Filipe Garcia, editor-adjunto de Política | Expresso (curto)
Bom dia,
«O impacto dos eventos XXXX, o
número de pessoas que assistem e as emoções que permitem vivenciar, fazem do
XXX uma plataforma com um alcance e potencial único que não pode deixar de ser
utilizado também com este objetivo». Adivinha sobre o que lhe vou falar? E o
autor da frase, quer arriscar?
A frase é de António Costa, foi dita no passado mês de abril, no congresso da UEFA em
Lisboa e os X não se referem a nada relacionado com religião ou com a Jornada
Mundial da Juventude que, por estas horas, faz chegar a Lisboa o Papa
Francisco. O assunto, em abril, era desporto e a candidatura de Portugal, na
companhia de Ucrânia e Marrocos, a organizar o campeonato do Mundo de futebol
de 2030.
Mas segure os impropérios e as injúrias que não venho aqui escrever sobre os
paralelismos entre futebol e religião. Esses já por cá foram considerados dois
dos três Fs do regime, e a aversão, a um e a outro por fações diferentes, é bem
conhecida. Eu, respeitador de uma máxima que ensinada pela minha avó – “Muitas
graças a Deus, poucas graças com Deus” – e devoto moderado da redondinha, não
trago injúrias. Trago uma dúvida que me chegou, há uns dias, através do twitter de Miguel Poiares Maduro. Escrevia o
social-democrata que esperava que “depois de terminarem as JMJ se gaste um 1/10
do tempo gasto atualmente a discutir as JMJ a discutir custos e benefícios de
organizar o campeonato do mundo de futebol de
Por estes dias, mais do que religião, discutimos contratos e os limites do
estado laico, discutimos os milhões investidos por Estado central e autarquias,
discutimos os exemplos anteriores – de Espanha onde o Governo apenas isentou de
IVA os patrocinadores do evento em 2011 ao recorde australiano com mais de 70 milhões
de euros públicos investidos em 2008 – e discutimos o retorno daquele que é o
maior encontro de jovens católicos no Mundo. Sabemos todos que há coisas que
não se contabilizam, que há realidade ao lado dos números e que esses podem ser
encontrados para validar quase todos os argumentos. Agora, o momento é de
festa, mas também de introspeção. Tenho duas dúvidas. A discussão não começou
tarde? Queremos mesmo as festas todas?
Agora, com o Papa Francisco no ar a caminho de Lisboa, AQUI encontra tudo ao minuto sobre a Jornada Mundial
da Juventude e não faltam reportagens sobre o primeiro dia.
"Reconciliação" e "periferia": o que as 41
viagens do Papa Francisco nos dizem sobre o seu pensamento político
Da “experiência inesquecível” ao “cansaço” acumulado, as
emoções da fila da frente do primeiro dia de JMJ
Das 8h às 19h: o Expresso viaja com o Papa Francisco para
Portugal, com políticos, oito discursos e um carro (fechado) no roteiro
Dia 2 da Jornada: estas são as restrições ao trânsito para esta quarta-feira
Jéssica merecia mais, muito maisInês Sanches, a mãe, Ana Pinto e Justo Montes, ama e respetivo marido, e Esmeralda Montes, filha do casal, foram ontem condenados a 25 anos de prisão pela morte de Jéssica. Uma história com contornos da mais macabra das misérias. Porque tudo terá começado com uma dívida da mãe, por bruxaria, de 200 euros e acabado com Jéssica a ser torturada durante três dias para, depois, a mãe ignorar os evidentes sinais de maus tratos que sofrera. Poupo nos pormenores, mas do tribunal ouviu-se que os próprios magistrados se impressionaram com violência da história e à porta o juiz-presidente do Tribunal de Setúbal apontou à celeridade do processo – um ano, da abertura de investigação à decisão em primeira instância – como o facto positivo a retirar da história. “A criança merece que se explique”, disse António Fialho. Merecia tanto mais.
Trump (novamente) acusado
Quatro crimes de conspiração contra os Estados Unidos, indicou o Departamento de Justiça, em Washington é a nova acusação contra Donald Trump, por alegadamente ter tentado anular os resultados das presidenciais de 2020. É a terceira vez que o antigo Presidente é indiciado pela justiça norte-americana.
A Guerra
Depois
Frases
“Entrámos em campo por todas as meninas que nos viram lá em casa e que um dia sonharam em estar aqui”,
Dolores Silva, jogadora da seleção feminina de futebol
“A Europa tem a obrigação de proteger as minorias do racismo e da discriminação”
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia
Outras Notícias
Menos 1821 sobreiros
“Imprescindível interesse público”, assim considera Duarte
Cordeiro, ministro do Ambiente, a construção do parque eólico de Morgavel, em
Sines. O projeto é da Parque Eólico de Moncorvo, empresa batizada com
o destino inicial do empreedimento e hoje detida pela EDP Renováveis, e terá um
custo que, no mínimo, deve fazer perceber bem o ganho que trará, à região e ao
país: serão abatidos 1821 sobreiros. As contrapartidas ficam definidas assim:
“arborização de povoamento misto de sobreiros e medronheiros” numa área de
Crime no Reino do Pineal?
Comunidade fechada, no meio do campo, com autoproclamado líder, não é mistura
fácil. O cenário piora se, em entrevistas, defenderem crenças há séculos
desmentidas – a terra plana –, resistência à ciência – no reino liderado por Água
Akbal Pinheiro a norma é ser anti-vacinas - ou aversão a mostrar como se cuidam
e como cuidam das crianças. Já há quem lute por de lá resgatar o neto e o Expresso noticiou a morte de uma criança de 14 meses, em 2022,
alegadamente por falta de cuidados médicos. Ontem foi dia da PJ, do SEF e da Segurança Social entrarem pelo
Reino do Pineal.
O melhor está por vir
Uma vitória, um empate e uma derrota, dois golos marcados e apenas um sofrido
é, a frio, o resumo da participação portuguesa no Mundial feminino de futebol.
Mas se tantos dizem que o futebol nunca será apenas um jogo e se tantos têm na
bola a sua religião, ainda mais sabem que o balanço não se faz assim. Porque
foi o primeiro, porque o grupo era exigente, porque as adversárias levam anos,
talvez décadas, de avanço, porque se bateram como iguais contra bi-campeãs do Mundo,
porque nem faltou uma bola no poste para nos podermos queixar do fado,
o Mundial foi de pleno direito. Venha o próximo que, suspeito, não devo ter
sido o único a ficar com a sensação de que o melhor está mesmo por vir.
O que ando a ver
Passou em estreia na noite da passada segunda-feira no canal História, Salazar,
Lisboa e a Segunda Guerra Mundial, documentário, realizado por Bruno Lorvão,
Christiana Ratiney e apresentado pela jornalista belga Elodie Sélys. Uma história
com espiões, alianças e alta diplomacia entre potências – Alemanha, Espanha e
Inglaterra - e um pequeno país cuja posição geográfica o deixava no centro de
um turbilhão. Fica a recomendação, quanto mais não seja porque há documentários
com enredos dignos da melhor ficção.
O que ando a ouvir
Primeiro, a justificação: a desilusão do mais recente disco dos Blur, The
Ballad of Darren, afastou-me das sonoridades mais recentes. Depois, a reação:
procurei um velho porto de abrigo - Pieces of a Man, de Gil
Scott-Heron - um clássico de 1971 que acabou por ficar a rodar por uns
dias. Finalmente, a volta, a provar que, apesar de tudo, o melhor é não
resistir a espreitar as novidades recomendadas: Amatssou, disco lançado
este ano pelos Tinariwen, é uma bela banda sonora para o verão.
Despeço-me com a recomendação dos
nossos mais recentes podcasts,
Os cavaleiros do Papa: como surgiram os jesuítas e
quais as características desta ordem? O podcast A História Repete-se recebe
como convidado o padre António Júlio Trigueiros, sacerdote jesuíta e historiado.
Abaixo a Inteligência Artificial, viva a Estupidez Natural.
Clique na Noite da Má Língua para verificar que é humano.
Marcelo vetou o diploma da contagem de tempo de carreira dos professores, mas
fez saber que aceita uma alteração minimalista, que nada muda a não ser uma
nesga para negociações futuras. Uma alteração cosmética e há quem lhe chame
"ridículo" nesta Comissão Política.
Tenha um bom dia e não deixe de nos acompanhar em Expresso.
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