segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Quando For Grande Quero Ser Historiador -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Se eu tivesse formação em História fazia tudo para que o Presidente João Lourenço compreendesse a diferença entre a notícia e narrativa histórica. A mensagem informativa só existe se tiver actualidade. O tempo é a sua marca distintiva. Os fragmentos de informação, devidamente recortados, são a matéria-prima. Os jornalistas sabem fazer isso. Os repórteres vão mais longe contando como aconteceu e porque aconteceu. Os jornalistas trabalham o acontecimento. 

Os historiadores consultam pacientemente as fontes. Mergulham no passado longínquo, usando ferramentas que permitam estudar o Homem e as suas actividades no tempo e no espaço. Analisam cientificamente processos ocorridos no passado. A História não é o tempo real dos meios audiovisuais. Não é o dia dos jornais diários. Não é a semana dos semanários. Não é o directo da Rádio e da Televisão. 

Se já soubesse estas coisinhas, o Presidente João Lourenço nunca teria dito que a guerra na Ucrânia começou no dia 24 de Fevereiro de 2022. Isso dizia eu, que sou repórter e mesmo a cair da tripeça ainda vivo em cima do acontecimento, sempre pronto para a notícia e a reportagem. Mesmo nessa pele velha e endurecida, se produzisse uma mensagem informativa sobre o acontecimento, sempre referia como lastro e “enquadramento” os movimentos “Euromaidan” em Kiev, iniciados no ano de 2014 e orquestrados pela CIA. O golpe de estado que depôs o presidente eleito, Viktor Yanukovych.

Eu, repórter, ao noticiar os acontecimentos ocorridos no dia 24 de Fevereiro na Ucrânia, dedicava pelo menos um parágrafo ao massacre da Casa dos Sindicatos em Odessa, executado pelos grupos de extrema-direita, assumidamente nazis. Referia a guerra no Donbass contra as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e de Luhansk. Fazia uma referência ao relatório da Agência da ONU para os Direitos Humanos que denunciou uma limpeza étnica de hordas nazis no Leste da Ucrânia. Em Kiev mandam os nazis do Sector Direita, Bandera e Batalhão Azov. Referia os Acordos de Minsk e como eles foram rasgados.

Um repórter decente não produzia uma mensagem informativa sobre a “guerra na Ucrânia” sem referir o avanço das bases da OTAN (ou NATO) rumo às fronteiras da Federação Russa. Apesar da guerra, já chegaram à fronteira com a Finlândia e brevemente com a Suécia, tornando o Mar Báltico um espaço exclusivo do bloco militar ao serviço dos EUA. Um historiador medíocre, com o diploma comprado no Mercado dos Congoleses, ao pronunciar-se sobre a “operação militar especial” iniciada em 24 de Fevereiro de 2022 pelas tropas russas, só escrevia sobre o assunto, indo às origens do conflito.

Um político decente só abre a boca sobre a guerra na Ucrânia depois de cruzar as fontes, consultar documentos e recolher testemunhos. Só assim pode falar dessa carnificina com propriedade e devidamente informado. A não ser que seja boca de aluguer do estado terrorista mais perigoso do mundo, da União Europeia, da OTAN (ou NATO) e do Reino Unido, a coligação que assumidamente quer infringir à Federação Russa “uma derrota estratégica”. Fica mal a qualquer Chefe de Estado desempenhar esse papel. E particularmente ao Presidente da República de Angola. Quanto mais não seja, por uma questão de respeito pelos 48 anos de Independência Nacional e os 13 anos de Luta Armada de Libertação. 

O Presidente João Lourenço desejou paz na República Democrática do Congo, no Sudão, na Ucrânia, na Palestina e em Israel. A Federação Russa foi excluída. Se eu fosse seu assessor ou consultor explicava-lhe que essa exclusão é ofensiva e inamistosa para o Povo Russo, que tanto deu ao Povo Angolano durante a primeira e a segunda Luta Armada de Libertação Nacional e na Guerra pela Soberania e Integridade Territorial.

Os russos são vítimas de uma guerra imposta pelo “ocidente alargado” por procuração passada à Ucrânia. Atenção! Os mentores dessa agressão anunciaram que o objectivo é infringir ao país amigo do Povo Angolano uma “derrota estratégica”. Qualquer político medíocre, mesmo o Adalberto da Costa Júnior e todos os outros sicários da UNITA, sabe o que isso significa: Pôr fim à existência da Federação Russa. João Lourenço está do lado errado da História. Colocou Angola e o Povo Angolano contra os amigos de sempre e ao lado dos inimigos que hoje fingem ser “parceiros estratégicos”.

João Lourenço desejou paz na Palestina e em Israel. Esta parte é inexplicável. Incompreensível. Mas fazendo um esforço chego a esta conclusão: O Presidente da República persiste no erro de olhar para a História como se tratasse do ontem. No dia 7 de Outubro, combatentes palestinos atacaram unidades militares e estruturas militarizadas (Kibutz) em Israel e já está! Começou uma guerra entre Israel e a Palestina. 

Marcelo Rebelo de Sousa disse ao embaixador da Palestina em Lisboa: “Foram vocês que começaram a guerra no dia 7 de Outubro”. Quando ele era menino os fascistas, em casa, na rua, na escola, na sacristia, fizeram-lhe a cabeça, é natural que pense assim. Mas João Lourenço é uma vítima do colonialismo e do imperialismo. Ouvi dizer que tem uma licenciatura em História. Por essas e por outras devia saber que a guerra entre Israel e a Palestina começou há mais de 70 anos. Israel ocupa a Palestina há quase 60 anos! 

Os nazis de Telavive fizeram da Faixa de Gaza uma imensa prisão a céu aberto. Instalam “colonatos” na Cisjordânia. Rasgaram o Acordo de Oslo. Com a tomada de posse do actual governo, dominado por sionistas nazis, foi posta em marcha uma operação para expulsar os palestinos de Gaza e da Cisjordânia. A resistência era inevitável. 

Depois do dia 7 de Outubro, os nazis de Telavive cortaram a água, energia, medicamentos, energia e alimentação à Faixa de Gaza. Estão a matar milhões de palestinos à fome, à sede, com doenças. Bombardeiam diariamente o território sabendo que uma bomba que cai na região mata seguramente civis indefesos. Fazem incursões nos campos de refugiados, matando mulheres e crianças. Matam jornalistas para não existirem testemunhas. Matam funcionários da ONU deliberadamente porque o secretário-geral não se calou ante o genocídio em curso. Matam médicos e outro pessoal da Saúde. 

Israel ocupa a Palestina. Israel extermina os palestinos. Israel tem legislação que oficializa um regime de apartheid. Só por sabujice alguém deseja paz aos genocidas e às suas vítimas. Só obedecendo cegamente aos amos de Washington um político ofende tão cruelmente um povo vítima da ocupação estrangeira. Os ocupantes em menos de três meses já mataram 21 mil civis indefesos, mais de 70 por cento crianças e Mamãs.

O Governo da África do Sul, em sentido contrário, apresentou uma queixa contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas por violação das obrigações que constam na Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio. As voltas que o mundo dá! Os angolanos em armas ajudaram Namíbia, Zimbabwe e África do Sul a libertarem-se do criminoso regime de apartheid. Hoje os sul-africanos libertados dão-nos lições de dignidade e de como respeitar a Liberdade e os Direitos Humanos.

Com a conivência dos poderes públicos, o embaixador de Israel em Angola, Shimon Solomon, faz propaganda do regime nazi e apartheid de Telavive. Qual não foi o meu espanto quando vi na manchete do Jornal de Angola “online” esta notícia: “Embaixada de Israel em Angola e IESA Preparam Acordo de Cooperação”. 

A Igreja Evangélica Sinodal de Angola (IESA) e os nazis de Telavive, segundo o Jornal de Angola, “vão dinamizar projectos sociais nas comunidades”. E transportar para Angola as experiências dos genocidas. Esta é a resposta à recente declaração da direcção do MPLA na qual se solidariza com a Palestina. Não é melhor explicar ao Presidente Lourenço que Angola é um país independente há 48 anos? Nem o sobado do Dambi alinha em tão graves irresponsabilidades.

Feliz Ano Novo. Estou em festa, Mais um dia de vida!

* Jornalista

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