quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Buzinão em Maputo: Moçambicanos de luto exigem mudanças

Romeu da Silva (Maputo) | Deutsche Welle

O candidato presidencial Venâncio Mondlane pediu e centenas de populares na cidade de Maputo cumpriram. Às 12h00, os cidadãos vestiram-se de preto e, durante 15 minutos, pararam as viaturas e buzinaram em protesto.

Jovens e mulheres, sobretudo vendedoras, vestiram-se de preto e fizeram soar apitos. Os que tinham viaturas pararam por 15 minutos e buzinaram, em protesto.

O som das buzinas ouviu-se por quase toda a cidade.

Juvenália Coane, vendedora, explica porque acedeu ao pedido do candidato presidencial Venâncio Mondlane: "Porque levam os votos e vão dar a outra pessoa. Porque já estamos cansados desta vida", resume.

"O arroz antigamente custava 800 meticais [11 euros] e agora compramos a 2000 meticais [29 euros]. Nós que não temos dinheiro, vamos terminar aonde com esta vida?"

O candidato Venâncio Mondlane e outros políticos da oposição e membros da sociedade civil denunciaram uma "megafraude" nas eleições gerais de 9 de outubro. Mondlane convocou protestos, que já vão na sua quarta fase.

Juvenália Coane apela aos políticos que resolvam os seus diferendos para que o povo possa viver em paz. "Estamos a pedir que se sentem e conversem, porque, para nós, a situação está péssima", afirma.

Buzinão para que o país mude

Nos bairros periféricos, com défice de segurança, as buzinas, os apitos e vuvuzelas soaram e respeitaram o tempo pedido por Mondlane - não houve informações de assaltos a lojas nem de cobranças aos automobilistas, nem mesmo de queima de pneus, como aconteceu na sequência de protestos anteriores.

Aliás, a vida depois das buzinas voltou ao normal, em Maputo. Ainda assim, algumas lojas preferiram fechar, por razões de segurança, tanto no centro da cidade como nos subúrbios.

No interior da sua viatura, Raúl Sebastião trajava camisete preta para homenagear as vítimas de baleamento nas manifestações dos últimos dias, pró-Venâncio Mondlane. Mas a motivação não é apenas essa.

"Escolheram alguém [Venâncio Mondlane], mas depois puseram outra pessoa [Daniel Chapo, apoiado pela FRELIMO] que nem foi escolhida. É isso que leva os jovens a atacar", contou à DW.

Cecília Macamo diz que desde que os moçambicanos foram chamados pelo candidato Venâncio Mondlane a bater nas panelas e a buzinar, em protesto, fá-lo com todo o prazer, porque também ela clama por mudanças no país.

"As pessoas marcham e não roubam coisas alheias. Pedimos mudanças, porque já não estamos a aguentar esta situação. Queremos que o país mude. A comida está cara, tudo está caro e, nos hospitais, não estão a atender bem."

FRELIMO confia na vitória

No entanto, o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), proclamado vencedor destas eleições pela Comissão Nacional de Eleições, assevera que vai tomar posse em janeiro próximo.

Apesar das contestações que estão a descambar em mortes, o primeiro secretário do partido na cidade de Maputo, António Niquice, deixou essa garantia numa reunião de quadros no distrito municipal Ka-Maxaquene.

"Que não tenham dúvidas de que, em janeiro, a FRELIMO e [o seu candidato presidencial Daniel] Chapo vão assumir o poder se até lá forem criadas as condições constitucionais... Com o Conselho Constitucional a homologar os resultados ou a vitória, porque é para isso que fomos às eleições", frisou.

Niquice nega que membros da FRELIMO tenham se infiltrado nas manifestações para criar desordem. "A FRELIMO sempre trabalhou a luz do dia, porque estamos com o povo para servir o povo", rematou Niquice.

Romeu da Silva (Maputo) Correspondente da DW África

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