Artur Queiroz*, Luanda
O Negage era posto de castigo. Funcionário que se portava mal ia lá parar. O chefe Grandão penou ali até a aldeia ser promovida e passar a ter administração. Veio o administrador Tito Lívio Maria Feijó e o castigado foi parar aos areais do Cuando Cubango. Coitado. Quando chegava a nova autoridade, reunia os brancos todos no largo por trás da sede administrativa em cujo anexo funcionava o posto dos correios, apresentava-se e depois berrava: Quem viva? E a resposta ululante era: Salazar! Salazar! Salazar! Depois eram dados vivas a Portugal e antes de destroçarem, os assistentes ouviam o conselho final: Se soubessem o que custa mandar, preferiam obedecer toda a vida.
O chefe Austin chegou a Luanda, foi recebido com pompa e circunstância no seu Palácio da Cidade Alta (João Lourenço está lá de favor) como se fosse presidente do nosso. Deu as suas ordens, viva Biden, abençoou os presentes onde pontificava o General Furtado e foi-se embora. Pouco depois apareceu no Arquivo Histórico, juntou as suas tropas, disse que o presidente Biden está apaixonado por África mas esqueceu-se de dizer que atira com as suas apaixonadas para a droga e a prostituição. O novo chefe de posto não pode abrir o jogo todo.
O chefe Austin disse que África é importante para a segurança dos EUA e para o seu chefe, presidente Biden. Crucial para o futuro de todos nós. Terrorismo e pilhagem de recursos só com ordem da Casa Branca. Autocracia só se for com ordem da CIA e do Pentágono. Os líderes africanos são inspiradores, agentes das mudanças, vamos colocá-los na linha da frente das nossas agressões, ocupações, roubos pilhagens saques e outras armas diplomáticas ao serviço do Departamento de Estado.
Aqui chorei. Não foi com pena de
João Lourenço ter de ir para as frentes de combate ao serviço do estado
terrorista mais perigoso do mundo. Chorei porque o chefe Austin recordou o
jovem Fernando, um angolano que ganhou uma bolsa do Departamento de Estado, estudou
nos EUA e agora vai acabar com a insegurança alimentar
Estamos salvos. O chefe Austin disse que juntou a energia do continente africano. Está optimista quanto ao futuro de África. Viva o Pai Biden! Ele garante que o sucesso dos EUA está profundamente ligado aos africanos. Quando trabalhamos como iguais está tudo resolvido. Os tijolos da parceria estão aqui. Deitei o olho pela sala mas não vi nada. Não sei porquê mas fiquei com vontade de lhe atirar com um tijolo aos cornos.
Não consigo adaptar-me ao mundo com as regras deles, que segundo o chefe Austin “apoiam a segurança e a prosperidade”. Mas fiquei derretido quando disse: Para nós as Nações africanas são parceiras. Vamos avançar juntos. Vamos criar parcerias na Defesa para partilharmos valores. Para que o continente e o mundo seja mais seguro e mais justo.
O chefe Austin falou dos perigos
no século XXI e garantiu: A nossa cooperação militar com África é muito mais
forte hoje. Mentiroso! Mas já lá vamos. Porque a seguir disse o que todos
esperavam: Empoderamos os nossos parceiros africanos. A ministra Dalva
esvaiu-se
Ele sabe que o chefe Austin mentiu. Porque sofreu na pele os investimentos miliares dos EUA no regime racista da África do Sul. Pode ser que se tenha esquecido ou então só nasceu quando foi nomeado ministro de Estado. Acontece aos melhores. Gostava de saber em que país do mundo um ministro da Defesa tem a seus pés ministros de Estado, a Presidente da Assembleia Nacional ou a Presidente do Tribunal Constitucional. Descemos abaixo de colónia!
Os EUA investiram militarmente no regime racista de Pretória milhares de milhões de dólares. Um milhão de vezes mais do que investiram até agora na Ucrânia. Não se limitaram a mandar umas espingardas. Apoiaram activamente o programa de armas nucleares, químicas e biológicas do governo racista da África do Sul. O programa nuclear em 1967 já estava muito avançado, com o apoio do estado terrorista mais perigoso do mundo. O primeiro teste foi em 1979. Estava presente um Austin qualquer, mais corpanzil menos corpanzil, mas branco!
O primeiro míssil atingia
Israel ficou no lugar dos EUA no que diz respeito ao programa de armas nucleares, químicas e biológicas. Para manifestar a sua parceria estratégica com Angola para a qual já existem os tijolos, o governo do estado terrorista mais perigoso do mundo vetou a entrada de Angola na ONU em 23 de Junho de 1976.
Em outubro de 1998, foi divulgado na África do Sul o “Projecto Coast”, secreto, um programa de guerra química e biológica do governo racista. Foi desenvolvido durante os anos da agressão contra Angola. Os EUA lideraram esse crime contra a Humanidade.
Também ficámos a saber que a República da África do Sul manifestou as suas ambições para o desenvolvimento de armas nucleares, em 1948. No ano de 1957, Pretória fez um acordo com os EUA intitulado “Átomos da Paz”. Uma parceria de 50 anos! Foi denunciado pelo primeiro governo do ANC caso contrário tinha durado até 2007. Se o chefe Austin mandar para Angola uma verba igual à que os sucessivos governos do seu país enviaram para o regime racista de Pretória, Angola fica o país mais rico do nundo!
O chefe Austin prometeu que vai resolver em África o problema das alterações climáticas mas em troca os africanos têm que fazer formatura, devidamente fardados com a bandeira dos EUA, no AFRICOM. Palavras do secretário da Defesa: Vamos trabalhar com os nossos valiosos parceiros africanos para garantirem a segurança dos seus povos. Contem com o AFRICOM para formação militar profissional, logística e muito mais.
A AFRICOM em todo o continente africano. Muitas parcerias marítimas. Com Angola, uma área alargada em cooperação e segurança marítima! O AFRICOM é maravilhoso, na Somália fizemos coisas excelentes. Também no Quénia, Marrocos, Tunísia, Djibuti. Estamos a trabalhar para os nossos amigos africanos.
Olhei para a sala e Carolina
Cerqueira chorava como uma madalena. A ministra Dalva tinha os olhos vidrados
no chefe. A Veneranda Laurinda Cardoso absolveu o escroque. O General Furtado
pôs-se
*Jornalista
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