Artur Queiroz*, Luanda
A Poesia de Agostinho Neto é a voz da Pátria ordenando aos seus filhos que lutem pela Liberdade até à saciedade da vitória. Muitos jovens da minha geração foram impedidos de ouvir o canto. A censura era implacável. Outros ouviram mas não se comoveram. Outros ouviram mas ficaram paralisados pelo medo. A repressão ia desde a tortura à cadeia, dos campos de concentração à morte. Alguns seguiram a voz troante do poeta e aqui estamos.
Nós Somos Mussunda Amigo Nós Somos! No ar a melodia quente das marimbas confunde-se com os gemidos de mães sofridas. O choro desesperado de crianças famintas. Faremos coragem até ao regresso da Liberdade e as condições que lhe dão sentido: Saúde, Educação, Habitação, Trabalho com Direitos.
Em Homenagem ao Herói Nacional e à Pátria que nos legou, deixo-vos esta trova do poeta Malaquias:
VIAGEM AO FIM DA LINHA
Procurei a verdade
No perfume dos jambos
Só encontrei a cobra cuspideira
Comendo crias de pombos verdes nos ninhos
Nas gotas de cacimbo
Depositadas pela madrugada no capim novo
Procurei a sabedoria prodigiosa
De quem sacia a sede do viajante perdido
O sol pletórico de luz cegou-me
Mal me tinha libertado da noite
Segui teus passos Pátria minha
Até ao fim de todos os caminhos
Para além da última montanha rutilante
Exilado das amadas colinas de Katunda
Longe tão longe dos sinais do teu corpo
perfumado de ternura e água fresca
Para lá do horizonte dei passos para ti
Sobre aquela amálgama de caos
Fenecida a dimensão humana no magma revoltado
Tudo se perdia nem noite nem meio dia
O ar era um sufoco de fogo
Que não matava nem se via apenas sufocava
Os sábios do Pingano dizem que o amor
Corre para o nada como as águas do Loge
Se dispersam nas matas ufanas de mil verdes
Desde o vale do Mambamba inundado de fartura
Até à montanha sagrada de Mampuya.
*Homenagem ao Poeta Agostinho Neto
*Jornalista
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