional adoptada pelos conjurados da UNITA é um pano branco com o pénis do Savimbi no meio. As senhoras da LIMA, antes de cada reunião beijam a bandeira e xinguilam: Estamos órfãs de ti. Estamos órfãs de ti. Precisamos de ti. Precisamos de ti.
A equipa económica do Governo da UNITA é de luxo. O Chico Viana fica o ministro da Recuperação de Activos. Tudo quanto é dinheiro e propriedades de antigos governantes e dirigentes do MPLA fica na posse do Savimbi. O ministro do Tráfico de Droga, Diamantes e Marfim é o recuperado Victor Ramalho. Seu secretário de estado dimantífero fica Simão Dembo. Dona Arlete Chimbinda fica secretária de estado do Marfim a título póstumo porque vai inaugurar as fogueiras do Chivukuvuku. Álvaro Chikwamanga fica ministro-adjunto e secretário-geral da Droga. Liberty Chiaka é o motorista.
Luzia Moniz vai mostrar como se trata das Finanças com este programa: Venha a nós, venha a nós, é pouco, é pouco, mais, mais, mais, tudo, tudo, tudo. Para arrebanhar divisas vende o seu programa de governo como roteiro de um filme pornográfico onde a artista principal é Alexandra Simeão. Secretário de estado do Tesouro fica o Filomeno Vieira Lopes. Finalmente deixa de pedinchar e humilhar-se ante os sicários do Galo Nego.
A figura mais importante na equipa económica do Governo é o Soldado Motorista do RI20. Não é que ele saiba fazer alguma coisa, mas leva como chefe de gabinete o engenheiro agrónomo Fernando Pacheco que sabe fazer tudo, até broches ao cavalo do Roy Rogers. Finalmente, conseguiste chegar ao governo meu ex-camarada!
Hoje não trabalho mais. Já ganhei o dia com o suor do meu rosto. Vou ignorar a dieta que me foi imposta por um cardiologista com tendências terroristas e desde agora até ao último minuto do Primeiro de Maio vai ser petiscos e vinho tinto da minha idade, muito taninoso e com notas de fruta madura.
Ontem chegou-me uma má notícia. Na vida tive dois amigos que tratava por Joãozinho, o das Garotas e o do restaurante Pezinhos na Água. Com o das Garotas bebi umas garrafas de uísque e champanhe na Tamar na companhia de meninas que fumavam e nos tratavam por tu e meu amor. Pagou ele com gorjetas e tudo.
O Joãozinho do restaurante deu-me a possibilidade de colaborar no seu livro sobre culinária angolana. Quando o original ficou concluído convidou-me para um “jantar de honra” no Pezinhos na Água. Não pude aceitar. Nessa altura eu trabalhava 16 horas por dia no Jornal de Angola e nesse horário estava incluída a hora de jantar. Um matadouro onde entrei voluntariamente.
O Joãozinho não aceitou a minha recusa e ficou ofendido. Está bem, camarada no sábado lá estamos. Mas amanhã aparece aqui no jornal depois do almoço. E ele apareceu. Sentou-se ao meu lado e viu o meu trabalho até às 20 horas. E depois das 20 às duas da manhã. Era assim todos os dias, entre as 10 da matina e a uma ou duas da madrugada. Tinha um fim-de-semana de folga de 15 em 15 dias mas raramente folgava. O Joãozinho percebeu logo que não podia ir ao “jantar de honra”. Assim lavei a ofensa.
O meu amigo morreu. Tenho cada vez menos. Mas ainda ficaram algumas e alguns. Por elas e eles juro emendar-me e nunca mais voltar a pecar. Sim, hoje pequei. Não revelei, por pura sacanice, os melhores de todos os sicários do Galo Negro no Governo de Angola com Calças Novas e Velhas Fogueiras: Fernando Hélder Garcia Miala e seu muleke ua diala Hélder Fernando Pita Grós. Aos lesados apresento as minhas humildes desculpas. E contem comigo.
*Jornalista
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