sábado, 21 de junho de 2025

O LEGADO DE NETANYAHU NÃO SERÁ A SEGURANÇA – SERÁ O ISOLAMENTO

Sua busca por domínio não tornou Israel mais seguro, apenas mais desprezado e solitário no cenário mundial.

Kamel Hawwash* | Aljazeera, opinião | # Traduzido em português do Brasil

Desde a sua fundação em 1948, os primeiros-ministros de Israel têm buscado deixar legados que os perdurariam — alguns por meio da guerra, outros pela diplomacia e alguns por meio de erros históricos. David Ben-Gurion garantiu a independência do Estado e construiu suas instituições fundamentais. Golda Meir presidiu uma guerra que lhe custou o cargo. Menachem Begin assinou a paz com o Egito enquanto expandia os assentamentos ilegais. Yitzhak Rabin foi assassinado por tentar fazer a paz com os palestinos.

Cada líder, de alguma forma, deixou sua marca. Mas nenhum governou por tanto tempo – ou de forma tão divisiva – quanto Benjamin Netanyahu. E agora, mais do que nunca, a questão não é apenas que tipo de legado ele quer deixar, mas que legado ele está de fato criando.

Em 2016, argumentei que o mundo árabe havia efetivamente coroado Netanyahu como "Rei do Oriente Médio" — um título que refletia seu sucesso em posicionar Israel como uma potência regional sem fazer concessões aos palestinos. Hoje, acredito que ele vê uma oportunidade não apenas de consolidar esse título, mas de remodelar a posição regional de Israel de forma permanente — por meio da força, da impunidade e de uma estratégia enraizada em um domínio securitizado.

Desde seu primeiro mandato, Netanyahu insiste que a segurança de Israel deve prevalecer sobre todas as outras considerações. Em sua visão de mundo, um Estado palestino não é apenas incompatível com a segurança de Israel; é uma ameaça existencial. Mesmo que tal Estado seja criado, Netanyahu deixou claro que Israel deve manter o que ele chama de "soberania de segurança" sobre toda a Palestina histórica.

Isso nunca foi mera retórica. Influenciou todas as suas decisões importantes, e nenhuma mais do que a atual guerra em Gaza. O ataque arrasou bairros inteiros, matou dezenas de milhares de palestinos, deslocou a maior parte de seus dois milhões de habitantes e criou uma catástrofe humanitária sem precedentes.

Israel é acusado por grupos de direitos humanos e agências das Nações Unidas de cometer crimes de guerra, limpeza étnica e genocídio. Israel enfrenta acusações de genocídio, apoiadas por diversos países, no Tribunal Internacional de Justiça. O Tribunal Penal Internacional também emitiu mandados de prisão contra Netanyahu e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por supostos crimes de guerra e crimes contra a humanidade, incluindo o uso da fome como arma de guerra.

Mesmo assim, Netanyahu continua, argumentando que Gaza nunca mais deve representar uma ameaça a Israel e que a destruição é necessária para garantir o futuro do país.

Essa lógica não se limita a Gaza. Ele usou argumentos semelhantes para justificar os ataques de Israel ao Líbano, incluindo ataques direcionados a membros do Hezbollah e a tentativa de assassinato do líder do grupo, Hassan Nasrallah.

Usando o mesmo raciocínio, Israel também lançou ataques no Iêmen e deixou claro que agirá no Iraque quando e onde julgar necessário.

O argumento de segurança também tem sido usado para justificar a ocupação contínua do território sírio e atualmente é invocado para legitimar ataques em andamento ao Irã, aparentemente para impedi-lo de adquirir armas nucleares e degradar suas capacidades de mísseis e drones.

Em todos os casos, a mesma narrativa se repete: Israel não pode estar seguro a menos que seus inimigos sejam derrotados, sua dissuasão inquestionável e seu domínio inquestionável. Toda dissidência, desacordo ou resistência — seja militar, política ou mesmo simbólica — é apresentada como uma ameaça a ser eliminada.

Até mesmo os esforços diplomáticos de Netanyahu seguem essa lógica. Os Acordos de Abraão, assinados com os Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Marrocos durante seu mandato, foram aclamados como acordos de paz, mas funcionaram principalmente como instrumentos de alinhamento regional que marginalizaram os palestinos. Para Netanyahu, a normalização não é um caminho para a paz — é uma maneira de consolidar a posição de Israel, evitando uma resolução justa para a ocupação.

Qual é, então, o legado que Netanyahu busca?

Ele quer ser lembrado como o primeiro-ministro que esmagou toda a resistência à ocupação, pôs fim à ideia de um Estado palestino e consagrou o domínio de Israel no Oriente Médio pela força bruta. Em sua visão, Israel controla o território, dita as regras e não responde a ninguém.

Mas a história pode se lembrar dele de forma diferente.

O que Netanyahu chama de segurança, grande parte do mundo vê cada vez mais como violência sistêmica. A resposta global à guerra em Gaza — milhões marchando em protesto, ações judiciais internacionais, boicotes crescentes e rebaixamentos diplomáticos — sugere que, sob sua liderança, Israel não está ganhando legitimidade, mas sim perdendo-a.

Mesmo entre seus aliados, Israel enfrenta um isolamento crescente. Embora os Estados Unidos continuem a fornecer cobertura diplomática, termos como "apartheid", "limpeza étnica" e "colonialismo de assentamento" não se limitam mais ao ativismo marginal. Eles estão entrando no discurso político dominante e moldando a consciência pública, especialmente entre as gerações mais jovens.

Muitos comentaristas argumentam que Netanyahu está se apegando ao poder apenas para evitar processos por corrupção ou a responsabilização pelos fracassos dos ataques de 7 de outubro de 2023 contra Israel. Mas acredito que essa análise ignora uma verdade mais profunda: que ele vê este momento — esta guerra, esta ausência de responsabilização — como uma janela histórica de oportunidade. Para ele, trata-se de um legado.

A tragédia é que, ao perseguir esse legado, ele pode alcançar o oposto do que pretende. Não um Israel mais forte, mas um Israel mais isolado. Não uma pátria segura, mas um Estado cada vez mais visto como violador das normas internacionais. Não um legado de força, mas de colapso moral e político.

Netanyahu será lembrado. Hoje, enquanto Gaza arde e o Irã enfrenta ataque após ataque, não há mais dúvidas sobre isso. A única questão é se seu legado será de segurança nacional ou um que deixará Israel mais sozinho, mais condenado e mais precário do que nunca.

*Acadêmico britânico-palestino, escritor, ativista de direitos humanos e membro fundador da Campanha Nacional para Reconstrução da OLP.

Imagem: Benjamin Netanyahu mostra uma ilustração ao descrever suas preocupações com as ambições nucleares do Irã durante seu discurso na 67ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, na sede da ONU, em 27 de setembro de 2012. [Richard Drew/AP Photo]

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