quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

África | O golpe em Burkina Faso tem um pano de fundo geopolítico

Juan Agulló* | Rebelión

Na matriz do recente golpe em Burkina Faso (África Ocidental) estão a guerra contra a Al-Qaeda local e uma instabilidade geopolítica que afeta toda a região, o Sahel. Em 2014, como resultado desse conflito, uma missão militar francesa foi implantada na área, o que acabou provocando forte descontentamento popular. A Rússia, que deveria estar ocupada na Ucrânia, aparece nos bastidores

Limitar o que aconteceu desde o último domingo em Ouagadougou, capital de Burkina Faso, a um problema nacional é perder muito. Várias dinâmicas coexistem neste golpe de estado: uma renovação geracional é confirmada no exército burquinense (e, finalmente, nas elites dirigentes do país africano); O cansaço popular com os efeitos da longa guerra contra a Al-Qaeda no Magreb Islâmico é evidente, mas também acrescenta mais um capítulo à luta silenciosa que as grandes potências travam pelo controle do estratégico Sahel .

Na realidade, várias tramas convergem para um clássico golpe de Estado que, como o ocorrido recentemente no vizinho Mali, parece inaugurar uma tendência inquietante: a população civil aprova-o e longe de se manifestar em defesa da democracia, expressa-se em apoio do que considera uma forte medida contra a corrupção mas, sobretudo, contra a incompetência. De fato, anteontem em Ouagadougou - como há algumas semanas em Bamako (Mali) - milhares de manifestantes saíram às ruas . Todos eles são pagos ou intimidados? Duvidoso

A França, a antiga potência colonial, sabia o que poderia acontecer e sugeriu, segundo a imprensa da Costa do Marfim (outro país vizinho) , evacuar discretamente o presidente deposto, Roch Kaboré, embora ele tivesse recusado . O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse que nesta ocasião reagiria da mesma forma que no caso do Mali : recorrer à CEDEAO (a organização de integração da África Ocidental, à qual o Burkina Faso pertence) com vista, supõe-se, para promover um embargo regional contra o país do Sahel. Isso, Macron sabe, é letra morta.

O SUSTO DOS RESSUSCITADOS -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Se eu fosse deus não deixava morrer ninguém e ressuscitava todos os mortos. Depois logo se via, cada qual que se desenrascasse. Não contem comigo para a morte. Um deus sério tem que pensar em tudo e reconheço que sem morte, ficávamos sem espaço na Terra. E a ressurreição dos mortos também podia ter muitíssimos danos colaterais. As coisas ficavam tão complicadas que já estou arrependido de escrever se eu fosse deus.

Estamos todos vivos, mesmo os nossos mortos. Entro na sala da casa onde Agostinho Neto vivia, no Bairro de Saneamento, e ele está a ler um texto de opinião, hoje publicado no Jornal de Angola e assinado por Faustino Henrique. Cheguei no momento em que o Fundador da Nação lia esta parte, sobre a Doutrina Truman, presidente dos EUA, em 1947: “O mundo conhecia a divisão entre os que se aliavam ao Ocidente, livre, democrático e capitalista, e os que se encostavam ao Leste, sob regimes socialistas e totalitários”. 

As mensagens subliminares são terríveis. Vou descodificar. Para Faustino Henrique, os do Ocidente eram aliados, livres, democráticos e capitalistas. Os outros eram encostados, socialistas e totalitários. Como Angola não se juntou aos “aliados” nasceu como país “encostado”, socialista e totalitário. Agostinho Neto lia este insulto à nossa História, aos nossos Heróis e à nossa inteligência e dizia-me que não queria ser ressuscitado.

Faustino Henrique, na página de Opinião do Jornal de Angola, explicou-nos que o presidente do estado terrorista mais perigoso do mundo, Harry Truman, proferiu um discurso histórico ante as duas câmaras do Congresso, nesse ano mágico de 1947. E cita um naco das suas declarações:

“No momento actual da História mundial, quase todas as nações devem escolher entre os modos de vida alternativos... Um modo de vida é baseado na vontade da maioria [e] nas garantias de liberdade individual. O outro, depende do terror e da opressão, de uma imprensa e rádio controlados, eleições fixas e a supressão das liberdades pessoais. Os Estados Unidos vão apoiar os povos livres que resistem à tentativa de subjugação”. Nesta altura já todos os combatentes do MPLA que fizeram a luta armada de libertação nacional me exigiram que, como deus desde as chanas às alturas, os despachasse desta para pior.

NÃO CHEGA O PASSADO DE QUASE 50 ANOS DE NAZI-FASCISMO EM PORTUGAL?

No Chega o regresso ao passado conjugou-se com a adesão ao presente da barbárie neoliberal

Por que razão, nestas eleições legislativas, é importante o 3º lugar na ordem das votações? A resposta é simples: porque é isso que determinará que se consiga barrar eficazmente o caminho do partido da extrema-direita xenófoba, racista e anti-democrática que é o Chega.

Fernando Rosas*

Permitam-me, então, que entre diretamente no assunto que aqui me traz hoje: Por que razão, nestas eleições legislativas, é importante o 3º lugar na ordem das votações? A resposta é simples: porque é isso que determinará que se consiga barrar eficazmente o caminho do partido da extrema-direita xenófoba, racista e anti-democrática que é o Chega.

Afinal, o que é política e ideologicamente esse Chega que se esconde sob a verborreia oca, inconsistente e histriónica do seu bufão em chefe? A essência menos visível do seu ideário é, todavia, para levar muito a sério: repousa nas velhas conceções dos setores mais reacionários e conservadores da direita, nos últimos tempos desenterrados da sua falência histórica. A ideia de que a desigualdade, a injustiça social, a violência contra os mais fracos, o irredentismo imperial e a guerra, a hierarquia reprodutora do mando dos que sempre mandaram são fruto inalterável de uma ordem natural das coisas e das sociedades e, por isso, são realidades inelutáveis e que todos teriam que aceitar. Do que resulta um duplo efeito: 1. Para compensar a insegurança e a revolta que daqui decorreriam, seria necessário, diz o Chega, implantar uma ditadura e um Estado autoritário que tudo submeta. Ou seja, impõe-se um regime de repressão e suspensão permanente das liberdades públicas e dos direitos de cidadania; 2. Um tal regime, que o Chega defende, sobrepõe-se autoritariamente como força do destino, como determinação ontológica à livre escolha do cidadão, tanto na esfera pública como na privada.

Portugal | Segundo dia com mais de 65 mil casos covid-19 e 41 mortes registadas

Internamentos voltam a baixar

O boletim diário da DGS indica que Portugal contabilizou 65 706 novas infeções de covid-19 nas últimas 24 horas. Foram ainda declarados 41 óbitos, enquanto 64 doentes tiveram alta dos hospitais, sendo que sete deixaram os cuidados intensivos.

Foram confirmados, nas últimas 24 horas, 65 706 novos casos de covid-19, indica o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS). Este é o segundo dia consecutivo em que são registados mais de 65 mil novas infeções.

O Norte continua a ser a região que regista o número mais alto de casos, tendo chegado aos 27 594, seguido por Lisboa e Vale do Tejo (18 590), Centro (11 430), Algarve (2883), Alentejo (2713), Açores (1552) e Madeira (944).

O relatório desta quinta-feira (27 de janeiro) refere que morreram mais 41 pessoas devido à infeção pelo coronavírus SARS-CoV-2, sendo este o terceiro dia seguido em que morreram mais de quatro dezenas de pessoas em Portugal.

A maioria dos óbitos foi declarado em Lisboa e Vale do Tejo (17) e Norte (15), sendo que os restantes foram no Centro (4), Alentejo (3) e Algarve (2).

Os dados sobre a situação dos hospitais mostram que há agora 2249 internados (menos 64 que no dia anterior), dos quais 147 estão em unidades de cuidados intensivos (menos sete). Trata-se do segundo dia seguido em que baixa o número de doentes nos hospitais.

Há, contudo, o registo de mais 23 498 casos de pessoas que recuperaram da doença.

Com esta atualização, Portugal contabiliza, ao dia de hoje, 558 129 casos ativos de covid-19, diz o relatório da autoridade de saúde.

Portugal | DA CORAGEM DE NÃO SER PURO

Fernanda Câncio | Diário de Notícias | opinião

Quando aconteceu custou-nos a crer - tínhamos há tanto desistido dessa possibilidade que levámos tempo a aceitar que era verdade, que podia mesmo haver um entendimento à esquerda. Seis anos depois, vamos votar zangados - mas sem desistir.

“Só há duas formas de mudar um país - ter uma política diferente e ter mais de 50%. E se uma destas condições não existe então transforma-se em algo de inútil para disputar o poder. (...) Ter poder sem princípios não serve de nada. Mas ao mesmo tempo ter os princípios sem poder é igualmente inútil."

As palavras são de Marisa Matias, no início de 2015, numa entrevista a Pablo Iglesias, secretário geral do Podemos e ex vice-presidente do governo espanhol. Ouvi-as, recordo, com espanto, quando preparava um perfil daquela que mais tarde nesse ano seria anunciada como a candidata presidencial do Bloco: era a formulação exata do meu pensamento sobre aquilo que via, com impaciência, como a infantilidade tradicional dos partidos à esquerda do PS face à realidade - a resistência a sair do lugar confortável do protesto, a assunção de pureza irredutível dos que não se conspurcam nas negociações e nos compromissos, dos que não se rendem às vicissitudes da realidade.

Portugal | A GANGORRA DAS SONDAGENS


Henrique Monteiro | HenriCartoon

Portugal ‘covidado’: ENDOIDECEMOS? OU ESTAMOS QUASE TODOS DISTRAÍDOS?

As mortes por covid em Portugal estão acima da “linha vermelha”, mas não estamos a falar disso: “Toda a gente quer retomar a normalidade, a pergunta é a que preço”

Há mês e meio que os óbitos causados pela covid-19 estão acima da linha vermelha. A discussão sobre o valor que é aceitável vai ter especial relevo quando se assumir uma situação de endemia. Porque “falar de endemia não significa que um vírus desapareça ou que passe a ser inofensivo”. O Expresso falou com um especialista em saúde pública, um matemático e um psicólogo

Na matriz de risco da DGS, há muito que estamos no vermelho. O valor sem precedentes de novas infeções, impulsionado pela proliferação da variante Ómicron, fez disparar o nível de risco. No entanto, a pressão nos serviços de saúde está longe de atingir a situação crítica de há um ano, o que é um fator tranquilizador: de acordo com o último relatório das linhas vermelhas, a ocupação em cuidados intensivos fica-se por 60% do nível de alerta, a nível nacional.

Há, no entanto, um “indicador incómodo”: a mortalidade. Por dia, nas últimas duas semanas, a média de óbitos no boletim covid-19 é de 37,3 – um valor distante dos meses negros de janeiro e fevereiro de 2021, mas que ainda assim suscita questões. “O único elemento de referência que temos é o valor do ECDC [Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças]”, que traça a linha vermelha nos 20 mortos, em 14 dias, por milhão de habitantes, explica o investigador Tiago Correia. Portugal está claramente acima: a 19 de janeiro, de acordo com o relatório das linhas vermelhas da DGS, o valor era de 37,6, um aumento de 47% face à semana anterior. Assim acontece desde 10 de dezembro, com tendência crescente.

Apesar da experiência acumulada em cinco vagas e quase dois anos de pandemia, os números causados pela nova variante atual são difíceis de analisar. “A questão é que não temos termo de comparação para saber o que é uma mortalidade excessiva por covid ou o que é aceitável e vai ser normal”, afirma o professor de Saúde Internacional e investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa. Neste ponto, pondera-se já a passagem da pandemia para o nível de endemia – uma doença instalada na comunidade, mas com um padrão previsível, em que que alguns epidemiologistas até dizem que já nos encontramos.

Crise do custo de vida da Grã-Bretanha significa que,'viver' se tornará um luxo

Imagem: Reino Unido tem 14 milhões de pessoas vivendo na pobreza | ONU News (ver)

# Publicado em português do Brasil

Frances Ryan* | The Guardian| opinião

Um líder conservador diferente não salvará um sistema de previdência social falido. Precisamos de um novo estado de bem-estar de baixo para cima

A coisa sobre governos em crise é que eles têm pouco tempo para governar. Boris Johnson – uma vez rei do mundo, agora pato manco – é um primeiro-ministro consumido com sua própria sobrevivência. Fontes dizem que Johnson está motivado a manter o poder não para entregar uma agenda política urgente, mas para derrotar o ex-companheiro do Bullingdon Club, David Cameron: “Ele não aceitará que o último primeiro-ministro etoniano tenha sobrevivido mais do que ele”. Enquanto isso, no mundo real, as famílias britânicas estão prestes a enfrentar a pior crise de custo de vida em 30 anos e ficam esperando que alguém no poder perceba.

Para muitos, o dinheiro que sai está prestes a disparar, fazendo com que a entrada diminua em termos reais. A inflação subiu para 5,4% no mês passado, impulsionada por alimentos e roupas mais caros. As tarifas de energia estão aumentando e as contas de impostos também devem aumentar. Ao mesmo tempo, o aumento do crédito universal de £ 20 foi reduzido e os benefícios de desemprego estão prestes a atingir seu valor real mais baixo em mais de três décadas, uma taxa que os especialistas chamam de “apenas um pouco mais do que a miséria”. Os ministros podem alegar que o trabalho é a solução, mas são bons empregos, não qualquer emprego, que é um alívio; a maioria das pessoas que vivem na pobreza no Reino Unido no ano passado estavam em famílias trabalhadoras. A linha oficial pode ser que a pandemia acabou, mas isso também ainda está atingindo as finanças pessoais – basta perguntar ao aposentado clinicamente vulnerável que se protege em uma casa fria. O resultado de tudo isso é bastante claro: simplesmente sobreviver vai se tornar cada vez mais um luxo.

EUA | HILLARY, O REGRESSO?

O Director de um instituto de sondagens, Douglas E. Schoen, publicou uma coluna de opinião no Wall Street Journal para lançar a ideia de um retorno de Hillary Clinton ao cenário político [1].

A ideia é que o Presidente Joe Biden (79 anos, atingido pela doença de Alzheimer) não poderá concorrer novamente e que a sua Vice-Presidente, Kamala Harris, não consegue impor-se. Nem o Senador Bernie Sanders (80, doente do coração) nem a Presidente da Câmara, Nancy Pelosi (81) também poderão. A via está, pois, livre para a esposa do antigo Presidente Bill Clinton, e antiga Secretária de Estado.

Tendo o antigo Presidente Donald Trump deixado entrever este fim-de-semana que poderá também concorrer novamente poderíamos assistir em 2024 a um novo duelo Clinton-Trump.

Voltairenet.org | Tradução Alva

RÚSSIA E OCIDENTE: PERFURANDO A NÉVOA DA HISTERIA

#Publicado em português do Brasil

Pepe Escobar* | Strategic Culture Foundation

O erro fatal cometido por Bruxelas em 2014 foi forçar Kiev a fazer uma escolha impossível entre a Europa e a Rússia.

Um espectro assombra o Ocidente coletivo: zumbificação total, cortesia de uma operação psy 24 horas por dia, 7 dias por semana, imprimindo a inevitabilidade da “agressão russa”.

Vamos perfurar a névoa da histeria perguntando ao ministro da Defesa ucraniano, Reznikov, o que está acontecendo:

“Posso dizer com certeza que, até o momento, as forças armadas russas não criaram um grupo de ataque que pudesse fazer uma invasão forçada da Ucrânia.”

Bem, Reznikov obviamente não está ciente de que a Casa Branca, com acesso a informações indiscutivelmente privilegiadas, está convencida de que a Rússia invadirá “a qualquer minuto”.

O Pentágono se dobra: “Está muito claro que os russos não têm intenção agora de desescalar”. Daí a necessidade, expressa pelo porta-voz John Kirby, de preparar uma força multinacional de resposta da OTAN (NRF) de 40.000 soldados: “Se for acionado… para derrotar a agressão, se necessário”.

Portanto, “agressão” é um dado. A Casa Branca está “refinando” os planos militares – 18 na última contagem – para todas as formas de “agressão”. Quanto a responder – por escrito – às propostas russas sobre garantias de segurança, bem, isso é muito complexo.

Não há uma “data exata” de quando será enviado para Moscou. E os proverbiais “funcionários” imploraram aos seus homólogos russos que não o tornassem público. Afinal, uma carta não é sexy. No entanto, a “agressão” vende. Especialmente quando isso pode acontecer “a qualquer minuto”.

Os hacks “analistas” estão gritando que Putin “está quase certo” de realizar um “ataque limitado” nos “próximos dez dias”, completo com um ataque a Kiev: isso configura o cenário de uma “guerra quase inevitável”.

Vladimir Dzhabarov, primeiro vice-presidente do Comitê de Assuntos Internacionais do Conselho da Rússia, prefere se aproximar da realidade: os EUA estão preparando uma provocação para empurrar Kiev a “ações imprudentes” contra a Rússia no Donbass. Isso se relaciona com soldados de infantaria da República Popular de Luhansk relatando que “grupos subversivos preparados por instrutores britânicos” chegaram à área de Lisichansk.

Luminares como Ursula von der Leyen da Comissão Europeia, Jens Stoltenberg da OTAN e “líderes” do Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Polónia anunciaram, após uma videochamada, que “um pacote de sanções sem precedentes” está quase pronto se a Rússia “ invade”.

Eles o anunciaram como “unidade internacional diante da crescente hostilidade da Rússia”. Tradução: Otanstão implorando à Rússia para invadir o mais rápido possível

Da UE 27, 21 são membros da OTAN. Os EUA dominam tudo. Então, quando a UE anuncia que “qualquer agressão militar adicional contra a Ucrânia teria consequências muito sérias para a Rússia”, são os EUA dizendo à OTAN para dizer à UE “o que dissermos, vale”. E sob essa estratégia de ambiente de tensão, “o que dizemos” significa aplicar o dividir para governar cru e imperial para manter a Europa totalmente subjugada.

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