quinta-feira, 2 de maio de 2024

Manifestações pró-Gaza nas universidades dos EUA atingem novo pico de violência

Na segunda quinzena de abril foram feitas detenções em 19 universidades de, pelo menos, 15 estados. Na madrugada de ontem, em Nova Iorque, a polícia deteve 300 pessoas.

Apoiantes de Israel atacaram na madrugada desta quarta-feira um acampamento de protesto pró-palestiniano na UCLA, em Los Angeles. Horas antes, do outro lado dos Estados Unidos, em Nova Iorque, a polícia invadiu um edifício da Universidade de Columbia ocupado por manifestantes contra a guerra em Gaza, acabando por deter 300 pessoas. Estes dois incidentes são exemplo de um novo pico de violência nestas manifestações universitárias.  

Nas últimas semanas, acampamentos de protestantes a exigir que as universidades norte-americanas deixem de se relacionar com Israel ou com empresas envolvidas na guerra em Gaza têm vindo a aumentar um pouco por todo o país, criando um movimento estudantil ímpar no século XXI e que, devido às crescentes intervenções policiais para reprimir protestos, já está a ser visto como semelhante ou maior do que aquele que os Estados Unidos viveram durante a guerra do Vietname. Só entre 17 e 29 de abril, segundo contas feitas pela AFP, já se registaram detenções de manifestantes pró-palestinianos em 19 universidades de, pelo menos, 15 estados norte-americanos. 

Paralelamente, estes protestos estão também a ganhar conotações políticas, que chegam até aos candidatos presidenciais. Joe Biden criticou duramente a tomada de Hamilton Hall, na Universidade de Columbia, pelos manifestantes, com um porta-voz da Casa Branca a dizer que era “absolutamente a abordagem errada”. Já Donald Trump, numa entrevista à na Fox News, lamentou o “anti-semitismo que está a impregnar o nosso país” e criticou Biden por inação.

Quanto aos últimos incidentes, na madrugada de ontem, funcionários da UCLA anunciaram que o acampamento montado nesta universidade de Los Angeles era ilegal e com seu presidente, Gene Brock, a garantir que o protesto incluía pessoas “não afiliadas ao nosso campus”. Uma afirmação que, segundo os media americanos, não foi acompanhada de qualquer prova.

Imagens das primeiras horas dos incidentes mostram contramanifestantes, na sua maioria do sexo masculino e mascarados, a atirar objetos e a tentar derrubar as barreiras de madeira e aço erguidas para proteger o acampamento pró-palestiniano, ao mesmo tempo que gritavam comentários  pró-israelita. Havia também que levasse bandeiras de Israel e passasse gravações de vários sons, como bebés a chorar e sirenes. “Eles estavam a atacar-nos violentamente. Nunca pensei que chegassem a este ponto, onde o nosso protesto é recebido por contramanifestantes que nos ferem violentamente, nos infligem dor, quando não lhes estamos a fazer nada a eles”, contou à Reuters Kaia Shah, investigadora na UCLA e também manifestante. 

Esta “invasão” acabou num cenário de luta entre os manifestantes de ambos os lados. Segundo a AP, a mayor de Los Angeles, Karen Bass, classificou esta violência como “absolutamente abominável e indesculpável” e disse que a polícia local tinha sido chamada ao local a pedido da UCLA e que oficiais  da Patrulha Rodoviária da Califórnia reforçaram o contingente.

Horas antes destes incidentes na UCLA, agentes da polícia de Nova Iorque entraram no campus da Universidade de Columbia, a pedido da sua direção. Os agentes desmobilizaram o acampamento e invadiram Hamilton Hall - edifício que tinha sido ocupado por estudantes cerca de 20 horas antes - usando uma escada para entrar por uma janela do segundo andar.

“Quando a universidade soube durante a noite que Hamilton Hall havia sido ocupado, vandalizado e bloqueado, não tivemos escolha”, justificou a escola em comunicado.

A alguns quarteirões de distância de Columbia, na City University of New York, os manifestantes travaram um impasse com a polícia do lado de fora do portão principal da faculdade pública. Segundo o mayor de Nova Iorque, Eric Adams, cerca de 300 pessoas foram detidas nestas duas universidades quando a polícia limpava os acampamentos pró-Gaza. 

Na tarde desta quarta-feira, centenas de pessoas, a maioria identificando-se como professores e funcionários da Universidade de Columbia, marcharam e cantaram no lado leste do campus, perto do Hamilton Hall. Muitos manifestantes seguravam cartazes com os dizeres “Proibida polícia no campus” e gritavam slogans dirigidos à presidente da universidade, Nemat Shafik, incluindo “Quantas crianças prendeu hoje?”. 

Noutras partes do país, como na Universidade do Wisconsin, pelo menos 12 pessoas foram detidas numa manifestação, enquanto que na Universidade do Texas os estudantes decidiram montar um acampamento pró-Gaza, e na Universidade do Connecticut, um dia depois de 25 terem sido detidos, estavam a planear mais protestos. 

Ana Meireles | Diário de Notícias | Imagem: Mark Abramson/The New York Times

ana.meireles@dn.pt

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