quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Portugal | GOVERNOS E EXPERTS PARTIDÁRIOS SEMEIAM AS CALAMIDADES*

Vem aí o Expresso Curto nesta divulgação incluída no PG, trata de Portugal a arder por fogos causados por incendiários psicopatas da plebe e por laxismos de políticos e de mânfios nos governos do "deixa andar ou deixa a arder que o meu avô era bombeiro", incompetentes, propagandistas de cobranças de votos, vendilhões de populismos e de trapaças imensuráveis. Isso mesmo pode perceber a seguir a este curto em A VIDA É VIL, também do Expresso, por Ângela Silva, jornalista. Já agora lembramos que este curto que se segue é de Marta Gonçalves, depois salte para A Vida é Vil que já referimos. Vá ler.

Redação PG

É mesmo o fim?

Marta Gonçalves, coordenadora de multimédia | Expresso (curto)

Oficialmente, à hora que escrevo este Expresso Curto, faltariam qualquer coisa como 16 horas para terminar a “situação de alerta” devido ao risco de incêndio por causa das condições meteorológicas, declarada no início da semana. Mas já estamos em estado de calamidade.

Ainda assim, a previsão diz-nos que as temperaturas vão começar a descer e a chuva até pode chegar. É o princípio do fim?

Deixe-me contar uma história: a Raquel é minha amiga e até há um par de anos viveu no Carvoeiro do Vouga, não muito longe de Albergaria-a-Velha, onde vivem os avós, ou de Valmaior, de onde são os tios. São três das dezenas das localidades fustigadas pelos incêndios. Num destes dias, ela acordou com o vizinho a bater-lhe à janela. “Já aqui está.” O fogo tinha-lhe chegado à porta de casa. Levantou-se da cama e foi tentar apagar as chamas. Só quando não havia mais nada que conseguisse fazer, agarrou na gata e saiu porta fora com o pai. Os bombeiros levaram-nos para a rotunda à entrada da autoestrada, onde era seguro. Durante horas, não soube o que lhe tinha acontecido à casa, mas sabia que a do lado já ardia quando fugiu.

Correu-lhe bem, ou menos mal, porque continua a ter casa e estão todos bem. Mas à volta dela há quem tenha perdido muito. Como é agora, depois do desastre? As noites dormem-se da mesma maneira? É possível sossegar quando um novo dia amanhece com temperaturas muito altas e ar seco?

O alerta termina para mim, que estou em Lisboa. Acaba para quem acompanha o drama à distância. Mas o fim ainda não está à vista para quem vive nos concelhos afetados. A Raquel, o pai, os avós e os tios continuam em alerta. Para quem ali vive, é agora tempo de contar o que se perdeu e o que se pode reconstruir. Possivelmente, para eles nunca acabará, fica apenas em pausa até ao próximo verão.

Em dois dias arderam 30 mil hectares, quase o dobro do que no resto do ano, o que dá cerca de 300 ocorrências por dia, o que é sete vezes mais da média diária da última década. Entre estes hectares ardidos, há várias histórias para contar como a do padre da Branca (Albergaria-a-Velha), que chegou à freguesia um dia antes do incêndio, e do casal Dias que assistia à missa; também há a de Ana Pinhão, que regava as paredes da casa em Talhadas, uma aldeia a poucos quilómetros de Sever do Vouga; e ainda a de Bruno, que foi alertado pela cadela preta labrador que o fogo vinha lá. Estas são algumas das histórias relatadas pela equipa do Expresso nos incêndios, Rui Gustavo e Rui Duarte Silva.

Procuram-se também os responsáveis pela devastação e, tal como conta o Hugo Franco, o número de reclusos por incêndio florestal duplicou em dez anos, que parece ser explicado por algumas mudanças na atuação da Justiça nestes casos. Se no passado recente muitos dos suspeitos saíam em liberdade após o primeiro interrogatório, hoje medidas de coação, como o internamento compulsivo, a pulseira eletrónica e a prisão domiciliária, representam são superiores aos últimos anos, permitindo assim “uma melhor qualidade na investigação aos fogos”.

Pode recordar aqui as imagens dos primeiros dias, assim como continuar a acompanhar ao minuto a evolução da situação e ainda seguir o mapa das ocorrências.

OUTRAS NOTÍCIAS

Energia. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) recolhidos pelo Expresso, nos primeiros sete meses deste ano Portugal importou €443 milhões em painéis fotovoltaicos da China, uma cifra superior aos €311 milhões em importações de gás natural liquefeito (GNL) dos Estados Unidos da América (EUA), o segundo fornecedor de gás de Portugal (apenas atrás da Nigéria, com €344 milhões). O texto é do Miguel Prado.

IVG. O PS entregou no Parlamento quer projeto-lei que pretende alterar “apenas aquilo que os estudos e a prática têm demonstrado ser de alteração urgente”. E por isso entenda-se alargar prazo para interrupção da gravidez (“o mais restritivo de toda a Europa”) e obrigar hospitais a terem sempre médicos disponíveis, escreve o João Pedro Henriques.

Escola da Azambuja. Um dia após o esfaqueamento de seis alunos, vários alunos têm receio de que a situação se repita e os pais pedem apoio psicológico para os filhos - algo que a autarquia assegura que vai acontecer. Também será pedido um reforço policial na escola, estando a câmara disponível para aumentar o número de assistentes operacionais. A reportagem é da Helena Bento e do Hugo Franco, com fotografias do Nuno Fox. O Ministério Público já abriu inquérito tutelar educativo ao aluno em causa.

Cartel. “Montanha que pariu um rato” ou condenação “cristalina”: os últimos argumentos antes da sentença de €225 milhões contra a banca nacional, escreve Diogo Cavaleiro, que uma vez mais esteve em Santarém a acompanhar o julgamento que pode condenar os bancos portugueses. O desfecho do caso é conhecido esta sexta-feira.

Difícil é voltar. Quando Elon Musk planeia, os cientistas preferem não contrariar: nos últimos anos, a sua SpaceX tem sido capaz de progressos impressionantes, tornando-se dominante na arena espacial. Mas conseguirá mesmo enviar pessoas a Marte em apenas quatro anos? Mesmo que as questões técnicas sejam resolvidas, será necessária uma demonstração de segurança na viagem a Marte e no regresso à Terra. Em teoria, isso levará mais do que os próximos quatro anos. Mas com Musk, nunca se sabe, escreve a Catarina Maldonado Vasconcelos.

FRASES

“Não é o momento de fazermos críticas ao Governo. Não estamos a pedir a cabeça de nenhum ministro, como aconteceu em 2017” - Pedro Nuno Santos, líder socialista, a propósito dos incêndios

“Os países vizinhos não têm apoiado esta decisão da Alemanha, têm sido críticos. Pelo menos para já, tem sido essa a reação” - Rui Pena Pires, sociólogo e coordenador científico do Observatório de Emigração após a Alemanha ter reposto o controlo fronteiras

“A vida das pessoas está em risco devido à desinformação e ao discurso de ódio. É urgente olharmos para isto agora” - Sherri Aldis, diretora do Centro Regional de Informação das Nações Unidas para a Europa Ocidental

“Fazer um curso era meio caminho andado para uma carreira melhor, esse contrato foi quebrado: há uma sensação de injustiça intergeracional” - William Davies, investigador de economia política britânico na Universidade de Londres

PODCASTS

Expresso da Manhã Ursula Von der Leyen deixou, com a atribuição de pelouros, sinais claros de como quer a Comissão Europeia a funcionar e, ao correr com Thierry Breton, não só mostra quem manda como deixa avisos para todos os comissários sobre a lealdade que espera deles. No episódio desta quinta-feira, Paulo Baldaia (com a edição de João Luís Amorim) conversa com conversamos com Susana Frexes, correspondente do Expresso e da SIC em Bruxelas.

Homem que Comia Tudo Com dois ou três truques, toda a gente consegue fazer os melhores ovos mexidos do mundo, as melhores batatas fritas ou o melhor bife. Às vezes, a diferença entre uma comida sublime e comida má está só na quantidade de manteiga, na variedade da batata ou no momento em que pomos o sal no bife. Neste episódio, conduzido por Ricardo Dias Felner e com a edição de João Luís Amorim, ficamos a saber a importância da demolhar o bacalhau - e a garantia de ter sido um dos melhores bacalhaus de sempre.

Money, money, money Há uma petição que vai ser votada no Parlamento e entre os lojistas a maioria concorda com redução de horário. Já o fecho ao domingo não é tão consensual. Quais poderão ser as consequências deste tipo de alterações? À conversa com João Silvestre esteve Miguel Pina Martins, presidente da Science4you e presidente da Associação de Marcas de Retalho e Restauração. A edição esteve a cargo de Gustavo Carvalho e João Luís Amorim.

O burro e o elefante Vale a pena espreitar a estreia deste novo podcast, em que Pedro Magalhães e João Maria Jonet conversam com a cientista política Mafalda Pratas sobre o eleitorado americano. A convidada, que pode votar nas eleições de 5 de novembro, tenta pôr em perspetiva a ideia de que os americanos estão divididos em dois campos antagónicos e extremados, enquanto os anfitriões acrescentam a sua visão sobre a polarização nos Estados Unidos. O episódio tem a edição de João Martins.

O QUE ANDO A LER

“Nunca me deixes” (Gradiva, 2005), Kazuo Ishiguro

Hailsham é um colégio interno na província britânica, aparentemente idílico. Na primeira dezena de páginas percebemos que não é bem assim. É um mundo paralelo onde se cruzaram linhas vermelhas que, por agora, a qualquer um de nós parecem inultrapassáveis. A história é narrada por Kathy, uma ex-aluna que agora é “ajudante” (alguém que acompanha a recuperação dos outros ex-alunos nas suas doações) e que, há distância de alguns anos, olha para a sua infância e juventude privada isolada de um mundo normal.

A ela juntam-se Tommy e Ruth. É uma espécie de thriller em que demoramos até perceber o que está em causa e o mais poderoso é naturalidade com que Kathy, nesta sua retrospetiva, legitima tudo aquilo que nos aparece errado e violento. Foi assim que ela criada.

Como descreveu o norte-americano “The New York Times”, que o considerou um dos dez melhores livros do século XXI, “é uma reflexão sobre a mortalidade e a inocência perdida”. E não sendo sobre ciência, é sobre ética.

O QUE ANDO A VER

“À Primeira Vista (Prima Facie)” - Teatro Maria Matos, Força de Produção

À primeira vista é um monólogo, uma peça suportada apenas pela presença de Margarida Vila-Nova como Teresa, uma jovem advogada em começo de carreira que começa a dar nas vistas. Até que um evento inesperado muda tudo e é obrigada a confrontar-se com a lei patriarcal, com o choque entre a moralidade e a legalidade.

A peça está em cena até 27 de novembro. A encenação é de Tiago Guedes a partir de um texto de Suzie Miller.

Termino o meu Expresso Curto por aqui. Obrigada por nos ler. Continue a acompanhar-nos no Expresso, na Tribuna e na Blitz, a ouvir-nos e a ver-nos também. Não se esqueça que também estamos sempre por aquialialém e acolá.

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