Vítor Matos, jornalista | Expresso (curto)
Bom dia!
Antes de mais um convite: hoje, 17 de maio, às 14h00, Junte-se à Conversa com
David Dinis, Vítor Matos e Hugo Franco. Desta vez sobre "Para que servem
as secretas?". Inscreva-se aqui.
Tudo começou numa bela manhã de dezembro, em que o “Correio da Manhã” noticiou
a indemnização recebida pela nova secretária de Estado do Tesouro para sair de
administradora da TAP. Eram €500 mil, uma soma considerável, mas por isto
apenas, coisa que já lá vai, ninguém podia adivinhar os furacões e os vendavais
que se iam pôr, mais a Comissão de Inquérito que a história ia levantar: os
últimos seis meses foram passados em permanente sobressalto político e
mediático, com o dito dossiê a fazer vítimas diretas e colaterais - pelo menos
dois secretários de Estado e um ministro mais a reputação de outros tantos -,
tendo atingido o pináculo com o Governo a tremer em Belém, depois de uma
cena de faroeste no Ministério das Infraestruturas comandado pelo dr. Galamba,
a quem o “atento” Presidente da República tirou o tapete, a
confiança e a mão por baixo.
Hoje é dia de mais um episódio da série TAP, temporada Galamba, com a audição
do ex-adjunto Frederico Pinheiro ouvido esta tarde às 14h na
respetiva Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Irá acompanhado do seu
advogado, João Nabais. Polémicas aparte, há muito assunto para esclarecer.
A seguir, às 17h, é a vez de ser ouvida Eugénia Correia, a mais famosa
chefe de gabinete da política portuguesa, e amanhã será o próprio João
Galamba, o ministro “extremamente motivado” que em causa própria entende
ter “todas as condições” para continuar, abençoado pelo
primeiro-ministro depois de rejeitada a demissão. Hoje é o dia de Frederico -
mais o seu obscuro computador -, recheado de segredos de Estado e
sabe-se lá de que outros mistérios, que tão diligentemente o Serviço de
Informações de Segurança (SIS) recolheu em nome da nação, não fosse o diabo
tecê-las depois de o homem ter disputado o aparelho quase com a própria vida,
mais a das quatro assessoras que se barricaram nos asseios ministeriais após as
alegadas agressões “bárbaras” do ex-adjunto.
Frederico Pinheiro disse que ia contar tudo na CPI, mas mesmo tudo, veremos o
que vai parir a montanha esta tarde.
As principais perguntas “contradições e dúvidas” são aqui explicadas pelo
Diogo Cavaleiro e pela Rita Dinis, que fazem uma antevisão do que esperar das
audições de João Galamba e do ex-adjunto. Pinheiro vai conseguir provar que o
ministro não queria enviar as “notas informais” da reunião “secreta” com a
ex-CEO da TAP, a sra. Christine Ourmières-Widener, para a CPI? Ou dará razão a
Galamba que o acusa diz ter sido ele, Frederico, a negar a existência notas?
O Expresso da Manhã desta quarta-feira também se debruça sobre o
acontecimento da tarde: Paulo Baldaia entrevista o jornalista Diogo Cavaleiro,
que tem acompanhado a CPI crítica para o Governo: A acareação (Galamba vs Frederico) que a CPI não vai fazer.
Com tudo isto, perdemos o fio inicial desta meada infernal: a indemnização de Alexandra Reis. Afinal, Frederico Pinheiro tinha a seu cargo o dossiê da TAP desde o consulado de Pedro Nuno Santos. Por isso, valia a pena perguntar ao ex-adjunto que tipo de acompanhamento fazia o ex-ministro e o seu secretário de Estado (Hugo Mendes) da transportadora. Ele próprio deu algum sinal de alerta quando soube da nomeação de Alexandra Reis para a NAV? Não estranhou vê-la como secretária de Estado? Porque é que o Governo participou na reunião em que a TAP preparou as respostas ao esclarecimento pedido pelo próprio Governo?
Mas nem só de audições de faz uma CPI: também há mudanças no plantel dos inquiridores. Mariana Mortágua, estrela de comissões várias, sai para tratar da sua candidatura à liderança do Bloco de Esquerda, para dar lugar ao líder parlamentar Pedro Filipe Soares. No Chega, com a temperatura a subir, Filipe Melo dá lugar ao próprio líder, André Ventura.
Ontem, Luís Cabaço Martins, ex-presidente da Comissão de Vencimentos da TAP, assumiu que o processo de definição do contrato de Christine Ourmières-Widener não foi o normal. O Governo contratou antiga presidente para a TAP e prometeu bónus à revelia da Comissão de Vencimentos.
Como se tudo isto não bastasse, há uma nova suspeita de fuga de informação na comissão de inquérito à TAP, que a deputada Alexandra Leitão vai investigar. Aliás, já começou a ouvir deputados para apurar o que aconteceu nas anteriores fugas.
Comissão de Inquérito à TAP fecha audições a 16 de junho: Medina encerra as sessões e Pedro Nuno Santos vai um dia antes. Será determinante para a sua vida política futura.
Com uma crise tão instalada, como é que o Governo tenta escapar ao fogo da TAP? Com a descredibilização da CPI e com boas notícias na economia.
Se este assunto lhe interessa, compre as pipocas e siga os acontecimentos aqui no Expresso ao longo da tarde.
OUTRAS NOTÍCIAS
Escândalo e detenções em Gaia - A Polícia Judiciária realizou ontem uma
mega ação que fez sete detidos em buscas na Câmara de Vila Nova de Gaia,
por suspeitas em negócios imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros. O
socialista Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Gaia, foi
constituído arguido, mas o vice da autarquia e líder do PS local foi
detido: Patrocínio Azevedo, que tem o pelouro do Planeamento Urbanístico, é
suspeito de receber luvas de mais de 120 mil euros através do seu advogado.
Também foi detido o CEO de uma empresa de imobiliário de luxo, Elad Dror, do
Grupo Fortera, e Joaquim Malafaia, ligado a outra operação que incidiu sobre
corrupção na câmara de Espinho.
Eutanásia - depois do veto, Marcelo Rebelo de Sousa não teve outra alternativa senão a
promulgar a morte medicamente assistida, aprovada em definitivo pelo
Parlamento, mas fez uma nota breve a salientar que assinou a lei porque a isso
está “obrigado”. Esta não será, contudo, a última palavra de Marcelo sobre o
assunto, uma vez que ainda pode apreciar a regulamentação da legislação.
Visita do Papa - o Vaticano deu a conhecer o selo das Jornadas Mundiais da
Juventude, em Lisboa, mas a criação filatélica está a causar polémica, embora a organização rejeite leituras negativas. O desenho, de gosto
questionável quer a nível gráfico quer por causa do significado do monumento do
Estado Novo, foi feito por um italiano e é inspirado no Padrão dos
Descobrimentos, colocando o Papa Francisco no lugar do Infante D. Henrique.
Vitorino desiste - António Vitorino, diretor-geral da Organização
Internacional para as Migrações retirou a sua recandidatura ao cargo depois de Amy
Pope, proposta pelos Estados Unidos, ter sido a mais votada na primeira ronda.
Uma derrota para a diplomacia portuguesa.
Homofobia - o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva,
quis hastear hoje uma bandeira LGBT no Parlamento, em que se comemora o dia
contra a Homofobia. Mas o Chega opôs-se, PSD ficou a meio do caminho. A solução
foi projetar luzes com as cores da bandeira na fachada do edifício.
Barrigas de aluguer - “Se a gestante revogar o contrato, torna-se mãe
porque mãe é quem dá à luz”, diz Maria do Céu Patrão Neves, presidente do Conselho de Ética sobre
gestação de substituição
Seca - "Não há mais água, ponto": o aumento da área agrícola no Algarve pode ser suspenso em breve por
causa da situação de seca extrema,, disse o presidente da Comunidade
Intermunicipal do Algarve, António Miguel Pina.
Porto perigoso - “Vivíamos no paraíso, agora vivemos no inferno”: a movida do Porto “está mais perigosa” e “nada mudou”
com as regras para travar o ‘botellón’. O novo Regulamento da Movida do Porto
tenciona reduzir o consumo de álcool na rua e reduzir o ruído que tira o sono
aos moradores.
Online - Hoje é dia mundial da Internet: três pioneiros das tecnologias
explicam como é que o principal motor da globalização transformou a economia,
criou novos poderes e mexeu com a política e com vários governos.
Coldplay - hoje será o primeiro dos quatro concertos da banda, em Coimbra,
que ontem partilhou um vídeo: “Vemo-nos amanhã...”. Um breve ‘teaser’
para os fãs portugueses. Veja aqui a “História de uma histeria” na revista E.
Ópera - o Neerlandês Ivan van Kalmthout é novo diretor artístico do Teatro Nacional de São Carlos,
que desde 2017 dirigia a competição holandesa International Vocal Competition.
Rússia na Alemanha - A mulher do ex-chanceler alemão, Gerard Schröder, que
desempenhou altos cargos na Gazprom, foi demitida depois de participar em celebrações na embaixada russa,
em Berlim, no contexto do Dia da Vitória da União Soviética sobre a Alemanha
nazi.
II Guerra Mundial: Um antigo membro da Resistência Francesa quebra o silêncio
sobre a execução de prisioneiros alemães em 1944. Depois de guardar
segredo durante mais de sete décadas, Edmond Réveil decidiu contar, aos 98
anos, a história até agora desconhecida dos prisioneiros alemães assassinados
em Meymac, em 1944. Em breve, uma investigação vai procurar encontrar cerca de
40 corpos.
Contraofensiva na Ucrânia - Nos últimos dias, o presidente da
Ucrânia, Volodymyr Zelensky, andou num périplo por Itália, França, Alemanha e
Reino Unido, em busca da (re)confirmação do apoio no esforço de guerra e,
sobretudo, de mais meios militares para a contraofensiva militar ucraniana. É
sobre isto que Martim Silva fala no episódio desta semana do podcast Bloco de Leste, numa
conversa com Sandra Fernandes, da Universidade do Minho, e com o coronel
Luís Saraiva, doutorado
FRASES
“Como diria Chesterton, há “virtudes enlouquecidas”. E elas fazem pior às
pessoas e ao Mundo do que os vícios que visam combater.”
José Miguel Júdice, no comentário “As Causas”, na SIC
“Estou esperançado de que a banca esteja acordada para o problema e o Banco de
Portugal também e que, depois, as medidas que o Governo vai tomando a nível do
Orçamento do Estado também contribuam, numa escala mais pequena, para aqueles
que estão muito carenciados. Não atingem todos aqueles que têm empréstimos à
habitação.”
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República
“Antecipamos alguns obstáculos no âmbito da investigação, em que vamos precisar
de chegar às pessoas, para poder estudar o impacto que estas situações têm nas
vítimas, como é que a sexualidade é vivida no contexto da Igreja. Isso implica
contacto com algumas pessoas e sabemos que esse contacto pode ser mais difícil,
pode haver maior resistência de algumas pessoas ou, até, entidades
Rute Agulhas
O QUE ANDO A VER
Primeiro, li a crónica da Clara Ferreira Alves na revista: “O
Rei nu”: “A voracidade de Juan Carlos por mulheres só é excedida pela
voracidade por dinheiro”. Depois daquele texto demolidor, foi obrigatório ver a
série documental “Salvar o Rei”, da HBO. Mesmo para quem não tenha a
assinatura, vale a pena pagar um mês para ver aqueles três episódios de
infâmia. Espanha é cinco vezes maior do que Portugal, mas o poder espanhol
é 10 vezes mais corrupto. Nós temos um ex-primeiro-ministro suspeito e acusado
porque usava a conta de um amigo com €20 milhões como se fosse dele ou porque
era dele. O chefe do Estado espanhol recebeu milhões do rei saudita, por
negócios de armas, e deu €65 milhões a uma amante de uma vez só. Coisas à
grande. Os pormenores são sórdidos e não vale a pena aqui fazer
spoilers. Mas com depoimentos de ex-chefes dos serviços secretos - o rei foi
protegido pelos espiões, pelos jornalistas e pela classe política - a dizerem
que o monarca esteve por detrás do golpe de 23 de fevereiro de
O QUE ANDO A LER
Para me preparar para a conversa desta tarde com os assinantes do
Expresso (ver início desta newsletter), tirei da estante alguns livros
sobre os espiões portugueses, que também ficam aqui caso algum leitor tenha
interesse na matéria. SIS, um livrinho da editora Levoir que chegou a ser
distribuído com o “Público”, é bom para os conceitos básicos e para enquadrar a
espionagem portuguesa na história.
Depois, “Os Códigos e as Operações dos Espiões Portugueses” (Esfera
dos Livros), do jornalista António José Vilela, conta várias histórias
operacionais e escândalos mais recentes dos serviços de informações. Um
exemplo: a prevenção de um atentado no jogo inaugural do Euro 2004, no Porto,
entre Portugal e a Grécia, em que houve um desentendimento entre o SIS e a
Judiciária (os espiões acharam que os polícias atuaram demasiado cedo e não
apanharam as provas do potencial atentado).
E ainda o livro do ex-”superespião” Jorge Silva Carvalho, “Ao Serviço de Portugal” (Contraponto), onde o antigo
diretor do SIED levanta ligeiramente o manto que mantém os serviços na
opacidade. Conta como foi montada a casa da Rússia, criada em 1995, para vigiar
os movimentos de russos
Com isto, desejo-lhe um belo dia e o resto de uma boa semana! continue a
acompanhar a atualidade no Expresso e o desporto na Tribuna.
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