Artur Queiroz*, Luanda
Primeiro erro capital. Um grupo de notabilíssimos membros do MPLA exigiu que José Eduardo dos Santos não levasse o seu mandato de líder do partido até ao congresso como mandam os estatutos. Correcto teria sido aproveitar o desfasamento entre as eleições gerais e as eleições partidárias. Os dirigentes tinham tempo de criar autonomia e não serem uma espécie de secretários de segunda linha, do Presidente da República. A sede do partido deixava de ser um anexo do Palácio da Cidade Alta. Os danos desse erro estão a revelar-se fatais, até para a unidade do “Eme”.
João Lourenço foi ao saco dos despojos e de lá retirou Fernando Garcia Miala, fazendo dele o rosto da vingança contra José Eduardo dos Santos, familiares mais as figuras políticas e militares que lhe eram próximas. Este erro capital, o segundo, causou um dano que vai ser difícil reverter. A disputa do cadáver do anterior Chefe de Estado vai ficar nos anais da história universal da infâmia. Está aberto o caminho para o presidente de turno perseguir todas e todos que sirvam o seu antecessor. Os danos são irreversíveis. O próprio Fernando Miala é um dano incomensurável.
O combate à corrupção é um emblema que fica bem na lapela de qualquer Presidente da República. Mas o sistema capitalista morre se não existir a exploração de quem trabalha, a corrupção e o roubo que pode ir até às formas violentas de latrocínio. Fazer desse floreado político o único objectivo do mandato presidencial é um erro capital, o terceiro, que teve como principal dano a falência das políticas sufragadas pelo eleitorado. Leiam o último comunicado do Bureau Político do MPLA antes que a falência atinja o próprio partido.
O dia 1 de Junho de 2019, em Lopitanga, registou o quarto erro capital de João Lourenço e sua equipa (ainda acredito que não está sozinho…). O Presidente da República nunca devia ter permitido que o cadáver do criminoso de guerra Jonas Savimbi fosse transladado e se fizesse o segundo funeral. Este disparate foi justificado com razões humanitárias. As autoridades angolanas podiam permitir a operação de propaganda da UNITA, se o partido devolvesse os corpos de todas as vítimas, desde as elites femininas a altos dirigentes assassinados por Savimbi. Dar a um bando de assassinos a certeza de total impunidade é um erro capital. Os resultados nefastos estão à vista.
Quinto erro capital. João
Lourenço transformou os assassinos do 27 de Maio de 1977 em vítimas e as
vítimas
Abril de 2023. Há apenas três
meses o chefe do Serviço de Inteligência e Segurança Militar, General João
Pereira Massano, considerou “essencial o reforço da cooperação com os Estados
Unidos da América (EUA) e outras nações africanas para prevenir e mitigar
conflitos e enfrentar as ameaças transnacionais”. Estas palavras foram
proferidas quando discursava na abertura de uma conferência de directores de
Inteligência Militar de países africanos sob a égide do Comando dos Estados
Unidos da América (EUA) para a África (AFRICOM).
Este erro capital, o sexto, teve uma amostra pública anterior, no dia 21 de
Setembro de 2021. João Lourenço foi aos EUA receber um prémio durante a Gala
anual da International Conservation Caucus Foundation (ICCF). Campeão da Defesa
do Ambiente. Depois Campeão da Paz em África. Agora Águia da Liberdade. Custa
ver o Chefe de Estado a caçar prémios como se fosse o Israel Campos. Alguém tem
de explicar ao senhor Miala que há uma grande diferença entre o Presidente da
República e os seus sócios.
A vassalagem ao estado terrorista mais perigoso do mundo teve a forma mais visível quando no dia 12 de Outubro de 2022 Angola condenou a Federação Russa na Assembleia-Geral da ONU, pondo-se de joelhos ante o ocidente alargado. Um erro capital que vai ter danos fatais, pelo menos até 2027.
O director executivo da Câmara de Comércio Americana em Angola, Pedro Godinho, disse que a primeira participação do estado terrorista mais perigoso do mundo na Feira Internacional de Luanda (FILDA) “sinaliza a materialização do reforço da parceria estratégica entre Angola e os EUA”. O sujeito não sabe o que é isso de cooperação estratégica mas mandaram-no falar e ele debitou. Temos muitas vozes do dono sempre disponíveis!
O mais grave erro cometido por João Lourenço, o sétimo, foi ter renegado o socialismo democrático, matriz do MPLA (é um partido membro da Internacional Socialista) e ter aceitado a imposição de Washington de aderir ao neoliberalismo. Acontece que essa é a área da UNITA. Esse é o caminho do neonazismo. Os sicários do Galo Negro sentiram o perigo e avançaram com o pedido de destituição do Presidente da República. A direcção do MPLA produziu um documento notável em defesa da democracia. E ao defender o regime democrático defendeu o Presidente da República. Espero que mereça esse esforço. Cá estamos todos prontos para defendê-lo dos golpistas.
Adalberto da Costa Júnior e seus parceiros da direcção da UNITA estão a actualizar os seus “quadros” no “Guia Prático” para nunca se esquecerem que “é preciso bater onde dói mais ao Povo Angolano”. A última intervenção política do chefe do Galo Negro foi ameaçadora e revelou um político sem maquilhagem democrática nem a máscara da tolerância.
Aos “quadros” da UNITA foi prometido que iam marchar triunfalmente entre Muangai e Luanda. Depois a rota mudou para a Jamba. Mais tarde, era do Triângulo do Tumpo até à capital, levados ao colo pelos racistas de Pretória. Na guerra que se seguiu às primeiras eleições multipartidárias, Savimbi prometeu que a rota vitoriosa ia do Bailundo a Luanda. Uns meses depois corrigiu a bússola e a via triunfal ia do Andulo à capital “dominada pelos crioulos”.
Sempre que os bandos armados da UNITA tomavam uma capital provincial, a UNITA dizia que a rota triunfal ia dessas cidades a Luanda. Estava Adalberto da Costa Júnior a tratar dos negócios alimentados pelo roubo dos diamantes e todas as traficâncias da Jamba, quando a rota triunfal entre o Lucusse e Luanda, ficou deserta. O chefe ficou com o semieixo partido, Alcides Sakala estava moribundo, os outros todos também não se sentiam nada bem e ali acabou a aventura do criminoso de guerra Jonas Savimbi e os seus sequazes.
O líder da UNITA está a ameaçar seriamente a paz, a estabilidade e, por isso mesmo, o regime democrático. Adalberto é inimigo jurado da paz e da democracia. Ao mandar o torcionário Liberty Chiyaka apresentar o pedido de destituição do Presidente da República, mostrou, mais uma vez, que jamais vai aceitar a paz e a reconciliação nacional. A golpada do grupo parlamentar da UNITA mostrou que o erro capital de João Lourenço ao promover Savimbi a ser humano respeitável, causou e vai continuar a causar graves danos.
Os “quadros” da UNITA estão à espera que toque o apito para avançarem de armas e bagagens, contra a democracia. Desta vez sob a capa de uma “insurreição popular”. Levem muito a sério o comunicado do Bureau Político do MPLA. Aqui deixo um aviso à navegação: Nunca esqueçam as bases do Cuando Cubango onde Savimbi e os “karkamanos” esconderam o exército que lançou a guerra, quando a UNITA foi esmagada nas primeiras eleições multipartidárias.
*Jornalista
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