segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Fórum China-Africa: Estará à porta uma mudança de paradigmas?


A China já garantiu 51 mil milhões de euros para os seus parceiros africanos e quer ver o dinheiro bem aplicado, bem como a dívida paga. E o que os parceiros africanos fazem para darem contrapartidas sustentáveis?

Começou nesta segunda-feira (03.09.) em Pequim o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC). A China é atualmente o parceiro mais atrativo para o continente africano por não se intrometer em questões políticas e principalmente emprestar dinheiro a taxas "aceitáveis" e sem muitos condicionalismos. Os países africanos, por seu turno, são criticados por darem contrapartidas que a longo prazo são insustentáveis ecologicamente. Mas o economista angolano Francisco Paulo acredita que este tema controverso estará em cima da mesa no encontro. Entrevistámos Francisco Paulo sobre as relações entre as partes:

DW África: A FOCAC continua a ser a "tábua de salvação" para muitas economias africanas. Que mudanças são esperadas desta plataforma cerca de 18 anos depois?

Francisco Paulo (FP): Acho que uma mudança de paradigma, porque a própria China reconhece que tem feito muito investimento em África em geral e tem conseguido muitos empréstimos. Mas também está preocupada, quer que os empréstimos conseguidos sejam aplicados realmente nas infraestruturas e que esses países tenham a capacidade de fazer o pagamento do serviço da dívida. Apesar da China conceder empréstimos a taxas de juros baixas em relação à instituições convencionais e não exigir pré-requisitos políticos ou demográficos requer que os países tenham a capacidade de pagar os empréstimos obtidos da China e que haja uma melhor cooperação. Acho que esse Fórum vai trazer uma mudança de paradigma porque o empréstimo chinês em África é elevado e acho que a China não quer que África tenha o empréstimo como se fosse um peso, como aconteceu durante muitos anos com os países do ocidente.

DW África: Os governos africanos são criticados por não oferecerem contrapartidas sustentáveis no que se refere aos recursos naturais, principalmente sob o ponto de vista ambiental. Acha que é desta vez que serão revistos os modelos de contrapartidas?

FP: Há toda uma necessidade, quer por parte da China quer por parte de África de fazer com que os produtos que a África exporta para a China não se limitem apenas à matéria prima, porque se não haverá um comércio desigual. África vai ganhar menos porque a matéria prima vai para a China e depois de transformada volta para África como produto acabado. E isso não é bom em termos de relações comerciais e os ganhos devem ser sentidos e mesmo em termos ambientais. Acho que nesse Fórum esse tema será discutida a necessidade de se debater a reindustrialização de África, fazer com que os produtos exportados tenham um maior valor agregado, que não sejam apenas matéria prima se não a relação não será sustentável e haverá esse sentimento de que alguém ganha mais do que o outro.

DW África: Antes do FOCAC Angola já estava em negociações com a China para a obtenção de mais um financiamento para a sua economia que está em profunda crise. Que mudanças espera que venham a ser feitas? O petróleo continuará a ser a principal moeda de troca para Angola?

FP: Penso que a maior mudança terá de ser feita pelo Governo angolano. Temos um novo Presidente, espera-se que os novos empréstimos que serão obtidos sejam aplicados realmente para projetos reestruturantes que serão capazes de dinamizar a economia nacional. Durante o Governo anterior o país obteve vários empréstimos da China para construir infraestruturas, mas hoje quase todas elas estão degradadas e precisam de ser reconstruídas menos de quinze ou vinte anos depois. E isso não pode acontecer porque estes empréstimos comprometem a futura geração. Acho que o Governo de João Lourenço tem em mente que esses novos empréstimos devem ser aplicados para que sejam rentabilizados não só económica, mas também socialmente.

DW Africa: Angola tenta obter um novo financiamento da China quando até 2017 devia cerca de 18 mil milhões de dólares a Pequim. Tomando em conta a elevada soma seria fácil Luanda obter um novo e grande financiamento que tanto precisa?

FP: Sim, repare que a China é o principal parceiro de Angola, quer ao nível das exportações e mesmo a nível de importações a China tem superado Portugal. Então, a China confia na capacidade de Angola reembolsar esses empréstimos e conhece o potencial dos recursos e não haverá dificuldades.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

Isabel dos Santos: "Império" empresarial em Portugal em risco?


À luz da ofensiva de combate à corrupção desencadeada por João Lourenço, é inevitável mexer nos interesses de Isabel dos Santos em Portugal, dizem analistas. Prevê-se redução do poder da empresária angolana em Portugal.

Quando em 2014 Francisco Louçã publicou o livro "Os Donos Angolanos de Portugal", em coautoria com Jorge Costa e João Teixeira Lopes, era muito significativo o poder e a influência do capital angolano. Estavam em foco as relações dos grupos económicos portugueses com o então regime de José Eduardo dos Santos.

Hoje, o economista, que já foi líder do Bloco de Esquerda, considera que a figura de Isabel dos Santos perdeu relevância, não tanto em Portugal, mas certamente em Angola. Tanto por ter sido afastada da administração da Sonangol como pelo facto de a própria família ter, atualmente, um peso económico e político bastante menor.

"Ela tem um investimento significativo em Portugal, tanto no BCP como na EFACEC, entre outros setores, e isso creio que continuará. Qual a estratégia que ela vai seguir no futuro não sabemos e é muito importante que haja alguma definição, mas os empresários portugueses, angolanos, chineses ou norte-americanos têm que cumprir as mesmas regras", disse Francisco Louçã à DW África.

Fim dos "anos de glória"

Passados os anos de glória do investimento angolano em Portugal, o Presidente de Angola, João Lourenço, quer limitar os poderes de Isabel dos Santos, principalmente na petrolífera portuguesa Galp e na EFACEC. 

De acordo com a última edição do semanário português Expresso, João Lourenço tem uma estratégia que visa destroçar financeiramente a "mulher mais rica de África". A questão que os observadores levantam é se Isabel dos Santos conseguirá manter o seu império empresarial em Portugal?  

Para o jornalista angolano Armindo Laureano, a saída da Sonangol foi o ponto de partida para a perda da "ascensão que tinha". "E agora começam a aparecer estes casos da notícia que fala da delimitação do seu poder em Portugal. Porque o Estado angolano começa a agir, nomeadamente nos negócios que tinha com ela a nível da Galp. Até há a notícia de que a Sonangol exige a devolução de 70 milhões de dólares. Isso já foi comunicado e até advogados da Sonangol já contactaram os advogados de Isabel dos Santos para a devolução dos dividendos da Galp", conta o jornalista.

Poderes reduzidos

Armindo Laureano não tem dúvidas que a redução dos poderes da filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos em Portugal começa a ser uma evidência.

"Durante muito tempo, Isabel dos Santos foi vista como a afirmação empresarial angolana no exterior, nomeadamente em Portugal. Era ela que aparecia à frente dos grandes negócios. Creio que, nos próximos anos, os cifrões, os zeros vão começar a diminuir nas contas de Isabel dos Santos", disse.

O jornalista sublinha que não se trata de uma ação pessoal de João Lourenço contra Isabel dos Santos. Trata-se, sim, de uma estratégia do Executivo angolano visando acabar com certos grupos dominantes. "Isabel dos Santos estava à frente de muitos interesses corporativos ou de grupos", esclareceu.

"A própria entrada dela como presidente do Conselho de Administração da Sonangol foi um bocado para proteger certos interesses seus, pessoais e até de grupos. E isso começou-se a ver mesmo a nível daquilo que é a Unitel e depois em relação ao próprio negócio da Galp", acrescentou Armindo Laureano.

Nesta ofensiva contra a corrupção em Angola, é inevitável mexer nos interesses de Isabel dos Santos, afirma João Paulo Batalha, presidente da Associação Cívica Transparência e Integridade Portugal (TIAC).

"Justamente porque os grandes investimentos que Isabel dos Santos fez em Portugal ao longo dos últimos anos foram feitos sob uma suspeita basilar sobre a origem do dinheiro que ela trouxe para Portugal. Portanto, muitos dos investimentos, nomeadamente na Galp, mas, enfim, em todos os outros, foram feitos ou com empréstimos de empresas públicas angolanas ou com capital adquirido através dos negócios de favor que ela fez com o Estado angolano", explica à DW África.

"Por isso, todo o império de Isabel dos Santos, numa lógica de transparência e de combate à corrupção, fica posto em causa, incluindo as ramificações desse império em Portugal", acrescentou João Paulo Batalha.

Portugal vai sentir consequências

O presidente da TIAC reconhece que as medidas que o Presidente João Lourenço têm vindo a tomar para esclarecer a origem da fortuna de Isabel dos Santos também terão implicações em Portugal.

"Deve ser um aviso para as autoridades portuguesas, quer as autoridades judiciais quer as autoridades políticas, para, no momento em que querem inaugurar uma nova fase de boas relações com Angola, fazermos nós próprios, aqui em Portugal essa investigação à origem dos capitais e à lisura dos negócios de Isabel dos Santos para que possamos assistir o Estado angolano numa potencial reversão de capitais de Isabel dos Santos para o Estado angolano. Porque, verdadeiramente, o dinheiro que ela tem trazido para Portugal é dinheiro que pertence ao povo angolano", lembra.

João Paulo Batalha acrescenta que o poder político em Portugal sempre teve "uma relação oportunista" com Angola, privilegiando ligações com a elite angolana, independentemente, de considerações sobre corrupção ou abusos dos Direitos Humanos.

Isabel dos Santos, que terá viajado para Portugal, foi já notificada pela Procuradoria-Geral da República de Angola. 

"Há uma pressão que vem de vários lados", refere Armindo Laureano, para quem o corte do ponto de vista empresarial,  por um lado, e, por outro, a ação por parte da justiça, põem em perigo o futuro do império da "mulher mais rica de África". 

João Carlos (Lisboa) | Deutsche Welle

MPLA em dívida com Mário Pinto de Andrade


Na véspera do congresso do MPLA, fundador e primeiro presidente do partido tem sido lembrado, ainda que timidamente. Conclave deve confirmar João Lourenço como novo líder partidário, mas candidatura única é criticada.

Em Angola, os cidadãos comuns pouco ou quase nada sabem sobre o fundador do MPLA. Meia dúzia sabe, por exemplo, que os contatos de Mário Pinto de Andrade com os movimentos independentistas africanos começaram em Paris, ainda nos anos 50, na mesma década em que o político desdobrou-se em contatos em Argel, Casablanca, Acra e Conacry - num processo que culminou em 1960, ao tornar-se o primeiro presidente do MPLA.

Cláudio Fortuna, jornalista angolano e investigador do Centro de Estudos Africanos (CEA) da Universidade Católica de Angola, explica, para além da política, a dimensão literária de Mário Pinto de Andrade.

"O poema do Agostinho Neto que tem 14 páginas, 'Renúncia Impossível', foi publicado de forma incompleta, porque a versão original que o Agostinho tinha entregue ao Mário Pinto de Andrade para fazer a revisão, porque ele era crítico literário, tinha 21 páginas e o poema editado agora tinha 14 páginas," recorda.

"Foi possível encontrar o original deste poema no espólio de Mário Pinto de Andrade que esteve na Fundação Mário Soares. Mário Pinto de Andrade marcou a história de Angola e da sua formação política," avalia.

Segundo Cláudio Fortuna, Mário Pinto de Andrade "era identificado como uma pessoa de consensos, de poucos conflitos e era mais pela harmonia do que propriamente pelo divisionismo".

Afastamento do MPLA

Se era uma figura de unidade, por que razão afastou-se do partido que fundou? Silva Mateus, da União de Tendências do MPLA, uma corrente contestatária às antigas políticas do partido no poder, responde à pergunta da DW explicando que, tudo teria começado quando o atual partido no poder decidiu optar pela via armada para lutar contra o colonialismo português.

"Tendo em conta esse desiderato, Pinto de Andrade achou melhor dar o lugar ao Agostinho Neto para ele falar com os outros para se mobilizarem para a guerra. Só que, Mário conjunturou mal essa questão - porque a partir dali, Agostinho Neto começou a lhe fazer guerra, até ele próprio afastar-se," considera.

Em 1974, depois de protagonizar, com o seu irmão Joaquim Pinto de Andrade, a chamada "Revolta Ativa", em oposição a Agostinho Neto, Mário abandona Angola, onde nunca mais volta em vida.

Já, fora das fronteiras angolanas, Cláudio Fortuna, lembra o cargo desempenhado por Mário Pinto de Andrade na Guiné-Bissau.

"Acaba por ir exercer as funções de ministro da Cultura e Informação da Guiné-Bissau sob a batuta de Luís Cabral, irmão de Amilcar Cabral, que era seu amigo de luta da Casa dos Estudantes do Império em Portugal," afirma.

Dívida histórica

Para além do reconhecimento que o MPLA e o Estado angolano deveriam fazer a Mário Pinto de Andrade, o investigador da Universidade Católica de Angola, aponta outras figuras.

"Passa pelo reconhecimento de Mário Pinto de Andrade, de Ilídio Machada e passa, sobretudo, pelo reconhecimento do grande ideólogo de sempre do MPLA, que foi Viriato da Cruz. O MPLA está em falta com a sua história. Precisa reencontrar-se com a sua história," considera Cláudio Fortuna.

A 26 de Agosto de 1990 falece e volta "à casa", onde foi sepultado no Cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda.

Em Angola, não se fala sobre Mário Pinto de Andrade como primeiro presidente e fundador do MPLA. Só para se ter uma ideia, sobre as paredes das instituições desta formação política, há apenas as fotografias de Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos. Também pouco se fala sobre ele nas datas históricas do país.

Formalidade estatutária

Mas, em véspera de mais um congresso que substituirá o atual líder, no cargo desde 1979, já se fala, embora timidamente, sobre Mário Pinto de Andrade como fundador e primeiro presidente do partido que proclamou a independência, em 1975.

O conclave dos "camaradas", que acontece no próximo sábado (08.09), deverá aclamar João Lourenço como o senhor que se segue. Cláudio Fortuna diz que já era altura de se evoluir, por exemplo, para mais de um candidato.

"Isso não é eleição. Claramente que belisca (a democracia interna). Se o MPLA quer fazer diferente – se transformar num partido que acompanha os ventos da mudança, da modernidade e da democracia - era de todo válido, ou pelo menos saudável, que pudesse apresentar vários candidatos," defende o estudioso.

Não se sabe ao certo que MPLA se terá depois do congresso, já que, fala-se muito de bicefalia no seio dos "camaradas" - desde a eleição de João Lourenço como Presidente da República, a 23 de agosto do ano passado.

Silva Mateus não comenta o futuro do MPLA depois da fase que chama de "formalidade estatutária". Mas de uma coisa tem a certeza: "Isso não é um congresso, é uma reunião de transição onde o Comité Central se reúne para José Eduardo abdicar do lugar e passá-lo ao João Lourenço. É uma formalidade estatutária," conclui.

Manuel Luamba (Luanda) | Deutsche Welle

Foto de arquivo: Mário Pinto de Andrade (dir.) com Samora Machel, Presidente de Moçambique (1984)

China-África | Fórum arranca com promessas milionárias de investimento

Pequim acolhe esta segunda e terça-feira o Fórum de Cooperação China-África. A terceira edição do FOCAC junta dezenas de chefes de Estado e de Governo do continente africano, incluindo dos países de língua portuguesa.

Para o chefe da diplomacia chinesa, Wand Yi, esta é a maior cimeira de sempre, "uma manifestação de importância mundial que a China aguarda com entusiasmo".

Há nove anos que o país é o principal parceiro comercial de África. E os números são impressionantes: segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, as trocas comerciais entre a China e o continente africano rondavam os 10 mil milhões de dólares no ano 2000. Dezassete anos mais tarde, o número chega quase aos 200 mil milhões. E, ao mesmo tempo, aumenta o investimento directo chinês nos países africanos.

"A China tem sido muito importante no âmbito do nosso novo programa de desenvolvimento", confirma o ministro da Economia e Finanças da Libéria, Augustus Flomo. "A Libéria precisa sobretudo de infraestruturas, de desenvolver a rede eléctrica, de modernizar o sistema de saúde", especifica.

Em entrevista à emissora estatal chinesa CGTN, o Presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, sublinha que o Fórum China-África significa grandes oportunidades: "Tem um enorme potencial para beneficiar todos os envolvidos. É por isso que estamos muito empenhados em criar uma parceria forte com a China nesta iniciativa."

Na mesma entrevista, Kenyatta apela à abertura dos mercados entre a China e África, frisando que as políticas proteccionistas terão um impacto negativo na vida dos africanos.

Chineses destruíram mercados africanos

Mas se os produtos chineses entram com facilidade no continente, o mesmo não se pode dizer dos produtos africanos no mercado chinês, lembra o economista da Universidade de Leipzig Robert Kappel.

"Na verdade, Uhuru Kenyatta teria de criticar a China, que subsidiou exportações de empresas estatais e multinacionais que destruíram os mercados africanos - com produtos baratos - desde bicicletas a lanternas, velas e frigoríficos", sublinha o especialista, lembrando ainda que o comércio livre com a China também prejudicou a industrialização dos países africanos.

Robert Kappel alerta ainda para a dependência dos Estados africanos em relação à China, devido aos empréstimos concedidos por Pequim para a realização de grandes projectos: "A China está a fazer grandes empréstimos para projectos de infraestruturas como as linhas ferroviárias Djibouti-Addis Abeba e entre Mombasa e Nairobi. Estas obras são muito caras e os Estados têm de as pagar, os chineses não estão a dar presentes". O problema, salienta, é que "muitos países africanos estão a cair na armadilha da dívida."

Cooperação com os PALOP

O Fórum de Cooperação China-África arranca com promessas de investimentos millionários de Pequim. Angola, por exemplo, espera o culminar das negociações para uma nova linha de crédito de 11 mil milhões de euros, para financiar vários projetos, entre eles, o novo aeroporto internacional de Luanda.

Em Pequim, onde a cooperação bilateral centrou o encontro que o Presidente de Angola, João Lourenço, manteve este domingo (02.09), com o homólogo da China, Xi Jiping, na véspera do III Fórum de Cooperação China-África. Segundo a agência noticiosa angolana Angop, que não adianta mais pormenores, o encontro decorreu no Palácio do Povo.

Entidades de Moçambique e da China já assinaram em Pequim oito memorandos de entendimento, nas áreas das infraestruturas, indústria, telecomunicações, agricultura e serviços financeiros, durante um fórum de negócios inaugurado pelo Presidente moçambicano, Filipe Nyusi. A construção de uma estrada entre a província do Niassa e a Tanzânia e parques industriais em Boane e Marracuene, na província de Maputo, são alguns dos projectos previstos nos memorandos.

São Tomé e Príncipe estreia-se nesta cimeira, juntamente com o Burkina Faso e a Gâmbia, que elevam assim para 53 o número de nações africanas com relações com a China. O primeiro-ministro são-tomense, Patrice Trovoada, leva na bagagem um projeto para a construção de 300 apartamentos para funcionários públicos e espera conseguir investimento chinês.

António Cascais, mjp, Agência Lusa | em Deutsche Welle

Libertar a última colónia da África


Há mais de vinte anos, o Saara Ocidental espera por um plebiscito de independência. Aprovada pela ONU, consulta é sabotada pelo Marrocos, que ocupa o país e viola os direitos humanos da população

Sayid Marcos Tenório* | Outras Palavras

A República Árabe Saharaui Democrática – RASD (antigo Sahara Espanhol, também conhecido como Saaara Ocidental) é a última colônia da África. É o último povo a não exercer sua autodeterminação no continente, apesar do tema estar na agenda da União Africana desde 1963. Dois anos depois, em 1965, a Organização das Nações Unidas também passou a debater os rumos da RASD. É um território localizado no noroeste da costa do continente africano, com fronteiras entre o Marrocos, Mauritânia e Argélia.

A RASD foi fundada em 27 de fevereiro de 1976 na cidade de Bir Lehlu, após administração colonial espanhola anunciar oficialmente o final da presença no território. Antes de abandonar o Saara Ocidental, no entanto, a Espanha facilitou a invasão do território por parte do Reino do Marrocos e da Mauritânia, pressionada pela Marcha Verde, movimento de ocupação organizado pelo rei marroquino Hassan II, destinada a consolidar a ocupação do território saharaui e forçar a Espanha a entregar formalmente o território ao reino feudal.

O povo saharaui, sob a liderança da Frente Polisario, ofereceu resistência armada desde o primeiro momento da ocupação e proclamou a República Saharaui, atualmente reconhecida por mais de 80 países e membro fundadora da organização regional União Africana. Porém, permanece carecendo de representação na ONU, onde é reconhecida como território pendente de descolonização e com direito a observador. Brasil, Argentina e Chile, são os únicos países da América do Sul que ainda não reconhecem a RASD. O governo brasileiro já reconhece a Frente Polisario como o único e legitimo representante do povo saharaui, no marco dos princípios e normas da Carta das Nações Unidas e das múltiplas resoluções do Conselho de Segurança e do Comitê Especial sobre a Descolonização.

Após 16 anos de guerra entre Marrocos e a Frente Polisario, foi assinado um cessar fogo em 6 de setembro de 1991, sob a chancela do Conselho de Segurança da ONU, que aprovou um Plano de Solução em torno da organização de um referendo que deve permitir ao povo do Saara Ocidental exercer o seu direito à autodeterminação. O plano criou a Missão das Nações Unidas para o Referendo do Saara Ocidental (MINURSO), aprovou o cessar-fogo, a identificação dos eleitores, a retirada das forças marroquinas e a organização de um referendo livre que deveria ter acontecido em fevereiro de 1992. O referendo não se realizou até hoje por pressão do Marrocos e seus aliados colonialistas, principalmente a França e Espanha, apesar da ONU ter prerrogativas para realizá-lo, como já fez na Namíbia e no Timor Leste.

Enquanto isso, a maior parte do território da RASD permanece ocupado pelo reino feudal do Marrocos. Apenas uma pequena parte, chamado territórios liberados, estão em poder do governo saharaui. Enquanto isso, parte da população saharaui vive em terras cedidas pela Argélia na região de Tindouf, na condição de refugiados, em acampamentos desprovidos de dignidade, sem infraestrutura adequada para enfrentar as inúmeras dificuldades climáticas. A economia depende da ajuda humanitária internacional. São mais de 200 mil saharauis que esperam o retorno à sua terra natal.

Não bastasse a ocupação e as constantes violações de direitos humanos, o Reino do Marrocos ergueu o muro da vergonha do Saara Ocidental, com mais de dois mil quilômetros e que divide de norte a sul o território ocupado. O muro, que foi construído com assessoria de Israel, é vigiado por mais de 150 mil soldados marroquinos e tomado por uma infinidade de minas terrestres em toda sua extensão que, vez ou outra, provocam mortes entre os saharauis ou mesmo entre militantes internacionalistas que fazem periódicas marchas e manifestações no muro.

Enquanto mantém a ocupação ilegal e violenta do território saharaui, o Marrocos persiste no acelerado saque dos recursos naturais como fosfato, agricultura, exploração petrolífera e da pesca, ao longo dos seus 1.062 km de costas, onde se localiza uma das áreas de pesca mais ricas do planeta. O Tribunal de Justiça da União Européia já decidiu que o Saara Ocidental é um território pendente de descolonização. Marrocos, como país ocupante, não está autorizado a assinar acordos com países terceiros sobre exploração e comercialização desses recursos naturais, sem consultar os habitantes desse território e a Frente Polisario. A exploração dos recursos naturais pelo Marrocos é uma das muitas violações dos direitos do povo e da soberania saharaui.

Crianças em campo de refugiados sahauris na Argélia. Neles, mais de 200 mil pessoas vivem em condições muito precárias, em meio à aridez do deserto
Desde o primeiro momento das negociações, que se arrastam por 40 anos, a Frente Polisario tem apresentado uma posição pelo diálogo, exercendo uma luta limpa e sem extremismos, apesar das dificuldades de todos os tipos imposta pelo ocupante. Continua a acreditar numa solução negociada que garanta o direito à autodeterminação do povo saharaui, como reconhece a comunidade internacional. E tem declarado que aceita o resultado da votação do referendo, livremente expressa pelo povo saharaui. A história mostrou que é impossível encontrar uma solução para um conflito sem a participação do povo e menos ainda contra a sua vontade. A realização do referendo é a saída que vai fornecer a solução para o conflito do Saara Ocidental, favorecer uma solução justa, baseada no respeito à legalidade internacional.

No entanto, apesar de todas as definições aprovadas pelo Conselho de Segurança, Marrocos continua a obstruir o Plano da ONU. A MINURSO, estabelecida em 1991 com o objetivo de realizar um referendo de autodeterminação, é a única Missão da ONU que não monitora violações dos direitos humanos, apesar das inúmeras recomendações ao Conselho de Segurança para estender as prerrogativas àquela missão. O não atendimento do pleito para que a missão monitore e reporte as violações dos direitos humanos, tem deixado a população vulnerável e desprotegida frente à brutalidade do regime marroquino de ocupação.

Em 19 de julho de 2017, a justiça marroquina escreveu mais uma página nas violações sistemáticas dos direitos humanos dos saharauis, ao condenar injustamente e sem qualquer prova ou evidência, como foi reconhecido pelos observadores internacionais presentes no julgamento, 19 defensores dos direitos humanos; 8 sentenças de prisão perpétua, 3 sentenças a 30 anos de prisão, 25 anos de prisão a 5 e, finalmente, 20 anos a 3 outros ativistas.

O clima de tensão é facilmente observado por qualquer pessoa que visita as zonas liberadas ou os acampamentos de refugiados saharauis. Voltar à guerra está, mais do que nunca, na ordem do dia. É a consequência da obstinação do Marrocos em manter o território ocupado e manter o saque bilionários das riquezas naturais, mas também do fracasso das Nações Unidas em assumir suas responsabilidades. Nas inúmeras conversas que tive com jovens saharauis, ao longo das viagens que fiz aos campos de refugiados, nota-se um consenso: se não houver referendo, os saharauis terão de pegar nas armas de novo. Para aquela população, resta apenas a opção de lutar.

Há um esforço no âmbito do parlamento e dos movimentos sociais, para o reconhecimento da RASD pelo governo brasileiro. Em 2014, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou uma Indicação dirigida à Presidência da República, assinada pela totalidade dos líderes partidários, recomendando o reconhecimento pelo Brasil da República Árabe Saharauí Democrática, mas nenhuma resposta foi dada pelo Executivo. O mesmo aconteceu no nosso vizinho Chile, onde a Câmara dos Deputados aprovou em 2014 uma resolução solicitando ao governo chileno e reconhecimento da Republica saharaui, que nunca se cumpriu.

O Marrocos interfere para não permitir que se debata em nenhum fórum brasileiro as graves violações dos direitos humanos, onde mulheres e homens de todas as idades e crianças são presos e torturados pelos ocupantes, onde mais de 640 pessoas de diferentes regiões do país, entre elas famílias inteiras, foram detidas pelas forças marroquinas e desapareceram para sempre.

Os representantes diplomáticos marroquinos no Brasil exercem enorme pressão sobre nossa diplomacia, sobre o governo e o Congresso Nacional. E utilizam de métodos nada ortodoxos para conquistar apoios e frear as iniciativas de apoio à autodeterminação e o reconhecimento do Sahara Ocidental. É visível o trabalho de “convencimento” a parlamentares e servidores graduados de comissões estratégicas do Congresso por meio de viagens ao Marrocos em primeira classe para si e seus familiares; além da promessa de convênios com instituições e até o financiamento de ações de parlamentares e organizações que se comprometam com esse papel sujo de sabotar a causa do povo saharaui.

Mesmo na área diplomática dos países da Liga Árabe, há uma enorme pressão em favor do reino feudal do Marrocos, onde embaixadores, inclusive de país numa situação similar de ocupação e violações de direitos, se somam à pressão do Marrocos sobre o governo e o Parlamento brasileiros.

A embaixada do Marrocos no Brasil, por meio dos capangas do DGST (o serviço secreto marroquino) interfere para impedir que se realizem atividades públicas que debatam temas relacionados ao Sahara Ocidental, como já aconteceu em entidades do movimento social e ambientes acadêmicos. Em meio a esse quadro complexo é certo que a paz e a estabilidade no Sahara Ocidental, somente serão alcançadas por meio do respeito estrito ao direito internacional. E isso inclui assegurar o direito do povo saharaui escolher o seu destino, de forma livre e democrática.

A melhor definição sobre o quadro de incerteza e do impasse que se criou em torno da realização ou não do referendo de autodeterminação do Sahara Ocidental, veio exatamente do presidente da RASD, Brahim Gali. Ele tem reiterado que os cidadãos e cidadãs saharauis perderam qualquer tipo de confiança nas Nações Unidas e que a indiferença da comunidade internacional só tem contribuído para alargar o já longo sofrimento daquele povo. Para Gali, “ainda existe um fio de esperança e a comunidade internacional tem plena capacidade de materializar a solução justa e definitiva”.

*Sayid Marcos Tenório - Historiador e dirigente do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta Pela Paz (CEBRAPAZ)

Inimigos do povo


José Goulão | Abril Abril | opinião

Saibamos tomar o lado do capitalismo bom, austeritário, tendencialmente esclavagista e globalista contra o capitalismo mau, austeritário, tendencialmente esclavagista, mas nacionalista.

« – Tu és inimigo do povo!
– Não, inimigo do povo és tu!»

É a este nível de ideias profundas que se trava publicamente o debate sobre quem mente mais e melhor através da comunicação mainstream, incluindo as famosas redes sociais, agora que Donald Trump resolveu partir a loiça e convulsionar a harmonia – podre, mas harmonia – em que tudo decorria.

Tratando-se de um ajuste de contas entre o presidente norte-americano e uma parte de relevo – e bipartidária – do establishment que se lhe opõe, discordando sobre as estratégias para combater a crise do capitalismo, poderia supor-se, ainda assim, que a questiúncula se mantivesse em círculos domésticos.

Mas não, trata-se dos Estados Unidos da América e, por inerência da globalização de teor anglo-saxónico, todos estamos obrigados a nela participar. Talvez ainda mais importante: é o capitalismo, aquilo sem o qual não podemos viver, que está numa encruzilhada – nacionalista ou globalista? Produtivo ou especulativo? Trauliteiro ou «civilizado»? Amigo ou inimigo do povo?

Não terçarmos armas neste campo de batalha obrigatoriamente maniqueísta é uma traição do mesmo calibre daquela que mancha agora a dignidade do cargo de presidente dos Estados Unidos da América, posto que nos remete tradicionalmente para tantos e tão virginais exemplos comportamentais.

Por maioria de razão, a parte do establishment ofendida pelo truculento e narcísico presidente é a que mexe as rédeas da comunicação global dominante. Logo, todos somos impelidos a tomar partido, a bater-nos por nossa dama ultrajada.

Saibamos, então, devolver o insulto: se o trumpismo nos acusa de sermos inimigos do povo, então apedrejemo-lo com as mesmas palavras e do mesmo lado da barricada que os bosses das 14 ou 15 corporações mediáticas e globais que envenenam as nossas vidas com a propaganda disfarçada de informação.

Saibamos tomar o lado do capitalismo bom, austeritário, tendencialmente esclavagista e globalista contra o capitalismo mau, austeritário, tendencialmente esclavagista, mas nacionalista.

É verdade que, travado a este nível de acusações, o duelo não passa de uma briga de escola, de uma zanga de comadres mutuamente ofendidas. Porém, sinal dos tempos, o comadrio é global e estendeu até cá, até ao nosso mainstreamzinho, o recrutamento de guerreiros do lado bom, corporativamente irmanados com os ofendidos colegas da CBS, da CNN, da NBC, dos Washington Times ou Post e New York Times ou Post contra os malandros da Fox e da constelação dos pregadores evangélicos.

Os indirectamente ofendidos nesta margem Atlântica não se deixaram ficar e também eles distribuíram os seus sopapos verbais contra os fabricantes de fakenews, eles que nunca divulgaram nem voltarão a divulgar qualquer notícia falsa.

Pobre povo!

Trazer o problema da censura e manipulação da comunicação social dominante e global para o terreiro das fakenews e abordá-lo com as armas do insulto é uma maneira de ilibar e isentar de responsabilidades o tenebroso sistema de controlo de opiniões e consciências em que se transformou a informação que atinge a esmagadora maioria dos habitantes do planeta.

Dezena e meia de grandes impérios mediáticos controlam os canais de comunicação global, desde os convencionais aos digitais e internet, levando-nos a viver numa espécie de realidade virtual em termos de informação.

Através da escolha dos conteúdos que inserem nos canais e dos factos que omitem, das opiniões que veiculam ou silenciam é construída a realidade desejada pelos interesses que tutelam esses gigantes sem pátrias que pretendem transformar os seres humanos em pessoas amorfas, condenadas a proporcionar-lhes lucros fabulosos e sem fim. 

Regra geral, existe convergência quase absoluta de interesses entre essas entidades tentaculares e o establishment de raiz norte-americana e alcance global que controla ideológica e economicamente grande parte do planeta.

Ao abalar a estrutura do establishment ou «Estado profundo» que reina enquanto as administrações passam, Donald Trump mexeu com essa ordem enquistada e bipartidária; e a guerra civil intercapitalista assim gerada transferiu-se, naturalmente, para a esfera mediática, onde passou a valer tudo porque os interesses envolvidos têm envergaduras inimagináveis.

Fakenews não são um fenómeno novo, a não ser como termo e conceito para usar como arma de arremesso na guerra da propaganda. Há muito que vivemos num ambiente de fakenews produzidas onde não sabemos, transportadas por uma teia de canais inextricável e consumidas, regra geral, como coisa certa e acima de qualquer suspeita. A realidade virtual que domina o nosso quotidiano informativo é uma gigantesca fakenews.

Em termos prosaicos, Trump mente e mentem também os seus adversários de momento, que podem ser os amigos de amanhã e vice-versa. É um debate de mentiras porque se trava num terreno de minado com falsidades de consumo comum, por ora cindido em sectores transitoriamente desavindos mas que nunca deixarão de salvaguardar o que os une: o capitalismo. E não há manipulações decentes e manipulações indecentes, mentiras boas ou más.

Quando há jornalistas que, num corporativismo pavloviano, entram nestas guerras que não lhes dizem respeito, das duas uma: ou são ingénuos ou há muito que perderam o respeito pela profissão.

O confronto trava-se no seio das estruturas dominantes, para quem os jornalistas valem tanto como os entes amorfos e estupidificados por correntes imparáveis de fakenews.

É importante lembrar, a propósito, que o uso do termo fakenews começou por ser aplicado contra jornalistas e outros profissionais de comunicação que mantiveram a dignidade profissional e têm a coragem de trazer ao conhecimento comum os aspectos da realidade que raramente chegam aos meios convencionais e dominantes de informação.

Antes de o termo ser banalizado e ter perdido referências originais, os profissionais acusados de divulgar fakenews eram os que, ao invés, tornavam pública a realidade escondida, as versões não-oficiais dos acontecimentos que moldam os nossos quotidianos.

A internet, incluindo as redes sociais, foi e ainda é o refúgio possível e providencial desses profissionais dignos, quantos deles ostracizados pelos estruturas dominantes da comunicação global tendendo para a propaganda pura e simples.

Por isso, estes territórios alternativos estão agora debaixo de fogo censório.

Multiplicam-se as iniciativas com o objectivo de silenciar as fontes de comunicação que veiculam versões não-oficiais de acontecimentos, opiniões não-alinhadas pelos poderes globais, no fundo divulgando conteúdos que aproximam os cidadãos das realidades autênticas que os envolvem.

O objectivo das novas censuras que estão em preparação e mesmo já em aplicação na internet não é o de combater as fakenews, a informação falsa, mas sim calar os factos e as opiniões que não são toleráveis pelos interesses dominantes.

Neste quadro, é importante que se saiba que o Facebook, por exemplo, montou incentivos de apoio à delacção, isto é, passa a recompensar internautas que detectem supostas fakenews, no limite que contribuam para silenciar o tipo de informação com a qual não concordam ou não lhes convenha.

Também é importante saber que os mentores destas práticas tanto estão do lado de Donald Trump como dos seus adversários democratas e republicanos, que aliás pontificam na tutela das 14 ou 15 corporações gigantescas que fabricam a comunicação global.

Quem são os inimigos do povo? Todos eles.

Foto: Donald Trump | Michael Reynolds / EPA

Portugal | O bloco central no seu melhor


Rui Sá* | Jornal de Notícias | opinião

Já aqui escrevi sobre o chamado "pacote da descentralização", que resulta de um acordo entre o PS e o PSD e que constitui uma inadmissível transferência de competências para os municípios sem a correspondente transferência de meios humanos, técnicos e financeiros. Transferências que, em muitos casos, colocam os municípios ao serviço da administração central, dado que ficam responsáveis por garantir as condições e os custos para que, a nível central, possam assumir a gestão...

Este pacote, assinado por Costa e Rio, estabelece o prazo de 15 de setembro para que as autarquias aceitem, ou não, estas novas competências para o exercício de 2019. Acontece que esta lei ainda não foi regulamentada, pelo que não se conhece exatamente a forma como estas competências vão ser exercidas nem as contrapartidas correspondentes. Naturalmente que, independentemente da opinião que muitos autarcas tenham sobre a lei, grande parte não está disponível para passar um cheque em branco ao Governo, assumindo responsabilidades que não sabem como vão exercer. O que as levou a agendar reuniões dos órgãos municipais para rejeitarem estas transferências. Perante esta situação, e em desespero, o Governo procura fazer crer que a data de 15 de setembro vai ser alterada por despacho - esquecendo que esta lei só pode ser alterada pela Assembleia da República e que, não havendo rejeição formal, há aceitação tácita das novas responsabilidades...

Entretanto, o Governo e os dirigentes nacionais e locais do PS e do PSD desdobram-se em contactos com os presidentes de câmara onde, com chantagem e promessas de "prémios", procuram garantir a sua cumplicidade. É o bloco central na sua plenitude...

*Engenheiro

Dia 8 marcha-se para 'Parar o petróleo! Pelo clima, justiça e emprego'


A Marcha Mundial do Clima está marcada para Lisboa, Porto e Faro

Subordinada ao tema ‘Parar o petróleo! Pelo clima, justiça e emprego!’, a Marcha Mundial do Clima está marcada para o próximo dia 8 de setembro, pelas 17h00, em Lisboa, Porto e Faro. Mas não será apenas em território nacional que se caminhará em prol desta causa. Aliás, esta Marcha está associada à mobilização internacional ‘Rise for Climate’, que unirá milhões de pessoas em centenas de cidades por todo o mundo.

A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável irá juntar a esta iniciativa, exigindo “uma transição justa e rápida para energias renováveis que vá ao encontro ou supere os compromissos governamentais de Portugal ser neutro em carbono até 2050 e que cumpra os compromissos a que se vinculou com o Acordo de Paris”.

Para lá disso, a ZERO exige que “não se criem novas infraestruturas de combustíveis fósseis em Portugal”, relembrando que “não faz sentido iniciar um ciclo de investimentos baseado numa economia do passado prejudicando o clima quando o país se comprometeu com o contrário”. Por isso, a Associação Sistema Terrestre Sustentável diz “não” aos projetos de petróleo frente a Aljezur, de gás em Aljubarrota e em outras zonas concessionadas ou passíveis de o ser, pode ler-se no comunicado enviado às redações.

O PAN também se junta a esta Marcha e está já confirmada a presença de Francisco Guerreiro, membro da Comissão Política Nacional e porta-voz do PAN, na de Lisboa, que tem início pelas 17h no Cais do Sodré.

No Porto inicia-se à mesma hora, na Praça da Liberdade, com a presença do deputado André Silva e de Bebiana Cunha, deputada municipal do PAN no Porto. No mesmo horário o PAN Algarve junta-se no Largo da Sé com a presença de Paulo Batista, deputado municipal do PAN em Faro.

Filipa Matias Pereira | Notícias ao Minuto

Portugal | O estado de sítio na habitação


Quando um apartamento em Lisboa é tão caro ou mais que em Londres chegámos ao momento de fazer com a habitação o que se fez com o pão: tabelar, contra a especulação.

Fernanda Câncio | Diário de Notícias | opinião

Um apartamento na área 2 de Londres (não exatamente no centro, nas central), num edifício com piscina, por 1600 euros. Uma casa espaçosa na mesma zona por 1500 euros. São as rendas de apartamentos onde, até 2018 e 2017, viviam emigrantes portugueses entrevistados para a edição de hoje do DN.

São preços altos, sem dúvida. Mas, incrivelmente, iguais ou inferiores aos de Lisboa. Basta dar uma volta pelos sites imobiliários para o constatar. Ou falar com quem ande à procura de casa. Uma amiga entregue a esse martírio contou-me que tem visto tugúrios por 1800 euros (para além de ter tropeçado num anúncio em que "só aceitavam famílias tradicionais", história contada pelo DN esta semana); outra, dona de um apartamento médio no Bairro Alto, alugou-o por uns incríveis 2200 euros por mês.

Não é preciso ser um cientista nuclear para perceber que estamos ante um drama (nem me incomodarei a explicá-lo a quem acha que isto é "a lei do mercado e não tem problema nenhum"). E que há pelo menos dois anos, quando começou a ser óbvio que os preços estavam a subir de forma imparável, se deveria ter começado a contrariar a tendência.

Sucede que, num país que vinha de uma recessão, quer o governo quer a autarquia receberam com alegria a injeção de "investimento" estrangeiro no imobiliário. E deixaram andar - ou melhor, incentivaram, vendendo vistos de residência a quem compre imóveis de mais de meio milhão e oferecendo descontos nos impostos a residentes estrangeiros (e continuam a fazê-lo, quando noutros países já se proíbe a venda a estrangeiros não residentes). É só quando estamos para lá do ponto de rutura que surgem as primeiras medidas com o alegado objetivo de enfrentar o problema: a lei que cria instrumentos para a restrição do alojamento local, já aprovada mas ainda não em vigor; os anúncios por parte da Câmara de reabilitação de imóveis para o mercado de renda controlada; o "pacote para a habitação" que deverá ser discutido e votado no regresso do parlamento.

Fernando Medina, em entrevista ontem ao Expresso (na qual anuncia uma ótima proposta para os transportes coletivos da capital), anunciou mais uma medida: a CML alugará apartamentos a privados para os subalugar, funcionando como garantia/seguro ante os privados. A não ser que se ache que os proprietários vão pedir um valor muito inferior ao de mercado por terem a segurança de um intermediário institucional, isso resolve o quê? Como as contidas no dito "pacote legislativo", é mais uma ideia solta que não ataca a raiz do problema.
Na Alemanha, essa Venezuela da Europa, há uma lei que criminaliza as rendas consideradas especulativas e um teto percentual (20%) para o aumento das rendas quer na renovação quer nos novos contratos.
Porque o problema é o preço. E não se resolve com propostas do dito "pacote" como a que prevê que quando o inquilino tenha 65 ou mais anos e grau de deficiência superior a 60% o contrato passe a vitalício (o que, além de torção inaceitável no princípio constitucional da segurança jurídica -- que direito tem o Estado de intervir assim em contratos livremente celebrados? -, vai penalizar apenas proprietários que se mantiveram no mercado de arrendamento de longa duração e, claro, deixa sem resposta a esmagadora maioria das pessoas). Ou com o regresso do prazo mínimo de cinco anos para arrendamentos habitacionais: de que serve um contrato mais longo se o preço for impraticável?

Se o problema é o preço, tem de se intervir aí. E não se venha com a conversa do "comunismo": na Alemanha, essa Venezuela da Europa, há uma lei que criminaliza as rendas consideradas especulativas e um teto percentual (20%) para o aumento das rendas quer na renovação quer nos novos contratos; na Holanda há preços tabelados numa parte do parque habitacional.

Aliás, o Estado português já intervém, e duramente, nos preços quando mantém rendas congeladas para contratos de arrendamento anteriores a 1990 e quando procura atrair estrangeiros para o mercado imobiliário - ou seja, de forma parcelar, ineficaz e contraditória. Na situação a que chegámos, após décadas de ausência do Estado na oferta de habitação e quando a construção/reabilitação pública levará anos, tabelar preços, quer no arrendamento quer na venda (porque intervir só no primeiro desviará os imóveis para a segunda), é a única solução. Tal como em tempos se tabelou o preço do pão por ser considerado alimento essencial (e hoje se "tabela" a percentagem de sal no mesmo), tal como se regula o preço da eletricidade e da água, assumamos de uma vez o direito constitucional à habitação e o papel do Estado na regulação - mas eficaz e não abstrusa -- desse mercado. Chega desta loucura.

Adeus férias… só para alguns. A desgraça continua


Bom dia, porque ainda não é de noite. Esta é a segunda-feira primeiro dia de trabalho dos que foram de férias. Estima-se que a maioria dos trabalhadores portugueses não saíram dos seus locais de residência e muitos nem um grão de areia das praias pisaram. 

Há os que pisaram grãos de areia mas porque arranjaram uns “ganchos” nas obras para melhorar o orçamento das dívidas e pouco mais. Esta é a realidade, mas parece que o país está longe dessa realidade e se julga componente de um povo abonado – só se for de cartões de crédito, de débito e mais uns quantos que estão nas carteiras para ornamentar. Gente que tem olhos mas não vê e miolos mas não pensa.

Mas este é o Expresso Curto. Hoje com Martin Silva, da chafarica do tio Balsemão. Eis o facto. Mais um que não é desconhecido. E isso importa? Não.

Adiante. Até amanhã. Fiquem bem e curtam o Martin. É simpático e jornalista. Coisa rara porque por ali existem montes de convencidos. Já lá vai o tempo dos mestres se acomodarem numa reles tasca e conviverem. Agora é tudo mais para o estilo Tavares Rico. Rico? Melhor era a tasca do “Ai que baxar a bola”. Um estabelecimento no Bairro Alto, de galego, que vendia sopas muito em conta… O “baixar a bola” era correspondente a uma bola de sebo com um cordel que pairava sobre o enorme caldeirão da sopa e lhe emprestava gordura quando mergulhava no caldo quente. Depois subiam-no e serviam a sopa, o caldo e pouco mais. Alimentava, pelos vistos, os esfomeados que por ali vagabundeavam.

Adeus “ricas” férias. A desgraça continua. Adeus e até ao nosso regresso. (PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Regressa o forrobodó

Martin Silva | Expresso

Bom dia,

Esta madrugada, um incêndio devastou o maior museu do Brasil, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, uma instituição com 200 anos de história e um património e acervo riquíssimos. As imagens do edifício completamente em chamas fazem temer o pior: que pouco ou nada dos 20 milhões de itens do acervo riquíssimo do museu tenha sobrado.

O museu foi criado por D. João VI e serviu de residência da família real. Entre os seus maiores destaques estão a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador D. Pedro I, o mais antigo fóssil humano encontrado no Brasil, um diário da imperatriz Leopoldina, um trono do reino de Daomé, dado ao príncipe regente D. João VI, e ainda a maior bilbioteca de antropologia do país.

Como já afirmou o vice-presidente do Museu, Luiz Fernando Dias Duarte, "os 200 anos de história do país foram queimados".

O regresso da política

A expressão forrobodó não é minha, ouvi-a ontem de Marques Mendes, mas uso-a para título porque acho que espelha bem aquilo a que estamos a assistir (apesar do comentador a ter usado para se referir às promessas eleitorais do executivo socialista). Regressa setembro, termina o habitual período de férias da política nacional, e de boa parte dos portugueses (incluíndo este vosso criado), e eis que somos novamente bombardeados à esquerda, à direita, ao centro. Ele são rentrées e mais rentrées, ele são promessas, ele são políticos a acusarem-se uns aos outros, outros a dizerem que um acordo é miserável e outros ainda a responderem que miserável é quem diz que o acordo é miserável.

O Governo vai aumentar os pagamentos aos hospitais e profissionais de saúde, bem como aprovar o financiamento de novos métodos cirúrgicos, para diminuir a lista de espera nas cirurgias para tratar os casos de obesidade grave, revela hoje o Jornal de Notícias. No fim de semana o Expresso noticiou que se prepara uma forte redução nos preços dos passes sociais. E há umas semanas o Governo já anunciara benefícios fiscais para emigrantes que queiram regressar.

Tudo isto quando o Executivo prepara o Orçamento de Estado para apresentar ao Parlamento já no próximo mês, e quando se sabe que o ano que vem é ano de eleições legislativas.

Enquanto isso, o PSD de Rui Rio voltou ao trabalho no fim de semana, com um discurso crítico do governo mas também crítico dos críticos da sua liderança. Aliás, é aqui que a política se encontra mais animada, mesmo já sem Santana, que agora anda a construir a sua Aliança (Santana Aliança soa estranho, não soa?).

A rentrée do PSD começou no fim de semana com a nova versão do Pontal,e Rui Rio a dar uns toques na bola, mas prolonga-se por toda a semana. É que começa hoje e vai até domingo a habitualUniversidade de Verão do partido. Rio fala no domingo, a encerrar.

Também o Bloco de Esquerda, e a sua líder, Catarina Martins, escolheram este fim de semana para o regresso à política. Com um discurso, uma vez mais, muito crítico para o Governo. Aliás, se o leitor se der ao trabalho de ler esta notícia mas apagando o nome do sujeito, nem acreditaria tratar-se de alguém que apoia ativamente esta maioria há três anos.

Referência ainda para a intervenção de Francisco Louçã, alertando para a “campanha suja” que se aproxima.

Do lado do PCP, Jerónimo de Sousa veio fazer o habitual discurso de distanciamento face ao Governo, garantindo que as negociações para o OE de 2019 ainda estão “muito pela rama”.

Aproveitando tudo para croquetes, o PS já veio, através da sua porta-voz Maria Antónia Almeida Santos, deixar a sua ferroadazinha na liderança de Rui Rio.

E até o Presidente da República, depois de andar semanas a tomar banho em todas as praias fluviais do país (e a quebrar recordes de selfies) teve uma espécie de versão light de rentrée, com a festa do livro que abriu as portas do Palácio de Belém, e onde Marcelo Rebelo de Sousa aproveitou para teorizar precisamente sobre… o que significam ainda as rentrées para os políticos nacionais.

De regresso de férias estão os deputados, e com assuntos 'calientes' nas mãos, como sejam a ferrovia e os aeroportos, que têm enfrentado visíveis dificuldades nos últimos tempos. Já esta terça-feira será ouvido o presidente da CP. Empresa que, como pode ler mais abaixo nesta newsletter, quer avançar para Espanha apesar das coisas não estarem a correr nada bem cá dentro.

Quem veio de férias com o mesmo ar zangado e duro que tinha antes de ir é Mário Nogueira, que este fim de semana voltou a prometer luta acesa dos professores pela contagem integral do tempo de serviço congelado. Este é seguramente um dos dossiers quentes destas próximas semanas.

Ufff e ainda agora começa setembro. Não vamos ser meigos. Acabaram-se as férias, volta tudo ao mesmo e com a mesma intensidade de sempre. Uma farra. Uma pândega. Um verdadeiro forrobodó.

Quanto falta mesmo para voltarmos às férias?

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,

A CP quer chegar às principais cidades espanholas. O título faz manchete na edição de hoje do Negócios, que acrescenta que a empresa de comboios está a trabalhar com os espanhóis da Renfe numa parceria que permita que os seus comboios possam ir em poucas horas até Madrid, Barcelona, Valência e Badajoz. Garanto ao leitor que li esta notícia no Jornal de Negócios e não no Inimigo Público.

O tenor português Luís Gomes venceu o Prémio Zarzuela e o prémio do público para melhor voz masculina, no concurso internacional de canto lírico Operalia, que decorreu no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. Esta competição já vai na sua 26ª edição e foi fundada por Placido Domingo. Emily D'Angelo e Pavel Petrov foram os grandes vencedores do evento.

Bem ou mal, a agenda mediática tem sido dominada pelas propostas políticas surgidas do lado da governação atual. Se este fim de semana foi a alteração nos passes sociais na região de Lisboa. Antes disso, já tinha sido a ideia de benefícios fiscais para atrair emigrantes de volta ao nosso país. A este propósito, este trabalho procura ouvir algumas opiniões precisamente daqueles que tiveram de deixar o país em procura de uma vida melhor.

Um cabo, fuzileiro da Marinha, foi apanhado a roubar material de construção de uma obra, com a ajuda da viatura de serviço.

Houve cinco violações em apenas uma semana na área da grande Lisboa.

E o Correio da Manhã de hoje revela que a criança raptada num parque infantil no Seixal e que depois foi encontrada terá sido violada pelo seu agressor.

Os Maias vão afinal continuar na lista de leituras obrigatórias do ensino secundário, revelou o Governo.

Lá fora,

A Alemanha dá mostras de querer ocupar o lugar de Jean Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e que vaga após as Europeias de maio que vem. Manfred Weber, líder do PPE no Parlamento Europeu, é o nome em que se aposta.

Ainda sobre o debate lançado precisamente pela Comissão Europeia, sobre o fim ou não da mudança da hora, o DN foi olhar para os impactos que a medida pode ter em termos de factura energética.

A uma semana das eleições, aumentam as preocupações de ver mais um movimento anti-imigração e xenófobo subir fortemente nas urnas. Desta vez a preocupação vem da Suécia, tradicionalmente um dos mais abertos e liberais países europeus.

Curiosamente, o DN de hoje revela um artigo de Wolfgang Munchau precisamente sobre o crescimento dos nacionalismos na Europa.

A polícia norueguesa está a investigar o desaparecimento de um dos sócios do fundador da Wikileaks, Julien Assange.

As cerimónia fúnebres do antigo senador norte-americano John McCain transformaram-se este domingo num verdadeiro evento político de resistência a Trump. The New Yorker explica porquê.

A justiça brasileira já se pronunciou e Lula da Silva não poderá mesmo candidatar-se às presidenciais brasileiras. Hoje, o antigo presidente, detido na prisão, vai encontrar-se com o número dois da sua candidatura, Fernando Haddad, para se definirem os próximos passos. O PCP aproveitou e fez este fim de semana um comunicado a manifestar-se contra a decisão da justiça brasileira.

O Governo de Acordo Nacional da Líbia, apoiado pelas Nações Unidas, veio este domingo decretar o estado de emergência na capital, Tripoli, após uma semana de intensos combates entre milícias rivais.

A taxa de mortalidade de migrantes no Mediterrâneo aumentou desde o início do ano. A rota entre a Líbia e Itália continua a ser a mais letal, revela o Público.

O presidente palestiniano Abbas revelou que a Administração Trump propôs a criação de uma federação entre a Palestina e a Jordânia como forma de resolver o conflito no Médio Oriente.

Os U2 cancelaram um concerto na Alemanha depois do seu vocalista, Bono Vox, ter perdido a voz durante o espetáculo. Ficamos à espera de perceber se o problema não vai afetar os concertos da banda irlandesa, previstos para este mês em Lisboa.

Ainda sobre Bono, vale a pena ler o artigo que o Expresso publicou este fim de semana, da autoria do cantor.

DESPORTO

Com mais ou menos dificuldade, este foi um fim de semana de vitórias para os três grandes no campeonato nacional (que agora sofre uma paragem para dar lugar aos jogos da seleção). Ontem, o FC Porto despachou o Moreirense em casa e o Benfica foi dar chapa quatro ao Nacional da Madeira. Aqui pode ler as crónicas da Tribuna relativas ao jogo dos azuis e brancos e dos encarnados. Lá fora, Mourinho, que tem estado na corda bamba, conseguiu vencer. Tal como Cristiano Ronaldo e a sua Juventus, apesar do português ainda não ter marcado.

No ténis, João Sousa está pela primeira vez da carreira nos oitavos de final de um torneio do Grande Slam de ténis. Hamilton não deu hipóteses aos Ferrari e venceu o Grande Prémio de Itália deste fim de semana

FRASES
"Passou a ser natural haver outro ritmo, outro tempo de intervenção política. Se quiserem, o tempo acelerou”, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre as rentrées e férias dos políticos

"Eu até antecipo que na próxima campanha eleitoral em Portugal nós vamos ver, pela primeira vez, de uma forma muito aberta o que é a política suja”, Francisco Louçã, na rentrée do BE

"O projeto de Santana Lopes é uma vontade de voltar a ter poder", Marques Mendes

O QUE ANDO A LER

Começo pela ordem inversa com as leituras das últimas semanas. Este sábado chegou-me às mãos a aguardada terceira obra do historiador israelita Yuval Noah Harari, que nos últimos anos se tornou um fenómeno mundial com os seus brilhantes “Sapiens” e “Homo Deus” (sim, estas são mesmo obras imperdíveis e daquelas em que se delicia com o que aprende sobre o mundo em que vivemos): “21 Lições Para o Século XXI” (da Elsinore).

Se nas primeiras obras, para resumir, Harari se dedicava a olhar para o passado da humanidade e para aquilo em que esta se pode tornar nos próximos 100 anos, neste novo livro olha para as grandes questões do presente. Da revolução tecnológica às fake news, do terrorismo aos populismos, das migrações à inteligência artificial - precisamente sobre inteligência artificial e o que se anda a passar no planeta, deixo ainda aqui o link do texto que publicámos na Revista do Expresso do último sábado.

Antes de Harari, andei entretido com três fantásticos romances de três fantásticos escritores, de estilos e origens também totalmente diferentes entre si. Comecei com “Baudolino” (da Gradiva) e a busca pelo reino mítico do Preste João, pela pena de um dos maiores intelectuais europeus, recentemente falecido, Umberto Eco. A seguir, “Ressurreição”, (Editorial Presença), o grande romance de Tolstói que ainda me faltava, e a história do príncipe Nekhliudov e da sua viagem ao mundo prisional da Rússia no século XIX. Finalmente, “Suttree” (Relógio d’Água), de Cormac McCarthy. Um italiano, um russo, um norte-americano. Literatura com L grande.

Se ainda está de férias ou simplesmente anda a pensar no que ler a seguir, acredito que estas podem ser boas sugestões.

Não é o que ando a ler, mas nestes dias de adaptação ao regresso ao ritmo do trabalho entreguei-me na Netflix a Jerry Seinfeld e às suas entrevistas em “Comedians in Cars Getting Coffee”. Recomendável para os fãs de Seinfeld, como é o meu caso.

Tenha uma excelente segunda-feira. Uma grande semana. E um fantástico mês de setembro. Nós andamos sempre por aqui.

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