sexta-feira, 7 de julho de 2023

Em Portugal já não há barracas, agora sobrevive-se em garagens e em vãos de escadas

Viver em garagens. Transparência sem luz. E saúde sem médicos (a nossa edição desta sexta-feira)

David Dinis, director-adjunto | Expresso (curto)

Viva - e obrigado por começar o dia por aqui, connosco.

Olhando para o título desta newsletter, ou até para a capa desta edição, o retrato não é de um país que vai bem. Começo pela manchete: no momento em que os deputados começam a fechar as novas leis para responder à crise na habitação, contamos que o aumento dos preços já leva muitas famílias a viver em garagens.

Na Saúde, contamos que o diretor demitido do Hospital de Santa Maria colocou de férias 75% do pessoal de obstetrícia, considerando que as horas extra resolveriam as escalas. Agora, os médicos recusam-se a fazer horas extra, porque o mesmo Ayres de Campos foi demitido, por estar contra as obras naquela ala do hospital. Os médicos, nesta altura, escreveram ao ministro a exigir a readmissão do diretor.

Na Justiça, fomos perceber o que leva a que tantas pessoas sob suspeita fiquem sem acusação durante tanto tempo (o Rui Gustavo deu-lhe o certeiro título “Arguido por tempo indeterminado”). E de caminho soubemos que um juiz não deu 109 páginas de um recurso de José Sócrates e voltou a parar a Operação Marquês.

E ainda há mais isto: a nova Entidade da Transparência, que tem como missão fiscalizar as declarações de rendimento e património dos políticos, foi criada no início do ano, mas ainda não tem água, luz, internet ou cadeiras nas suas instalações. Imagine o resto.

No meio de tudo isto, contamos também que Pedro Nuno Santos já se prepara para uma candidatura ao PS em 2026, seja contra quem for. E que na Comissão de Inquérito à TAP o PS procura uma abstenção… do PCP. E, já agora, contamos também a estranha história do assessor fantasma de Marco Capitão, o atual secretário de Estado da Defesa.

Mundo fora, destaque para esta reportagem num dos locais mais perigosos do mundo. E para o que se passa em Espanha, onde o Vox (e as suas políticas) podem estar a caminho do Governo.

No caderno de Economia, a manchete podia ser esta: já se contam 98 dias de greves na CP. São mais de três meses. E a contagem continua. Olhando para o todo, saiba que nos primeiros cinco meses de 2023 já houve tantas paralisações como em todo o ano passado.

Outra notícia interessante é que nos conta que um adjunto de Fernando Santos, o ex-selecionador nacional de futebol masculino, também está sob investigação do Fisco. Parece sina.

Mas também há boas notícias. Por exemplo, o setor do Turismo vai bater este ano todos os recordes. Talvez não o surpreenda, mas o facto é que continua a alavancar o país.

A isto juntamos uma análise que se impõe: afinal, os salários estão ou não a provocar inflação? Isto, claro, por causa da alta tensão entre políticos e o BCE.

Já naquele périplo que temos feito por cada um dos 50 anos de história do Expresso, a nossa equipa olhou esta semana para 1998, o ano em que a internet acelerou.

Quanto à Revista,

Na capa vai para esta reportagem com Jens Stoltenberg. Ele é o homem que recebe todas as manhãs novos relatórios do campo de batalha da Ucrânia, o secretário-geral da NATO que queria deixar a organização em outubro, mas deverá ser reconduzido no cargo. É o relato do dia em que subiu uma montanha nos arredores de Oslo. O título é este: a íngreme encosta da guerra.

Mas há mais, claro. Como este excelente “A Rússia e o seu destino”, um ensaio de Miguel Monjardino.

Ou esta “Anatomia de um desastre”, onde se conta como, assolados por um colapso económico sem precedentes e uma classe política predatória, os libaneses continuam a tentar sobreviver ao sistema sectário que afundou o país.

Ou ainda esta pergunta: o que resta da obra de Guerra Junqueiro 100 anos depois da apoteose? É que o mais lido e aclamado poeta português, na transição do século XIX para o século XX, desencadeou as maiores polémicas religiosas e políticas. Mas, apesar de todas as consagrações, deixou de ter a projeção literária que em tempos lhe foi atribuída. As respostas estão por aqui.

Por fim, a entrevista, onde Ronan Bouroullec - designer francês nascido na Bretanha, para quem o desenho tem sido uma companhia de longa data e o design uma ferramenta libertadora -, assume as suas inquietações e partilha com o mundo as fotografias dos seus trabalhos, em breve editados em livro, num elogio ao futuro. O título é este: "Um designer não é um artista”.

A tudo isto, nesta edição do Expresso, é preciso juntar a opinião, a agenda cultural da semana, o guia que lhe diz para onde fugir no Algarve - e todas as notícias, reportagens e análises que aqui não referi. Como vê, não faltam razões para seguir connosco fim de semana fora.

Do meu lado, falta apenas destacar alguns podcasts destes dias - porque o Expresso também se ouve. Esta é a seleção da nossa equipa:

Podcasts a não perder

2011: nunca mais será preciso chamar a Troika? No Liberdade Para Pensar, Paulo Baldaia viaja com Fernando Teixeira dos Santos e Helena Garrido até ao ano em que o país chamou a Troika, depois do PEC 4 ter sido chumbado e José Sócrates se ter demitido. Demissionário, a 6 de abril desse ano, passavam 11 minutos das oito e meia da noite, anunciou que o país tinha pedido ajuda para financiar a dívida do país. Há várias semanas que o chefe do governo resistia a fazer o que toda gente já tinha percebido que era inevitável. Nesse dia, o ministro das Finanças falou com a directora-adjunta do jornal de Negócios e fez saber que era “necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu”.

“Agora estou aqui, não sei se poderei regressar ”. Os combates pelo poder entre o exército sudanês e a Força de Intervenção Rápida em Cartum, a capital do Sudão, matam civis inocentes e ameaçam apagar a produção artística de dezenas de artistas e do movimento que emergiu da revolução de 2019. Em conversa com Cristina Peres em O Mundo a Seus Pés, Rahiem Shadad, co-fundador da Downtown Gallery de Cartum e co-curador da exposição “Disturbance in the Nile”, fala sobre pessoas e a emergência de uma identidade artística nacional agora patente em Lisboa.

Dos verdes anos em Almada à nova vida da Doninha. Carlão e João Nobre, dos Da Weasel, são os convidados desta semana do Posto Emissor. A poucos dias de um concerto no festival MEO Marés Vivas, os músicos recordam os verdes anos da carreira, falam das raízes africanas e assinalam momentos marcantes, como o dia em que abriram para os Red Hot Chili Peppers. No podcast da BLITZ, destaque ainda para o NOS Alive, a chegada da promotora Last Tour a Portugal e o novo disco de PJ Harvey.

Abraço para si. E até já,

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