Romeu da Silva (Maputo) | Deutsche Welle
O candidato presidencial Venâncio Mondlane pediu e centenas de populares na cidade de Maputo cumpriram. Às 12h00, os cidadãos vestiram-se de preto e, durante 15 minutos, pararam as viaturas e buzinaram em protesto.
Jovens e mulheres, sobretudo vendedoras, vestiram-se de preto e fizeram soar apitos. Os que tinham viaturas pararam por 15 minutos e buzinaram, em protesto.
O som das buzinas ouviu-se por quase toda a cidade.
Juvenália Coane, vendedora, explica porque acedeu ao pedido do candidato presidencial Venâncio Mondlane: "Porque levam os votos e vão dar a outra pessoa. Porque já estamos cansados desta vida", resume.
"O arroz antigamente custava 800 meticais [11 euros] e agora compramos a 2000 meticais [29 euros]. Nós que não temos dinheiro, vamos terminar aonde com esta vida?"
O candidato Venâncio Mondlane e outros políticos da oposição e membros da sociedade civil denunciaram uma "megafraude" nas eleições gerais de 9 de outubro. Mondlane convocou protestos, que já vão na sua quarta fase.
Juvenália Coane apela aos políticos que resolvam os seus diferendos para que o povo possa viver em paz. "Estamos a pedir que se sentem e conversem, porque, para nós, a situação está péssima", afirma.
Buzinão para que o país mude
Nos bairros periféricos, com défice de segurança, as buzinas, os apitos e vuvuzelas soaram e respeitaram o tempo pedido por Mondlane - não houve informações de assaltos a lojas nem de cobranças aos automobilistas, nem mesmo de queima de pneus, como aconteceu na sequência de protestos anteriores.
Aliás, a vida depois das buzinas
voltou ao normal,
No interior da sua viatura, Raúl Sebastião trajava camisete preta para homenagear as vítimas de baleamento nas manifestações dos últimos dias, pró-Venâncio Mondlane. Mas a motivação não é apenas essa.
"Escolheram alguém [Venâncio Mondlane], mas depois puseram outra pessoa [Daniel Chapo, apoiado pela FRELIMO] que nem foi escolhida. É isso que leva os jovens a atacar", contou à DW.
Cecília Macamo diz que desde que os moçambicanos foram chamados pelo candidato Venâncio Mondlane a bater nas panelas e a buzinar, em protesto, fá-lo com todo o prazer, porque também ela clama por mudanças no país.
"As pessoas marcham e não roubam coisas alheias. Pedimos mudanças, porque já não estamos a aguentar esta situação. Queremos que o país mude. A comida está cara, tudo está caro e, nos hospitais, não estão a atender bem."
FRELIMO confia na vitória
No entanto, o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), proclamado vencedor destas eleições pela Comissão Nacional de Eleições, assevera que vai tomar posse em janeiro próximo.
Apesar das contestações que estão a descambar em mortes, o primeiro secretário do partido na cidade de Maputo, António Niquice, deixou essa garantia numa reunião de quadros no distrito municipal Ka-Maxaquene.
"Que não tenham dúvidas de que, em janeiro, a FRELIMO e [o seu candidato presidencial Daniel] Chapo vão assumir o poder se até lá forem criadas as condições constitucionais... Com o Conselho Constitucional a homologar os resultados ou a vitória, porque é para isso que fomos às eleições", frisou.
Niquice nega que membros da FRELIMO tenham se infiltrado nas manifestações para criar desordem. "A FRELIMO sempre trabalhou a luz do dia, porque estamos com o povo para servir o povo", rematou Niquice.
Romeu da Silva (Maputo) Correspondente da DW África
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