Artur Queiroz*, Luanda
Maurício Camuto é bispo e secretário-geral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST). Do alto da sua importância eclesiástica chamou os jornalistas e disse-lhes que anda por aí um grupo de iluminados que actua "como se tivesse uma varinha mágica", mas não consegue resolver os problemas do país. O sujeito pode ter muitos defeitos (se chegou a bispo, está carregado de pecados…) mas gago não é. Disse ele:
“Há essa necessidade de implementar a participação de todos os cidadãos, que não haja só um grupo que pensa ser iluminado para levar o país avante, estamos a ver onde é que chegámos por causa disso”. Quando os padres se metem na política dá sempre para o torto. Mas se os metediços são bispos é desastre total. Pior do que bêbedos conduzindo viaturas com os travões avariados e os pneus carecas.
Alimentado pelos vapores da kapuka o homem não tem papas na língua e fala assim dos governantes: “Pequeno grupo pensa ter todas as soluções, como se tivesse uma varinha mágica para resolver tudo. E estamos a ver que não conseguem resolver”. A liberdade de expressão é para todos e os bispos estão incluídos. O Camuto exige mais espaço para a intervenção dos cidadãos na vida púbica e assim “todos possam participar e dar o seu contributo político, social, programático para que ajudemos o país a sair da situação em que se encontra”.
Quem fala assim, das duas, uma, ou acaba de ser despachado do Céu para Angola e ainda não percebeu onde aterrou ou anda a beber demasiado. As e os cidadãos angolanos participam amplamente na vida publica. Elegem os deputados, titulares do Poder Legislativo. Elegem o Presidente da República, titular do Poder Executivo. Angolanas e angolanos participam na vida dos partidos políticos, motores do regime democrático. Angolanas e angolanos dão vida e expressão a sindicatos, associações de intervenção social, desportiva e cultural. Angolanas e angolanos podem criar órgãos de comunicação social nos termos da Lei. Empresas comerciais, industriais e agrícolas quantas quiserem.
O secretário Camuto ainda quer mais? Pois aí tem. Angolanas e angolanos têm ao dispor um vasto leque de instituições religiosas nas quais podem participar livremente. E participam. Igreja Católica, Igreja Metodista e Igreja Tocoísta têm instituições de intervenção social importantíssimas. Escolas desde a pré-primária à Universidade. Ninguém proíbe ninguém de seguir a sua confissão religiosa. A Universidade Católica de Angola até extravasa largamente a sua função social, congregando no seu seio as forças mais reaccionárias que existem na sociedade angolana. Apesar das suas actividades nefastas têm toda a liberdade para fazer mal a Angola e ao Povo Angolano.
O bispo Camuto (este também vai a
ministro sombra da UNITA!) anunciou a Semana Social (de
Autarquia (em direito administrativo) é uma entidade autónoma, descentralizada da administração pública, porém fiscalizada e tutelada pelo Estado, com recursos próprios (provenientes de dotações financeiras do Poder Central, taxas, licenças e outros impostos), cuja finalidade é executar serviços que interessam à coletividade ou de natureza estatal.
Diz o Camuto com a cabeça toldada pelos vapores da kapuka: "Então, é importante que instauremos as autarquias para soluções locais e não esperar por decisões centrais, o que atrasa o nosso país e lança-nos na miséria em que nos encontramos”. Já cá faltava o populismo dos sicários da UNITA. A miséria em Angola deve-se ao centralismo! Se eu lhe disser que a fome, a miséria, as doenças facilmente curáveis e que levam à morte de crianças se deve à Igreja, mesmo não estando longe da verdade, é abusivo e profundamente injusto.
No Negage, antes de existir escola primária oficial, eram os padres capuchinhos (franciscanos) que ensinavam a miudagem a ler, escrever e contar. E a escola não era só para brancos. Pelo contrário, a esmagadora maioria dos alunos da Missão eram negros.
O Camuto disse ainda que "é urgente e necessário a implementação do processo autárquico que pode nos ajudar a sair do marasmo em que nos encontramos. E quando dizem que há localidades que não têm desenvolvimento suficiente para realização das autarquias estamos a colocar a charrua em frente dos bois, este argumento não colhe”. Por falar em bois, o Camuto está a mugir fora do tom. Ninguém disse que não podem existir autarquias onde não há desenvolvimento. Isso é uma invenção ordenada pelos vapores alcoólicos. Mas há em Angola comunas e municípios que não têm população. Pessoas. E aí vamos imitar os colonialistas que colocaram um chefe de posto na Luiana onde as populações eram nómadas?
Maurício Camuto não sabe (veio do Céu e ainda não se afeiçoou à Terra) mas Angola tem autarquias desde o tempo colonial. Tome nota na sua agenda da CEAST. Temos comunas, municípios e distritos urbanos. Temos Governos Provinciais. Autarquias! E se formos ao Poder Tradicional temos sobados e regedorias.
Os municípios são entidades orçamentais autónomas. Os Governos Provinciais também. Sabe o que falta, senhor Camuto? Eleger clientelas partidárias aos magotes, pagas pelo Orçamento Geral do Estado. Falta cobrar derramas, taxas, licenças e outros impostos locais a populações empobrecida ou a ninguém, porque já temos municípios em morte social. Porquê Camuto? Porque os seus amigos da UNITA fizeram a vida impossível aos habitantes das aldeias, obrigando-os a fugir para as vilas. Depois fizeram a vida impossível nas vilas e as pessoas fugiram para as cidades, Nem aí tiveram paz e foram obrigadas a fugir para Luanda ou para o eixo Lobito-Catumbela-Benguela-Baía Farta.
Angola tem autarquias. Sempre teve, desde a Independência Nacional. Mas a guerra do estado terrorista mais perigoso do mundo por procuração ao Zaire de Mobutu e ao regime racista de Pretória não deixou consolidar o Poder Local. Os poucos quadros técnicos fugiram. Os operários especializados seguiram o mesmo caminho. A população activa também. Só ficou no meio dos destroços (a UNITA destruiu todos os equipamentos sociais!),quem não conseguiu mesmo fugir. O Camuto está equivocado mas pode ser que Deus o ilumine e deixe de pensar com o intestino grosso à moda do chefe Adalberto. Os diamantes de sangue ainda dão para comprar a consciências de bispos!
Este diz que não existem autarquias
Basta consultar os últimos números das dívidas públicas em função do PIB para perceber a mentira desses arautos da desgraça reforçados pelo Camuto. A dívida pública de Angola segundo os últimos dados cifrou-se nos 56,1 por cento do PIB. Os nossos vizinhos: Republica do Congo 99,57. Zâmbia 123 e Namíbia 68,9 por cento.
Países da CPLP. Moçambique 101 por cento, Cabo Verdade 127, Brasil 72,87,Portugal 114 e Guiné Bissau 41,1 por cento porque ninguém lhe empresta dinheiro. Dívidas das grandes potências do ocidente alargado donas do FMI e do Banco Mundial e por isso arrotam milhões: EUA 129 por cento, Reino Unido 101, Espanha 113, Japão 264, Itália 145, França 112 por cento. Querem mais? Zona Euro 91,5 por cento e a União Europeia 84 por cento. O cartel europeu entrou na roleta da guerra os números deste ano vão ser mil vezes piores.
O G7 nasceu como um cartel com os países mais industrializados. A partir de ontem, em Vilnius, passou a ser mais um bloco militar. Os estados-membros declararam guerra à Federação Russa por procuração passada à Ucrânia. Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Reino Unido prometeram entrar na guerra até ao último ucraniano. Todos têm uma dívida pública bem mais pesada do que Angola: Alemanha 67,6 por cento. Canadá 106,6 por cento. França 112 por cento. EUA 129 por cento. Reino Undo 101 por cento. Japão 264 por cento. Itália 145 por cento mas o país está rendido à trilogia Deus Pátria Família. O Camuto tem futuro entre os fascistas e os sicários da UNITA.
*Jornalista
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