quinta-feira, 29 de junho de 2017

A LONGA BATALHA PELA EUROÁSIA



Martinho Júnior | Luanda
  
1 A Organização de Cooperação de Xangai (OCX), teve sua reunião anual em Astana, capital do Cazaquistão, dando seguimento aos projectos anteriores, que visam a integração económica de todos os seus componentes, privilegiando as possibilidades de “ganha-ganha” e colocando num“puzzle” só possível no século XXI, o cimento indispensável com vista à consolidação.

De entre os projectos, realça-se a admissão formal da Índia e do Paquistão, assim como a evolução no sentido da admissão do Irão (que é com a Mongólia e o Afeganistão, um estado observador), uma das peças-chave para a consolidação do conjunto de geoestratégias no âmbito daquela organização, que têm tido até agora a China e a Rússia como seus principais impulsionadores.

Neste momento a OCX integra 8 estados que possuem a maior área e a maior quantidade de população entre as organizações existentes à escala global, sendo 4 dos seus membros potências nucleares (China, Rússia, Índia e Paquistão).

A entrada da Índia e do Paquistão reforçam o flanco sul da OCX, mas também contribuem para isolar cada vez mais os focos de desestabilização disseminados por todo o Médio Oriente, do Iémen à Síria, do Iraque ao Afeganistão e Paquistão.

2  As políticas de caos, terrorismo e desagregação, de que a coligação de interesses avassalados aos Estados Unidos se tem empenhado de modo a que seja Israel a tirar o melhor proveito na região, sendo políticas de geometria variável e alimentando no seu interior uma multiplicidade de contradições, possuem cada vez mais fragilidades internas e nem o poderio militar está a demonstrar estar à altura das iniciativas da OCX, que além do mais fazem fluir projectos como o das rotas da estrada da seda, ou o da utilização da moeda chinesa para os negócios energéticos, ou ainda a concentração das potencialidades de investimento em Bancos como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, (BAII), o Novo Banco de Desenvolvimento, (NBD) e o Fundo Chinês da Rota da Seda.

O fim do Estados Islâmico e dos grupos ligados à Al Qaeda na Síria e no Iraque avizinha-se, mas os investimentos que os suportam e suportam as suas conexões de inteligência, estão apostados em fazer revitalizar seus projectos de caos, terrorismo e desagregação utilizando a plataforma do Afeganistão, para onde começam a trasladar parte dos seus efectivos e meios.

ALIANÇA NATURAL DO NEOLIBERALISMO COM O NEOFASCISMO | A Otan e o neonazismo na Europa



Manlio Dinucci*

A Ucrânia, de fato já na Otan, quer agora entrar oficialmente na organização. O parlamento de Kíev, votou no dia 8 de junho por maioria (276 contra 25) uma emenda legislativa que torna prioritário esse objetivo.

A sua admissão na Otan não seria um ato formal. A Rússia é acusada pela Otan de ter anexado ilegalmente a Crimeia e de conduzir ações militares contra a Ucrânia. Em consequência, se a Ucrânia entrasse oficialmente na Otan, os demais 29 membros da Aliança, com base no Artigo 5, deveriam “ajudar a parte atacada empreendendo ações julgadas necessárias, inclusive o uso da força armada”. Em outras palavras, deveriam declarar guerra à Rússia.

O mérito de ter introduzido na legislação ucraniana o objetivo de entrar na Otan é do presidente do parlamento Andriy Parubiy. Cofundador em 1991 do Partido nacional-social ucraniano, segundo o modelo do Partido nacional-socialista de Adolf Hitler; chefe das formações paramilitares neonazistas, usadas em 2014 no golpe da Praça Maidan, sob a direção dos EUA e da Otan, e no massacre de Odessa; chefe do Conselho de Defesa e Segurança Nacional que, com o Batalhão Azov e outras unidades neonazistas ataca os civis ucranianos de nacionalidade russa na parte oriental do país e efetua com esquadrões especiais espancamentos de militantes do Partido Comunista, devastando as suas sedes e queimando livros no perfeito estilo nazista, enquanto o mesmo Partido está para ser posto oficialmente na ilegalidade.

MOHAMMAD BIN SALMAN | Arábia Saudita: um homem-bomba no comando



Mohammad bin Salman torna-se herdeiro do trono. Despreparado e belicoso, apoiador de terroristas e desprezado pela própria CIA, ele pode desestabilizar o reino e incendiar uma das regiões mais conflagradas do mundo

Pepe Escobar | Outras Palavras

Bem quando comentaristas de geopolítica faziam apostas para uma mudança de regime no Qatar – orquestrada por uma Casa de Saud [da Arábia Saudita] desesperada –, a mudança de regime acabou por acontecer em Riad, orquestrada pelo Príncipe Guerreiro, Destruidor do Iêmen e Bloqueador do Qatar, Mohammad bin Salman (MBS).

Considerando a impenetrabilidade daquela oligarquia familiar do petrodólar do deserto travestida de nação, dar conta desse mais recente Game of Thrones árabe é tarefa de uns poucos estrangeiros com acesso garantido. E também não ajuda que o abundante dinheiro dos lobbiessauditas – e dos Emirados – em Washington reduza virtualmente todos os think-tanks e jornalistas venais à mais abjeta máquina de calúnia e difamação.

Alta fonte no Oriente Médio, próxima da House of Saud, e dissidente de fato do consenso construído em Washington, não poupa palavras: “A CIA está muito insatisfeita com a demissão do [ex-príncipe coroado] Mohammad bin Nayef. Mohammad bin Salman é visto como patrocinador de terroristas. Em abril de 2014, as as famílias reais dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita estiveram à beira de ser derrubadas pelos EUA, por causa do terrorismo. Fez-se então um acordo, pelo qual Nayef assumiria o reino, para pôr fim ao terrorismo.”

ABRIGUEM-SE! | Mais de cem granadas e munições roubadas dos Paióis de Tancos



O Estado-Maior do Exército anunciou, esta quinta-feira, em comunicado, o furto de "granadas de mão ofensivas" e munições de calibre 9 milímetros nos Paióis Nacionais de Tancos.

O porta-voz do Estado-Maior do Exército, General Rovisco Duarte, explicou que o desaparecimento daquele material militar foi detetado esta quarta-feira ao final do dia, quando os militares da base de Tancos verificaram que dois paiolins tinham sido arrombados.

Fonte do ramo contactada pela agência Lusa adiantou que, até ao momento, foi detetada a falta de "cerca de uma centena" de granadas de mão ofensivas.

"Os incidentes foram detetados por uma ronda móvel, elemento do sistema de segurança dos Paióis", explica o comunicado.

A Polícia Judiciária Militar foi chamada ao local, tomou conta da ocorrência e iniciou averiguações, tendo já sido informado o Ministério Público, a Polícia Judiciária e o ministro da Defesa, Azeredo Lopes.

Jornal de Notícias com Lusa | Foto: Arquivo/Global Imagens

Portugal | PREDADORES



Alfredo Maia*, jornalista | opinião

Tenho conhecimento de vítimas indirectas deste processo, de pessoas que puseram termo à vida, em desespero». Não sabemos por quanto tempo a afirmação, peremptória, do presidente do PSD ficará na história do Jornalismo e da Política, nem se algum dia será caso de estudo por algum praticante de ciências da comunicação e/ou de ciência política.

Pronunciada após uma visita aos Bombeiros Voluntários de Castanheira de Pera, a afirmação de Pedro Passos Coelho ficará seguramente na memória de muitos como uma chocante expressão do cinismo predador de sentimentos e da mais descarada mentira, explorando a dor alheia para exclusivo proveito mediático.

Estiveram bem os jornalistas que lhe pediram que fosse mais específico em tão graves declarações – quantos?, onde? – e cumpriram o seu dever de cotejar a afirmação e buscaram informações junto de outras fontes, incluindo autarquias e Segurança Social.

Mas o gravíssimo incidente, que não teve de Passos Coelho a exigível retractação, antes um soberbo pedido de desculpas «por ter utilizado uma informação que não estava confirmada», segundo se explicou muitas horas depois de desmascarado o embuste, deve fazer-nos reflectir sobre os elevadíssimos riscos da roleta-russa na qual alguns dirigentes partidários e o sistema mediático jogam a credibilidade da política e do Jornalismo.

Talvez a manifesta insensibilidade e a grosseira tentativa de Passos Coelho de manipular as emoções do público, usando a tragédia do incêndio de Pedrógão Grande, pudessem ter sido contidas se a comunicação política não dependesse tanto do circo mediático e se o líder do PSD e outras figuras fossem capazes de reprimir a pulsão do soundbite.

Ganhar-se-ia mais, sobretudo, se os media não cultivassem uma doentia atracção por frases de forte impacto, cumpliciando-se com os respectivos autores, e, especialmente, se resistissem ao modelo da comunicação instantânea e os jornalistas tivessem mais vontade – e também condições! – de privilegiar estratégias de recuo, ponderação, verificação e contrastação de informações antes de as servir ao público.

ABUTRE CONSTANTE | Passos Coelho igual a si próprio




Ana Alexandra Gonçalves*

Aparentemente revoltado com o que se passou no país, o ex-primeiro-ministro enfatizou o falhanço do Estado, um falhanço que persiste, tanto mais que ele próprio teria conhecimento de suicídios "por falta de apoio psicológico em Pedrógão". É certo que imediatamente tanto o Presidente da Câmara de Pedrógão Grande como o Presidente da Administração Regional de Saúde vieram a público negar qualquer suicídio, mas isso não afectará quem, num desespero indisfarçável, procura retirar dividendos da desgraça

No entanto e como choveram críticas à precipitação de Passos Coelho, veio o Provedor da Santa Casa da Misericórdia dar o corpo ao manifesto, pedindo desculpas por ter induzido Passos em erro. E assim se esperaria que o infeliz assunto ficasse por aí: uma também infeliz sucessão de equívocos. Não ficou e Passos Coelho viu-se obrigado a pedir desculpa. A desculpa prende-se com a não confirmação da informação e não pelo abjecto aproveitamento político de uma desgraça sem precedentes. 

O recurso aos instrumentos mais vis não podem propriamente surpreender, este foi afinal de contas o primeiro-ministro que não pestanejou quando infligiu doses cavalares de austeridade nos cidadãos, não deixando de fora as camadas mais frágeis da sociedade. Este foi o primeiro-ministro que fez a defesa dessa dor até há bem pouco tempo, contendo-se mais nos últimos meses, confrontado com o falhanço daquilo que tanto apregoou. 

Agora, órfão de Diabo e despido de argumentação que valide qualquer espécie de oposição, Passos Coelho deixa-se mergulhar no vale tudo. E vale mesmo tudo quando se inventa ou se espalha boatos com a gravidade daquela em apreço - a que postula casos de suicídio, por falta de apoio psicológico. Mesmo tendo em conta que se trata de Passos Coelho, não deixa de haver alguma inquietação por estas palavras terem saído de alguém que foi primeiro-ministro e que ainda se propõe chegar ao cargo.

Para aqueles que tinham dúvidas quanto ao carácter de Passos Coelho, estas terão, seguramente, ficado desfeitas depois de um exercício ignóbil de aproveitamento político, com recurso ao desprezo pela dor alheia, espalhando informações sem qualquer fundamento.

Se dúvidas existem sobre as qualidades de Passos Coelho para desempenhar as mais altas funções de representação política, elas ficaram desfeitas perante o vale tudo para atingir os seus intentos - para garantir uma sobrevivência política em que só ele próprio e meia-dúzia de apaniguados acreditam.

* Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão | Título com alteração parcial no PG

PORTUGAL DOS PEQUENINOS | A desresponsabilização do Estado nas creches



Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

As instituições particulares de solidariedade social (IPSS) têm certamente um lugar na sociedade, e muitas têm um trabalho meritório, chegando a lugares que o Estado não alcança. No entanto, nos últimos anos, talvez décadas, este papel de complementaridade das IPSS face ao Estado social tem vindo a ser pervertido. A tendência notou-se especialmente durante o Governo de Passos e Portas, mas é anterior. A Segurança Social demitiu-se de parte das suas funções, que entregou às IPSS, através de acordos de cooperação, que cobrem áreas diversificadas: creches, lares, apoio na pobreza ou na infância.

Esta transferência de poderes e responsabilidades tem vários problemas. Em primeiro lugar não é clara ou transparente. As IPSS não têm o mesmo grau de escrutínio ou obrigação de prestar contas que a Segurança Social. Em segundo lugar, tem muitas vezes subjacente a transformação da ideia de solidariedade e emancipação por uma visão caritativa e assistencialista. Esta transformação ficou clara quando o anterior Governo escolheu cortar no Rendimento Social de Inserção (RSI) para criar um programa de cantinas sociais. Em terceiro lugar, nem sempre é mais barata para o Estado. No caso das cantinas sociais, provou-se que o Estado gastava mais a pagar às IPSS pelo serviço do que se atribuísse o RSI diretamente a essas famílias.

Uma das áreas onde estes problemas são mais flagrantes é nas creches. Até hoje nenhum Governo foi capaz de garantir a construção de uma rede abrangente de creches públicas, apesar da sua absoluta necessidade no país. Em vez disso, o Estado contratualiza com as IPSS a prestação do serviço, pensando que estas deveriam priorizar o acesso das famílias mais carenciadas. Acontece que, apesar do Estado pagar 259euro por criança por mês (1200 milhões ao todo), as creches podem cobrar o preço que entenderem aos pais. Uma vez que não estão obrigadas a quotas quanto aos rendimentos das famílias, pode até acontecer que só aceitem crianças de famílias mais abastadas, cobrando-lhes todo o valor que já recebem do Estado, duplicando assim a receita. Para além de ser um mau uso de recursos públicos, é também um mau serviço público.

O problema não se resolve obrigando estas creches a acolherem apenas as crianças mais pobres. Isso geraria guetos. Mas também não é justo que as IPSS possam lucrar com um serviço que é, em última instância, pago pelo Estado, cobrando valores diferenciados aos pais. A resposta só pode mesmo ser, neste caso, a construção de uma rede pública de creches, gerida diretamente pelo Estado.

Mais uma vez, há um lugar para o terceiro setor, em particular as IPSS, nas respostas que a sociedades deve encontrar para diferentes necessidades sociais. Mas esse lugar não deve, em caso algum, ser o da substituição do Estado, ou da sua desresponsabilização na prestação de serviços públicos universais e igualmente acessíveis a todos. Ainda para mais quando, tanto a transferência de responsabilidades como a sua gestão pelas IPSS se faz sem clareza ou escrutínio.

* Deputada do BE

AINDA A TEMPO | Fundação Saramago comemora 10 anos | Concerto de Jorge Palma e entrada livre



Na tarde de 29 de Junho 2007, uma casa na Praça de Londres foi testemunha da assinatura da acta de constituição da Fundação José Saramago.

A partir desse dia “ ganhava estatuto legal a aventura iniciada uns meses antes, de pôr de pé uma casa aberta, múltipla, interveniente, combativa, com objectivos definidos pelas palavras plasmadas na Declaração de Princípios que nos orienta.”

No final desse documento, José Saramago afirmava: “Como se vê, não vos peço muito, peço-vos tudo”.

Hoje, passados dez anos, o tudo que se conseguiu, deixa-nos com a certeza de para isso termos trabalhado.

Com a mágoa diária de não o termos connosco, levamos o seu legado em cada acção que realizamos, seja na Casa dos Bicos, que desde 2012 nos acolhe, noutros locais espalhados pelo mundo, ou na “infinita página da Internet”.

Para trás, ficam algumas centenas de iniciativas realizadas, organizadas a sós ou em parceria com outras entidades, fica o trabalho de acolhimento a quem nos visita diariamente a partir dos quatro cantos do mundo, fazendo muitas vezes desta Casa o primeiro espaço a visitar em Lisboa, fica a emoção que observamos nos olhos dos leitores de Saramago.

Fica também o justo agradecimento a todos os que, directa ou indirectamente, contribuem para que a Fundação seja uma realidade sólida no espaço cultural português e internacional. E, por fim, fica a certeza de que a estes dez anos muitos mais se somarão. Porque enquanto não se cumprir o «tudo» a que as palavras de José Saramago nos obrigam, o «muito» que se faça será sempre pouco. A todos os que nos visitam, virtual ou fisicamente, o nosso obrigado., lê-se na nota de imprensa

Programa 29 de Junho

- Ao longo de todo o dia, entrada livre na Fundação José Saramago - Casa dos Bicos, com oferta de um fac-símile da primeira versão dactilografada do romance Claraboia, de José Saramago ;

- Publicação do livro (ebook) À mesa com a ficção de José Saramago: casa onde não há pão todos ralham (quase) sempre com razão, de Ana Paula Arnaut;

- Concerto de Jorge Palma, pelas 18:30, no Auditório da FJS (bilhetes esgotados).

Zita Ferreira Braga | Hardmusica

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