segunda-feira, 30 de junho de 2025

Angola | A Difícil Reconstrução Nacional -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

A Organização das Nações Unidas (ONU) fez 80 anos. Temos duas coisas em comum, a mesma idade e estamos mais para lá do que para cá. O estado terrorista mais perigoso do mundo, com a ajuda de seus satélites apagados e imóveis, querem acabar com a instituição. O genocídio na Palestina e a recente agressão contra o Irão provam que estão a conseguir. Nada de novo. O sistema caminha para o fim e tudo o que está acontecendo no planeta foi previsto, analisado e estudado. Visitem Marx, sem preconceitos. Eu sou mais para a conquista do pão, de Kropotkine.

Nesta altura do campeonato convém recordar que a democracia representativa é suportada pela “economia de mercado” (sistema capitalista), essa maquineta infernal que só funciona se atestarmos o depósito com três combustíveis ao mesmo tempo: Exploração de quem trabalha, corrupção e roubo que pode ir até às formas violentas de latrocínio. Se querem saber como é, estudem os EUA do século XX e dos primeiros 25 anos do século XXI. Isso mesmo: Latrocínio e genocídio. Angola esteve muitos anos nesse inferno. 

Os melhores de nós pegaram em armas contra o colonialismo (genocídio). A UPA/FNLA entregou o comando a Mobutu e à CIA. O MPLA levou a bandeira até à Independência Nacional. Muitos morreram. Outros cansaram-se. Ainda temos muitos para contar a História que escreveram e viveram. São os nossos Heróis, felizmente vivos. 

Olhemos para a História. Angola há 50 anos era uma colónia. O Povo Angolano era vítima de genocídio. As riquezas de Angola eram rapinadas desde o roubo no peso e na medida até às formas violentíssimas de latrocínio. Eu vivi esse tempo lá no Negage, quando Angola era Luanda, a capital na Mutamba e o resto paisagem. Os do Uíje diziam que o meu sítio era a aldeia dos macacos. Estavam muito enganados. Aníbal Rocha, o meu amigo Zázá, chegou a ministro e o Rogério Tuti a grande repórter de imagens.

Angola experimentou uns dias de paz, entre o 25 de Abril 1974 e o Primeiro de Maio. Em plena festa dos trabalhadores, a polícia prendeu Rita Lara e Maria Orquídea porque na Mutamba desfraldaram um pano onde estava escrito: “Abaixo o Colonialismo! Viva Angola Independente!” Começou a Guerra da Transição que durou até 11 de Novembro 1975. E nessa data rebentou a Guerra pela Soberania Nacional e Integridade Territorial, até 1988. Mais uns dias de paz e Savimbi começou a disparar contra a democracia representativa.

Olhar para o umbigo não adianta. Angola esteve em guerra de alta intensidade entre 1974 e 2002, 28 longos e dolorosos anos, com alguns pequenos intervalos. A guerra acabou há 23 anos. Muito tempo? Pouco tempo? A resposta é fácil se olharmos para lá do umbigo.

A guerra dos nazis contra o mundo durou de 1939 a 1945 (Está de volta, com Trump e sua maralha). A economia alemã levou mais de duas décadas para recuperar. Foram despejados milhares de milhões na Alemanha até acontecer o “Milagre Economico Alemão”.

Em França, o Plano Monnet, iniciado em 1945, só começou a dar resultados palpáveis 20 anos depois. Nos anos 60 explodiu a indústria e a agricultura. Os franceses, além dos milhões do Plano Marshall, montaram um esquema de roubo/latrocínio nas suas colónias africanas. Até roubavam os povos com o Franco CFA! Gatunos por convicção.

A recuperação económica no Reino Unido, depois da II Guerra Mundial, durou décadas. A dívida nacional era astronómica. Foi necessário o racionamento de bens. A construção do Estado Social e a discussão sobre a identidade nacional ainda estão na pauta. 

A economia italiana levou mais de duas décadas para recuperar da II Guerra Mundial. Chamaram à recuperação o "Milagre Económico Italiano" a partir de 1960 e até ao final da década de 19670. Assim nasceu uma potência industrial na Europa. 

A economia polaca levou mais de duas décadas para recuperar da II Guerra Mundial. O país estava menos devastado do que Angola em 1988. Apesar dos milhões do Plano Marshall, a Polónia só atingiu os níveis anteriores à guerra, no final da década de 1960. 

Ainda há mais. A França no final da II Guerra Mundial tinha 17 universidades, algumas com séculos de existência. Muita sabedoria acumulada.  A Itália, no final da II Guerra Mundial, tinha 21 universidades, algumas com séculos de existência. Muita ciência acumulada, desde os romanos. A Alemanha construiu, 100 anos antes de rebentar a II Guerra Mundial, o Pensamento Alemão. O Reino Unido no tempo da guerra dos nazis contra o mundo (está de volta…) tinha 22 universidades. Oxford e Cambridge são das mais antigas do mundo. 

Portugal na II Guerra Mundial tinha três universidades, Coimbra, Lisboa e Porto. Coimbra era das mais antigas do mundo. Angola no dia 25 de Abril 1974 tinha uma universidade com dez anos de existência e três polos: Luanda, Huambo (Nova Lisboa) e Lubango (Sá da Bandeira). 

Em 1974, a Universidade de Angola tinha 4.000 estudantes. Na abertura, em 1963, tinha apenas 286 alunos matriculados nas Engenharias e Medicina. O Polo de Luanda, no 25 de Abril 1974, já tinha 2.354 alunos e 274 professores. Antes da Independência Nacional (Guerra da Transição), mais de 80 por cento abandonaram o país.

Foi com estes recursos humanos que construímos Angola Independente, um país maior do que França, Itália e Portugal juntos! Segundo o Comandante ko Carreira, o MPLA no 25 de Abril tinha apenas 800 guerrilheiros. Foram eles que dirigiram o processo de descolonização, defenderam a soberania nacional e a integridade territorial. Construíram a República Popular de Angola. Defenderam a democracia que nasceu nas eleições de 1992. Analisar a actualidade ignorando esta realidade só mesmo quem tem o intestino grosso ligado ao cérebro. Temos um grande país, um grande povo e grandes políticos. Hoje estou magnânimo. 

Os bancos encerraram por hoje. Os caloteiros e ladrões não pagaram o que me devem, há dez anos. O chefe deles e empregado do povo não precisa de comer o dinheiro de um trabalhador. Só apoia o roubo e o calote por maldade. O Povo Angolano merece muito melhor. Em 2027 o lixo vai na enxurrada de uma votação fortíssima no MPLA

* Jornalista

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