quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Angola | Violadores Atacam na Imprensa -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As urnas encerraram no dia 30 de Outubro de 1992, nas primeiras eleições multipartidárias. O Jornal de Angola afirma hoje que “estas foram as primeiras da História de Angola, desde a Independência Nacional”. Cuidado com as aldrabices. Antes dessa data e do Acordo de Bicesse já se realizavam eleições, no âmbito da democracia popular e do socialismo. Como é público e notório, a liberdade de imprensa é tão ampla que até um jornal público pode mentir e manipular à vontade. Fica provado que há uma gritante falta de jornalistas.

Angola já existia antes do Acordo de Bicesse e era uma República Popular. Até 1980, o poder legislativo era exercido pelo Conselho da Revolução, constituído por membros eleitos. Depois nasceu a Assembleia do Povo com 213 deputados eleitos, 19 eram mulheres. Todas as províncias elegiam deputados em função do número de habitantes. 

A Assembleia do Povo tinha reuniões plenárias, uma Comissão Permanente, constituída por 25 membros, incluindo o presidente e dois secretários. Mais 11 Comissões de Trabalho constituídas por 20 membros cada.

O texto do Jornal de Angola hoje publicado, assinado por Faustino Henrique, funcionário da embaixada dos EUA, tem mais uma imprecisão grave, que chega às fronteiras da falsificação. O candidato presidencial José Eduardo dos Santos teve 49,57 por cento dos votos. Ficou a apenas 43 décimas de ser eleito Presidente da República, logo na primeira volta (50 por cento mais um voto). 

O jornal do sector público da comunicação social diz que José Eduardo dos Santos teve 49 por cento. Atenção! Ficar a um por cento da eleição ou a 43 décimas, é diferente. A marca distintiva do Jornalismo é o rigor. A propaganda da CIA é que dispensa os critérios que suportam os conteúdos das mensagens informativas: Rigor, Actualidade, Imparcialidade, Verdade dos Factos.

Mais manipulação e falta de rigor. O texto afirma que “o MPLA, partido no poder, venceu ambas as eleições, mas oito partidos da oposição, em particular a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), de Jonas Malheiro Savimbi, rejeitaram os resultados com a alegação de fraude”.

O MPLA pôs o poder em disputa, abdicando de ser o partido no poder. Aceitou que o ponto de partida fosse zero. As eleições foram organizadas pela Comissão Nacional Eleitoral onde estavam representantes de todos os concorrentes. A ONU e uma Troika de Observadores (EUA, Portugal e Rússia) foram os árbitros do pleito. Só estes podiam denunciar fraudes. Não denunciaram. É falso que oito partidos da oposição tenham rejeitado os resultados eleitorais.

A verdade dos factos é outra. Representantes de quatro partidos foram à cidade do Huambo e depois do beija-mão a Savimbi, invocaram fraude eleitoral. Usurparam o lugar dos árbitros. Eram tão democratas que quiseram ser jogadores e árbitros ao mesmo tempo. Por fim, Savimbi até quis levar a bola para casa tomando o poder pela força! FNLA não foi ao Huambo. PLD não foi ao Huambo. PRS não foi ao Huambo.

Mais falta de rigor e manipulação no texto do Jornal de Angola: “As Nações Unidas, através de Margareth Anstee, antiga enviada especial da ONU para Angola, teve a responsabilidade histórica de declarar como livres e justas as primeiras eleições realizadas no país, destacando que o processo observou os padrões universalmente aceites, contrariando as alegações de irregularidades”. Margareth Anstee era a representante do Secretário-Geral da ONU em Angola e liderava a Missão de Verificação das Nações Unidas (UNAVEM). Fez o que lhe competia como chefe da equipa de arbitragem. E estas não foram “as primeiras eleições realizadas no país”. 

Eis  a parte mais grave e mostra bem que não falta liberdade para mentir e falsificar nos Media angolanos: “Dias depois do pleito eleitoral, a UNITA enviou negociadores à capital, procurou inviabilizar a divulgação dos resultados, o volume de tensão pós-eleitoral aumentou com divergências mútuas profundas entre os dois principais contendores, o MPLA e a UNITA, que levaram ao início das confrontações em Luanda”. Isto é mentira pura e dura. Versão da CIA e do regime racista de Pretória. 

A UNITA enviou negociadores a Luanda? Aldrabice. A UNITA tinha dezenas de dirigentes e deputados eleitos em Luanda. Tentou tomar o poder pela força porque perdeu as eleições. Os “comandos” do General Ben Ben exibiam a sua força nas ruas de Luanda. As GMC patrulhavam em todas as ruas da cidade, exibindo poderia bélico. Os membros da Comissão Conjunta Política e Militar (CCPM) desdobravam-se em reuniões para evitar a guerra. Mas Savimbi queria mesmo tomar o poder pela força. Isso estava previsto antes dos angolanos irem a votos. Muito antes. 

Documentos de Jeremias Chitunda abandonados nas instalações da UNITA em São Paulo revelam a estratégia do Galo Negro, logo a seguir à assinatura do Acordo de Bicesse: “Se ganharmos as eleições tudo bem, tomamos posse. Se perdermos alegamos que houve fraude e tomamos o poder pela força”. Para execução deste projecto, a UNITA, ajudada pela CIA e a inteligência militar sul-africana, criou cinco bases secretas no Cuando Cubango, onde escondeu 25.000 homens e as suas melhores armas. Para os acantonamentos foram jovens sem experiência militar e armas obsoletas! Na campanha eleitoral, Savimbi espalhou esses homens armados por todas as províncias secretamente!

As falsificações da História Contemporânea de Angola costumam ser liberdade de imprensa dos pasquins privados. A doença chegou ao Jornal de Angola. Um dia destes a direcção também se queixa da falta de liberdade de imprensa. Ao mesmo tempo manda os jornalistas para casa ou coloca-os numa prateleira.

Outra aldrabice que faz caminho mas ainda não chegou às páginas do Jornal de Angola tem a ver com o Acordo de Alvor. Os sicários da UNITA dizem que o MPLA violou o acordado, com a ajuda do Almirante Rosa Coutinho. Quem não tem princípios até pode ser mal-agradecido. O Acordo de Alvor foi violado gravemente pela FNLA, quando reconheceu que a direcção legítima do MPLA era a de Daniel Chipenda. E promoveu a abertura de uma delegação desse “MPLA” mesmo ao lado da sua sede central, na Avenida Brasil. A FNLA avisou que qualquer ataque às instalações do “irmão Chipenda” era um ataque contra o próprio movimento. 

Daniel Chipenda declarou que o Governo de Transição era ilegal porque ele não esteve no Alvor! O alto-comissário e líder do Colégio Presidencial, General Silva Cardoso, fingiu que não percebeu. A FNLA apoiou. A UNITA ficou em silêncio. Cumplicidade! Este foi o ponto de partida para a debandada do Governo de Transição de todos os ministros e secretários de estado dos dois movimentos. Só ficou o MPLA e a parte portuguesa.

O Almirante Rosa Coutinho saiu de Angola no final de Dezembro de1974. Nunca mais voltou. Mas conseguiu colocar a UNITA no “processo de descolonização”, com a ajuda do MPLA. Holden Roberto recusou o Galo Negro porque a OUA não reconhecia o “movimento dos brancos” como movimento de libertação. O Comité de Descolonização da ONU também não. Porque Savimbi alugou as suas armas aos colonialistas portugueses, contra a Independência Nacional! Rosa Coutinho, Pezarat Correia, José Emílio da Silva e outros oficiais do MFA em Angola, conseguiram reabilitar a UNITA para contrabalançar o poder da FNLA.

O alto-comissário Silva Cardoso foi indicado pela FNLA e a UNITA. O MFA pediu à delegação do MPLA no Alvor, que rejeitasse este nome. Agostinho Neto recusou. Não queria dar pretextos a Holden Roberto e Jonas Savimbi para deitarem abaixo o processo de descolonização e reporem o projecto de Nixon, Spínola e Mobutu, acordado na Base das Lajes, Açores e na Ilha do Sal, Cabo Verde. Consistia em afastar o MPLA. Estes são os factos históricos.

Hoje a Unidade de Defesa Presidencial cumpriu mais um aniversário com largo tempo de antena na TPA. Data importante para falarmos de nepotismo. O comandante desta estrutura militar é o General Sequeira Lourenço, irmão de João Lourenço. O Rei Cacimbo já tem sucessor em 2027. A coroa passa para uma cabeça familiar.

O combate à corrupção é espectacular. Os resultados da empresa UNITEL, que já foi das mais potentes em Angola, caíram 82 por cento. Quem comeu a fatia perdida foi a Africell, às ordens do estado terrorista mais perigosos do mundo, autor das explosões na cidade de Beirute, que fizeram das Torres Gémeas em Nova Iorque um exercício de pirotecnia. Os aviões que cometeram crimes de guerra no Líbano são dos EUA. As “bombas especiais” foram fornecidas aos nazis de Telavive pelos EUA.

O jornalista português João Sousa fugiu de Beirute com a esposa e uma filha. Ficou o resto da sua família libanesa. Ontem disse à CNN Portugal que os nazis de Telavive bombardeiam as colunas de viaturas civis nas estradas. Quem foge da guerra leva com as bombas dos EUA. Também revelou que bairros residenciais de Beirute são bombardeados indiscriminadamente, com bombas de elevada potência. Uma tonelada de explosivos, cada uma! É a justiça à moda da Casa dos Brancos.

João Lourenço convidou o chefe do estado terrorista mais perigoso do mundo para pisar o solo sagrado da Nação Angolana. O capataz recebe o governador da colónia. E nós a ver. Não vão faltar os que batem palmas! E se Joe Biden quiser até leva para casa um navio negreiro carregado de escravos. Se não limparmos o balneário rapidamente qualquer dia temos o Chefe Poeira a distribuir palmatoadas no Bairro Indígena.

* Jornalista

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