Artur Queiroz*, Luanda
Angola precisou de um poeta e Agostinho Neto respondeu presente. A sua voz poética foi ouvida desde a floresta do Maiombe aos musseques de Luanda, das imensas chanas do Leste às areias do deserto do Namibe. Ajudou-nos a sonhar a paz, amar a liberdade e lutar pela dignidade. Uns aprenderam outros ignoraram. Os mais ressabiados odeiam.
Angola precisou de um médico e Agostinho Neto respondeu à chamada. A máquina repressiva do colonialismo não deixou o nosso Manguxi cuidar das populações pobres dos musseques de Luanda. Pouco tempo depois de regressar a casa e começar a trabalhar, foi preso pela PIDE e deportado para Portugal, primeiro, depois Cabo Verde, com prisões pelo meio. O médico Agostinho Neto é uma lenda na Ilha de Santo Antão. Os defensores do sistema jamais lhe perdoarão minorar o sofrimento aos pobres e excluídos. Naquele tempo um médico estava no topo da escala social e ele virou as costas aos ricos e poderosos. Ainda hoje o odeiam por isso.
Angola precisou de um líder político e Agostinho Neto, o nosso Kilamba, disse que sim. Esteve ao lado do Povo Angolano na luta pela paz, a liberdade e a dignidade até morrer. Alguns pensavam que ia ser um emblema ou mesmo uma máscara através da qual outros falavam. O poeta, o médico, afinal era o líder político e militar que todos esperávamos. O nosso Moisés, como dizia o povo do MPLA em Luanda, quando Agostinho Neto regressou a Angola após concluir a sua especialidade médica.
Os políticos habilidosos enchem a boca com a Juventude. Agostinho Neto chamou os jovens logo a seguir à sua eleição em Kinshasa, quando derrotou a lista encabeçada por Viriato da Cruz. Alguns “velhos” estavam com ele, mas não sabiam se o Kilamba era mesmo capaz de dirigir a luta e o MPLA. Ficaram de pé atrás. Quem deu um passo em frente foram os jovens. Iko Carreira tinha 30 anos. José Mendes de Carvalho (Hoji ia Henda) 22 anos. Pedalé (foi o primeiro a juntar-se a Neto em Brazzaville depois da expulsão do MPLA de Kinshasa) de apenas 20 anos. Benedito, 35 anos. Maria Mambo Café 18 anos. Deolinda Rodrigues 38 anos. César Augusto Kiluanji 18 anos. Manuel Lima 28 anos. Nomes que chegam à memória.
No mesmo ano de 1963, 50 jovens com idades entre os 18 e os 22 anos foram para a Argélia fazer treino militar. Alguns foram comandantes do MPLA: Nicolau Spencer, Floribert Filipe (Monimambo), Ciel da Conceição (Gato), Aristides Cadete (Kimakienda), Arsénio Mesquita (Sihanouk).
No início de 1964 Agostinho Neto promoveu a Conferência de Quadros do MPLA. Foram designados membros de uma “comissão especial” para conduzir a luta armada: O próprio Agostinho Neto, Lúcio Lara, Adriano Pedro, Flávio Fernandes, Pedro Manuel, Ciel (Gato), Carlos Alberto Monteiro (Totoy), Miguel Baya, Aristides Cadete, Floribert Monimambo, Nicolau Spencer, entre outros.
A I Região Política e Militar do MPLA (Cabinda) em poucos meses passou a ser um cemitério das tropas ocupantes. Neto conseguiu o que outros falharam quando ele penava nas cadeias dos colonialistas. O heroico comandante David Moisés (Ndozi), com apenas 26 anos, foi um dos que conduziu a luta vitoriosamente.
A juventude, sempre com Agostinho Neto ao comando, reuniu forças para abrir a Frente Leste. Um desses jovens é o Comandante José Condesse de Carvalho (Toka). Tinha apenas 24 anos! Outro é o Comandante João Luís Neto (Xiyetu) que tinha apenas 20 anos! As tropas ocupantes tiveram que dispersar-se. Vários batalhões foram para a região enfrentar os guerrilheiros. Os sabotadores tornaram todas as picadas, rasgadas nos areais, verdadeiros cemitérios dos ocupantes. O grande combatente das sabotagens foi André Santana Pitra (Petroff). Tinha apenas 26 anos! Juventude unida ao Kilamba.
Agostinho Neto conseguiu o que os seus antecessores não conseguiram nos anos em que ele esteve preso nas cadeias dos colonialistas. Ainda hoje o odeiam por isso. E não apenas os derrotados nos campos de batalha: Portugueses, zairenses, norte-americanos, britânicos, franceses, sul-africanos. Aqueles que eram seus camaradas causaram grandes danos ao MPLA e a Angola. As traições começaram com Viriato da Cruz, passaram pelo 27 de Maio e continuam até hoje. Nos nossos dias, pior do que nunca!
Mário Pinto de Andrade foi o primeiro que compreendeu a necessidade de guindar Agostinho Neto à liderança do MPLA. E bateu-se por isso. Colocou o seu nome em primeiro lugar na lista de apoiantes do Kilamba. Deu a cara. Honestidade intelectual. Que manteve quando também percebeu que já não tinha lugar entre os jovens combatentes sequiosos de liberdade, de armas na mão. Afastou-se.
Outros seguiram o mesmo caminho, afastando-se. Por cobardia ou despeito. Por impotência ou vingança. Mas para esconder as suas fraquezas acusaram Agostinho Neto de ser um ditador. Alguns até queriam congressos em pleno processo da Luta Armada de Libertação Nacional. Ainda hoje odeiam o Kilamba. Mais do que os colonialistas!
Neto triunfou onde todos os seus antecessores falharam. Por isso ganhou a confiança e o respeito dos jovens que aderiram à luta pela Independência Nacional. Os outros não eram melhores nem piores. Simplesmente não conseguiram. Provavelmente esforçaram-se até aos seus limites. Mas falharam. Então porque se põem contra o nosso Kilamba, que triunfou?
A resposta só pode ser dada num a linguagem crua e pela qual peço antecipadamente desculpa. Neto viu muitos camaradas do MPLA voltarem-se contra si, apenas por isto: O preto conseguiu e eles não! Conseguiu mesmo. Por isso estamos aqui, agora, comemorando o 17 de Setembro, dia de todos os heróis nacionais. Dia de Agostinho Neto. Dia do Manguxi.
O Presidente João Lourenço saiu ontem a correr de Havana para Nova Iorque onde participa na Assembleia Geral da ONU. Foi divulgado que vai falar no próximo dia 20. Está a comemorar o 17 de Setembro com Joe Biden, o secretário de defesa, Lloyd Austin e Antony Blinken, secretário de Estado. Em Havana condenou o embargo a Cuba. Conversa fiada. Quem condena esse crime sem nome perpetrado pelo estado terrorista mais perigoso do mundo só tem que fazer isto: Ou levantam o embargo ou levam com sanções! No dia seguinte os criminosos arrepiam caminho.
*Homenagem ao Político Agostinho Neto
*Jornalista
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