quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Heróis Nacionais e da África Austral -- Artur Queiroz


Artur Queiroz*, Luanda

O secretário-geral da ONU, António Guterres, diz que o mundo não pode dar-se ao luxo de permitir que aconteça no Líbano o mesmo que acontece na Faixa de Gaza e Cisjordânia. Deixou a Síria de fora por mera distracção do acaso mas os nazis de Telavive bombardeiam o país e até a sua capital, Damasco, sempre que acordam mal dispostos ou com vontade de fazer escorrer sangue de crianças, mulheres, idosos, doentes acamados em hospitais e outras vítimas inocentes. Os crimes são praticados à luz do dia com o apoio do estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA).

Só num dia, os nazis de Telavive mataram no Líbano 600 civis e feriram 2.000. Mas tomaram medidas preventivas. Fizeram telefonemas e largaram panfletos em zonas do Sul e Oeste do Líbano. Fujam rapidamente! Quem ficar é um alvo legítimo. É este o aviso. Da Casa dos Brancos vem a informação que assim Israel cumpre o Direito Internacional. Está dentro das “regras” que o ocidente impõe.

Joe Biden fez o “último discurso” na ONU, antes de ir para a cova. Um herói do ocidente alargado. Titubeando as palavras com mais de duas sílabas, o presidente dos EUA meteu pena. Puseram-no a dizer coisas que a realidade desmente. “Temos de acabar com a guerra no Médio Oriente”, disse o demente senil, com papel passado pelo Partido Democrata. E da Casa dos Brancos veio a informação inequívoca: “Os EUA reiteram apoio a Israel e reforçam a presença militar na região”.

Ao mesmo tempo o secretário da Defesa, Lloyd Austin, instigou os nazis de Telavive a matarem civis no Líbano porque “Israel tem o direito de defender-se do Hazbolah e vamos enviar mais forças militares para a região”. A múmia gaguejante diz que é preciso acabar com a guerra no Médio Oriente. Austin diz que vai mandar mais tropas para defender as costas dos genocidas israelitas nos ataques ao Líbano.

O secretário de imprensa do Pentágono, Pat Ryder, confirmou que os EUA “vão enviar tropas adicionais para o Médio Oriente”. E depois o patrão Austin mostrou o jogo todo em forma de ameaça e de diplomacia de canhoneira: “Os EUA mantêm a sua posição de proteger as forças e o pessoal norte-americanos e estão determinados a deter qualquer actor regional que procure explorar a situação ou prolongar o conflito”.

Quem está a explorar, prolongar e ampliar o conflito é Israel. A Casa dos Brancos e o Pentágono sabem, porque há três dias os nazis de Telavive apresentaram aos EUA “os planos operacionais no Líbano”. Cessar-fogo em Gaza quer dizer genocídio até onde for preciso. Travar a escalada da guerra significa enviar cada vez mais tropas norte-americanas para a região, como forma de manter o Irão fora do conflito. Vamos ver se conseguem continuar os massacres e o genocídio sem levarem o troco.

A Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial destruiu Angola, causou milhares de mortos, feridos graves (amputados) e milhões de deslocados. A destruição dos sistemas de produção e circuitos de distribuição. Num ano de guerra Israel já gastou 200 mil milhões de dólares. Só na Faixa de Gaza que é o território entre a Estrada de Catete e o Sambizanga.

 Imaginem quanto gastou Angola entre 11 de Novembro de 1975 e dia 22 se Fevereiro de 2002. Nem todo o petróleo do mundo dava para tapar o rombo financeiro. E tinha sido bem pior se os racistas de Pretória e seus ajudantes angolanos tivessem sucesso nas diversas operações para destruir as empresas que financiavam a guerra. Os karkamanos até tentaram destruir as instalações petrolíferas em Cabinda. Foram derrotados.

A Batalha do Cuíto Cuanavale, entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988, foi o culminar da ininterrupta agressão do regime racista da África do Sul. Agostinho Neto disse que Angola só era verdadeiramente independente quando fossem independentes a Namíbia e Zimbabwe. A maioria negra na África do Sul derrotasse o regime de apartheid. O Presidente José Eduardo dos Santos concluiu a obra e arquitectou a paz. 

Ao fim de dez anos de silêncio e esquecimento fiz uma série de reportagens com o título genérico “Os Meses que Mudaram África e o Mundo”. Publiquei documentos secretos sul-africanos, colhi informações em livros publicados na África do Sul por peritos militares, trabalhei permanentemente com o Fórum dos Combatentes da Batalha do Cuito Cuanavale e com os generais que ganharam a guerra, particularmente o General Zé Maria e o General Nando Cuito, que me concedeu várias entrevistas.

Ao fim de um ano de trabalhos incessantes Angola e o Mundo ficaram a saber o que aconteceu no Cuando Cubango mas também no Cunene. Tirei a poeira e o lodo que tapavam aqueles acontecimentos extraordinários. As Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) libertaram África e a Humanidade desse crime hediondo que era o regime de apartheid em vigor na África do Sul. Esmagaram karkamanos e seus ajudantes da UNITA na Batalha do Cuito Cuanavale. Os povos de Angola, Namíbia, Zimbabwe e África do Sul ficaram a saber que Jovens angolanos foram Heróis da Liberdade.

Três anos depois das minhas reportagens, os líderes regionais decidiram que o 23 de Março, ponto final da Batalha do Cuito Cuanavale, passava a ser o Dia da Libertação da África Austral. Feriado em todos os países. Os que se bateram na Luta Armada (1961-1974), na Guerra de Transição e na Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial são Heróis Nacionais. Os que derrotaram os karkamanos no Triângulo do Tumpo são Heróis da África Austral. Este foi o trabalho mais importante da minha carreira de jornalista. E é o que mais me orgulha.

Todas e todos que se bateram no Triângulo do Tumpo para mim são Heróis Nacionais. Peço que não me condenem por destacar um nome: Matadi Daniel, coronel reformado das FAPLA e médico nefrologista. 

Desde que regressei a tempo inteiro ao Jornalismo Angolano, uns quantos bêbados da valeta, intelectuais do munhungo e traficantes de ossadas mordem-me os calcanhares. Montam operações para me desacreditarem e desqualificarem o meu trabalho. Até conseguem mobilizar pessoas de bem para essas acções. Não vão silenciar-me. Vou continuar a exercer aminha profissão em liberdade e numa lógica de contrapoder. Nem que chovam canivetes vou mudar o rumo! Devo isso às Heroínas e Heróis da Nação Angolana e da África Austral.

* Jornalista

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