quinta-feira, 21 de março de 2024

Angola | Chefe Supremo Censurado – Artur Queiroz

 Artur Queiroz*, Luanda

A hora é grave. Em pleno dia mundial das árvores e da poesia, quando a embaixadora da União Europeia em Luanda promete aos angolanos um chouriço de paio se Angola lhe der mil porcos (os sicários da UNITA entram no negócio), eis que é pública e notória a censura ao Presidente João Lourenço. O chefe supremo está a ser censurado. O Mantorras do combate à corrupção com os bolsos a transbordar, foi abandalhado pelos Media públicos e privados. Estamos perdidos.

João Lourenço felicitou Vladimir Putin pela sua eleição com números esmagadores. Os líderes do ocidente alargado ficaram mesmo esmagados. Até nas embaixadas das grandes capitais ocidentais o líder russo ganhou com mais de 72 por cento dos votos. A viúva de Navalny ganhou uma fortuna. Já era multimilionária virou trimilionária. Se eu soubesse casar, tentava um casamento com ela, mesmo sendo incompetentíssimo em temas matrimoniais. O dinheiro cega. Ceguinho seja eu.

Os Media angolanos, públicos e privados, não deram notícia das felicitações de João Lourenço a Vladimir Putin. Censura pura e dura. Ataque ao chefe supremo em cheio no coração. Lula da Silva mandou uma carta ao seu homólogo russo. Além de felicitações desafiou-o a fazer a paz na Ucrânia. Sabendo disso, os ajudantes de Zelensky anunciaram que o país está a precisar de uma ditadura. Qual é o problema? Regimes nazis, ditatoriais, fascistas, estão a ser instalados desde Lisboa a Helsínquia com passagem por Londres e Washington. O nazismo avança rápida e tumultuosamente em todo o ocidente alargado.

Quem censurou João Lourenço? O chefe Miala está à pega. Ou o sistema é forte e aguenta ou é fraco e arrebenta. Tudo indica que vai rebentar. Começa a dar sinais de fraqueza com a greve geral que está a decorrer. Os Media públicos ignoraram o acontecimento. Hoje o Jornal de Angola fala na luta dos trabalhadores porque o grupo parlamentar do MPLA recusou na Assembleia Nacional um manobra dos sicários da UNITA para se colarem aos grevistas.

Aviso mais uma vez. Enquanto existir a UNITA, o Povo Angolano não sai do pântano. Os sicários da UNITA sujam tudo, emporcalham tudo, apodrecem tudo. Imaginem Adalberto da Costa Júnior, destilando ódio a Angola, pingando podridão, apertando a mão aos grevistas! Fica tudo podre, até a sagrada luta dos trabalhadores. 

A TPA esconde a greve geral. Mas entrevistou um tal Alano Sicato, mais um podre insanável, e ele, muito despachado, disse em nome da ministra Teresa Dias: “O diálogo continua e 80 por cento das reivindicações dos trabalhadores foram aprovadas!” Só falta mesmo o salário. Kumbu para comer.

Naquele tempo o Maciel organizava rotas pelos antros do pecado em Benguela. Na etapa final só já restávamos os dois. E ao fim da manhã, vergados ao peso da terrível ressaca, entrávamos no Bar Guimarães, passo incerto e di lento. O Zé murmurava: vocês estão bonitos! E virava-nos as costas. Vinha Don’Ana e perguntava ternamente: Meus filhos o que querem almoçar? O Maciel dizia esforçadamente: Muzongué! 

Para enganar o tempo bebíamos mais uns finos entremeados com um cálice de bagaço branquinho, para atrasar. Chegava o caldo a ferver e o Maciel protestava: Don’Ana está onde o peixe? Está onde o conduto?

Ela entrelaçava as mãos colocadas sobre o peito e respondia: Meus filhos. Se eu der ao cão um quilo de carne do lombo ele engole sofregamente, nem saboreia o bocado. Se lhe der uma tirinha de carne faz o mesmo. Vocês estão como o cão. O caldo está aí. Água, sal, um dedal de azeite dendém e têm na mesa jindungo com fartura. Esmagam bem um ou dois, metem o caldo por cima, mexem e bebem. Dá para escaldar as goelas e matar a bebedeira. O conduto só atrapalha. Isso aí é 80 por cento de muzongué.

Tomate, cebola, batata-doce, mandioca, pungo fresco, corvina seca, nada. Nadinha. Estás a ver, Maciel? Não se pode beber assim. Depois só temos direito a 80 por cento do caldo.

O Alano Sicato e a ministra Teresa Dias vão ao restaurante. Pedem um bife com molho de natas e noz-moscada. Batatas fritas e ovo a cavalo. Vem a atravessa para a mesa e só tem batatas fritas. Senhor empregado? Está onde o bife? O senhor perfila-se e responde: Hoje só têm direito a 80 por cento da refeição. Cadeiras, mesa e toalhas 40 por cento. Talheres, copos e cesto do pão 40 por cento. Os outros 20 por cento hoje não servimos.

A senhora ministra sente um arrepio de fome no bandulho e o Sicato (este também é sicário da UNITA, só pode…) telefona ao chefe Miala para mandar polícia de choque que ponha na ordem os grevistas. Até agora já foram presos membros de piquetes de greve!

A greve geral em curso também foi atacada pelo reverendo Dinis Eurico, da Igreja Evangélica Sinodal de Angola (IESA). Não façam greve. Isso prejudica todos. Os grevistas prejudicam os filhos que ficam sem escola. Eles se precisarem de ir ao hospital não têm quem lhes trate da saúde. A greve vira-se contra os grevistas.

Eu já sabia. Até os representantes de Deus na Terra são a favor dos ricaços. Havia na zona do “metro” Saint-Georges, Paris, um teatrinho e lá ouvi Don Pepe de la Matrona cantar flamengo. Atahualpa Yupanqui cantou também, com a sua voz sofrida: Dizem que Deus existe. Talvez sim. Talvez não. Mas é seguro que come à mesa do patrão! Para os comensais não se incomodarem durante a refeição, o reverendo Dinis Eurico garante serviço de bacio. Podem beber à vontade. Urinam no sítio onde comem. É por estas e por outras que adoro os deuses e frequento todas as igrejas. 

Vo Van Thuong demitiu-se do cargo de Presidente da República Socialista do Vietname e de líder do Partido Comunista. Há um ano ele tornou-se o presidente mais jovem do país com apenas 53 anos. Os Media vietnamitas noticiaram que o presidente demissionário violou as regras do partido e “essas falhas tiveram um impacto negativo na opinião pública, afectando a reputação do partido, do Estado e dele pessoalmente".

A demissão de Vo Van Thuong tem a ver com a sua ligação ao Grupo Phuc Son, que está a ser investigado por crimes de corrupção. Não digam nada ao Presidente João Lourenço. Censura de ferro. Escondam esta notícia maldita. Isto de atentar contra a reputação do partido e do Estado é doença em Angola. Uma epidemia terrível. Arrasa tudo!

* Jornalista

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