Artur Queiroz*, Luanda
O Milano era cobrador da Casa
Americana e o lutador mauzão nos torneios de luta livre organizados por Lobo da
Costa, o rei dos golpes de tesoura aplicados ao pescoço. O ringue era instalado
no meio do campo dos Coqueiros. Os mais ricos compravam cadeiras à volta do
campo de luta. Os outros iam para a bancada. Os patos, como eu, trepavam o muro
e ficavam de pé por trás das cadeiras. Milano! Milano! Milano! Dava porrada ao
A Comissão Europeia é uma espécie de torneio de luta livre americana organizado pelo estado terrorista mais perigoso do mundo. Úrsula von der Leyen e outros comissários fazem figura do Milano. Atacam à traição e no frente a frente fogem. Lá de longe gritam aos russos e chineses: Tomem lá sanções! Acaba o espectáculo e regressam à condição de cobradores. O problema é que querem uma guerra a sério contra a República Popular da China e a Federação Russa. A conversa já mete armas nucleares.
A guerra é o produto que enriquece o estado terrorista mais perigoso do mundo. Já só têm armas para vender. O petrodólar foi à vida. A maquineta de imprimir dólares está obsoleta. Os papelitos um dia destes valem menos do que a moeda do Burundi. A Terra move-se! Hoje resolveram vender a Lua do Morango, uma tradição milenária num país que tem meia dúzia de anos. Mas impõe estas coisas ao ocidente alargado e as pessoas adoram.
No meu tempo de rapazola todos os dias eram dos namorados. As meninas eram vigiadas noite e dia. As Mamãs até ousavam acompanhar as prendadas filhas aos bailes do Sporting da Maianga e ficavam ali sentadas, como se fossem mastins de guarda. Matinés só acompanhadas dos papás ou dos manos. Nos intervalos das aulas ficavam nos seus cantos. Mão na mão e uma beijoca era uma felicidade rara. Namorávamos sempre que possível e quando enganávamos a “segurança”. Os gringos depois venderam um Dia dos Namorados por ano. Agora vendem a Lua do Morango. A governadora Nelumba foi mais criativa e vendeu a Lua do Alumínio.
Antes da estação da Chuva escrevi um papel alertando que íamos ter um super El Niño. Sugeri que fossem tomadas medidas preventivas, sobretudo a retirada de pessoas das zonas de alto risco e regiões ribeirinhas. Ninguém me ligou. A senhora governadora da província do Bengo anunciou eufórica, o lançamento da primeira pedrada do complexo fabril de alumínio. Vai criar 12.000 postos de trabalho! Pois vai. E pelo menos 1.200.000 doentes.
A poluição da atmosfera causada pelas fábricas de alumínio provoca doenças como alzheimer, parkinson, encefalopatia por diálise, distúrbios ósseos e cancro da mama. O excesso de alumínio no organismo dificulta a absorção de cálcio. Vamos ter muita criança raquítica.
A senhora governadora Nelumba também exultou porque o complexo fabril vai garantir o pagamento de taxas e impostos. Provavelmente estou desactualizado e já não sei o que é uma zona franca. Mas se ainda é o que era, sua excelência está mesmo muito equivocada!
O complexo fabril do alumínio está a nascer na Zona Franca da Barra do Dande. E foi anunciado que vão ser exportados pelo menos 80 por cento da produção. Uma zona franca é uma região limitada de um país, geralmente com um porto. Entram e saem mercadorias nacionais ou estrangeiras sem o pagamento das tarifas alfandegárias. Portanto, tirando os 12.000 empregos a 50 mil kwanzas por mês só vamos ter prejuízos.
A produção de alumínio, desde a extração da bauxita até a transformação da alumina em alumínio, gera terríveis gases poluentes. A frequente emissão desses gases na atmosfera contribui para o efeito estufa e intensifica o processo do aquecimento global. Angola comprometeu-se a tomar medidas contrárias. Como sou mesmo muito matumbo, não compreendo a opção pelo alumínio. Isto só está ao alcance do filho de enfermeiro.
O populismo e a demagogia batem
na tecla da corrupção dia e noite, sem descanso. Até arranjaram uns artistas
que atribuem à corrupção todos os males
Não deu. Em ambiente de grande festa enterraram a democracia popular e o socialismo. Fizeram juras de amor, sob a Lua do Morango, à democracia representativa e ao capitalismo. Na mudança de regime, filhos de enfermeiro para baixo e para cima, comeram que se fartaram. Ficaram ricos. Milionários. Bilionários. Trilionários. E eu inchado de orgulho porque muitos eram meus amigos. Morte aos pobres! Morte aos comunistas e libertários!
Um senhor filho de enfermeiro apanhou-se como Presidente da República e Titular do Poder Executivo, pegou no livro dos decretos e aí vai disto. Extermínio da corrupção. Maldita! Nem mais um dia de vida! Voltámos ao princípio. Eles querem a “economia de mercado”. Exultam com o sistrema capitalista. Mas sem corrupção! Uma missão impossível, porque o sistema vive da exploração de quem trabalha, da corrupção e do roubo que vai até à violência do latrocínio.
Capitalismo sem corrupção é como socialismo com propriedade privada. Não dá. Capitalismo sem exploração de quem trabalha é como socialismo com mão-de-obra escrava. Não funciona. Capitalismo sem latrocínio é como socialismo com multimilionários. Não pega.
Em Dezembro vamos ter um congresso extraordinário do MPLA. Os delegados vão fazer o balanço dos 50 anos de Independência Nacional. Pode ser que o filho de enfermeiro aproveite para propor um novo regime sem propriedade privada nem corrupção. Já garantiu para ele todas as benesses do capitalismo e do socialismo com um “Estatuto Presidencial” à sua medida, quando sair da Presidência, em 2027. Mas exclui Agostinho Neto, médico, e José Eduardo dos Santos, engenheiro. Esses de quem pensam que são filhos? Malditos!
* Jornalista
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