sábado, 9 de dezembro de 2023

Angola | O Sentimento da Notícia e Edições Perdidas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os radialistas angolanos eram muito cientes do seu espaço e não queriam ser jornalistas. Eu bem lhes dizia que a Linguagem Jornalística e sua gramática nasceram graças à democratização da Rádio. Até ao desenvolvimento da comunicação à distância e às ondas radiofónicas, o jornalismo usava, de empréstimo, a linguagem literária. E com ela viveu durante séculos. 

Os telegramas das agências noticiosas e o tempo real da Rádio impuseram o modelo da mensagem directa, substantiva e afirmativa, tendencialmente imperativa. Um mundo maravilhoso associado à voz humana que é e sempre será o mais belo espectáculo do mundo.

A Rádio Angolana nos primórdios era mesmo um grande espectáculo. As vozes que iam ao microfone eram impecáveis, imaculadas, sem o mínimo defeito de dicção. Os edifícios sonoros, ainda rudimentares, usavam a música com ou sem palavras como material de construção. Os sonoplastas apareceram em grande nos anos 60. Ninguém teve a sorte que eu tive. Trabalhei com os melhores técnicos do mundo: João Canedo, José Maria e os manos Neves (Artur e Fernando). 

Apesar de todos os esforços, os jornalistas na Rádio eram apenas “assistentes literários”. A primeira Redacção a sério nasceu na Emissora Oficial de Angola (RNA). Foi criada e dirigida por Cruz Gomes, que veio do Jornal do Congo e Rádio Clube do Uíge. Em 1974, foi substituído por António Cardoso, Manuel Rodrigues Vaz e este vosso criado. Criámos duas Redacções, uma para cada jornal, às 13 e às 20 horas. Eu chefiava a Redacção do Jornal das 13,00 horas e impus a paridade de género. 

A minha adjunta era Graça D’Orey. E além dela, trabalhavam nessa redacção as jornalistas Maria Dinah, Catarina Gago da Silva, Isabel Colaço e Conceição Branco (Tatão) mais conhecida por Leoa de Benguela. Os homens: Victor Mendanha, José Mena Abrantes, Pena Pires, Quinta da Cunha, Anapaz, Francisco Simons (chefe da reportagem) e o estagiário João Melo. As vozes também estavam em paridade: Luísa Fançony, Maria Dinah, Francisco Simons e Manuel Berenguel. Se fosse necessário avançavam também Concha de Mascarenhas e Horácio da Fonseca. Eram as pistolas de ouro. Mas sempre uma voz feminina e uma masculina.

Os radialistas angolanos eram excelentes. Joana Campino e Sebastião Coelho puseram o Rádio Clube do Huambo nas bocas do mundo ao lançarem o programa Xeque-Mate (já estavam a pensar em João Lourenço) o primeiro interactivo. Os ouvintes ligavam para a estação respondendo a questões culturais. Foi este espaço radiofónico que catapultou Sebastião Coelho para o topo da Rádio Angolana. Melhores do que ele, só mesmo os que tinham o sentimento da notícia. As suas vozes eram excepcionais, ninguém elevou o espectáculo da Rádio ao nível que eles elevaram. Os espectáculos radiopublicitários tiveram também mestres: Alice Cruz, Ruth Soares, Artur Peres e Luís Montês.

Durante o festival da voz, essas e esses radialistas com o sentimento da notícia vendiam bilhetes para o espectáculo da Rádio. E informavam! Ninguém fazia isso melhor do que Norberto de Castro, Paulo Cardoso e Concha de Mascarenhas. Foi este sentimento da notícia que abriu uma porta, estreita, ao Jornalismo Radiofónico. Nunca se esqueçam, o pioneiro foi Cruz Gomes. Nem pensem que há amiguismo nesta opinião. Ele e eu estamos em campos radicalmente opostos política e ideologicamente. 

O Jornal de Notícias do Porto hoje não chegou às bancas devido a uma greve com perda de edição. Como agora é moda, esta luta foi falsificada por um canal de televisão. Noticiou que a última perda de edição foi há 35 anos devido a uma greve por razões salariais. Mentira. Eu estava lá e era delegado sindical. A greve aconteceu porque a administração da empresa colocou à porta, humilhando-os, dois profissionais com provas dadas, um vindo da do jornal “Diário” e outro do “Diário de Lisboa”. Trabalhavam com o estatuto de “colaboradores externos”. A greve foi para que ambos fossem integrados nos quadros. E foram. Seus nomes: João Ogando e José Gomes Bandeira.

Trabalhei no Jornal de Notícias 10 anos. Nuca me tinha acontecido tal desastre. Até então, o máximo que aguentava eram meses devido ao conflito insanável que mantenho com os patrões e o prazer que me dá mandá-los à merda. Fui ficando no JN porque encontrei lá grandes jornalistas. A mesma doença atacou-me no Jornal de Angola. A minha primeira passagem por lá foi curta, meados de 1976 a Janeiro de 1977. Mas a segunda foi de dez anos! Porque encontrei lá gente que amava o Jornalismo. Almas gémeas.

O Jornal de Notícias foi destruído pelo Coronel da Lusomundo e seus sucessores desde o António Mosquito, milionário angolano protegido pela turma de João Lourenço, até ao Marco Galinha. Mandaram embora os jornalistas! Hoje a empresa chama-se Global Media e o testa-de-ferro dos patrões é José Paulo Fafe. Este recebia um salário na revista Sábado porque era protegido do patrão, um bom homem que ele enganava miseravelmente. Um dia a polícia foi prendê-lo à redacção. Escapou porque se escondeu no forro do telhado. Assim se destrói um jornal centenário que é marca indelével do Jornalismo Português. Espero que não aconteça o mesmo na empresa do Jornal de Angola. O Mosquito e o Galinha andam por aí.

A matança na Faixa de Gaza continua com especial violência. Primeiro o sul era lugar seguro e os nazis de Telavive deportaram para lá, à bomba, mais de um milhão de pessoas que moravam na cidade de Gaza. Os sionistas assassinos dizem agora que afinal o sul é onde está a força armada do HAMAS. Toca a destruir tudo à bomba. Milhares de pessoas mortas. Como sempre, mais de 80 por cento mulheres e crianças, todos terroristas como António Guterres e o Papa Francisco.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, invocou o Artigo 99º da Carta das Nações Unidas como forma de levar o Conselho de Segurança a adoptar medidas que preservem a paz mundial, pondo fim ao Genocídio na Palestina. Os nazis de Telavive imediatamente reagiram dizendo que a acção de Guterres revela “baixeza moral e põe em causa a paz mundial”.

A actriz Susan Sarandon fez esta declaração: “Muitas pessoas têm medo de ser judias neste momento. Estão a começar a sentir o sabor de como é ser muçulmano nos EUA, tantas vezes sujeitas à violência”. Em 17 de Novembro, a actriz participou numa manifestação em Nova Iorque em apoio ao povo da Palestina. Foi imediatamente despedida!

Paddy Cosgrave fundador da Web Summit foi afastado porque denunciou crimes de guerra de Israel na Faixa de Gaza. Israel boicotou as actividades deste ano em Lisboa. Ai de quem dê opinião que não agrade aos nazis de Telavive. No final das contas só escapam mesmo os assassinos Biden, Blinken e Aastin.

Hoje, dia 7 de Dezembro, Mário Soares faria 99 anos se estivesse vivo. Hoje mesmo começaram as comemorações do ano do seu centenário. Vão ser 12 meses de actividades políticas e culturais em homenagem ao sócio do Savimbi que montou com a CIA as pontes aéreas para Angola ficar sem quadros.

Entre nós, o centenário de Agostinho Neto foi ignorado. Fizeram umas coisitas em 17 de Setembro de 2022. Mais nada. Os piores inimigos de Angola estão refastelados no poder. Mas por pouco tempo. O soba Kumbi dia-ku-biti já roubou ao Invejado as aberturas dos telejornais na TPA. As agentes da USAID já ofuscam a primeiríssima dama. E o chefe, na sua visita aos EUA, foi ao cangalheiro da Casa Branca escolher um caixão bonito.

Chefe, não faz isso! Ainda não morreu e já anda à procura de caixão? Primeiro chama o enfermeiro. Depois o doutor. Se não pegar, então entrega tudo ao soba mobutista Mushingi. Mas aguenta só até 2027. Calma, ainda não é tempo do komba!

* Jornalista

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