Até começa razoavelmente bem o diagnóstico de Rui Neto Pereira no artigo "Pensar diferente, Armar às Forças", DN 09/OUT/2024. Como é típico entre nós, todos vemos o que está mal. O problema é mesmo depois propor-se soluções exequíveis e não poéticas ou milionárias. Acresce que nas soluções, várias repetições com décadas. Desde logo o tradicional «…menos tropa melhor tropa…» Onde antes se assumia que não vai haver mais dinheiro para a Defesa, agora quer um «…programa ambicioso mas orçamentalmente exequível…». Bonito de dizer, mas ser ambicioso sem dinheiro é...poesia, ou típica retórica politica sem consequência.
Quer acabar com «…39 quarteis e ficar só com escolas práticas…». Note-se que estas já acabaram no Exército há muitos anos, neste momento foram concentradas em dois únicos polos em Mafra e Póvoa do Varzim. Adiante, quer acabar com a malha territorial, dispendiosa, reduzir efectivos, mas depois propõe «…enviar conselheiros para todo o mundo a começar pelos PALOP…» (que diz ser uma presença "não-bélica"...desculpe, sabe o que fazem os conselheiros? Ensinam a melhor destruir o inimigo, isto é a melhor matar) e, cereja em cima do bolo, «…uma formação paramilitar (sem armas) para todos os jovens masculinos e femininos de 15/16 anos, numa espécie de "semana de campo"... ... e só assim se poderá justificar o dispositivo militar em todo o território nacional…». Em que ficamos, reduzimos ou alargamos? E como é que se ministra instrução "paramilitar" (é mesmo melhor ir ver o que significa a palavra, em Portugal já houve esse tipo de Organizações Nacionais…Mocidade Portuguesa e Legião Portuguesa) a mais uns 150.000 jovens? Saberá quantos militares seriam necessários para isso? E quartéis? E alimentação? E transportes? E material para instrução? Ou sejam, talvez duplicar o efectivo actual não fosse suficiente...para quê? Zero valor militar e muito pouca utilidade "cívica".
Depois a solução de financiamento é a habitual mais que testada e sempre a dar péssimos resultados – ainda agora se soube o resultado pífio dessa medida no último governo: vender património imobiliário «...a preços de mercado…». Ainda será mesmo preciso explicar porque é isto, desde os anos 90 corre sempre mal? Não saberá quantas vezes vários governos já disseram que iam “vender” o antigo ministério do Ultramar ali no Restelo?
Enfim, havia mais a dizer mas fico por aqui, a criatividade já teve melhores dias.
Se quisermos ter realmente Forças Armadas úteis ao país e respeitadas internacionalmente, o melhor caminho será sempre a total profissionalização dos militares no activo e a existência de reservas treinadas.
* Tenente-coronel na reforma
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