segunda-feira, 16 de junho de 2014

DESPORTO E MERCANTILIZAÇÃO



Corrupção e espectáculo no Mundial de Futebol

Marco

A corrupção que corrói a organização da Copa Mundial de Futebol, inaugurada em São Paulo, não surpreendeu. O que criou incerteza e preocupação nos círculos financeiros foi a falta de capacidade política dos governantes desse país para conter o descontentamento popular. Os gastos se controle em obras suntuárias provocaram uma recusa generalizada da parte da população. Há várias décadas a economia mundial tende a passar de crise para crise. O sector produtivo – que era o motor do desenvolvimento – cedeu o lugar às actividades financeiras e especulativas. Em lugar de medir o crescimento económico com base na produção, agora mede-se o "progresso" com base na transferência das poupanças dos trabalhadores para os bancos.

Actualmente, tudo tem um preço, tudo se mercantiliza. "A política deixou de ser um serviço e converteu-se num negócio". O desporto não é excepção. Ao contrário, converteu-se numa das áreas que mais riqueza gera. Há um século os desportos foram sequestrados pelo crime organizado (máfia e governo, associados) e postos ao serviço dos ladrões que realizavam lucros extraordinários mediante actividades ilícitas (as apostas e outras manobras). Aquilo que era considerado próprio do "submundo", agora faz parte do mundo dos negócios. Em fins do século XX, inclusive, os jogos olímpicos foram profissionalizados para fins mercantilistas. Os atletas competem por melhores remunerações. As sedes e suas autoridades competem pelas comissões e pelo prestígio. Os financistas competem pela apropriação dos milhares de milhões de dólares que se investem nas obras e nos "sobrecustos".

O evento desportivo mais cotado é sem dúvida o dos Jogos Olímpicos. Geram milhares de milhões de dólares que o Comité Olímpico Internacional (COI) manobra com a banca financeira mundial. O COI consegue, com esmero, projectar uma imagem que o relaciona com seus fundadores dos fins do século XIX. Supostos cavalheiros que tencionavam ressuscitar o espírito olímpico da antiga Grécia: A cada quatro anos as cidades gregas suspendiam suas guerras para que a sua juventude competisse em justas desportivas. Esse espírito tão nobre foi esquecido.

No caso da Copa Mundial, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) tocou uma fibra que se converteu num dos negócios com mais êxito. A FIFA factura anualmente vários milhares de milhões de dólares. O Mundial que ela organiza no Brasil gerará quase 5 mil milhões de dólares, grande parte pela venda de direitos de televisão à escala mundial. A FIFA cobra comissões por todos os direitos vendidos pelos seus membros. Inclusive campeonatos nacionais e regionais. Por cada camisola, meia ou ténis que se vende algo cabe à FIFA. Do total de 5 mil milhões de dólares que gerará o Mundial no Brasil, a FIFA fica com 90 por cento.

"DESAPOSSAR" O POVO BRASILEIRO 

Os protestos das mais diversas organizações em todas as cidades brasileiras são plenamente justificados. O governo está a investir mais de 20 mil milhões de dólares na construção de estádios, ampliação de aeroportos e desenvolvimento de infraestrutura que beneficiará a FIFA, os especuladores e financistas brasileiros e internacionais. Parafraseando o sociólogo inglês David Harvey, o Mundial de Futebol serviu para "desapossar" o povo brasileiro. Aqueles que protestam não aceitam que suas riquezas e poupanças sejam entregues aos empreiteiros, financistas e especuladores sem receber compensação alguma. Neste saqueio sistemático, a FIFA serve só de intermediário. Há que reconhecer que espectáculo que apresenta é fora de série: Ronaldo, Messi, Neymar e tantas outras super-estrelas repartidas em 32 equipes, 62 partidas num mês que a tecnologia de ponta leva ao último rincão do mundo.

Os brasileiros obviamente não se opõem ao futebol nem ao Mundial. São os penta-campeões, os melhores jogadores sobre a terra. Mas recusam a forma tão arrogante como a FIFA e a banca internacional chegaram ao seu país para saquear o seu povo com a aparente cumplicidade do governo. A lição que é preciso aprender dos protestos no Brasil é que o desporto não pode continuar a ser manipulado pelos especuladores. Em 2016 o governo brasileiro enfrentará novamente o povo por ocasião dos Jogos Olímpicos do Rio, onde novamente serão feitos gastos que não beneficiam o povo desse país sul-americano.

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Muller ofusca Cristiano Ronaldo e lidera goleada alemã sobre Portugal




Cristiano Ronaldo não fez valer o status de melhor jogador do mundo na estreia de Portugal na Copa, pois quem brilhou na tarde desta segunda-feira foi o atacante alemão Thomas Muller, autor de três gols na Arena Fonte Nova. Com amplo domínio durante todo o jogo, a equipe comandada por Joachim Low triunfou por 4 a 0, pelo grupo G.

Concentrada em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, a Alemanha se sentiu em casa também na capital Salvador e ainda teve a vida facilitada pela expulsão de Pepe, que deu uma cabeçada em Muller quando os germânicos já tinham dois gols de vantagem.

Além dos três gols de Muller, sendo um deles em cobrança de pênalti, Hummels também deixou sua marca, apesar de ter saído lesionado no segundo tempo. As outras lesões foram do lado português, com Hugo Almeida e Fábio Coentrão.

Na próxima rodada do grupo G, a Alemanha enfrentará Gana, no sábado, na Arena Castelão. No domingo, Portugal tentará sua recuperação contra os Estados Unidos, na Arena Amazônia.

O jogo

A Alemanha já começou a partida buscando jogadas ofensivas, mas quem realmente assustou primeiro foi o adversário, pois, em contragolpe rápido de, Hugo Almeida recebeu pela entrada da área na direita e finalizou fraco. No lance seguinte, Lahm perdeu a bola na intermediária para Miguel Veloso, que tocou na esquerda para Cristiano Ronaldo. O atacante avançou e chutou forte, exigindo defesa do goleiro.

Os dois sustos motivaram os alemães a corrigir os defeitos atrás. Assim, a partir daí, a equipe dirigida por Joachim Low assumiu o controle total da partida, neutralizando Cristiano Ronaldo. O primeiro gol alemão quase saiu em erro feio do goleiro Rui Patrício, que recebeu bola recuada e chutou errado. Khedira mandou de primeira da intermediária em busca do gol vazio, mas a bola passou rente à trave.

Aos dez, o árbitro Milorad Mazic marcou pênalti de João Pereira sobre Gotze. Os portugueses reclamaram muito da decisão do sérvio, que ainda aplicou cartão amarelo ao lateral direito. Assim, aos 11, Muller fez a cobrança rasteira no lado direito do goleiro, que acertou o canto, mas não conseguiu fazer a defesa. A seleção tricampeã mundial continuou mais perigosa, mas Portugal ainda respondia eventualmente, mesmo com Cristiano Ronaldo apagado.

Com o companheiro de frente bem marcado, Nani carregou em diagonal pela direita e soltou um chute forte, em busca do ângulo, mas a bola passou raspando a trave e acertou o suporte da rede. Ainda no primeiro tempo, aos 27, o técnico Paulo Bento foi obrigado a fazer a primeira alteração, pois Hugo Almeida sentiu lesão muscular na coxa esquerda e foi substituído por Eder.

Três minutos depois, Ozil recebeu em velocidade, invadiu a área para a direita e rolou na marca do pênalti para Gotze, que finalizou, mas a bola desviou em João Moutinho e foi para fora. A pressão germânica surtiu efeito. Aos 31, Toni Kroos bateu escanteio e Hummels ganhou de dois defensores pelo alto para mandar de cabeça para a rede.

Em uma das raras chances do outro lado, Portugal não aproveitou, pois Fábio Coentrão recebeu em impedimento na área, e os alemães pararam, mas o árbitro considerou tudo normal. Em vez de chutar, o lateral esquerdo tentou acionar Cristiano Ronaldo, que não alcançou.

A situação portuguesa, que já era ruim, ficou ainda pior para os portugueses, mais uma vez pela falta de tranquilidade de Pepe, que deixou a mão no rosto de Muller em disputa de bola. O alemão caiu, e o brasileiro naturalizado português se irritou, reclamando com o adversário no chão, tocando até a testa na cabeça do atacante. O alemão, então, levantou-se para discutir, e o árbitro expulsou Pepe da partida.

O cartão vermelho deixou os portugueses mais nervosos, exagerando em algumas faltas e sem condições de se defender. Assim, ainda havia tempo para mais. Aos 44, Toni Kroos fez o cruzamento da esquerda, Muller travou Bruno Alves dentro da área e chutou de pé esquerdo para superar Rui Patrício, que ainda tocou na bola.

O segundo tempo começou da mesma forma que o anterior, com a Alemanha dominando. Ozil recebeu em posição duvidosa e saiu de frente para Rui Patrício, que fez a defesa. No rebote, Muller mandou de cabeça por cima do travessão. Apesar do domínio, os germânicos diminuíram um pouco o ritmo, até por conta da vantagem no placar.

Enquanto isso, Portugal sonhou com alguma forma de reagir. A primeira chance surgiu em cobrança de falta, mas Cristiano Ronaldo acertou a barreira e não aproveitou. Na verdade, nada parecia dar certo para a equipe de Paulo Bento, que teve de mudar o time de novo, quando Fábio Coentrão sentiu lesão muscular e deixou o campo de maca, sendo substituído por André Almeida.

Com o jogo tão tranquilo, a Alemanha se deu ao luxo até de desperdiçar chances claras. Gotze recebeu com liberdade na área em contragolpe, mas finalizou em cima da marcação. Aos 29, os portugueses ainda reclamaram bastante, pedindo pênalti de Howedes sobre Eder. O árbitro considerou a jogada normal, e Cristiano Ronaldo ficou indignado, gesticulando na frente do sérvio.

Mesmo com um ritmo mais cadenciado, a Alemanha ampliou. Aos 33, Schurrle cruzou rasteiro da direita, e Rui Patrício deu rebote na pequena área, onde estava Muller para empurrar para a rede. No último lance do jogo, Cristiano Ronaldo bateu falta de longe, sem conseguir superar o goleiro.


Brasil: A elite reserva ao país o mesmo lugar exortado à Presidenta




A virtude, a civilização, a sorte do desenvolvimento e os destinos da sociedade há muito deixaram de interessar a elite brasileira

Saul Leblon – Carta Maior, editorial 

Quando a elite de uma sociedade se reúne em um estádio de futebol e a sua manifestação mais singular é um coro de ofensas de baixo calão, quem é o principal atingido: o alvo ou o emissor?

Vaias e palavrões são inerentes às disputas futebolísticas. Fazem parte do espetáculo, assim  como o frango e o gol de placa. A passagem de autoridades por estádios nunca foi impune.

O que se assistiu no Itaquerão, porém, no jogo inaugural da Copa, entre Brasil e Croácia, não teve nada a ver com o futebol ou deboche, mas com a disputa virulenta em curso  pelo comando da história brasileira.

Sem fazer parte da coreografia oficial o que aflorou ali foi a mais autêntica expressão cultural de um lado desse conflito, nunca antes assumido assim de forma tão desinibida  e ilustrativa.

Encorajado pelo anonimato, o gado OP (puro de origem) mostrou o pé duro dos seus valores.

Dos camarotes vips um jogral raivoso e descontextualizado despejou sua bagagem de refinamento e boas maneiras  sobre uma Presidenta da República em missão oficial.

Por quatro vezes, os sentimentos de uma elite ressentida contra aqueles que afrontam a afável, convergente e impoluta lógica de sociedade que vem construindo aqui há mais de cinco séculos, afloraram durante o jogo.

Foi assim que essa gente viajada, de hábitos cosmopolitas, que se envergonha de um Brasil no qual recusa a enxergar o próprio espelho, ofereceu a um bilhão de pessoas conectadas à Copa em 200 países uma síntese dos termos elevados com os quais tem pautado a disputa política  no país.

Que Aécio & Eduardo tenham se esponjado nessa manifestação dá o peso e a medida do espaço que desejam ocupar no espectro da sociedade brasileira.

Dias antes, o  ex-Presidente Lula havia comentado que nem a burguesia venezuelana atingira contra Chávez o grau de desrespeito e preconceito observado aqui contra a Presidenta Dilma.

Houve quem enxergasse nessas palavras uma carga de retórica eleitoral.

A cerimônia da 5ª feira cuidou de devolver pertinência  à observação.

A formação virtuosa da infância,  o compromisso com a civilização, a sorte do desenvolvimento  e  os destinos da sociedade há muito deixaram de interessar à elite brasileira.

A novidade do coro contra  Dilma é refletir  o desejo  cada vez mais explícito  de mandar o país ao mesmo lugar exortado  à Presidenta.

Ou não será esse o propósito estratégico do camarote  vip ao apregoar o descolamento da sociedade brasileira de uma vez por todas, acoplando-a à grande cloaca mundial de um capitalismo sem peias, onde  se processa  a restauração neoliberal pós-2008?

Nesse imenso biodigestor de direitos e desmanche do Estado acumula-se o adubo  no qual floresce  a alta finança desregulada, que tem nos endinheirados brasileiros  os detentores da 4ª maior fortuna do planeta evadida em paraísos fiscais.

Estudos da  The Price of Offshore Revisited,  coordenados pelo ex-economista-chefe da McKinsey, James Henry, revelam que os brasileiros muito ricos – que se envergonham de um governo corrupto--  possuíam, até 2010, cerca de US$ 520 bilhões  em paraísos fiscais.

O passaporte definitivo  para esse  ‘novo normal’ sistêmico requer a vitória, em outubro, das candidaturas que carregam no DNA o mesmo pedigree da turma que deu uma pala na festa de abertura da Copa. Não propriamente contra Dilma, mas contra o que ela simboliza: a tentativa de se construir por aqui um Estado social que assegure aos  sem riqueza os mesmos direitos daqueles que enxergam no espaço público  um  mero apêndice  do interesse plutocrático.

A expressão ‘vale tudo’ descreve com fidelidade o que tem sido e será, cada vez mais, o bombardeio   para convencer o imaginário brasileiro  das virtudes intrínsecas  à troca do ‘populismo’  pelo estado de exceção de direitos e conquistas sociais, em benefício dos livres mercados.

A mídia está aí para isso, como se viu pela cobertura dos fatos da última 5ª feira.

Trata-se de saber em que medida o discernimento social, condicionado por uma esférica máquina de difusão dos interesses vips,  saberá distinguir um caminho que desvie a nação do futuro metafórico reservado a ela nos planos,  agora explicitados, de sua elite.

A indigência do espírito público dos endinheirados brasileiros, reconheça-se,  não é nova. Mas se supera.

O antropólogo Darcy Ribeiro foi  um legista  obcecado dos seus contornos e consequências para a formação do país, a sorte de sua gente e a qualidade do seu desenvolvimento.

Em um texto de  1986, ‘Sobre o óbvio – Ensaios Insólitos’, o criador da Universidade de Brasília, e chefe da Casa Civil de Jango, iluminou os traços dessa rosca descendente, confirmada  28 anos depois, em exibição mundial,  na abertura da Copa de 2014.

"Dois fatos que ficaram ululantemente óbvios. Primeiro, que não é nas qualidades ou defeitos do povo que está a razão do nosso atraso, mas nas características de nossas classes dominantes, no seu setor dirigente e, inclusive, no seu segmento intelectual. Segundo, que nossa velha classe dominante tem sido altamente capaz na formulação e na execução de projeto de sociedade que melhor corresponde a seus interesses. Só que este projeto para ser implantado e mantido precisa de um povo faminto, xucro e feio. Nunca se viu, em outra parte, ricos tão capacitados para gerar e desfrutar riquezas, e para subjugar o povo faminto no trabalho, como os nossos senhores empresários, doutores e comandantes. Quase sempre cordiais uns para com os outros, sempre duros e implacáveis para com subalternos, e insaciáveis na apropriação dos frutos do trabalho alheio. Eles tramam e retramam, há séculos, a malha estreita dentro da qual cresce, deformado, o povo brasileiro (...) porque só assim a velha classe pode manter, sem sobressaltos, este tipo de prosperidade de que ela desfruta, uma prosperidade jamais generalizável aos que a produzem com o seu trabalho.

A primeira evidência a ressaltar é que nossa classe dominante conseguiu estruturar o Brasil como uma sociedade de economia extraordinariamente próspera. Por muito tempo se pensou que éramos e somos um país pobre, no passado e agora. Pois não é verdade. Esta é uma falsa obviedade. Éramos e somos riquíssimos! A renda per capita dos escravos de Pernambuco, da Bahia e de Minas Gerais – eles duravam em média uns cinco anos no trabalho – mas a renda per capita dos nossos escravos era, então, a mais alta do mundo. Nenhum trabalhador, naqueles séculos, na Europa ou na Ásia, rendia em libras – que eram os dólares da época – como um escravo trabalhando num engenho no Recife; ou lavrando ouro em Minas Gerais; ou, depois, um escravo, ou mesmo um imigrante italiano, trabalhando num cafezal em São Paulo. Aqueles empreendimentos foram um sucesso formidável. Geraram além de um PIB prodigioso, uma renda per capita admirável. Então, como agora, para uso e gozo de nossa sábia classe dominante. A verdade verdadeira é que, aqui no Brasil, se inventou um modelo de economia altamente próspera, mas de prosperidade pura. Quer dizer, livre de quaisquer comprometimentos sentimentais. A verdade, repito, é que nós, brasileiros, inventamos e fundamos um sistema social perfeito para os qe estão do lado de cima da vida.

O valor da exportação brasileira no século XVII foi maior que o da exportação inglesa no mesmo período. O produto mais nobre da época era o açúcar. Depois, o produto mais rendoso do mundo foi o ouro de Minas Gerais que multiplicou várias vezes a quantidade de ouro existente no mundo. Também, então, reinou para os ricos uma prosperidade imensa. O café, por sua vez, foi o produto mais importante do mercado mundial até 1913, e nós desfrutamos, por longo tempo, o monopólio dele. Nestes três casos, que correspondem a conjunturas quase seculares, nós tivemos e desfrutamos uma prosperidade enorme. Depois, por algumas décadas, a borracha e o cacau deram também surtos invejáveis de prosperidade que enriqueceram e dignificaram as camadas proprietárias e dirigentes de diversas regiões. O importante a assinalar é que, modéstia à parte, aqui no Brasil se tinha inventado ou ressuscitado uma economia especialíssima, fundada num sistema de trabalho que, compelindo o povo a produzir, o que ele não consumia – produzir para exportar – permitia gerar uma prosperidade não generosa, ainda que propensa desde então, a uma redistribuição preterida.

Enquanto isso se fez debaixo dos sólidos estatutos da escravidão, não houve problema. Depois, porém, o povo trabalhador começou a dar trabalho, porque tinha de ser convencido na lei ou na marra, de que seu reino não era para agora, que ele verdadeiramente não podia nem precisava comer hoje. Porém o que ele não come hoje, comerá acrescido amanhã. Porque só acumulando agora, sem nada desperdiçar comendo, se poderá progredir amanhã e sempre. O povão, hoje como ontem, sempre andou muito desconfiado de que jamais comerá depois de amanhã o feijão que deixou de comer anteontem. Mas as classes dominantes e seus competentes auxiliares, aí estão para convencer a todos – com pesquisas, programas e promoções – de que o importante é exportar, de que é indispensável e patriótico ter paciência, esperem um pouco, não sejam imediatistas. O bolo precisa crescer; sem um bolo maior – nos dizem o Delfim lá de Paris e o daqui – sem um bolo acrescido, este país estará perdido. É preciso um bolo respeitável, é indispensável uma poupança ponderável, uma acumulação milagrosa para que depois se faça, amanhã, prodigiosamente, a distribuição.
      
A classe dominante brasileira inscreve na Lei de Terras um juízo muito simples: a forma normal de obtenção da prioridade é a compra. Se você quer ser proprietário, deve comprar suas terras do Estado ou de quem quer que seja, que as possua a título legítimo. Comprar! É certo que estabelece generosamente uma exceção cartorial: o chamado usucapião. Se você puder provar, diante do escrivão competente, que ocupou continuadamente, por 10 ou 20 anos, um pedaço de terra, talvez consiga que o cartório o registre como de sua propriedade legítima.

Como nenhum caboclo vai encontrar esse cartório, quase ninguém registrou jamais terra nenhuma por esta via. Em consequência, a boa terra não se dispersou e todas as terras alcançadas pelas fronteiras da civilização, foram competentemente apropriadas pelos antigos proprietários que, aquinhoados, puderam fazer de seus filhos e netos outros tantos fazendeiros latifundiários. Foi assim, brilhantemente, que a nossa classe dominante conseguiu duas coisas básicas: se assegurou a propriedade monopolística da terra para suas empresas agrárias, e assegurou que a população trabalharia docilmente para ela, porque só podia sair de uma fazenda para cair em outra fazenda igual, uma vez que em lugar nenhum conseguiria terras para ocupar e fazer suas pelo trabalho. A classe dominante norte-americana, menos previdente e quiçá mais ingênua, estabeleceu que a forma normal de obtenção de propriedade rural era a posse e a ocupação das terras por quem fosse para o Oeste – como se vê nos filmes de faroeste. Qualquer pioneiro podia demarcar cento e tantos acres e ali se instalar com a família, porque só o fato de morar e trabalhar a terra fazia propriedade sua. O resultado foi que lá multiplicou um imenso sistema de pequenas e médias propriedades que criou e generalizou para milhões de modestos granjeiros uma prosperidade geral. Geral mas medíocre, porque trabalhadas por seus próprios donos, sem nenhuma possibilidade de edificar Casas-grandes & Senzalas grandiosas como as nossas".

Brasil2014: Salvador, Natal e Curitiba têm hoje jogos da Copa




Alemanha e Portugal abrem a rodada de hoje (16) pelo Grupo G da Copa do Mundo. A partida será disputada às 13h na Arena Fonte Nova, em Salvador. Pelo mesmo grupo jogarão, às 19h, Gana e Estados Unidos, no Estádio das Dunas em Natal. Às 16h, será a vez de o Irã e a Nigéria, em partida disputada na Arena da Baixada (Curitiba), completarem a rodada do Grupo F, iniciada ontem (15) com a vitória da Argentina sobre a Bósnia por 2 a 1.

A Alemanha é apontada como uma das seleções favoritas para vencer a Copa de 2014. Além de ter grande elenco, conta com a tradição de estar quase sempre entre os semifinalistas do torneio. É a terceira seleção com mais títulos em copas do Mundo, tendo vencido as edições de 1954, 1974 e 1990, além dos vice-campeonatos obtidos em quatro oportunidades (1966, 1982, 1986 e 2002). Por quatro vezes ficou em terceiro lugar (1934, 1970, 2006 e 2010).  Nenhuma outra seleção disputou tantos jogos em uma Copa do Mundo e nem marcou tantos gols (222) quanto a Alemanha.

Apesar de nunca ter vencido uma Copa do Mundo, Portugal também figura entre os favoritos. No ranking da Federação Internacional de Futebol (Fifa) está atualmente na quarta posição, mas o que a coloca entre os favoritos é o fato de ter, entre seus jogadores, Cristiano Ronaldo, o melhor do mundo, segundo a Fifa. O maior feito da seleção portuguesa foi em 1966, na Copa disputada na Inglaterra. Comandada pelo craque Eusébio, ela entrou para a história ao eliminar o Brasil, campeão do mundo. Os portugueses ficaram em terceiro lugar, após vitória sobre a União Soviética. Na Copa de 2006, disputada na Alemanha, os lusos ficaram em quarto lugar após serem derrotados pela seleção anfitriã. 

Agência Brasil - Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil - Edição: Graça Adjuto

Natal decreta estado de calamidade devido às chuvas. Jogo está mantido




A prefeitura de Natal decretou estado de calamidade pública na capital potiguar devido à forte chuva que atingiu a cidade desde quinta-feira (12) à noite até domingo (15). O decreto foi publicado na edição de hoje (16) do Diário Oficial do Município.

A cidade será palco nesta segunda-feira do jogo entre Gana e Estados Unidos, na Arena das Dunas, às 19h, pelo Grupo G da Copa do Mundo. Segundo a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e a Secretaria Extraordinária para Assuntos Relativos à Copa do Mundo 2014 (Secopa) no Rio Grande do Norte, a partida está mantida. Para hoje, a previsão do Instituto Nacional de Meteorologia é de tempo nublado com chuva esparsa durante o dia e à noite.

As fortes chuvas provocaram o deslizamento de uma encosta que, de acordo com o decreto, comprometeu até 40 residências, das quais 20 ficaram destruídas, na Rua Guanabara, no bairro de Mãe Luíza. Além disso, houve comprometimento do muro de contenção de uma encosta na Comunidade do Jacó, no bairro das Rocas, provocando risco de deslizamento e desabamento que coloca 50 casas em risco.

Ainda segundo o decreto, houve transbordamento das seguintes lagoas: Pirangi, Jiqui, Cidade Jardim, Preá, Potiguares, Conjunto Iprevinat, São Conrado, lagoas do Horto e da Cidade da Esperança, ambas na Rua Ceará, e Nova Cidade. A prefeitura informou que todas as lagoas de captação de águas pluviais transbordaram provocando diversos pontos de alagamento na cidade.

O decretou autoriza o Poder Público a entrar nas casas para prestar socorro ou determinar a pronta evacuação e “o início de processos de desapropriação, por utilidade pública, de propriedades particulares comprovadamente localizadas em áreas de risco intensificado de desastre”. Cerca de 50 famílias foram levadas para abrigos públicos.

Agência Brasil - Ana Cristina Campos - Repórter da Agência Brasil Edição: Denise Griesinger

PRIMEIRO MINISTRO E PRIMEIRO ALDRABÃO



Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

Do jornal i mas também referido na TSF, de onde provém o título com a respetiva ligação, ressalta a conclusão de que o dito primeiro ministro é, principalmente, um grande aldrabão, o primeiro deste governo de desgraça apoiado por um presidente da República que suspendeu a Presidência (tema a abordar noutra Boca do Inferno).

No título "Empresários desafiam Governo a cortar as rendas pagas à EDP" o desenvolvimento da notícia permite-nos concluir da proteção que Passos oferece aos interesses privados massacrando os portugueses. Neste caso saem as elétricas a ganhar, com a EDP de Melancia à cabeça. Já consta que depois de abandonar o governo Passos vai ingressar na EDP com uma escandalosa e imoral remuneração. Facto sem novidade porque é costume os políticos saídos dos governos serem depois “recuperados” por grandes empresas e organismos nacionais e estrangeiros que os remuneram principescamente como se de pagamento de “favores” se trate.

Diz a TSF que uns quantos endereçaram uma carta ao tal primeiro aldrabão (recordem-se as promessas eleitorais e outras passagens de peripécias deste primeiro cujo cognome lhe assenta como luva). Que é “uma carta com um pedido...mas que não deixa o primeiro ministro a salvo de reparos. Um grupo de empresarios escreveu a Pedro Passos Coelho desafiando-o a cortar as rendas pagas à EDP. O pretexto desta carta, revela o jornal i, é uma declaração do chefe do governo que não caiu bem junto dos empresários.”

As passagens na notícia “mas que não deixa o primeiro ministro a salvo de reparos” vai direta ao que consta mais à frente noutro parágrafo: “seguramente mal informado”. Mal informado? É a diplomacia e a hipocrisia a funcionar. Mal informado? Mas como pode um dito primeiro ministro - que sabemos ser o primeiro aldrabão – estar mal informado sobre assunto tão importante e que nos vai aos bolsos na ordem dos milhões de euros? Seguramente mentiroso, seguramente aldrabão, seguramente zelador de interesses privados, eventualmente com o fito de se sentar repimpadamente numa cadeira de um gabinete da EDP a par do comparsa Melancia. Olhando e sabendo o historial é o que se pode admitir com legitimidade.

Destaque a estes parágrafos da notícia:

“Na carta enviada pelo grupo de empresários a Pedro Passos Coelho, é recordada uma entrevista do primeiro-ministro ao Diário Económico em que Passos Coelho defende que os custos da energia são inferiores à média europeia e em que procura justificar a inevitabilidade de compensações às elétricas, nomeadamente à EDP.

Os 18 subscritores da missiva entendem que, seguramente mal informado, o chefe do Governo deu eco nessa entrevista a teses erróneas sobre as rendas elétricas.

Consideram também que as afirmações de Passos Coelho correspondem à posição de interesses privados para justificar um dos maiores prejuízos infligidos à economia nacional.”

Tudo isto vai dar a nada, é o costume. A carta decerto que vai cair no lixo e Passos virá declarar mais umas quantas patranhas e… ponto final. Um mentiroso compulsivo que ocupa o cargo de primeiro ministro, mas também de primeiro aldrabão. 

Vejam a notícia, no original jornal i ou na ligação à TSF que aqui fica. Olhem que isto está a acontecer, não é “boca” mas sim um inferno gerido e dominado por diabos como Passos, Portas e Cavaco, entre outros mastodontes da mentira e do debulho aos portugueses.

*Esta será uma nova rubrica ou tendência a constar no Página Global e a que foi entregue a denominação "BOCAS DO INFERNO". Bocas sobre a realidade, a opinião, o que se entende ou presume. Ficção?

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