segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Portugal | O CABARÉ DA BARBUDA E TAMBÉM O DA COXA

Bom dia. A seguir deixamos à vossa disposição a leitura do Curto do Expresso que há quase três meses não trazíamos aqui. Pode sempre ler (e muito) diretamente no Expresso vários temas e notícias de interesse. Por aqui, no Curto, trazemos o aperitivo – desta feita com a pertinência da autora, jornalista da chafarica do tio Balsemão Inpresa e Associados. Vão lá.

Pronto, não pomos mais na escrita do PG sobre isso. Aperitivem-se antes de invadirem o prato forte que mora no Expresso Online ou ainda mais na Edição em Papel. Vale o gasto/benefício. Aqui os temas abrangem casas, fogos enormes no mato, nas florestas, em casas, insegurança das prisões (acrescente-se nas ruas de cidades e em vilas e aldeias fruto do abandalho das chamadas forças de segurança que escasseiam, etc, etc... e mais e tanto). Portugal está um verdadeiro Inferno e gerido como o Cabaré da Barbuda ou até o dito da Coxa... Os gajos dos poderes continuam focados nos seus umbigos, nas negociatas escuras e pestes associadas a corrupção... Governam-se, em vez de governarem o país com transparência e honestidade...

Vão ao Expresso. Boas leituras e atualizações.

Redação PG

Procura-se: um país que tenha casas e que seja uma casa

Lia Pereira, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia.

É uma das medidas do programa Construir Portugal, dirigida aos jovens até 35 anos: para facilitar a compra de habitação, o Governo avançou este ano com a isenção de IMT (Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis) e IS (Imposto do Selo) nas casas até cerca de €316 mil. Entre esse valor e os €633 mil, a componente até cerca de €316 mil fica isenta e a parte sobrante paga o IMT respetivo; nas aquisições acima de €633 mil, não há isenção ou desconto.

Apresentadas em maio pelo executivo de Luís Montenegro, as medidas do Construir Portugal encontravam-se, em agosto, em variados níveis de implementação. Mas, no que toca à isenção ou redução fiscal, o Expresso fez as contas e concluiu que, em dois grandes portais de imobiliário, menos de metade dos anúncios de venda de casas em Portugal daria direito a isenção total do IMT e do IS. Os números (de casas) e os valores por elas pedidos estão aqui, discriminados por região. Pista: é na Guarda que há mais casas até €316 mil, é na Madeira que há menos.

Antes de comprar, muitos jovens que saem de casa para estudar procuram, nas cidades de acolhimento, um quarto que possam pagar – e também no alojamento para estudantes universitários a carência se tem feito sentir, com lacunas no investimento público. Até julho, das residências previstas no Programa Nacional de Alojamento do Ensino Superior (PNAES), com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), apenas 6% estavam concluídas. Para 175 mil alunos deslocados, a oferta é de 15 mil camas nas instituições de ensino superior público.

É neste contexto, avançou o Expresso este domingo, que o investimento privado em residências universitárias privadas em Portugal ganha peso, com mais de 9600 camas previstas para Lisboa, Porto, Coimbra e Covilhã, nos próximos quatro anos. O projeto está nas mãos de mais de 20 operadores, a maioria internacionais, e deverá beneficiar sobretudo as duas maiores cidades do país.

Ainda a casa como bem essencial: em setembro, as prestações do crédito à habitação vão descer em todos os prazos da Euribor, se tiver a sua revisão neste mês ou nos próximos, explica-lhe Pedro Andersson no podcast Contas Poupança.

Para alguns, a casa é um sonho, disfarçado de tenda em estações como a Gare do Oriente, em Lisboa. Só na capital, aumentou no último ano em 25% o número de pessoas a viver em situação de sem-abrigo. Muitos são jovens e imigrantes. Tiago Palma falou com Navnit, um indiano de 26 anos que diz estar a viver a “verdadeira face da imigração em Portugal”.

Sobre o país como casa para uns, e não para outros: há duas manifestações anti-imigração previstas para as próximas semanas, em Portugal. No próximo sábado, o Chega convoca para Lisboa um protesto contra “a imigração descontrolada e a insegurança nas ruas”; a 5 de outubro, dia da Implantação da República, o Grupo 1143 de Mário Machado quer manifestar-se em Guimarães, sob o mote “Reconquistar Portugal”. Mas há contra-manifestações apalavradas: em Lisboa, pelo movimento “O país do 25 de Abril não deixa as ruas ao racismo”, apoiado por Alexandra Leitão (PS) ou Mariana Mortágua (BE), e também por Pilar del Río ou o futebolista Francisco Geraldes, e em Guimarães a cargo do Grupo de Ação Conjunta contra o Racismo e a Xenofobia.

Agora o país como casa, para todos: nos próximos dias, e devido às temperaturas elevadas, Portugal está sob alerta para o risco de incêndio rural. Proibido será, até quarta-feira, permanecer em espaços florestais, realizar queimadas ou lançar fogo de artifício.

E como o mar é a segunda casa de Portugal, chamamos ainda a sua atenção para o elucidativo trabalho de Luís Francisco (texto) e Jaime Figueiredo (infografia) sobre a erosão costeira no nosso país, publicado na Revista do Expresso desta semana.

OUTRAS NOTÍCIAS

Trump Ouviram-se tiros nas imediações do campo de golfe do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, na Flórida. O suspeito terá fugido de automóvel e acabou por ser detido; Donald Trump encontra-se em segurança. O FBI está a investigar o caso como potencial tentativa de homicídio.

Jiadistas A Polícia Judiciária investigou a passagem de dois jiadistas de Cabo Delgado por Portugal. Os dois suspeitos usaram contas em bancos portugueses para branquearem capitais que financiaram atividades terroristas no norte de Moçambique, apurou o Expresso.

Vale de Judeus Em 2019, quando se encontrava preso em Monsanto, o argentino Rodolfo “El Ruso” Lohrmann, cérebro da fuga dos prisioneiros de Vale dos Judeus, escreveu uma carta com várias revelações ao jornal do seu país, “Clarín”.

Combustíveis A partir desta segunda-feira, os portugueses vão passar a pagar mais dois cêntimos de impostos em cada litro de combustível: o valor mais alto dos últimos dois anos e meio. Saiba porquê.

40 anos BLITZ Em dezembro, a BLITZ – que começou por ser jornal, passou a revista e vive hoje em várias plataformas – celebra 40 anos de vida com um grande espetáculo na Meo Arena, em Lisboa. Xutos & Pontapés e Capitão Fausto, Gisela João e MARO farão a festa.

Mais Xutos A histórica banda portuguesa celebrou 45 anos de música com um concerto no Queimódromo do Porto, para 22 mil fãs. Mais do que um simples encontro, uma missa do rock em dia santo, escreveu Hélio Carvalho, com fotos atentas de Rui Duarte Silva.

Emmys "Shogun", a série sobre o Japão em que os portugueses têm um papel importante, fez história ao vencer o prémio de Melhor Série Dramática na 76ª edição dos Emmys, que destacam o que de melhor se faz em televisão e também distinguiu "Baby Reindeer" e “Hacks”.

FRASES

“Nos últimos anos tem-se valorizado a ideia de que o político com coragem é aquele que diz umas verdades como se estivesse no café. Isso não é coragem”, Rui Tavares, líder do Livre, no encerramento da rentrée do partido

"Antigamente, os ‘diáconos remédios’ da sociedade estavam bem definidos. Hoje, temos várias culturas woke”, Herman José no Alta Definição, SIC

“O problema não é a gravidez das procuradoras. Lucília Gago fez uma demonstração de misoginia insuportável”, Ana Gomes, na SIC Notícias

OS NOSSOS PODCASTS

“É importante que o Estado israelita promova eleições e pergunte aos israelitas o que querem”, Nuno Rogeiro no podcast Leste Oeste

“A fuga de Vale de Judeus foi um acontecimento grave que não deve ser desvalorizado, mas também não deve ser dramatizado”, Luís Marques Mendes na SIC Notícias, defendendo que a Ministra da Justiça reagiu “tarde, mas bem”

“Quando acordei, na manhã do meu 50º aniversário, tinha uma mensagem assim: ‘até a terra tremeu’. Não percebi”, Fernando Ribeiro (Moonspell) no podcast Posto Emissor

O QUE ANDO A LER

“A Morte de uma Cidade”, João Rosas (em exibição no Cinema City, na Avenida de Roma, em Lisboa - imagem no início deste texto)

Porque há filmes que se leem, e o documentário “A Morte de uma Cidade”, de João Rosas, ainda pode ser visto no cinema em Lisboa, sugerimos-lhe que guarde cerca de duas horas para mergulhar neste trabalho altamente pessoal e transmissível.

Ao regressar de Inglaterra, onde viveu durante alguns anos, o cineasta da capital encontrou a sua cidade a lamber as feridas da crise financeira de 2008 e a namorar a explosão imobiliária e turística que se seguiria. A convite de um empresário francês, começou a filmar a demolição de uma antiga tipografia no Bairro Alto e acabou por se interessar pelo quotidiano dos trabalhadores a quem cabia apagar estes “vestígios de estranha civilização” (citando Chico Buarque, autor desse outro clássico, ‘Construção’) para edificação, no mesmo local, de um condomínio de luxo.

Maioritariamente de origem africana, a viver nos subúrbios da nova cidade que ajudam a erguer, os pedreiros e pintores são tratados por João Rosas com a dignidade que merecem as suas histórias de vida, distintas como as de todos os trabalhadores. “Ali, todos têm as suas razões”, resumiu o realizador na antestreia do filme, em meados deste mês. Vale a pena conhecê-las, neste diário de bordo, ou de estaleiro, escrito (e filmado) com toda a humanidade e sem demagogia.

Tenha uma excelente semana, neste longo adeus ao verão, e continue a acompanhar-nos, também, na Tribuna, na Blitz e no Boa Cama Boa Mesa.

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