segunda-feira, 1 de julho de 2024

PSP reforça segurança de deputados. Sindicatos não travam apelos de Ventura. Chega?*

PORTUGAL

Sindicatos da PSP e associações da GNR recusam contrariar o Chega. “A participação cívica é legitima”, alegam. PSP vai reforçar segurança da Assembleia da República. “Não é nenhum apelo à desordem”, diz Ventura que pede aos polícias que “se mobilizem e compareçam no parlamento” na próxima quinta-feira.

Artur CassianoValentina Marcelino | Diário de Notícias

A convocação para um protesto contra o Governo e de apoio às medidas do partido de André Ventura - tentar aprovar no Parlamento o que o ministério da Administração Interna recusa - não é liminarmente recusada pelos sindicatos e associações das forças de segurança. 

Bruno Pereira, porta-voz dos sindicatos da PSP e associações da GNR, diz “demarcar-se” dos apelos do Chega, mas não vai apelar aos polícias para não irem ao Parlamento; Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), não condena a iniciativa do Chega e defende que os “polícias devem mobilizar-se para todo o lado que entendam que lhes é útil, na defesa da sua condição”; o “inorgânico” Movimento Zero segue até o apelo de André Ventura - “Preciso que venham para o Parlamento, nas galerias e fora do Parlamento, mostrar a força (...) venham do país inteiro” - e pede “mobilização” para quinta-feira, dia 4, “frente à Assembleia da República”.

Perante estas crescentes movimentações, fonte oficial da Direção Nacional da PSP garantiu, ao DN, que será reforçado “o policiamento” da Assembleia da República  “como em qualquer circunstância em que se prevê interesse nos temas em debate” 

“Não vou”, garante o porta-voz dos sindicatos da PSP e associações da GNR “apelar a que não vão ao parlamento porque é um direito de qualquer cidadão e de qualquer polícia poder aderir ou não. A participação cívica é legitima. É um direito de qualquer um de nós”.

Apesar disso, Bruno Pereira manifesta-se desagradado com “qualquer líder, seja ele quem for” que não se  circunscreva “ao seu papel” alegando que “o papel de apelo, seja ele qual for, recai sobre os sindicatos. É preciso não confundir os papéis”.

Condena o apelo de Ventura? “O que condeno é a mistura dos planos de ação. Não está correto que se queira instrumentalizar um movimento sindical. Não queria que houvesse qualquer tipo de colagem a qualquer partido, fosse ele qual fosse, à luta dos polícias”.

E vai ao Parlamento? “Não terei muito provavelmente hipótese, e era uma questão pessoal,  porque tenho encargos profissionais que me impedirão de lá ir”, responde Bruno Pereira.

Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), é claro: “Não condeno a iniciativa do Chega”.

“Os polícias”, defende, “devem mobilizar-se para todo o lado que entendam que lhes é útil, na defesa da sua condição”. Não apela a que não sigam o apelo de André Ventura? A resposta foi esta: “Apelo aos polícias que acreditem no trabalho desenvolvido no processo negocial”.

O presidente da ASPP/PSP sustenta, assim, “a necessidade de esgotar o processo negocial em curso, entre quem tem de resolver este problema [o governo] e os sindicatos” para “atingir um propósito concreto e da forma mais segura e célere”.

“Queremos mesmo os 400 euros de incremento no risco”, acentua.

E deixa esta questão: “Caso o projeto-lei [do Chega ] seja chumbado não reforçará a posição do Governo e não enfraquecerá a posição dos sindicatos nessa negociação?”.

Em total concordância com o partido de André Ventura, o denominado inorgânico Movimento Zero veio já pedir a “mobilização” dos policias que “pode fazer a diferença”.

Na mensagem publicada no Facebook,  é feito um apelo “a cada um de vós [policias] para que estejam presentes em frente à Assembleia da República. É uma oportunidade única para fazer ouvir a nossa voz, para exigir respeito e melhores condições de trabalho”.

O Chega propõe, tal como os sindicatos da PSP e associações da GNR, um aumento de 200 euros entre 1 de julho e 31 de dezembro de 2024 ; mais 100 euros entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2025 ; e outros 100 euros entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2026 - um total de 400 euros. 

O ministério da Administração Interna defende um aumento total de 300 euros no subsídio de risco [o chamado suplemento de missão] para PSP e GNR, e não os 400 reivindicados, sendo que 200 seriam já pagos em julho e os restantes 100 repartidos em duas tranches em 2025 e 2026. 

A diferença entre 400 e 300 euros traduz-se num acréscimo de 4,4 milhões de despesa fixa que o Governo tem recusado.

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