quinta-feira, 2 de maio de 2024

A Festa dos Trabalhadores -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No Primeiro de Maio há 50 anos (meio século!) foi convocada uma manifestação de apoio à Independência Nacional. Os manifestantes concentraram-se na Mutamba e iam em marcha até ao Palácio da Cidade Alta. Em frente ao Ministério das Finanças, duas jovens empunhavam uma grande tarja onde estava escrito: Abaixo o Colonialismo. Viva Angola Independente. 

A cabeça da manifestação foi subitamente atacada pela polícia. As duas mulheres foram presas e a tarja “apreendida”. Uma prisioneira era Rita Lara, prima de Alda Lara, Ernesto Lara Filho e Lúcio Lara, então chefe da secretaria do Liceu Paulo Dias de Novais. A outra era Orquídea Augusto, directora técnica de uma farmácia no Bairro Popular e professora. 

A prisão das duas mulheres não desmobilizou os manifestantes. Pelo contrário, partiram todos em fúria para o Palácio da Cidade Alta. Abaixo o colonialismo, Viva a Independência de Angola Libertem imediatamente as manifestantes. 

À porta do palácio estavam agentes da PSP e homens à civil exibindo pistolões à cinta. Eram agentes da PIDE/DGS. Também existiam manifestantes armados com granadas e pistolas. Esses colocaram-se na primeira linha e também exibiram o seu armamento., Estavam criadas as condições para um banho de sangue. Oficiais do Movimento das Forças Armadas em Angola (MFA) chegaram mesmo a tempo de garantir aos manifestantes que as duas mulheres já tinham sido libertadas. E pediram a desmobilização. O que aconteceu.

Em Angola, há 50 anos ainda existia a polícia política dos colonialistas. Ainda existiam presos políticos no campo de concentração do Bentiaba (São Nicolau). Os independentistas brancos conspiravam para declararem unilateralmente a independência com o apoio dos regimes racistas da Rodésia (Zimbabwe) e África do Sul. Graças ao MPLA o Povo Angolano triunfou. Por isso nas sucessivas eleições tem a confiança dos eleitores.

O retornado desalmado Carlos Rosado de Carvalho, homem de mão do chefe Miala e servente de poderes ilegítimos diz que os Generais Angolanos têm de entregar o poder aos civis. Que eu saiba não há Generais no activo exercendo o poder. Há um General no Ministério da Defesa. Normal. Um General é ministro do Interior. Normal. O Presidente da República é General mas há muito tempo que trocou a sociedade castrense pela política. Ele foi o dirigente do MPLA que garantiu a operação da campanha eleitoral em 1992. É líder do MPLA.

O retornado raivoso Carlos Rosado de Carvalho mandou para casa o Presidente João Lourenço, eleito com maioria absoluta dos votos, em 2022. E fez isto numa Universidade. A liberdade de expressão tem destas coisas. Um retornado, que odeia Angola Independente, ousa mandar para casa o Presidente eleito. E o farsante está ao serviço do chefe Miala! Vamos de mal a pior.

Hoje fico por aqui. Deixo um poema de amor e cansaço do poeta Malaquias. Vou para a festa do Primeiro de Maio:

Cantei e Parti

(Romance de Cidrália e um passo di lento no Salão dos Anjos)

Perdi a intimidade

à luz do meio-dia

quando enfrentei o Sol

no orvalho do capim fresco

à boca da madrugada

e no esplendor do crepúsculo.

Ndunda!

O Sol não vem com as nuvens

mas continua a nascer

nas mwanzas da kapopa

em cada amanhecer.

Ndunda!

O Sol não volta nunca

nem ao porto de abrigo

nem ao umbral da porta

nem ao caminho do nada

nem à poeira da estrada.

Ndunda!

Cantei poemas e parti

para tão longe de casa

que quando quis voltar 

faltou-me a luz solar 

e a intimidade do luar:

mas continuo a pairar 

na doce  ilusão da liberdade.

Ndunda! Ndunda!

* Jornalista

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