sexta-feira, 16 de maio de 2025

MENTIRA COMPARADA -- Protestos Indirectos

J. Bazeza, Luanda >

As últimas notícias mostram que a situação social e económica vai mal de saúde. Ao ouvir declarações de um velhote do Paraíso, Mafioso ficou confuso e ligou para o amigão Boca Azul. Queria mais pormenores.

Boca Azul mostrou boa educação na linguagem e não falou à toa como o director nacional da Informação, um batráquio que vai morrer girino e cabeçudo, mas sem nada dentro da cabeça. É da mesma família animal do ministro e do secretário de Estado que tratam do satélite. Assim falou o interrogado: O comportamento de alguns servidores públicos e instituições públicas tem demonstrado que anda no ar um protesto indirecto. Vai aterrar no ministro rançoso e no secretário caldas de fruta podre.

Boca Azul, se é um protesto indirecto, diz contra quem e porquê?

O amigo respondeu sem rodeios: 

Não tenho dúvidas que são contra o soba grande. O chefão. O titular do Poder Executivo. Há servidores que ofendem velhotes, crianças, mamãs e jovens, que só querem o reconhecimento do direito à dignidade e as condições que lhe dão expressão concreta: Emprego com salário digno, habitação, saúde e educação. Mesmo assim Mafioso não percebeu bem as falas do Boca Azul e voltou à carga: 

Mas quem são os servidores públicos e as instituições que estão a fazer o tal protesto indirecto?

Boca Azul abriu o jogo e passou a bola. Os membros do quadro de honra do partido que é o Povo e o Povo é o partido estão agastadíssimos com as vigarices que o soba grande amite e apoia. E pior ainda: O titular do Poder Executivo não está a dar conta do recado. Mandou apagar este princípio fundamentalíssimo: O mais importante é resolver os problemas do povo da Sanzala. O chefão até hoje não pôs em prática os projectos que constam no programa eleitoral do partido.

De seguida, Boca Azul pôs o dedo na ferida e fez bem a distribuição da jogada, dizendo que alguns ministros e dirigentes partidários estão descontentes com o soba grande. Só a disciplina partidária os impede de fazer um protesto cara a cara. Não lhe dizem olhos nos olhos que se está nas tintas para o bem-estar do povito da Sanzala, porque só os negócios de milhões contam para os seus bolsos.

Tem lógica. É verdade. Os protestos indirectos atingem o soba grande. O titular do poder executivo. 

A detenção de estudantes tem de ser analisada como manda a prática jornalística. A polícia diz que foi violada a lei. Mas os manifestantes denunciavam, bem alto, a falta de carteiras nas salas de aula. Exigiam água corrente e potável nas escolas. A inclusão de todas as crianças no ensino público para os pais não serem assaltados pelos colégios privados. Porque muitos não conseguem pagar as propinas. 

Os estudantes manifestaram-se pela merenda escolar de comer e não conversa  para boi dormir. Os agentes da ordem, antes de tudo deviam ouvir os protestos. Isso do rigor da lei é para bandidos e esses dominam os corredores do poder, não se manifestam nas ruas, legal ou ilegalmente.

O comandante municipal, provincial, geral ou o ministro mandaram avançar a polícia contra os estudantes, mesmo sabendo que os protestos eram pacíficos. Sabiam que iam dar em nada.

E deu. Todos os detidos foram a julgamento sumário e depois soltos por insuficiências de provas. O soba grande, o chefão tomou conhecimento deste desfecho mas ficou em silêncio. Está do lado errado da política. Podem mandá-lo para a Jamba que lá fica como bagre dentro de água. De molho até ser comido.

O soba grande, tarde ou cedo, de dia ou de madrugada, vai dar conta que alguns auxiliares não estão contentes com a sua forma de dirigir a Sanzala. Empresas encerradas. Subida dos preços da cesta básica, de minuto a minuto. Assaltos diários aos cofres públicos. Pensões de reforma sem actulizações. Milhares de crianças sem escolas. Falta de água potável e saneamento básico. Apesar deste filme de terror, eles saem todos a rir do Conselho de Ministros! Sabem que vão comer o bolo, sempre a dobrar.

Esta é a verdade autêntica e indesmentível. A tal que faz sombra à mentira comparada. 

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