segunda-feira, 26 de junho de 2023

Sanções dos EUA tornam a economia russa mais forte e precipitam o mundo multipolar

Obrigado, EUA! 

O paradoxo é que as sanções dos EUA e da Europa contra a Rússia, embora destinadas a paralisar a economia russa, tornaram-na mais forte

SCF [*]

A economia russa está a ter um forte desempenho, de acordo com recentes previsões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. O resultado desafia as previsões anteriores dos Estados Unidos e dos seus aliados europeus, as quais sustentavam que as sanções ocidentais iriam pôr a economia russa de joelhos e forçá-la a "chorar ao tio" de forma submissa.

Quando o conflito na Ucrânia se intensificou há 16 meses (depois de oito anos de agressão patrocinada pela NATO, utilizando o regime neonazi de Kiev), vários políticos e especialistas ocidentais estavam a saborear a perspetiva de a economia russa entrar em colapso devido à "guerra total" lançada contra a sua banca e comércio internacionais.

Bem, não foi nada disso que aconteceu. Longe disso. Como o Banco Mundial observou acima, as sanções ocidentais simplesmente ajudaram a Rússia a impulsionar mercados alternativos na China, na Índia e noutros pontos do globo. Um dos principais ganhos da Rússia são as exportações de petróleo e gás. O aumento das vendas para a Ásia tem mantido as receitas, apesar da perda de mercados europeus devido às sanções ocidentais.

O paradoxal é que as sanções dos EUA e da Europa contra a Rússia, embora destinadas a paralisar a economia russa, tornaram-na de facto mais forte.

Michael Hudson, analista americano de economia global, destaca que: "As sanções obrigaram a Rússia a tornar-se auto-suficiente na produção alimentar, na produção industrial e nos bens de consumo".

Hudson também observa que a estratégia geopolítica dos EUA consiste em utilizar as sanções a fim de tornar os seus supostos aliados europeus mais dependentes e subservientes a Washington.

Outro comentador respeitado, Glenn Diesen, professor norueguês de geoeconomia, comparou o recurso às sanções ocidentais ao comportamento auto-destrutivo de "auto-flagelação". Os Estados Unidos e a União Europeia, diz ele, "entregaram um enorme mercado ao resto do mundo".

Diesen observa ainda que 85% da população mundial vive em países que não cumprem as sanções ocidentais contra a Rússia. Esta maioria global está, mais do que nunca, a criar novas formas de comércio e de financiamento que evitam o controlo ocidental. Um dos principais impulsos para este desenvolvimento positivo é a necessidade legada pelo abuso sistemático de Washington do seu poder e privilégio.

As repercussões são de extremo alcance e mais profundas do que os benefícios inesperados para a economia nacional da Rússia. O que as sanções ocidentais também estão a fazer é acelerar o desenvolvimento de um mundo multipolar e o desaparecimento do dólar americano como divisa de reserva global. O resultado destas duas tendências é o declínio histórico do poder imperial americano – embora com explosões de militarismo e belicismo ao longo do caminho.

Esta semana, a 25ª cimeira do Fórum Económico Internacional de São Petersburgo (SPIEF) ilustrou de forma significativa a mudança dos tempos. Participaram neste evento de quatro dias 17 mil delegados de cerca de 130 países. A convocação testemunhada este ano contou com grandes representações da Ásia, América Latina e África.

O movimentado evento não só refletiu a força económica da Rússia, mas também o facto de que – longe de estar "isolada" e oprimida – a Rússia é encarada pelo resto do mundo como um motor de crescimento e de relações multipolares mais prósperas.

Na verdade, na perspetiva da maioria das nações, parece que os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais é que são os isolados e anacrónicos.

Um dos participantes no SPIEF foi o analista industrial americano Douglas Andrew Littleton, o qual comentou: "As sanções ocidentais contra a Rússia saíram pela culatra". E acrescentou: "Estou feliz por a Rússia ter sido capaz de contornar e evitar as sanções de tantos modos, com os seus amigos e aliados".

O que está a acontecer aqui não é apenas o surgimento de um sistema alternativo, mas uma mudança de paradigma político e talvez moral. O mundo quer relações mais pacíficas e mútuas de cooperação e desenvolvimento. A maior parte dos povos da Terra quer que se ponha fim ao belicismo, ao militarismo e à intimidação unilateral intermináveis por parte de potências auto-designadas. O planeta está a clamar por um mundo baseado na justiça e na paz.

O que o mundo está a perceber mais do que nunca é que o uso unilateral de sanções económicas por parte de Washington não passa de guerra e terrorismo de Estado com um nome mais palatável. Durante décadas, os EUA tentaram usar armas económicas para estrangular e matar outras nações. A Coreia do Norte, Cuba, Irão, Iraque e muitos outros países vêm à mente, onde o imperialismo dos EUA impôs condições de genocídio económico.

O mundo está bem consciente deste legado diabólico e está farto da barbárie americana, exercida com a ajuda dos seus lacaios ocidentais da NATO e da União Europeia.

Deveríamos aqui fazer uma menção especial à Síria, a nação árabe que luta para recuperar dos 12 anos de guerra que lhe foi infligida por Washington e pelos seus parceiros da NATO para "mudança de regime". Hoje, a recuperação da Síria é cruelmente dificultada pelas sanções económicas impostas pelos EUA e pela UE. Não é desprezível?

No entanto, há uma sensação histórica infalível de que Washington encontrou finalmente o seu castigo. Ao acumular sanções contra a Rússia e ao arrastar os seus lacaios da UE para lhe seguirem o exemplo, os Estados Unidos desencadearam agora um processo dinâmico histórico do seu próprio colapso imperial.

Durante décadas, as sanções americanas funcionaram de forma nefasta sobre nações isoladas e mais pequenas para lhes imporem adversidades vingativas.

Agora isso já não acontece. A vasta riqueza natural e a economia da Rússia são demasiado grandes para serem contidas. Também em termos militares, a Rússia não se deixará pressionar. Na verdade, na Ucrânia, a Rússia fez recuar a enganosa e perniciosa guerra por procuração do Ocidente.

De forma orgânica e consciente, a economia mundial e as relações internacionais transformaram-se nos últimos anos, especialmente com a ascensão da China e da Eurásia em geral.

Outro desenvolvimento chave fundamental é o facto de o monopólio dos media imperialistas ocidentais ter sido rompido. Washington e os seus comparsas na classe política europeia são desprezados como mentirosos e charlatães, mesmo pelas suas próprias populações.

Ao tentar imprudentemente encurralar o urso russo, o Ocidente só criou um cenário de revolta do resto do mundo contra o controlo explorador do Ocidente. Cinco séculos de parasitismo do Ocidente europeu e americano estão a chegar ao fim.

A fortaleza económica da Rússia está a galvanizar o resto do mundo a fim de sacudir as cadeias da dominação e subjugação ocidental. O processo de abandono do dólar está a ganhar ímpeto, o que está a ser precipitado por sanções auto-mutilantes. Os pilares e as fachadas estão a desmoronar-se em tempo real.

O tema do evento SPIEF deste ano foi "Desenvolvimento Soberano – a Base para um Mundo Justo".

Tal como aconteceu com muitos outros impérios nos anais da história que entraram em colapso, muitas vezes a arrogância e a prepotência precedem a queda. A elite americana e ocidental pensava que tinha uma licença eterna para provocar ruína no seu próprio benefício egoísta. A sua pilhagem económica e o seu armamento estão agora a virar-se contra as suas próprias cabeças. E há muito que isso devia ter acontecido.

16/Junho/2023

Ver também:

  Encontro no Kremlin com correspondentes de guerra

[*] Strategic Culture Foundation.

O original encontra-se em strategic-culture.org/news/2023/06/16/gee-thanks-america-us-sanctions-make-russian-economy-stronger-and-precipitate-multipolar-world/

Este editorial encontra-se em resistir.info

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