segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Polícia timorense reforça segurança em zonas de Díli e em algumas missões diplomáticas




Díli, 19 jan (Lusa) - As autoridades timorenses vão reforçar a segurança em algumas missões diplomáticas em Díli e em pontos da cidade, com "algumas restrições ao movimento" durante a noite e pontos de controlo, disse hoje o comandante da polícia (PNTL).

Estas medidas foram adotadas depois de na noite de domingo um engenho explosivo, que as autoridades suspeitam tratar-se de uma granada artesanal, ter sido lançado para o perímetro de um complexo residencial da embaixada dos Estados Unidos em Díli.

"O reforço vai ser feito de acordo com o grau de ameaça considerado. Vamos reforçar a segurança em algumas embaixadas e missões diplomáticas. Estamos a trabalhar em colaboração estreita com o corpo diplomático", afirmou o comandante da Polícia Nacional de TImor-Leste (PNTL), Longuinhos Monteiro.

O responsável policial falava numa conferência de imprensa conjunta com o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Constâncio Pinto, depois de uma reunião sobre "a situação de segurança" em Timor-Leste relativamente ao corpo diplomático acreditado em Díli.

Os dois responsáveis disseram não haver ainda mais detalhes sobre o incidente de domingo, não estar claro se este caso estará relacionado com incidentes recentes em Díli ou Baucau, sublinhando que a investigação está ainda a decorrer.

Em comunicado enviado aos cidadãos norte-americanos, a embaixada dos EUA explica não ser ainda conhecida a motivação do incidente, que apenas causou danos materiais, explicando que as autoridades locais reforçaram a segurança e estão a investigar o caso.

"Na sequência do que aconteceu domingo à noite (...) vão-se efetuar a partir da noite de hoje algumas restrições de movimento na capital e em algumas zonas onde a polícia, depois de analisar a informação disponível, considera merecer mais atenção no contexto de policiamento de proximidade", afirmou Longuinhos Monteiro, que apelou à população "para colaborar com a ação policial".

O responsável policial explicou que "é um processo de identificação de quem segue nas viaturas, que demora menos de um minuto", e apelou à "colaboração de todos", advertindo que no caso dos que não colaborarem serão tomadas "medidas sérias".

O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense, Constâncio Pinto, confirmou à Lusa que as autoridades timorenses solicitaram o apoio do FBI para ajudar na investigação do caso e dos incidentes recentes.

O diplomata afirmou que estes casos "fazem crer que há uma ação coordenada" para causar instabilidade em Timor-Leste, desconhecendo-se a origem desses movimentos.

"Há alguém que está a tentar danificar a imagem de Timor-Leste. Desde 2006, a estabilidade tem prevalecido, apesar de alguns pequenos incidentes. Esta é mais uma tentativa. Estamos a investigar", declarou.

Nas últimas semanas têm-se registado vários incidentes de segurança em Timor-Leste, os mais graves no final do ano passado, quando morreram quatro pessoas, três em Baucau e uma em Díli, em confrontos entre grupos rivais de artes marciais.

Na semana passada, o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, o comandante das forças de defesa, Lere Anan Timur, e o comandante das PNTL, Longuinhos Monteiro, deslocaram-se à região de Laga, depois de incidentes envolvendo agentes policiais e elementos do grupo de um antigo comandante da resistência timorense, Paulino Gama ou Mauk Moruk, como é conhecido.

Nesses incidentes ficaram feridos dois agentes da PNTL e foram feitos reféns dois outros, que acabaram por ser entregues a Xanana Gusmão.

A situação na zona está "calma, mas tensa", segundo testemunhos locais, continuando destacado na zona um contingente de efetivos das F-FDTL e agentes da PNTL.

ASP // ARA

Timor-Leste: Polícia investiga explosão de engenho artesanal na zona diplomática em Díli




Díli, 19 jan (Lusa) - Um engenho explosivo de fabrico artesanal deflagrou ao final da noite de domingo no complexo onde residem alguns dos funcionários da embaixada americana em Díli, sem causar feridos, disse à Lusa fonte policial.

"Ainda estamos a investigar o ocorrido. Mas a informação inicial aponta a que se trate de uma granada de fabrico artesanal", explicou à Lusa fonte da Policia Nacional de Timor-Leste (PNTL).

Uma portuguesa que reside no complexo Vila Mataruak, onde ocorreu a explosão, confirmou à Lusa que inicialmente se pensava que se tinha tratado de uma explosão de gás.

"Posso confirmar que houve uma explosão. Pensámos que tinha sido uma explosão de gás mas depois aqui os funcionários de segurança explicaram que era outra coisa", disse.

No interior do condomínio Mataruak, separada por uma vedação, habitam funcionários da Embaixada dos Estados Unidos.

Segundo outras testemunhas a explosão causou alguns danos na varanda de uma das residências do complexo, estilhaçando vidros.

A explosão, que se ouviu ao longo de todo o bairro de Pantai Kelapa e na Avenida de Portugal - onde se localiza a maioria das embaixadas - ocorreu no complexo nas traseiras da residência do embaixador de Portugal em Díli, Manuel Gonçalves de Jesus.

O diplomata confirmou à Lusa ter ouvido a explosão, cerca das 23:00 locais (14:00 em Lisboa) explicando que pensou que se tinha tratado de um acidente de automóvel.

Testemunhas em vários complexos ao longo da Avenida de Portugal confirmam também ter ouvido a explosão.

Até ao momento não foi possível obter qualquer informação da Embaixada dos Estados Unidos em Díli.
ASP // EL

Timor-Leste: EMBAIXADA DOS EUA ATACADA À BOMBA. MOTIVAÇÃO DESCONHECIDA




A embaixada dos Estados Unidos em Díli disse hoje desconhecer a motivação da pessoa ou pessoas que na noite de domingo lançaram um engenho explosivo para o complexo onde residem funcionários da missão diplomática.

Numa mensagem de emergência distribuída online e endereçada aos cidadãos norte-americanos residentes em Timor-Leste, a embaixada confirma que um engenho, "que se pensa ser uma granada, foi lançado para o perímetro de uma propriedade residencial da embaixada norte-americana em Díli".

O engenho explodiu em frente de uma casa, não provocou feridos e danificou janelas e um veículo.

"Estamos a trabalhar em proximidade com responsáveis de segurança do país anfitrião que responderam de forma imediata com um aumento da segurança em torno às estruturas norte-americanas", refere o comunicado.

"Está a decorrer uma investigação. Neste momento não temos mais informação relativamente à motivação do incidente", refere ainda.

A missão diplomática recomenda a todos os seus cidadãos um reforço da sua atenção em termos de segurança com um "elevado nível de vigilância".

Em virtude deste e de outros incidentes que têm ocorrido nas últimas semanas, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste convocou de urgência representantes do corpo diplomático acreditados no país.

O 'briefing', que começou cerca das 15:30 locais (06:30 em Lisboa) está a conduzido pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Constâncio Pinto, e pelo comandante da Polícia Nacional de Timor-Leste, Longuinhos Monteiro, estando prevista uma conferência de imprensa para depois da reunião.

Lusa, em Notícias ao Minuto

*Título PG

Macau: Convocada manifestação contra deputado apologista da violência doméstica




O grupo Consciência de Macau convocou uma manifestação para o próximo sábado contra as declarações do deputado Fong Chi Keong de apologia à violência doméstica e também para exigir o fim dos deputados nomeados pelo chefe do Executivo.

Na passada segunda-feira, Fong Chi Keong disse, durante o debate sobre a lei contra a violência doméstica, que nesse dia foi aprovada na generalidade na Assembleia Legislativa, que discordava da política de "tolerância zero" anunciada pelo Executivo para este tipo de crimes.

"Se o marido ralhar e a mulher não refilar, não vai sofrer consequências. Quando o filho é desobediente, dá-se duas chapadas ao filho, ou não?", disse.

O deputado desvalorizou também situações de violação no casamento. "Abuso sexual entre cônjuges? Não sei. Para mim é uma necessidade. Para que é que se casaram? Não foi para suprir essa necessidade? Se o marido quer e a mulher diz que está ocupada, claro que vai dar problema", afirmou no hemiciclo.

As declarações do deputado, nomeado pelo chefe do Executivo, geraram uma onda de indignação. Imediatamente surgiu uma petição, promovida pela Associação de Educação de Género de Macau, exigindo um pedido de desculpas público. Esta missiva foi apoiada por 21 associações locais e conta, até à data, com 6.382 assinaturas.

Em declarações ao jornal Ponto Final, Sulu Sou, membro da Consciência de Macau e principal promotor do protesto de sábado, dia 24, explicou que, tão importante como repudiar as declarações de Fong, é acabar com o sistema de nomeados -- atualmente, a Assembleia de Macau inclui deputados eleitos pela população (14), eleitos por associações (12) e nomeados pelo chefe do Executivo (7).

"Apesar de a população estar a prestar atenção apenas a Fong Chi Keong, por causa da violência doméstica, esta manifestação tem um significado bastante maior", sublinhou o jovem ativista.

A manifestação ‘Love me. Don't beat me’ (‘Ama-me. Não me batas’) esta marcada para dia 24, às 15:00 (07:00 em Lisboa) na Praça do Tap Seac. Até agora, 385 pessoas garantiram presença através da página do evento criada no Facebook.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Moçambique: UM MESSIAS PARA O POVO



Verdade (mz) - Editorial

Filipe Nyusi, novo inquilino da Ponta Vermelha, desde 15 de Janeiro em curso, proferiu um discurso de esperança para o povo e fez-lhe entender que o contrato social com ele firmado representa uma nova caminhada para a prosperidade.

Para um país que ainda enferma de diversos problemas – dos básicos aos mais bicudos, sobretudo a pobreza que está acima de 50 porcento e o analfabetismo que ronda os 48 porcento – e que passou 10 anos a ser governado por um Presidente que na opinião de muitos estava mais interessado nos negócios do que com a penúria de quem o colocou no poder, não havia outra alternativa: Filipe Nyusi só podia ser ovacionado como um Messias e as suas palavras recebidas como bênção divina. Os moçambicanos, leigos e esclarecidos, sentiram-se pecaminosos redimidos.

Nyusi prometeu vivamente que em nenhum momento se irá esquecer de que o povo é o seu único e exclusivo patrão. Nenhuma novidade existe nisso. Armando Guebuza também estava ciente disso. Contudo, ele não se coibiu de ser o Presidente mais envolvido em negociatas comparativamente aos seus predecessores, Samora Machel e Joaquim Chissano.

Ao longo de 10 anos da sua governação, Guebuza chamou a si a decisão sobre os principais negócios do Estado e tirava excessivos benefícios pessoais. Nos corredores da viabilização de grandes negócios ele era apelidado de “Mr. five percent”. Diz-se por aí, à boca grande, que tinha o hábito de exigir cinco porcento de comissão em alguns negócios sobre os quais tinha a prerrogativa de dar o seu parecer favorável para a respectiva concretização. Tornava-se accionista à força. Por isso, deixou tentáculos em quase tudo o que é business.

Segundo Nyusi, a criminalidade e a corrupção são outros exemplos dos problemas com que a Nação se debate. E vós sabeis que 2013 e 2014 foram anos difíceis no que diz respeito à segurança e tranquilidade públicas. Os raptos deixaram todos sem norte e não é mentira que estes eram perpetrados com o conhecimento da nossa Polícia. Esperamos que na sua governação messiânica haja uma política clara contra este mal.

Certos dirigentes continuam a delapidar o erário e colocam em causa a funcionalidade dos sistemas informáticos sabiamente criados pelo Governo para o controlo desta situação. O roubo de dinheiros é pela medida grande no meio rural, sobretudo, e todos sabemos que o Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC) não age como tal. É uma fantochada. Em ressonância às palavras de Nyusi, “Vamos, todos juntos, construir um país à medida dos nossos sonhos. Ninguém está acima da lei e todos são iguais perante ela”.

Mau tempo: Cheias no centro e norte de Moçambique atingem 89 mil pessoas




Cerca de 89 mil pessoas estão a ser afetadas pelas cheias que assolam as províncias da Zambézia e do Niassa, no centro e norte de Moçambique, segundo dados das autoridades locais, que dão conta de 33 vítimas mortais.

As estimativas das autoridades moçambicanas referenciam um total de 17.922 famílias afetadas pelas cheias nas províncias da Zambézia (centro) e Niassa (norte), segundo avança hoje o matutino Notícias, indicando que 23.800 pessoas estarão a receber apoio em 30 centros de acomodação.

Na Zambézia, pelo menos 24 pessoas perderam a vida na sequência da queda de habitações e do arrastamento pelas águas, mas o número de vítimas mortais poderá ser mais elevado, atendendo ao facto de as autoridades enfrentarem dificuldades de comunicação de dados, devido à falta de energia que afeta várias localidades da região.

Outras nove pessoas morreram e oito foram dadas como desaparecidas na província de Niassa, segundo dados avançados pelo semanário Domingo.

Embora o Centro Nacional Operativo de Emergência refira que a situação é estacionária relativamente ao número de pessoas afetadas e em resultado do abrandamento da queda de chuva, a Direção Nacional de Águas assinala que, na Zambézia, as localidades de Derre e Morrumbala, atravessadas pelo rio Chire, e de Mutarara, Caia, Mopeia e Marromeu (rio Zambeze) irão continuar com os níveis de água elevados, aconselhando as populações a abandonarem as zonas de risco.

No terreno, mantêm-se operações de alocação de bens alimentares aos centros de acomodação e de socorro às populações atingidas, estas últimas desenvolvidas agora com o apoio de 70 militares da força aérea sul-africana, que trabalham desde sexta-feira com as autoridades locais.

O apoio externo deverá também chegar do Canadá sob a forma ajuda pecuniária, segundo um comunicado enviado à agência Lusa, que dá conta da alocação de cerca de 881,7 mil euros para o apoio às vítimas das cheias de Moçambique e do Maláui, país onde as cjheias já provocaram a deslocação de 200 mil pessoas e 170 vítimas mortais.

Órgãos de imprensa internacional atribuem os impactos das cheias no Maláui, muito mais elevados do que em Moçambique, à falta de elaboração de um plano de contingência.

O orçamento do plano de contingência das autoridades moçambicanas é de 26,4 milhões de euros e prevê que, num cenário mínimo, 318 mil pessoas possam vir a ser afetadas pelos efeitos combinados de ventos fortes, inundações em cidades e vilas, cheias de média magnitude e seca.

O pior cenário projetado eleva para 934 mil o número de pessoas afetadas, na sequência de cheias intensas e ciclones de categoria superior a III.

Lusa, em Notícias ao Minuto

GOVERNO MOÇAMBICANO TOMOU HOJE POSSE




Executivo é menor que o anterior e é liderado pelo antigo embaixador Carlos Agostinho do Rosário

Voz da América

O presidente da República de Moçambique Filipe Nyusi empossa hoje, 19, os membros do Governo saído das eleições de Outubro de 2014.

O novo executivo é composto por um primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, 22 ministros e 17 vice-ministros.

Além de novos nomes que o corporizam, o Governo de Nyusi apresenta uma estrutura ministerial menor o anterior. No total, são 22 ministérios, menos sete que os que integravam o Executivo de Armando Guebuza e resultam da fusão de uns e extinção de outros.

Dos rostos do Governo a ser hoje empossado, oito transitam do Executivo anterior. Entre eles, incluem-se antigos vice-ministros que ascenderam a ministros, nomeadamente Alberto Nkutumula, ex-vice-ministro da Justiça e que agora passa a dirigir o sector da Juventude e Desportos, e  Abduremane Lino, antigo “vice” da Função Pública e que vai dirigir o pelouro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos.

GUINÉ-BISSAU EM VÉSPERAS DE UMA CRISE INSTITUCIONAL




As divergências aumentam entre José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira

Lassana Casamá – Voz da América

Na Guiné-Bissau, está patente uma crise institucional entre o Presidente da República e o Governo liderado por Domingos Simões Pereira.

A situação arrasta-se há  algum tempo, mas agora as divergência entre as duas instituições começam a ganhar novos contornos na praça pública.

Até agora, as ondas desta crise no relacionamento entre a Presidente da República e a Chefia do Governo têm passado ao lado dos menos atentos.

Entretanto, analistas consideram que a situação actual está a ser sustentada por um passado algo sombrio entre José Mário Vaz e Domingos Simões Pereira, mas que aparentemente teria sido superada com a dinâmica das eleições gerais, em que as duas figuras PAIGC foram vencedores.

Hoje, a conta do rosário é outra. Da formação do Governo a esta parte, muitos incidentes saíram dos respectivos gabinetes para o domínio público.

Por exemplo, o Executivo, no seu programa para os próximos quatro anos, consignou a exploração dos recursos minerais do país como uma das suas linhas prioritárias, mas o Presidente da República já veio a público dizer que a Guiné-Bissau não está preparada para levar avante a exploração dos tais recursos.

Mais tarde, José Mário Vaz exonerou o ministro da Administração Interna Botche Candé sem o consentimento do primeiro-ministro, que depois, ao que se sabe, apresentou ao PR, uma proposta de nome para substituir Candé, tendo Vaz recusado.

Como se isso não bastasse, o Che de Estado terá mesmo avançado um outro nome para o citado Ministério. Fontes seguras indicam que Domingos Simões Pereira ofereceu resistência, alegando que a proposta para a nomeação de qualquer membro do Governo faz parte das suas atribuições segundo a Constituição da Republica. O impasse continua e há dois meses que o  Ministério da Administração Interna está sem titular.

Mais tarde,  durante o seu discurso do fim-do-ano, José Mário Vaz declarou que o período de graça para o Governo liderado por Domingos Simões Pereira acabou, no que foi considerado por próximos de Simões Pereira, uma “ afronta directa ao poder Executivo”.

Aliás, durante a sua posse, o Presidente da República lembrou que ele não participou na formação do Governo de Domingos Simões Pereira.

O mais recente episódio desta braço-de-ferro entre as duas instituições é a polémica que envolve o ministro dos Recursos Naturais Daniel Gomes e o Chefe de Estado. O primeiro diz querer saber quem recebeu os milhões de dólares investidos por Angola na exploração de bauxite e agora o Presidente da República veio a público pedir a intervenção das instâncias judiciais.

Entretanto, analistas destacam o silêncio do primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, que consideram de estratégico.

Mais palavras pode levar a uma crise institucional de consequências imprevisíveis, segundo os observadores.

ANGOLA E PORTUGAL QUEREM RESOLVER DIFERENDOS, diz embaixador angolano




Visita de ministro português desbloqueia relações "indispensáveis" para os dois países.

Arão Ndipa – Voz da América

As relações entre Portugal e Angola são “indispensáveis” para os dois países, disse o ministro dos negócios estrangeiros português Rui Machete.

Machete efectuou esta semana uma visita de dois dias a Angola que analistas vêm como  marcando o fim de um ciclo de mal entendidos, na sequência da crise diplomática que teve como origem os processos judiciais despoletados pela justiça portuguesa contra altos dirigentes do regime angolano, acusados de corrupção, cujos processos acabaram arquivados.

O presidente angolano suspendeu então a “parceria estratégica” entre os dois países e uma programada cimeira de chefes de estado foi anulada. Machete foi recebido pelo chefe de estado angolano José Eduardo dos Santos com quem, segundo disse, se “abriu caminho para o futuro”.

Os dois países decidiram formar uma comissão ministerial para anualmente analisar os problemas “e como as coisas estão a andar e procure para que as coisas corram cada vez melhor”, disse o ministro português.

O embaixador angolano em Portugal, Marcos Barrica, disse por seu turno haver um “esforço conjugado” para se ultrapassar mal entendidos se relançar a cooperação.

“É um facto que houve uma crispação que foi corolário de uma série de desentendimentos ou incompreensões,” disse o diplomata quem “neste momento há um esforço conjugado entre os dois países de modo a se ultrapassar esta situação indesejada quer para Angola quer para Portugal”.

Barrica disse que a visita do ministro português  é uma manifestação do “interesse e desejo de se relançar a cooperação entre os nossos dois países”.

Embora haja ainda por resolver “questões profundas”, o ministro angolano disse que “o importante é que haja a vontade de ambas as partes de se enterrar definitivamente esses problemas”.

“Muitos desses problemas são artificialmente criados por determinadas pessoas quer em Angola quer em Portugal”, disse o  ministro angolano.

O analista de relações internacionais Pedro Santareno concordou que a visita do ministro português demonstra a vontade dos dois países em fazerem avançar as suas relações.

Para Santareno a visita de Machete e as declarações do governo angolano sobre a visita “demonstram claramente que tudo ficou pelo passado que foi tudo um mau entendido e que daqui em diante os dois governos vao fazer esforços para manter essas relações cada vez mais estáveis intensas”.

Presidentes de Angola e Congo Democrático reafirmam consolidação das relações bilaterais




Os Presidentes de Angola e da República Democrática do Congo (RDC) reafirmaram hoje o objetivo de consolidar relações entre os dois países vizinhos, no âmbito da visita oficial do chefe de Estado angolano a Kinshasa.

A posição vem expressa num comunicado final da visita de trabalho realizada hoje por José Eduardo dos Santos ao país vizinho, que serviu para a troca de experiências com o homólogo congolês, Joseph Kabila.

O documento refere que foram assinados quatro acordos de cooperação no domínio dos transportes, nomeadamente de exploração de serviços aéreos, ferroviário, rodoviários e marítimos fronteiriços.

Com a assinatura do acordo de exploração de serviços aéreos, a Transportadora Aérea Angola (TAAG) retoma os voos para Kinshasa, suspensos desde 2010.

O referido acordo prevê a realização de sete voos semanais de passageiros entre Luanda e Kinshasa, e ainda dois voos semanais de carga entre as duas capitais.

A nível regional, sublinha o mesmo comunicado, os dois presidentes passaram em revista a situação política e de segurança na região, tendo José Eduardo dos Santos felicitado o seu homólogo pelos esforços levados a cabo e pelos resultados obtidos no quadro da execução do acordo-quadro de Adis Abeba.

Sobre o assunto, os dois chefes de Estado acordaram igualmente a conjugação de esforços para erradicar as "forças negativas" que se encontram ainda no leste da RDC, bem como no resto da região.

Em paralelo, Kinshasa recebe hoje uma reunião tripartida, envolvendo ainda o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, para discutir a presença destes rebeldes ruandeses naquele país.

No plano internacional, José Eduardo dos Santos e Joseph Kabila condenaram o recrutamento de terroristas, que consideram uma atual "ameaça global", apelando a todos a mobilização contra este flagelo.

O Presidente angolano, cuja última visita à RDC aconteceu em 2006, convidou o homólogo congolês a visitar Angola no próximo ano.

José Eduardo dos Santos é o presidente em exercício, há um ano, da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) e, nesse âmbito, tem mantido com Joseph Kabila vários encontros, em Luanda, para a procura de solução do conflito militar no leste daquele país vizinho, com qual Angola partilha uma fronteira de cerca de 1.500 quilómetros.

Lusa, em Notícias ao Minuto

2014 FOI UM ANO “MUITO DIFÍCIL” PARA CABO VERDE - Primeiro Ministro




O primeiro-ministro cabo-verdiano admitiu hoje que 2014 foi um ano "muito difícil", destacando a "persistente" crise económica internacional, a epidemia de Ébola na África Ocidental, a seca e a erupção vulcânica na ilha do Fogo.

José Maria Neves, que discursava por ocasião da apresentação de cumprimentos de Ano Novo ao presidente cabo-verdiano, realçou que as dificuldades enumeradas vieram reforçar uma situação já de si "complexa" e "cheia de constrangimentos restritivos" ao ritmo de crescimento e à dinâmica de desenvolvimento.

Perante Jorge Carlos Fonseca e os membros do seu Governo, José Maria Neves lembrou que as alterações climáticas têm provocado "substanciais alterações" nas águas territoriais cabo-verdianas, com os "consequentes perigos" para a navegação marítima.

Na parte económica, o chefe do executivo de Cabo Verde admitiu também a "elevada" taxa de desemprego, bem como a mancha de pobreza, reconhecendo que um quarto da população ainda vive abaixo desse limiar.

No entanto, José Maria Neves congratulou-se por o arquipélago estar em vias de atingir os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) ainda este ano, tal como definiu a ONU, admitindo, porém, que o "longo caminho" até lá passa pelos desafios do emprego, combate à pobreza, às desigualdades e à exclusão social.

Garantindo que a criação de emprego continuará a ser uma "prioridade", José Maria Neves destacou o trabalho a fazer na melhoria do ambiente de negócios e do investimento, na modernização das infraestruturas agrícolas, mobilização de água, garantia de alimentação do gado, promoção de atividades geradoras de rendimento, sobretudo junto das comunidades mais carenciadas.

A reconstrução da ilha do Fogo - quase toda a área de Chã das Caldeiras, o planalto que serve de base aos vários cones vulcânicos, foi destruída pelo vulcão - é outra das prioridades governamentais, de forma a compensar a destruição de terrenos agrícolas e as habitações de cerca de 1.500 pessoas.

Quanto ao Ébola, epidemia que não atingiu Cabo Verde, José Maria Neves lembrou que o país continua o "trabalho preventivo", focando-se, depois, na questão da segurança, desafio que "persiste" e que deve merecer "atenção especial de todos".

Sem se referir explicitamente à tentativa de assassínio de que foi alvo o seu filho mais velho - José Luís Neves foi atingido com quatro tiros a 30 de dezembro último e encontra-se livre de perigo e a recuperar num hospital em Lisboa -, José Maria Neves lamentou a "dramática escassez de recursos" humanos e financeiros para combater a criminalidade.

As parcerias internacionais na área da segurança, prioridade atual da diplomacia cabo-verdiana, a par da económica, devem destinar-se a reforçar os meios para um "combate sem tréguas à criminalidade" e para aumentar a capacidade de busca e salvamento no mar e no domínio da proteção civil.

"A segurança do país é um desígnio nacional. (...) Enquanto chefe do Governo, apelo a todos para um forte combate à criminalidade", sublinhou José Maria Neves, que, no próximo fim de semana, deixará a liderança do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, no poder desde 2001), cumprindo, porém, o mandato à frente do Governo até ao final da legislatura, no primeiro trimestre de 2016.

Lusa, em Notícias ao Minuto

França: Camionistas bloqueiam pontos estratégicos para exigir aumentos




Milhares de camionistas franceses participam hoje no primeiro de dois dias de protesto, tendo bloqueado locais estratégicos como portos, centros de abastecimento e estradas para exigir aumentos salariais às empresas de transportes.

As "operações caracol" dos camionistas deram origem a 760 quilómetros de filas, assinalou à agência Efe o responsável pela área dos transportes da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Jérôme Verité, segundo quem a mobilização se estendeu por "toda a França".

Verité não avançou um número específico de grevistas, mas assinalou que milhares de camiões estão a participar nos protestos, tendo sido contabilizados cerca de mil só na região de Rennes.

Outros pontos de concentração são o porto fluvial de Gennevilliers, na região de Paris, assim como Bordéus, Toulouse ou Vitrolles, mantendo-se, contudo, desbloqueadas as principais vias de acesso a França desde Espanha.

Para terça-feira está prevista a continuação do protesto, de forma a coincidir com o início das negociações anuais com as empresas, junto das quais os camionistas reivindicam um aumento salarial de 5% e o pagamento de um décimo terceiro mês.

Outra das exigências é de uma remuneração mínima de 10 euros por hora.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Oxfam: Em 2016, 1% da população vai deter mais riqueza do que os restantes 99%




A organização não-governamental britânica Oxfam afirmou hoje que, em 2016, o património acumulado pelos mais ricos do mundo - 1% da população mundial - vai ultrapassar o dos restantes 99%.

"A parte do património mundial detida por 1% dos mais ricos passou de 44% em 2009 para 48% no ano passado e vai ultrapassar os 50% no próximo ano", afirmou a ONG, citando um estudo.

A organização, cuja diretora-geral Winnie Byanyima vai copresidir ao fórum económico mundial, em Davos (Suíça), exigiu "a realização, este ano, de uma cimeira mundial de fiscalidade para rescrever as regras fiscais internacionais".

"A amplitude das desigualdades mundiais é vertiginosa", denunciou Byanyima, para quem "o fosso entre as grandes fortunas e o resto da população aumenta rapidamente".

A responsável pediu aos dirigentes internacionais que ataquem "os interesses particulares dos pesos pesados que são um obstáculo para um mundo mais justo e mais próspero".

A Oxfam apelou aos Estados para que adotem um plano de luta contra as desigualdades, contrariando a evasão fiscal, da promoção de serviços públicos gratuitos, com mais impostos sobre o capital e menos sobre o trabalho, criando salários mínimos ou ainda através da criação de sistemas de proteção social para os mais pobres.

O fórum económico mundial (WEF, sigla em inglês) decorrerá entre quarta-feira e sábado, em Davos.

Mais de 300 dirigentes mundiais, incluindo a chanceler alemã, Angela Merkel, o Presidente francês, François Hollande, o chefe do Governo italiano, Matteo Renzi, o primeiro-ministro chinês, Li Kepiang, e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, deverão participar na 45.ª edição do fórum.

Lusa, em Notícias ao Minuto

UM GRANDE EQUÍVOCO




A França não é um modelo de liberdade de expressão, como parece nestes dias, demasiado politicamente correctos.

No “Je suis Charlie” e nas manifestações que se mobilizaram a partir dessa frase há várias coisas que não oferecem dúvidas. Há algumas minorias que não pensam assim, e que são coniventes com o terrorismo, por múltiplas razões, mas essas não estiveram lá. Entre os que estiveram lá, a luta contra o terrorismo é inequívoca. A luta contra a violência política é inequívoca. A luta pela liberdade, pela maior liberdade que se vive na nossa parte do mundo, é inequívoca. Já a luta pela liberdade de expressão parece inequívoca, mas é muito menos.

Uma semana depois, as autoridades francesas mostraram que “não são Charlie” prendendo um comediante antissemita, Dieudonné M’Bala, que entre outras barbaridades escreveu, nesse lugar onde se fazem hoje todas as asneiras, o Facebook, a frase “Je suis Charlie Coulibaly”. Coulibaly foi o terrorista que matou uma mulher polícia e um grupo de frequentadores da loja judaica, antes de ser abatido pela polícia.

A frase pode ser considerada provocatória, odienta, imbecil, e de total mau gosto. Para os judeus, que foram o alvo do terrorista, é insultuosa. Para a maioria das pessoas é inaceitável. Mas alguém me explica qual é a diferença entre essa frase e muitas que se escreveram no Charlie Hebdo, igualmente merecendo os mesmos adjectivos por parte dos seus alvos? Sim, os alvos são diferentes, num lado, na maioria dos casos, cristãos e muçulmanos nas capas do Charlie Hebdo, no caso de Dieudonné, judeus. Mas a estrutura da provocação, e mesmo a sua forma e conteúdo, são idênticos. Uns podem ser melhores na sua arte do que outros, pode-se considerar que Wolinsky, ou Cabu têm qualidades que Dieudonné não tem. Mas não estamos a julgar qualidades ou talentos, nem a ser dúplices em função da nossa simpatia ou antipatia com os alvos, pois não? Porque se é assim – e de facto é assim –, a luta pela liberdade de expressão é muito mais ambígua do que imaginamos nestes momentos muitas vezes artificiais de unanimismo.

O que faz Dieudonné é socialmente perigoso? Penso que sim, mas também penso que o que fazia o Charlie Hebdo também o era, como comprovaram infelizmente os próprios. A defesa da liberdade de expressão faz-se exactamente aqui, na defesa do direito dos outros emitirem opiniões que me indignam, ofendem e enojam. O único limite pode ser a lei, se a lei não for ela própria dúplice como é o caso de França.

A França não é um modelo de liberdade de expressão, como parece nestes dias, demasiado politicamente correctos para o exercício de pensar. Aliás os primeiros a sabe-lo são os assassinados do Charlie Hebdo, que, a começar pelos mais velhos, conhecem uma longa história de processos, proibições, sanções e ameaças. Sim, porque as ameaças não são de agora e não são exclusivas do fundamentalismo muçulmano. Os mesmos moderados muçulmanos que marcharam em Paris, já tinham processado o Charlie Hebdo, fazendo companhia ao governo francês, a Le Pen, a católicos conservadores, a políticos franceses, por aí adiante. Processar, ou mesmo ameaçar de boca, não é a mesma coisa do que matar a tiro de Kalashnikov, mas havia uma multidão lá fora a pensar que pelo menos uma boa bofetada “estavam mesmo a pedi-la”. Ou, uma boa e definitiva proibição, como aconteceu com o Hara-Kiri, em nome da paz da alma de De Gaulle.

Mas a prisão de Dieudonné remete para outros problemas da lei francesa, que poucos levantam e ainda mais agora. É que em França é proibido escrever artigos e livros de conteúdo antissemita, e não coloco aspas como devia fazer, para mantar a classificação bem aberta, mesmo nas suas ambiguidades. Ainda mais, existe uma condenação legal, a chamada Lei Gayssot, que criminaliza a “contestação de crimes contra a humanidade”, e que já levou alguns a tribunal. É o caso do chamado “negacionismo”, a negação de que houve um holocausto, que tenha existido um assassinato em massa de judeus antes e durante a Segunda Guerra. Aliás isto abre uma caixa de Pandora, como já se viu com a exigência da lei punir o “negacionismo” do genocídio armeno pela Turquia, também pedida por muitos armenos.

O antissemitismo é, para usar uma velha classificação leninista, “imbecil”, e o ódio aos judeus uma atitude altamente perniciosa. Em países suspeitos como a França, cuja história durante a guerra foi de perseguição aos judeus, o antissemitismo é particularmente odiento. Considero-o uma atitude condenável, sem “mas” e sem reservas. Mas não posso achar um crime de opinião escrever um escrito antissemita, por muito que me incomode, e por muito que ele possa ser perigoso. A censura é sempre pior.

O mesmo acontece com a condenação pela lei francesa das teorias de Faurrison e seus discípulos, o chamado “negacionismo”. O “negacionismo” é “história”-vudu, ou seja nada tem a ver com a história por muito aparato “científico” que o adorne. É uma teoria política antissemita, que acrescenta o agravo ao insulto, ao negar a milhões de famílias a “memória” e as razões das mortes e todas as outras violências cometidas contra os judeus. Mas não concebo que estes escritos e estas opiniões possam ser consideradas crimes e levar os seus autores à cadeia.

Escritos perigosos há muitos e eu como muitos já os escrevemos. O que é que significa fazer a apologia da violência revolucionária numa sociedade democrática? O que é uma revolução? Tiros, mortos, prisões, pancada, como lembrava o velho Mao Zedong, uma revolução não é um banquete de gala. Pode-se encontrar, e eu conheço-as a todas, as argumentações para a diferenciar o apelo à violência assente numa base social e política, mesmo nacional, diferente do argumento étnico, mas nós só valorizamos essa diferença e a “sentimos” como menos perigosa porque o ímpeto revolucionário nas sociedades ocidentais não tem hoje muito significado e não mete medo a ninguém. Pelo contrário, os ódios étnicos parecem muito mais significativos e perigosos. Mas, em democracia, o apelo à violência cabe na liberdade de expressão, a não ser que se proíba milhares de pequenos escritos, jornais, panfletos.

A tragédia dos assassinatos em França tem a ver com um desafio maior, que pode ser classificado de cultural e “civilizacional”. Não é agora a altura de discutir a tese, mais amaldiçoada do que conhecida, de Huntington sobre o “choque de ciclizações”, nem precisamos dela para definir as questões sociais, comportamentais, culturais, históricas e políticas em causa. Mas a ideia de que a natureza de alguns conflitos contemporâneos opõem elementos que são culturais, religiosos e de modo de vida, e que isso possa ser descrito como “civilizacional”, é mais explicativa do que o wishfull thinking multicultural.

Quem foi morto? Vários jornalistas e desenhadores radicais e iconoclastas, vários polícias, um deles muçulmano e que podia perfeitamente detestar oCharlie Hebdo, e um conjunto de jovens judeus que estavam a fazer compras num loja kosher. Franceses e em França, em Paris, uma das sedes cosmopolitas do mundo “ocidental”, vivendo o modo de vida que reconhecemos como nosso, incluindo uma liberdade de expressão que vai até à blasfémia e ao nojo racista. Porque, quem não quer, não compra o Charlie Hebdo ou não vai ver os espectáculos de Dieudonné. Foi isso que foi atacado, é isso que temos de defender e implica “ser Charlie” e protestar com a prisão de Dieudonné.

A TAL FLEXIBILIZAÇÃO



João Galamba – Expresso, opinião

A apresentação, por parte da Comissão Europeia, dos termos em que vai assentar uma leitura mais flexível do Pacto de Estabilidade e Crescimento constitui o primeiro revés institucional do processo de constitucionalização das política de austeridade. Apesar de manifestamente insuficiente, apesar de todos os seus erros e contradições, trata-se de um recuo com um profundo significado político. Desde da viragem austeritária de 2010, esta "leitura inteligente" das regras orçamentais representa o primeiro reconhecimento institucional de que a aposta na austeridade fracassou e tem de ser revista. A Comissão nunca o diria desta forma, como é evidente. Mas há actos que valem mais que todas as palavras.

Ver a Comissão Europeia, uma tradicional guardiã da ortodoxia europeia em matérias económicas, orçamentais e financeiras, a reconhecer que a recuperação do investimento e do emprego requer mudanças (expansionistas) na actual estratégia orçamental, e a defender que a mobilização de recursos públicos é fundamental para reanimar o investimento privado, coloca-nos num universo distinto do da malograda austeridade expansionista e suas fadas da confiança. 

Abandonado esse universo de misticismo económico, por manifesta insustentabilidade das crenças que o sustentavam, mas, sobretudo, por pragmatismo, a Comissão Europeia mostra que não está condenada a desempenhar as funções de executora de um plano económica, social e politicamente suicida, que aceleraria a actual dinâmica de desintegração do projecto europeu.

O espírito que esteve na base do reforço das regras orçamentais, e que pretendia inviabilizar políticas do tipo keynesiano, institucionalizando um regime de austeridade permanente que, via a "fada da confiança", gerasse investimento e emprego, foi substituído por um outro, em que a austeridade deve ceder perante os objectivos do investimento e do emprego. 

Esta abertura mostra que há espaço para negociação, sobretudo se essa negociação procurar resolver algumas contradições nas actuais posições da própria Comissão. Por exemplo, a não aplicação da chamada Cláusula de Investimento (certas despesas de investimento publico não são tidas em conta para efeitos das obrigações em matéria de défice e divida) a países com défices superiores a 3% não faz grande sentido, porque acaba por frustrar uma parte dos objectivos da própria Comissão. Para Portugal ou Grécia, ou para qualquer outro país da chamada Coesão, o que faz sentido é excluir o investimento publico nacional destinado a executar os fundos europeus do défice relevante para o cumprimento das nossas obrigações orçamentais. São os países da Coesão quem mais precisa de apoio em matéria de investimento, pelo que não faz qualquer sentido exclui-los deste benefício. Só assim se pode compatibilizar os objectivos de desenvolvimento e coesão social, que constituem o fundamento do próprio projecto europeu, com os objectivos em termos de finanças públicas.

O primeiro teste a esta abertura e flexibilização por parte da Comissão virá da Grécia, sobretudo se o Syriza vender as eleições. Veremos o que acontece. Só aí perceberemos o verdadeiro significado e alcance desta (aparente) mudança.

PLANO DE CONTROLO DA COMUNICAÇÃO SOCIAL DE SÓCRATES vs JORNAL DE NOTÍCIAS




Comunicado do Conselho de Redação do "Jornal de Notícias"

No dia 17 de janeiro de 2015, o jornal "Correio de Manhã" publicou um trabalho de quatro páginas em que o "Jornal de Notícias" e o seu diretor, Afonso Camões, são diretamente visados. O JN é envolvido num alegado plano de controlo da Comunicação Social por parte do antigo primeiro-ministro José Sócrates destinado a "calar e travar jornalistas incómodos".

O Conselho de Redação não pode deixar sem resposta tal ataque à reputação e credibilidade do Jornal de Notícias e do seu diretor.

Reunido, no dia 18 de janeiro, o Conselho de Redação do Jornal de Notícias, de forma unânime, afirma:

1 - A credibilidade do JN, conquistada ao longo de 127 anos, está plasmada no trabalho que diariamente chega aos leitores. Não pode ser colocada em causa por demandas estratégicas que violam as mais elementares regras éticas e deontológicas.

2 - A guerra de audiências e a disputa do mercado da comunicação não pode acobertar tudo. Não pode ser feita à custa de ataques pessoais, mentiras, meias verdades e manipulações que visam única e exclusivamente minar a credibilidade da concorrência. E, acima de tudo, não pode ser feita usando o bem maior que é a informação, servindo-a contaminada, distorcida e apresentada como factual, quando na realidade apenas serve objetivos empresariais. O jornalismo sério não é isso.

3 - A Redação confia no projeto que está em curso no Jornal de Notícias e continuará a trabalhar de forma isenta, ética e responsável.

Porto e Jornal de Notícias, 18 de janeiro de 2015

*Título PG

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Portugal: Sócrates apanhado nas escutas a falar sobre a venda da Controlinveste




Ex-primeiro ministro incentivou o advogado Proença de Carvalho a comprar o grupo Controlinveste, que detém o DN, o JN e a TSF, noticia o Correio da Manhã. Foi ele quem escolheu o director do JN.

O ex-primeiro-ministro, José Sócrates, foi escutado a falar com um dos seus advogados, Daniel Proença de Carvalho, sobre o negócio de compra da Controlinveste – o grupo que detém o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias e a TSF. Das escutas, no âmbito do processo que pôs Sócrates em prisão preventiva, percebe-se que foi o ex-governante quem escolheu o actual director do JN, Afonso Camões. E que Proença de Carvalho chegou a reunir com o presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social para tentar travar as primeiras notícias sobre as suspeitas da casa de Paris, ainda em 2013.

A notícia é avançada pela edição deste sábado do jornal Correio da Manhã, um dos que começou a publicar notícias sobre as suspeitas da casa onde Sócrates vivia em Paris, ainda corria o ano de 2013. Já na sexta-feira, o editorial do CM falava num ataque “à liberdade de imprensa”. E anunciou que iria constituir-se assistente no processo.

Nas escutas que constam no processo, que levaram à detenção de Sócrates, indiciado corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, há várias conversas com o advogado de Proença Carvalho (também advogado do ex-presidente do BES, Ricardo Salgado). O advogado que preside ao conselho de administração da Controlinveste desde a saída do empresário Joaquim Oliveira, foi uma das principais peças na negociação, em 2013, com os bancos BES e BCP, que são agora accionistas da Controlinveste – a par do empresário angolano António Mosquito.

Nas conversas entre Proença de Carvalho e Sócrates, as autoridades registaram que o advogado chegou a reunir-se com Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) para tentar travar as notícias que o CM publicara sobre a vida de Sócrates em Paris e sobre a sua ligação à Octapharma. Magno nada terá feito. E no conselho da ERC reconheceu que Sócrates “tinha direito a sentir-se perseguido”, mas que o jornal também tinha “o direito de informar”. Carlos Magno afirma que só foi uma vez ao escritório de Proença e nada teve a ver com este caso.

Sócrates terá incentivado Proença de Carvalho com o negócio da Controlinveste e chegou mesmo, segundo o CM, a admitir ajudar a encontrar capital para o negócio. Por outro lado, viria a ter um “papel decisivo” na escolha do director do Jornal de Notícias, Afonso Camões.

Afonso Camões, que também foi interceptado nas escutas a Sócrates, transitou do conselho de administração da Controlinveste para a administração da Agência Lusa em 2005, logo a seguir a José Sócrates tomar posse como primeiro-ministro. Depois da venda da Controlinveste, foi nomeado director do Jornal de Notícias.

Segundo o CM, Afonso Camões foi interceptado nas escutas em maio de 2013, ainda antes de a revista Sábado e o jornal CM avançarem com a notícias de que Sócrates estava a ser investigado. Afonso Camões estava em Macau, numa visita oficial do Presidente da República Cavaco Silva, e avisou o amigo Sócrates de possíveis notícias sobre o processo.

Assim que Sócrates foi detido, o próprio Afonso de Camões preveniu o Conselho de Administração da Controlinveste para essas conversas. Outra das conversas escutadas dá conta de Afonso Camões a dizer a Sócrates que preferia ser director do Diário de Notícias. O ex-governante, agora em prisão preventiva, disse-lhe que era melhor ser diretor do JN, para poder concorrer directamente com o CM. Assim foi.

Um dia depois de o Correio da Manhã anunciar que se iriam seguir notícias sobre o negócio da Controlinveste, o Jornal de Notícias fez capa com o caso Sócrates, onde revela que a investigação ao ex-governante recua ao período em que era ainda ministro do Ambiente, entre 2000 e 2005 – altura da aprovação do Freeport que originou um processo. Neste caso, Sócrates chegou a ser referido, mas nunca foi inquirido ou constituído arguido.

Sónia Simões - Observador

SIMPLES DE MAIS PARA SER VERDADE



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Uma imensidão de "verdades instituídas" nas governações neoliberais a que estamos sujeitos, no país e na União Europeia, não passam de aldrabices bem camufladas por pronunciamentos de "especialistas", ancorados em "estudos científicos", repetidos até à exaustão nos grandes meios de informação. Quem se atrever a interpretações e explicações alternativas é alcunhado de irresponsável, de não ter em conta a "realidade que vivemos" e corre o risco de ser aconselhado a um qualquer internamento hospitalar.

É esse o risco que corro neste artigo porque em diálogo recente com economistas bem preparados e não submetidos às verdades oficiais, sobre, nomeadamente, a origem do dinheiro e a atuação do Banco Central Europeu (BCE), eles me mostravam haver coisas que de tão simples é difícil nelas acreditar. Por exemplo: quando um banco comercial concede crédito, normalmente não entrega um maço de notas ao cliente, credita-lhe a conta. De um lado do balanço fica um registo de depósito, do outro, um registo de crédito concedido. O dinheiro que estava nos depósitos dos outros clientes não diminuiu nem aumentou. O banco criou dinheiro. Dir-me-ão, há limites! Sim, os que o Banco Central impõe e os que os bancos impõem uns aos outros. Se emprestassem de mais ninguém estaria disposto a pagar um juro.

Os bancos centrais também criam dinheiro sem ter por detrás de cada euro um bocadinho de ouro, de prata, ou de outra coisa qualquer aferrolhado no cofre, embora muitas pessoas pensem o contrário. Na maior parte dos casos, o Banco Central nem precisa de papel. Basta-lhe uma transferência eletrónica para uma qualquer conta bancária.

Observaram-me que o professor de Economia da Universidade de Cambridge, John Muellbauer, escreveu a 23 de dezembro passado no portal VOX: o que o BCE devia fazer agora era "imprimir largas somas de dinheiro e distribuí-lo ao público". Ora, se o depositasse nas contas bancárias de todos os cidadãos, ficava distribuído.

Se toda a gente tivesse emprego, todas as máquinas estivessem a trabalhar 24 horas por dia e os campos cultivados, havendo mais dinheiro, o preço das coisas produzidas aumentaria porque não seria possível produzir mais coisas, logo, criar mais dinheiro seria estúpido e prejudicial. Mas, numa crise económica há muitas pessoas e máquinas paradas, há campos por cultivar porque não há procura, e não há procura porque as pessoas não têm dinheiro. E há muita pobreza e fome. Neste caso, imprimir dinheiro e distribuí-lo bem, ajuda. Claro que também são necessárias políticas novas noutras áreas.

Por que é que eles (BCE, etc.), apesar da crise, não querem que o dinheiro chegue às pessoas? Porque, sendo escasso, quem o tem pode empresta-lo com um juro elevado. Quem o não tem é obrigado a arranjar o indispensável para viver ou sobreviver, trabalhando pelo salário que lhe aparecer, logo aumentando o seu aprisionamento.

Custará a acreditar, mas é verdade: se há alguma coisa na economia que não é necessariamente escassa, essa coisa é o dinheiro. E o BCE passa a vida a "imprimir" dinheiro para alimentar um sistema de acumulação de riqueza instalado a favor de alguns e não para, como era preciso, servir as pessoas e resolver a crise.

Há mais coisas simples para descobrir. Quando as pessoas têm pouco dinheiro, as coisas não se vendem e os preços baixam. Os vendedores têm perdas e despedem trabalhadores. Com mais desemprego os salários baixam ainda mais e as pessoas ficam com menos dinheiro. Os vendedores são de novo obrigados a baixar os preços. Isto chama-se deflação e é sobre este risco que nos encontramos.

Em deflação, quem ainda tem algum dinheiro tende a não o investir e até o poderá guardar debaixo do colchão, ou num buraco no chão dentro de uma panela, dado que amanhã esse dinheiro poderá comprar mais coisas, entretanto mais baratas.

Há dias o INE anunciou que os preços tinham caído em 2014. E constata-se um agravamento do desemprego e da qualidade do emprego, bem como redução dos salários. Se houvesse mais dinheiro nas carteiras, de quem utilmente precisa dele, isto não aconteceria: haveria mais emprego, melhores salários e desenvolvimento.

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