quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Os Heróis do Ocidente Estreitado – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os europeus ocuparam África. Primeiro com falinhas mansas, espelhos e missangas. Depois pela força das armas até à subjugação final e à escravatura. Milhões de pessoas vendidas em leilões. Milhões de resistentes mortos. O colonialismo foi o mais grave crime alguma vez cometido contra a Humanidade. No continente africano teve a dimensão de genocídio. Pela parte que me toca, sou testemunha da prepotência, arrogância, violência e crueldade dos colonos no Norte de Angola, durante a minha infância, em Luanda na adolescência e em todo o país quando andava de repórter. Vi tudo e de tudo. 

Meu pai não tinha loja comercial aberta, guardava as mercadorias num armazém de pau a pique, carregava a camioneta e ia de aldeia em aldeia fazer a “permuta”, que consistia em trocar os produtos por café mabuba ou descascado. Raras vezes vendia a dinheiro. No início dos anos 50 era assim: Nós chegávamos às aldeias e os habitantes fugiam com medo. Depois vinha o soba conversar. Quando percebia que estávamos ali por bem, o povo saía dos esconderijos. Mas as crianças ficavam ao longe!

Em pouco tempo fiz amigos nas aldeias da região. Estava vencido o medo. Aprendi a fazer carrinhos e gaiolas de bordão, colher visgo para apanhar passarinhos, jogar às pedrinhas e até futebol. Esses meus amigos morreram em 1961, bombardeados pela força aérea portuguesa. Em nenhuma aldeia da região existiam tropas, quartéis ou armas. Só vidas humanas.

Abomino o eurocentrismo com todas as minhas forças. É o combustível do esclavagismo, do colonialismo, do genocídio em África. E a forma mais repugnante de racismo. A civilização ocidental só tem isso? Que conte, que perdure, que interesse à Humanidade, só. Vejam o que fizeram aos valores da Revolução Francesa. Onde está o Pensamento Alemão? Kant foi proibido de escrever sobre religião. O seu contributo para a Liberdade e a Dignidade foi despedaçado pelas bombas que ainda hoje trucidam inocentes.

Mesmo assim tenho os meus heróis ocidentais (ou acidentais?). São quase todos poetas desalinhados, filósofos ignorados, artistas plásticos enclausurados em museus de arte antiga ou moderna (até tu, meu querido Nadir Afonso!), militantes da luta pela liberdade e a dignidade (como tu Buiça!), libertadores como o meu amigo Otelo Saraiva de Carvalho. São as excepções que confirmam a horrenda regra. A moral judaico-cristã larga bombas sobre Gaza!

Na vida já vi tanta raridade que nada me admira. Mesmo assim fiquei estupefacto quando li um arrazoado de Anastácio Ruben Sicato elogiando, com citação e tudo, Winston Churchill. Estes sicários da UNITA estão sempre do lado errado. 

O Sicato diz que Churchill foi o grande herói da II Guerra Mundial. Opinião temerária! Um africano equivocado pode venerar todos os genocidas do ocidente alargado, mas Churchill nunca! Se existisse hoje, era um supremacista branco. A diferença entre ele e Trump está no charuto. Para apagar o genocídio de milhões que cometeu na Índia (Bengala) comprou o Prémio Nobel da Literatura. Andou a fingir que era artista plástico. Os especialistas já contaram 500 telas sujas de óleo pelas suas mãos. Pôs escritores fantasmas a produzir “memórias” em quantidades industriais para ser um homem de letras, tipo Agualusa.

O supremacista branco Winston Churchill financiou assassinatos em massa. Dizia que os indianos são “uma raça inferior” e têm “uma religião “abominável”. Mais esta: “Se há fome na Índia é porque os indianos são uma raça inferior e não gostam de trabalhar”. Comprovado: Em 1943, Winston Churchill condenou à morte pela fome 4,5 milhões de pessoas em Bengala. Roubou-lhes a comida para dar às suas tropas. Os propagandistas vieram mais tarde dizer que “faltou alimentação em Bengala por problemas climáticos”. 

Os seus propagandistas dizem que a Grande Fome de Bengala se deveu a graves problemas climáticos. Falta de chuva para produzir cereais. Já nos nossos dias, especialistas concluíram que na época choveu muito acima da média e não houve escassez de alimentos. Simplesmente o governo de Londres roubou-os para distribuí-los pelos seus soldados. Churchill, o supremacista branco, matou à fome quase cinco milhões de seres humanos em Bengala. 

No ano de 2020 houve uma manifestação em Londres contra o racismo. A estátua de Churchill foi “pichada” com a frase “era um racista”. Eu não estava lá. No mesmo ano foi publicada a obra “O Esplêndido e o Vil”. Autor: Erik Larson. O sicário Sicato pode ler. Mas o melhor está nos vários volumes de “memórias” do próprio Churchill onde as afirmações racistas são mais do que muitas. Como a linguagem pressupõe uma ideologia, temos que o grande herói britânico do ocidente era um Hitler de charuto e fleuma britânica. 

Uma pergunta: O que fez Churchill contra o regime de apartheid na África do Sul? Resposta: Apoiou com grande eficácia e entusiasmo. Sendo o sicário Sicato servidor do regime de apartheid, não admira a sua admiração pelo supremacista branco do charuto.

Ruben Sicato, apesar das suas ligações umbilicais ao regime racista da África do Sul também foi ministro do Governo de Angola, duas vezes. A última entre Abril de 1997 e Dezembro de 1998. Saiu do tacho cheio de dinheiro! Hoje diz que tem saudades do Savimbi e da Jamba. Mandem-no para lá, imediatamente! Mas é bom lembrar-lhe que o supermercado das drogas, diamantes de sangue e marfim já fechou. Vai ter que capinar para comer.

A Comissão Nacional Eleitoral de Moçambique anunciou a vitória da FRELIMO em 64 das 65 autarquias do país. O MDM ganhou apenas na Beira. Dos 15 membros do órgão, cinco votaram contra. A RENAMO tem feito manifestações para ganhar na rua o que perdeu nas urnas de voto. É para isto que a UNITA quer eleições autárquicas em Angola. Aguardem para ver.

Bernardino Manje escreve hoje no Jornal de Angola um texto muito interessante que acaba e começa (título) assim: “Angola é o lugar certo para falarmos de paz”. Verdade! O problema é que o clima está poluído pelos sicários da UNITA. Mas tudo se resolve. Mesmo tendo em conta que Aldraberto da Cosa Júnior vai continuar o processo de destituição do Presidente da República. Na Jamba, é claro.

Os ocupantes israelitas continuam o genocídio na Faixa de Gaza e Cisjordânia. Já bombardaram 25 ambulâncias. Em 15 dias destruíram 57 unidades de saúde. Números de vítimas até hoje: 8.005 mortos dos quais 3300 crianças e 2.000 mulheres. Matam uma criança de 10 em 10 minutos. Ninguém trava o genocídio dos ocupantes na Palestina. 

* Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana