terça-feira, 27 de junho de 2023

Angola | Voz de Prisão ao Esquecimento – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Angola tem um consulado em Vila Real, região de Miguel Torga, mundialmente desconhecido porque não consta que alguma vez tenha apoiado a OTAN (ou NATO), o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) nem foi a Kiev cumprimentar Zelensky. Missão impossível, porque o nazi ucraniano só tinha 17 anos quando o autor de Contos da Montanha faleceu. Ironia à parte, Torga é um monumento da Literatura Universal.

Vila Real é a cidade do Norte de Portugal onde alguns professores universitários que trabalhavam no ensino superior em Angola, decidiram abrir uma escola superior, a UTAD, hoje universidade de grande prestígio e qualidade científica. Um desses professores era Carlos Eduardo (Ervedosa), um angolano prodigioso. Se ele não existisse, a mafia instalada na Universidade Católica de Angola não podia torrar milhões a homenagear Viriato da Cruz, o maoista que traiu o MPLA e poeta sem obra. Porque foi Ervedosa, com Fernando Costa Andrade (Ndunduma), que editou os seus poemas na Casa dos Estudantes do Império.

Carlos Ervedosa deu expressão física (livros, livros, mais livros!) às literaturas africanas de Língua Portuguesa. O jornal Província de Angola (Jornal de Angola) era propriedade de seu pai. Por isso conseguiu que o maior diário angolano de sempre publicasse um suplemento dominical dedicado às artes e às letras. Suporte precioso da Literatura Angolana. O meu amigo Carlitos, entre 1962 e 1974 divulgou a obra de figuras inigualáveis das Letras Angolanas: Jofre Rocha (Roberto de Almeida), Jorge Macedo, João Maria Vilanova, João Abel (seu parceiro no produção do suplemento) ou Cândido da Velha, que já vinha dos anos 50.

O regime colonialista fazia tudo para silenciar as nossas vozes literárias. Censurar os nossos poetas com obra e sem obra. Carlos Ervedosa nunca consentiu. Entre 1951 e 1952 foi director da revista “Mensagem” (Geração de 50), publicação da Associação dos Naturais de Angola (ANANGOLA).

Carlos Ervedosa, António Jacinto, Mário António, Arnaldo Santos, Luandino Vieira, António Cardoso e Adolfo Maria lançaram no final dos anos 50 a revista “Cultura” órgão da Sociedade Cultural de Angola. 

Como cientista e professor dos Estudos Gerais Universitários de Angola Carlos Ervedosa investigou estações arqueológicas angolanas, com o Professor Satos Júnior. Deixou-nos a obra monumental, precioso património da Cultura Nacional, “Arqueologia Angolana”. 

Hoje aparecem em Angola uns estrangeiros vigaristas que reclamam para si “descobertas”  de estações arqueológicas que foram  identificadas e estudadas por Carlos Ervedosa e Santos Júnior, há mais de meio século! Ninguém protege o nosso autor desses canibais vigaristas. Em Angola tudo o que é nosso se perde, tudo se transforma em obra de ladrões. Até a vice-presidente do Banco Mundial nos rouba a identidade e a nacionalidade por dá cá uns milhões.

Em 1987, Carlos Ervedosa presidiu à comissão que promoveu, na UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), a "Semana Cultural de Angola". Publicou as seguintes obras: Poetas Angolanos, 1959, edição Casa dos Estudantes do Império; Contistas Angolanos, 1960; Literatura Angolana (resenha histórica), 1962; Itinerário da Literatura Angolana, 1972, edição Culturang (Luanda); Roteiro da Literatura Angolana, 1979, União dos Escritores Angolanos; Saudades de Luanda, 1986; Era no Tempo das Acácias Floridas, 1989; Carta Arqueológica do Concelho de Vila Real, 1991.

A declaração que vou fazer provavelmente vai prejudicar-me. Terei à perna a turma do Miala e do Pita Grós. Mas faço na mesma. Sou milionário. Ainda que a minha fortuna não seja convertível em dólares, euros ou mesmo kwanzas. Carlos Ervedosa enviou-me para o Jornal de Notícias um exemplar do seu livro “Saudades de Luanda”. Passei uma noite a ler. No dia seguinte publiquei uma crónica sobre o que senti, intitulada Saudades do Carlitos. 

Alguns dias depois o pessoal da portaria informou-me que um senhor queria falar comigo. Mandei subir a visita. Era Carlos Ervedosa. Tinha descido as montanhas de Vila Real até ao Porto. Deu-me um abraço e agradeceu a crónica. Esse abraço é a minha fortuna.

No mesmo cofre tenho um livro intitulado A Mãe de um Rio” de Agustina Bessa Luís (só pode ser tia do Cândido Bessa!). Entrevistei a escritora e um belo dia recebi no Jornal de Noticias um embrulho com o livro. Na folha de rosto estava escrito, pelo punho de Agustina: “Ao Artur Queiroz pela consideração que devo ao seu talento de jornalista e à qualidade da entrevista”. Uma fortuna incalculável. Espero que a senhora da recuperação de activos não me confisque estes bens preciosos. Faço uma maka mundial e ela arrepende-se de ter nascido.

No dia da inauguração do consulado de Angola em Vila Real podiam ter aproveitado para homenagear Carlos Ervedosa porque ele viveu, foi professor universitário e morreu naquela cidade. Uma palavrinha que fosse. Nada. Na Angola que ele ajudou a libertar, quando o poder ouve falar de cultura puxa logo da pistola. A Solange e o Sutila é que estão a dar. Mais o poeta sem obra e político traidor Viriato da Cruz. Bela mistura!

Nesta altura do campeonato a turma do Miala e do Pita Grós continuam a torrar dinheiro para deitar abaixo os marimbondos. Um jornal português daqueles que vendem manchetes e “notícias” diz que a Procuradoria-Geral da República foi ao Dubai prender a engenheira Isabel dos Santos. Aproveitem e passem por Washington para prender o Biden. No regresso passam por Bruxelas e levam a nazi Úrsula. Fazem uma paragem em Paris e cangam Macron. 

Em Lisboa, amarram e metem no porão do avião (como fizeram com o corpo do Presidente José Eduardo dos Santos) o Tio Célito, o António Costa e o Álvaro Sobrinho. 

Dois avençados da TPA, Luís Jimbo e José Paquissi Mendonça, “comentaram” uma decisão judicial na Holanda contra a engenheira Isabel dos Santos. Falaram pelos cotovelos (pela boca defecam…) de um processo que não conhecem.

O Jimbo até disse que a empresária angolana não pode interpor recurso porque tem de ir ao Tribunal holandês e aí prendem-na à conta da Interpol. Este artista diz que é advogado mas ainda não sabe que existe uma coisa chamada procuração. Algumas procurações até dão poderes especiais quanto mais recorrer de uma decisão judicial. 

Os dois avençados condenaram a engenheira Isabel dos Santos à conta de “crimes e negociatas” que ainda nenhum Tribunal condenou nem há uma sentença transitada em julgado. Podem explicar aos dois agentes do Miala que a presunção de inocência é marca distintiva do Estado de Direito. Se já só têm esses dois a e a Kanguimbo Ananás para bolsar recados, o melhor é chamarem de novo o Carlos Rosado de Carvalho. 

O Presidente João Lourenço, nesta altura do campeonato, ainda não percebeu que perseguir angolanas e angolanos por serem ricos, destruir-lhes os bens, arrasar milhares de postos de trabalho e esbanjar milhares de milhões neste pretenso combate à corrupção, é um tiro de monakaxito na cabeça.

Já agora, se a PGR está no Dubai para prender a engenheira, pode aproveitar para prender também o engenheiro. E no regresso, antes de embarcarem em Lisboa para Luanda, levam também o doutor sobrinho de todos. Perderam mesmo o juízo. Já não estou sozinho.

*Jornalista

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