sábado, 21 de junho de 2014

Angola: MÉDICO ACUSADO DE TRÁFICO DE ÓRGÃOS HUMANOS



UROLOGISTA NEGA ACUSAÇÕES

O médico urologista, Luashi P. Gabriel, está a ser acusado de traficar órgãos humanos por, alegadamente, ter retirado o testículo do operador de máquinas da empresa de Cerveja Nocal, Manuel Francisco Baltazar, durante a operação cirúrgica que realizou no 13.06.2008, no Hospital Américo Boavida, em Luanda.

Antunes Zongo – Folha 8, 07 junho 2014

O cidadão Manuel Baltazar apresentou uma queixa­-crime, no Gabinete de Crimes Contra Pes­soas, na Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) cujo processo rece­beu o nº 220/012, acusando o médico urologista Luashi Gabriel de o ter lesionado no órgão genital de forma propositada. No entanto o acusado, minimiza a situa­ção, alegando não existir, em nenhuma parte do mun­do, transplante de testículo.

Manuel Baltazar confessou ao F8, ser impotente se­xual, desde a data da ope­ração cirúrgica. “Tenho cinco filhos e uma esposa que não a consigo satisfa­zer sexualmente, porque o médico Luashi retirou-me um dos testículos”, aflorou.

Os factos remontam a uma inspecção médica no lo­cal de trabalho, submetida pela directora do Centro de Saúde da Nocal, Elisabe­th Paulo, que também sur­ge como cúmplice na quei­xa-crime apresentada pelo jovem Manuel Baltazar, que diz ter sido detectado uma apêndice e, em função disso, foi encaminhado ao Hospital Américo Boavi­da, para “sermos opera­dos pelo doutor Luashi”, revelou, acrescentando que “para além da apendi­cite, também me operou a hérnia, que ele (cirurgião) disse ter detectado no mo­mento da operação. Isso é ridículo, como é que ele me opera sem me consul­tar?”, questionou.

“Foi a Repartição da Saúde quem fez a inspecção aos trabalhadores”

Com autorização da direc­ção do Centro de Saúde da Nocal, a Comissão Sin­dical da empresa revelou aos repórteres do F8, que a inspecção de saúde aos trabalhadores, foi realizada pela Repartição da Saúde do município do Cazenga coadjuvado pelo Centro de Saúde da empresa, “fo­ram eles (Repartição) que diagnosticaram apêndice ao Baltazar”. “E por termos convénio com o Américo Boavida, decidimos enviá­-los para lá, logo, até aí o papel da Dra Elisabeth e do nosso Centro termi­nou. Tudo o que se passou já não é da nossa respon­sabilidade, é do Hospital que o operou”, advogou um dos membros da Co­missão Sindical da Nocal (estiveram presentes na entrevista, o 1º secretário da Comissão Sindical, Lu­cas João, Pedro Feliciano, Lucas Massaqui, João Silva e Domingas Viegas).

Américo Boavida vai sub­meter Baltazar a novas consultas

Pese embora o inciden­te ter ocorrido durante a gestão anterior, a actual directora-geral do Améri­co Boavida, Constantina Furtado Machado orientou as psicólogas e outros ser­viços a receberem o jovem Manuel Baltazar e subme­tê-lo a novas consultas.

Em exclusivo ao F8, classi­ficou a situação do opera­dor de máquinas da Nocal, como caso especial e que, “há momentos que nas­cemos assim. Eu não sei o que se passou com ele, mas talvez ele terá tido es­croto ou uma outra doença do género, por esta razão, aconselho-o a submeter-se a novos exames e testes, nas nossas instalações”, solicita Constantina Ma­chado.

O hospital Américo Boavi­da tornou-se uma referên­cia no tratamento de várias patologias e atendimento aos utentes, “por isso, cria­mos o Gabinete do Utente, onde as pessoas devem escrever para apontar er­ros, reclamar e sugerir, pedimos ao jovem Baltazar que procure os nossos ser­viços”, solicitou. A mesma acrescentou que o médico urologista Luashi Pereira, já não faz parte do qua­dro dos profissionais do Américo Boavida, “porque havia muitos profissionais da mesma área a cobrir so­mente cerca de 40 camas, e como ele é simultanea­mente médico do Ministé­rio do Interior, escrevemos para o Ministério da Saúde e a Direcção Nacional da Saúde da Polícia, que fez a referida transferência”, concluiu.

Luashi esclarece o imbró­glio

O médico acusado, es­pecialista em Urologia, Luashi Pereira Gabriel, mi­nimizou a acusação e nega ter operado a apêndice do jovem Mateus Baltazar, ga­rantindo ter realizado ope­ração cirúrgica da hérnia e do hidrocelo, que é um líquido que atrofia o tes­tículo, “os testículos têm um tamanho próprio, e há pessoas que têm testículos muito pequenos, devido ao hidrocelo, e este é o caso dele (Baltazar)”, informou, acrescentando que “atra­vés do hidrocelo, o testícu­lo vai reduzindo e se torna um tumor maligno, por isso devemos ter muito cuidado”, explicou o pro­fissional em urologia, na especialidade desde 1994.

O médico considera haver desinformação, pois nunca operou Baltazar a apêndi­ce, “pois, existem somente dois tipos de apendicite, aguda e crónica, portanto, em qualquer dos casos, a apendicite causa dor no lado direito e em baixo do abdómen, podendo tam­bém causar febre e vómi­tos, em relação à apendi­cite aguda. No entanto, quem tem apêndice não tem muito tempo de vida, por isso deve ser imediata­mente submetido à urgên­cia”, argumentou. “Ele (Bal­tazar) não pode dizer que perdeu a erecção depois da operação, porque depois da intervenção a esposa dele engravidou e deu a luz no Centro de Saúde da No­cal”, concluiu o urologiasta Luashi Pereira Gabriel.

Angola - Zola Bambi: "O nosso povo está a despertar para os seus direitos"



Voz da América, em Angola Fala

“O nosso povo está a despertar para os seus direitos”, disse o advogado da organização Mãos Livres  Zola Bambi Ferreira.

Ao falar num animado “Angola Fala Só”, da VOA o advogado  disse que  o povo angolano está a ficar cada vez mais ciente de que “tem que reclamar os seus direitos e responsabilizar o Estado ou os seus representantes pelas injustiças que sofrem”.

Em resposta a várias perguntas dos ouvintes sobre a situação do sistema judicial em Angola, Zola Bambi disse que “há muita coisa a aperfeiçoar nosistema”, acrescentando que na generalidade “o nosso povo não acredita na justiça angolana”.

Na sua grande maioria, o jurista acredita que os privilegiados chegados ao poder estão acima da justiça.

Contudo, como advogado que trabalha com o sistema de justiça, Zola Bambi disse que ele e os seus colegam trabalham “para aperfeiçoar um sistema imperfeito”.

“Os meus colegas estão a trabalhar para uma justiça imparcial,” disse.

“Com o trabalho de todos, com a pressão de todos, algo melhor pode surgir para o futuro do povo angolano,” acrescentou.

O advogado Zola Bambi iniciou o programa falando do caso do activista Nito Alves que está a ser julgado por crime contra a segurança do Estado  por injúrias ao Chefe de Estado, afirmando que a acção contra o activista que tem participado em manifestações anti-governamentais é uma “violação de direitos constitucionais”.

“É a primeira vez que se julga um menor por um alegado crime contra a segurança do Estado”, sublinhou em referência ao facto de quando os crimes foram alegadamente cometido sNito Alves era ainda menor de idade.

Como acontecem em quase todos os programas do “Angola Fala Só”, a questão dos veteranos de guerra foi levantada por dois ouvintes.

Para o jurista, o facto desta questão continuar por resolver “é uma vergonha” para o Estado angolano.

“Não se mostra uma vontade de resolver o problema”, disse, afirmando que a “Mãos Livres”  está disposta a tentar resolver o problema.

Bambi exortou os antigos militantes a organizarem-se “de modo pacifico”, enviando petições e abaixo assinados às autoridades, incluindo ao Presidente da República como forma de pressionar para a resolução do problema.

“Esta questão não pode ficar para a eternidade,” reiterou.

Um ouvinte da Lunda Sul quis saber a opinião do jurista sobre a questão da autonomia das Lundas, algo que o advogado disse ser de mais difícil resolução porque “a cultura de diálogo não existe”.

Embora a questão da autonomia para as Lundas ou Cabindas seja “controversa” porque “tem a haver com aquilo que é o Estado angolano”, deveria haver um “respeito e uma maior liberdade económica” a essas regiões, concluiu o jurista.

Clique aqui para ter acesso ao arquivo do programa – áudio

Empresa de diamantes ameaça despedir 300 por filiação em sindicato




Direccão da empresa terá proibido a entrada às instalações dos trabalhadores que decidiram filiar-se no novo sindicato.

Voz da América

Mais de 300 trabalhadores da empresa de diamantes da  Catoca, na Luanda-Sul, estão sob ameaça de despedimento por aderirem a um sindicato não reconhecido pelo Governo.

Esta quarta-feira, 18, a direccão da empresa terá  proibido a entrada às instalações de todos os trabalhadores que decidiram filiar-se na nova organização  denominada Sindicato Geológico e Mineiro de Angola(SIGIOMA).

Em declarações à VOA, o responsável do Sigioma Samuel Neto denunciou que a companhia tinha iniciado  uma autêntica caça ao homem de  todos os trabalhadores que se desvincularam da UNTA, a central sindical próxima do Governo.

Samuel Neto  disse  que a ordem de despedimento foi dada pelo director-geral  da companhia Ganga Júnior  e executada pelo  chefe do Departamento Jurídico, Tomé Capande Vale.

Uma fonte da empresa desmentiu que houvesse despedimentos em massa na empresa  e  esclareceu que  a actividade  do novo sindicato é ilegal por,  alegadamente, a sua inscrição não ter sido aprovada pelo Ministério da Justiça.

Leia mais em Voz da América

Portugal - BES: Após negas do Governo, Salgado foi a Luanda pedir ajuda




Ricardo Salgado, na qualidade de líder do GES, queria um empréstimo de 2,5 mil milhões de euros para a reestruturação do Grupo Espírito Santo (GES). Depois de tentar a sua sorte com Maria Luís Albuquerque, o empresário foi ter com Pedro Passos Coelho para pedir que autorizasse que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o BCP liderassem o empréstimo. A resposta foi negativa. Segundo o Expresso, após as duas negas do Governo, Salgado foi a Luanda pedir ajuda. Mas, em vão.

Ricardo Salgado e José Honório reuniram-se com Maria Luís Albuquerque em maio. O objetivo do então líder do BES era pedir à ministra uma autorização para que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o BCP liderassem o empréstimo de 2,5 mil milhões para a reestruturação do Grupo Espírito Santo (GES).

De acordo com o Expresso, a resposta da ministra das Finanças foi negativa e Ricardo Salgado teve que apostar numa segunda hipótese: Pedro Passos Coelho. O bancário pediu uma audiência com o primeiro-ministro e pedido repetiu-se… assim como a resposta. Passos Coelho, que acompanhou de perto o caso da elevada dívida da área não-financeira do grupo, também negou o empréstimo a Salgado.

Ao que o Expresso apurou, a dupla nega do Governo levou o ainda líder do GES a viajar esta quarta-feira para Luanda. O empresário reuniu-se com altas figuras do regime angolano assim como alguns investidores para tentar o financiamento desejado. A resposta voltou a ser negativa.

Ricardo Salgado acabou por abdicar da liderança do Banco Espírito Santo, tendo sido substituído por Amílcar Morais Pires.

Notícias ao Minuto

Leia mais em Notícias ao Minuto

HOJE É DIA DE PROTESTO DA CGTP EM LISBOA



Estão agendadas duas concentrações, uma no Campo das Cebolas e outra no Cais do Sodré. Arménio Carlos fará a intervenção no Rossio.

A CGTP conta ter hoje milhares de manifestantes em protesto na baixa de Lisboa contra as políticas sócio laborais do Governo que "têm levado ao agravamento da exploração e do empobrecimento" e contra as novas alteração da legislação laboral.

"Estamos confiantes que vamos ter uma grande manifestação, com milhares de trabalhadores, e população em geral, para protestar contra as políticas do Governo e exigir a sua demissão", disse à agência Lusa Armando Farias, da Comissão Executiva da Intersindical.

Segundo o sindicalista, os portugueses estão a enfrentar "um momento em que os problemas se estão a agravar, aumentando a exploração e o empobrecimento".

"Estamos a assistir a outro patamar, muito grave, desta ofensiva, com as alterações à legislação laboral que vão levar à destruição da contratação coletiva", disse.

Para Armando Farias a contratação coletiva "é um elemento fundamental da democracia, não só porque garante um conjunto de direitos aos trabalhadores, mas também porque é uma garantia de funcionamento da sociedade".

O sindicalista defendeu que as propostas de lei do Governo que estão na Assembleia da República, que vão reduzir os prazos de caducidade e de sobre vigência das convenções coletivas de trabalho, e as novas ofensivas laborais na função pública, nomeadamente a tabela única remuneratória e a de suplementos, "Têm de ser travadas".

"É fundamental continuar a luta", disse, acrescentando que da manifestação de hoje poderá sair uma decisão nesse sentido.
  
A CGTP-IN realiza hoje, em Lisboa, uma manifestação sob o lema "Acabar com esta política de direita -- Governo Rua! - Por uma política alternativa, de Esquerda e Soberana", tal como fez há uma semana no Porto.

A manifestação inicia-se às 15h30 com duas concentrações, uma no Campo das Cebolas - dos distritos de Lisboa, Santarém, Leiria e Castelo Branco - e outra no Cais do Sodré - dos distritos de Setúbal, Évora, Beja e Faro.

Depois de desfilarem por duas ruas diferentes da baixa lisboeta os manifestantes vão convergir para o Rossio, onde o secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos fará uma intervenção político-sindical.

Lusa, em Expresso

Nota Página Global
Provavelmente a concentração anunciada no cartaz da CGTP referente ao Marquês de Pombal foi alterada devido a um Mega Picnique que acontece este fim-de-semana na Av. da Liberdade e que anuncia o encerramento ao trânsito daquela artéria lisboeta até domingo à noite. Por consequência as concentrações devem realizar-se no Campo das Cebolas e no Cais Sodré, conforme consta na notícia. 

Portugal: CHEGA


Isabel Moreira – Expresso, opinião

Não existe política digna desse nome que não esteja ao serviço da cidade. A polis tem de ser sempre o chão que faz andar quem quer servir o bem-comum. Não há nada de artístico em ver a política como uma forma de alcançar e de manter o poder. Se Maquiavel definiu assim a política, não consta que tenha atribuído à definição um juízo moral positivo. Olhou e definiu.

Talvez hoje muitos olhem para o que se passa na nossa vida política e sintam a pulsão maquiavélica prevalecer sobre o que os tempos de instabilidade interna e externa, a todos os níveis, exigem: a pulsão política posta no bem-estar e na prosperidade.

A direita crente no desenvolvimento social e institucionalista foi substituída pela deliberada intenção de empobrecer o país, causar clivagens entre esferas da comunidade, dormir bem numa pátria onde um milhão de homens e mulheres são pobres, atacar a instituição que guarda lei das leis, negociar com os credores do lado de lá da mesa, atacar sempre os mesmos, destruir o Estado social, apagar os valores da confiança e da solidariedade.

Esta direita que se abandonou, abandonando o país, dorme bem sabendo que se um milhão de pessoas não tem acesso a bens básicos, se o valor "trabalho" desapareceu, então, como bem disse António Costa, este país não respeita a base da República, que dá pelo nome de dignidade da pessoa humana.

Esta direita dorme bem porque da antiga não resta nada. Pior: resta a direita que aprendi ser a dos interesses e não a dos valores; a direita das agendas pessoais; a direita que permite assistir ao espetáculo de ver entrar no Governo académicos respeitados como Poiares Maduro, os quais, numa metamorfose imoral, negam tudo o que foram, patrocinando a festa da intriga institucional.

Se a direita dorme bem, o povo dorme mal. E resta uma palavra: chega.

Chega de ver celebrado um país resgatado condenado a ser uma periferia pobre, sem jovens, sem trabalho, com idosos desprezados, com pobreza pobre de mais para ser escondida, sem emprego, sem direitos, sem um plano estratégico vitorioso a dez anos, a tal consistência de que fala António Costa, a recusa de esconder na Europa a nossa voz, fazendo-a ouvir, como usa acontecer com outras vozes.

Chega.

Hoje já ninguém pode perguntar "qual é a alternativa?".

A alternativa é clara. Nas europeias, os portugueses expulsaram do seu horizonte a direita e não confiaram suficientemente no PS. A alternativa é o PS perceber isso, como o fez, com coragem, António Costa. A alternativa é perceber que aceitar resultados fracos é aceitar que somos alternativas fracas. A alternativa é ambicionar muito mais do que a mudança de titulares nas cadeiras do poder. A alternativa tem sido veiculada pela voz de António Costa, mas é acompanhada e tida por evidente por uma massa incalculável de militantes, simpatizantes e outros. Essa alternativa é urgente. Também por isso, todos os notáveis do PS disseram-no numa declaração.

Chega. Não há nada de artístico em ver a política como uma forma de alcançar e de manter o poder.

O PS não pode ser a outra face desta direita.

Portugal: Saiba porque se revoltaram os diretores do Hospital de S. João




O "progressivo esvaziamento de autonomia", "a completa ausência de meios efetivos de gestão" e o quadro geral de "insustentabilidade" ajudam a explicar a demissão em bloco, dos 66 diretores do hospital portuense.

Margarida Cardoso e Isabel Paulo – Expresso

Quando se demitiram em bloco, quarta-feira à tarde, os 58 diretores de serviços clínicos e não clínicos e os responsávels pelas oito unidades intermédias de gestão do Centro Hospitalar de São João, atuaram de forma espontânea, sem concertação prévia. Mas o sentimento de revolta contra "o estado das coisas" já vinha a germinar há longo tempo e, em abril passado, os oito presidentes dos conselhos diretivos das unidades autónomas de gestão daquela unidade de saúde entregaram uma carta ao presidente do conselho de administração, António Ferreira, onde alertavam para o quadro de "insustentabilidade" vivido.

O documento interno, a que o Expresso teve acesso, terá levado António Ferreira a apresentar um pedido de demissão ao Ministro da Saúde há dois meses. As promessas de Paulo Macedo travaram a decisão de Ferreira, mas, dois meses depois, "o quadro mantém-se inalterado, agravado até pelo desgaste do tempo e a pressão de pessoal provocada pelo período de férias", refere, agora, um dos diretores demissionários.

"Os presidentes dos conselhos diretivos de todas as Unidades Autónomas de Gestão, das áreas clínicas, do centro hospitalar de S. João, EPE (CHSJ), têm sido confrontados com uma completa ausência de meios efetivos de gestão, devido a um progressivo esvaziamento da autonomia, conferida legalmente pelos estatutos de uma entidade pública empresarial e que atingiu a insustentabilidade, apesar de todo o empenho do conselho de administração", refere o documento.

Faltam equipamentos vitais

Depois, os médicos justificam o alerta apontando várias frentes, da governação clínica à gestão operacional ou recursos humanos, denunciando "uma progressiva desarticulação inter-hospital e com os cuidados de saúde primários", a "impossível substituição de equipamentos médicos vitais em função do seu normal desgaste" e os "problemas diários" dos sistemas de informação que "afetam de forma profunda a prestação dos profissionais de saúde".

"A gestão de recursos humanos, dos vários grupos profissionais, em resultado de processos longos, burocráticos, erráticos e centralizados, impede decisões racionais e ajustadas à realidade, o que provoca o aumento da despesa, a desmotivação dos profissionais, a deterioração  na prestação de cuidados de saúde", dizem.

A desadequação progressiva dos sucessivos modelos de contratação de médicos à real organização, complexidade e diferenciação dos hospitais e "a carência de informação da tutela: desconhecimento do modo, tempo e objetivos da política de recursos humanos médicos praticada", com "procedimentos alterados sucessivamente", calendários de concursos que não são previamente conhecidos e modalidades de concurso a " variar constantemente" , também são pontos referidos.

Declaração de guerra

Num momento em que se iniciava um novo processo de recrutamento de recursos humanos  e considerando que "nos últimos dois anos não foi possivel colmatar necessidades existentes", apesar dos bons indicadores de eficiência do hospital e da sua situação de equilíbrio financeiro, os diretores sublinhavam, já então, não ter "condições para continuar a exercer as suas funções".

Foi neste quadro, perante a ausência de respostas do Ministério de Saúde a problemas concretos do hospital, que toda a direção decidiu, quinta-feira, demitir-se em bloco "numa declaração de guerra que procura apenas exprimir revolta e exigir condições para tratar os doentes", comenta o presidente de uma das unidades autónomas de gestão, destacando a "união de toda a equipa e a dinâmica de grupo criada".

"Nesta altura, começa a não ser possível garantir aos doentes as condições de prática clínica adequadas, há cirurgias que estão a ser adiadas simplesmente porque não temos operacionais para limpar os blocos operatórios e este quadro promete, obviamente, agravar-se com o período de férias de verão", afirma este responsável, na expectativa do resultado da reunião que junta, esta tarde, António Ferreira, o ministro da Saúde e a ARS Norte.

Contas positivas

Entre os diretores do S. João, há a convicção de que o ministro será um dos principais apoios da administração do hospital dentro do seu ministério, mas "referem outros interesses e alguma oposição à equipa do S. João no seio da própria equipa de Paulo Macedo".

Qunta-feira à tarde, contactado pelo Expresso, o Ministério da Saúde comentou apenas que os pedidos de demissão da direção do hospital "eram uma questão interna" pelo que não iria reagir. "O conselho de administração é que escolhe e nomeia os responsáveis de serviço", disse ao Expresso fonte do gabinete de Paulo Macedo.

Mas como é que um hospital apontado desde há muito como exemplo e modelo a seguir no Serviço Nacional de Saúde, com um saldo positivo no balanço dos últimos cinco anos na ordem dos cinco milhões de euros, entra em rutura? "A explicação mais simples para o Ministério da Saúde será apontar questões políticas", comenta um diretor de serviço ao Expresso.

Na foto: "Há cirurgias que estão a ser adiadas simplesmente porque não temos operacionais para limpar os blocos operatórios e este quadro promete, obviamente, agravar-se com o período de férias de verão", acusa um dos responsáveis clínicos demissionários do Hospital de São João / Rui Duarte Silva

Portugal: Governo não tem “suporte político, técnico e jurídico”...



... para alterar leis laborais

Sobre a carta do Governo enviada à 'troika', em que o Executivo promete adotar medidas para atingir as metas do défice, Arménio Carlos afirmou que o documento "confirma o que a CGTP, há muito tempo a esta parte, anda a dizer"

O secretário-geral da CGTP afirmou hoje que o Governo não tem "suporte político, técnico e jurídico" que justifique a alteração de leis laborais, acusando o Executivo de estar a preparar uma "ofensiva global" contra os trabalhadores.

O Governo não tem "nenhum suporte, nem político, nem técnico e nem jurídico, que justifique esta nova reforma laboral", disse à agência Lusa Arménio Carlos, à margem 8.ª conferência sindical da União dos Sindicatos do Distrito de Évora, que decorreu na cidade alentejana.

Segundo o líder da CGTP, o Governo "está a desenvolver uma ofensiva global contra os trabalhadores em geral em relação à contratação coletiva e, ao mesmo tempo, contra os trabalhadores da administração pública, através da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas e da tabela única".

As medidas, realçou, visam "promover uma acentuação da degradação das condições de trabalho, reforçar as posições patronais e reduzir a retribuição, sendo que, na administração pública, se prevêem, inclusive, mais despedimentos".

Arménio Carlos referiu que "a primeira desculpa" do Governo era que se tratava de uma "exigência da 'troika' para receber o cheque da 12.ª avaliação" e que, apesar de ter abdicado da tranche, "mantém o interesse em rever a contratação coletiva".

"Estamos perante posturas de má-fé", criticou, defendendo que "a contratação coletiva não tem somente a ver com os direitos dos trabalhadores", mas também com "a atualização dos salários, a melhoria das condições de vida das famílias, o projeto de sociedade e com o desenvolvimento do país".

No caso da tabela única, o dirigente sindical advertiu que o objetivo é "tentar eternizar no tempo os cortes que até agora foram feitos e, sobretudo, impedir que os salários sejam aumentados nos próximos anos", porque os faz "depender da consolidação orçamental".

"Ora, se [o Governo] vai continuar com esta política, é evidente que quem paga a fatura são os trabalhadores e pensionistas", frisou, antecipando que os trabalhadores vão continuar "numa espiral recessiva do ponto de vista económico e social".

Sobre a carta do Governo enviada à 'troika', em que o Executivo promete adotar medidas para atingir as metas do défice, Arménio Carlos afirmou que o documento "confirma o que a CGTP, há muito tempo a esta parte, anda a dizer".

"Pode ter terminado o memorando, mas não saiu do país a 'troika', nem acabou a política de direita, que corta direitos, quer sociais, quer laborais dos trabalhadores", acentuou, prevendo que se "abra a porta a um novo aumento de impostos".

Lusa, em jornal i

Leia mais em jornal i

Mais lidas da semana