sábado, 6 de agosto de 2022

HIROXIMA 77 ANOS | Outra Hiroshima está chegando se não interrompermos agora


Hiroshima e Nagasaki foram atos de assassinato em massa premeditado, desencadeando uma arma de criminalidade intrínseca. Foi justificado pelas mentiras que formam a base da propaganda de guerra dos EUA no século XXI, lançando um novo inimigo e alvo – a China. 

John Pilger* - Publicado pela primeira vez em 3 de agosto de 2020 | Consortium News - traduzido em português do Brasil

Quando fui a Hiroshima pela primeira vez em 1967, a sombra nos degraus ainda estava lá . Era uma impressão quase perfeita de um ser humano à vontade: pernas abertas, costas dobradas, uma mão ao lado do corpo enquanto ela esperava um banco abrir.

Às oito e um quarto da manhã de 6 de agosto de 1945, ela e sua silhueta foram queimadas no granito.

Fiquei olhando para a sombra por uma hora ou mais, depois desci até o rio onde os sobreviventes ainda viviam em barracos.

Conheci um homem chamado Yukio, cujo peito estava gravado com a estampa da camisa que ele usava quando a bomba atômica foi lançada.

Ele descreveu um enorme clarão sobre a cidade, “uma luz azulada, algo como um curto elétrico”, após o qual o vento soprou como um tornado e uma chuva negra caiu. “Fui jogado no chão e notei que só sobraram os talos das minhas flores. Tudo estava quieto e quieto, e quando me levantei, havia pessoas nuas, sem dizer nada. Alguns deles não tinham pele ou cabelo. Eu tinha certeza de que estava morto.”

Nove anos depois, voltei para procurá-lo e ele estava morto de leucemia.

“Nenhuma radioatividade na ruína de Hiroshima” dizia uma manchete do New York Times em 13 de setembro de 1945, um clássico da desinformação plantada. “General Farrell”, relatou William H. Lawrence, “ nega categoricamente que [a bomba atômica] produzisse uma radioatividade perigosa e persistente ”. 

Apenas um repórter, Wilfred Burchett, um australiano, havia enfrentado a perigosa jornada a Hiroshima logo após o bombardeio atômico, desafiando as autoridades de ocupação aliadas, que controlavam o “pacote de imprensa”.

“Escrevo isso como um aviso ao mundo”, relatou Burchett no London Daily Express de 5 de setembro de 1945. Sentado nos escombros com sua máquina de escrever Baby Hermes, ele descreveu enfermarias de hospitais cheias de pessoas sem ferimentos visíveis que estavam morrendo do que ele chamou de “uma praga atômica”.

Por isso, seu credenciamento de imprensa foi retirado, ele foi ridicularizado e difamado. Seu testemunho da verdade nunca foi perdoado.

O bombardeio atômico de Hiroshima e Nagasaki foi um ato de assassinato em massa premeditado que desencadeou uma arma de criminalidade intrínseca. Foi justificado pelas mentiras que formam a base da propaganda de guerra dos EUA no século 21, lançando um novo inimigo e alvo – a China. 

Durante os 75 anos desde Hiroshima, a mentira mais duradoura é que a bomba atômica foi lançada para acabar com a guerra no Pacífico e salvar vidas.

Angola | JUSTIÇA PREMEDITADA E FORA DA LEI – Artur Queiroz

Carlos São Vicente foi condenado sem provas

Artur Queiroz*, Luanda

Noite agradável com restos de um Cacimbo ameno. Estou a jantar com duas pessoas acima de qualquer suspeita, o senhor Procurador-Geral da República e meritíssimos juízes desembargadores da secção da Câmara Criminal do Tribunal da Relação de Luanda. Eram exactamente 20 horas quando nos sentámos à mesa e depois da refeição ainda ficámos longo tempo a falar do espantoso desenvolvimento do Poder Judicial em Angola. Era quase meia-noite quando nos despedimos e cada qual foi à sua vida.

No dia seguinte, mal o sol nasceu, fui visitado por agentes da Investigação Criminal que me exibiram um mandado de detenção. Confrontado com as autoridades competentes, soube que era suspeito de ter assaltado o banco BFA na noite anterior, por volta das 21 horas. A minha reacção foi de alívio. A essa hora estava refastelado a jantar. E indiquei os nomes das pessoas que me acompanhavam e podiam testemunhar que à hora do assalto, eu estava a trincar uma cocha de galinha kabiri. Não se comoveram. Fiquei detido preventivamente porque havia o perigo de me transformar num príncipe encantado ou mesmo num monstro sagrado e desaparecer das vistas humanas.

O processo seguiu seus termos, fui acusado, julgado e condenado. Levei 10 anos de prisão por assalto à mão armada! As minhas testemunhas nunca foram ouvidas. No recurso, o meu advogado enumerou uma lista enorme de iniquidades e vícios processuais mas ninguém se comoveu. Por favor, pelo menos oiçam as testemunhas que jantaram com o suposto salteador naquele dia, à hora do assalto. Resposta de quem apreciou o recurso: “Não é preciso ouvir as testemunhas porque no processo existem provas abundantes contra o arguido!”

O meu advogado, um craque, recorreu para um Tribunal superior. Não perca tempo, senhor causídico! Esse traste leva mesmo a pedrada. E como nos deu muito trabalho, a pena vai ser agravada!

Tudo o que acabaram de ler é mera ficção. Mas existe mesmo o senhor Procurador-Geral da República, Também existem (desejo-lhes longa vida e muito sucesso profissional) os meritíssimos desembargadores do Tribunal da Relação de Luanda. Também é uma realidade dolorosa que o empresário Carlos São Vicente está preso acusado de várias crimes, como peculato, branqueamento de capitais e fraude fiscal. Condenado no Tribunal na Comarca de Luanda, recorreu para a Relação. 

Eleições em Angola: Partidos estreantes satisfeitos com a receção dos seus projetos

Prossegue em Angola campanha para eleições de 24 de agosto. As formações políticas com menos expressão estão satisfeitas pela forma como os eleitores têm recebido seus projetos e acreditam que vão obter bons resultados.

Satisfeitos e confiantes pela receção dos seus projetos de governação pelos eleitores. É assim que os políticos que participam pela primeira vez das eleições gerais caraterizam os primeiros 12 dias da campanha eleitoral.

As três formações políticas Aliança Patriótica Nacional (APN), o Partido Nacionalista para Justiça em Angola – (P-NJANGO) e o Partido Humanista Angolano (PHA)- distanciam-se da chamada bipolarização política, entre o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA) na oposição.

"Confiantes"

Laurinda Chingonga, porta-voz do Partido Humanista Angolano, afirma que o seu partido está satisfeito pelo acolhimento que os eleitores tem dados ao programa de governação do seu partido e está confiante em bons resultados.

"As pessoas estão a aderir em massa, a identificar-se com aquilo que é o nosso objetivo e discurso da nossa candidata. Está a ser uma experiência muito boa", disse.

O partido Nacionalista para Justiça em Angola (P-NJANGO), liderado pelo antigo dirigente da UNITA, Dinho Chingunji, destaca a adesão dos jovens aos eventos políticos organizados pelo partido como prova da aceitação das suas ideias políticas.

Também o partido, Aliança Patriótica Nacional, que tem à testa Quintino Moreira, ex-presidente da extinta Nova Democracia, também está otimista na obtenção de bons resultados nas eleições de 24 de agosto.

Em entrevista à DW, o vice-presidente daquela formação política, Noé Mateus, fala numa campanha acirrada onde as oito formações concorrentes procuram atrair os eleitores para os seus projetos políticos.

"Continuamos acreditar que o nosso país vai conseguir, mais uma vez, realizar de forma ordeira, disciplinada e exemplar, mais um pleito eleitoral", disse.

Angola | OS VALORES DA FAMÍLIA EM CHAMAS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O cabeça de lista da UNITA foi o porta-voz do bando armado de Jonas Savimbi até ao último tiro no Lucusse. Sofreu sanções da ONU por ser terrorista e belicista. Hoje vem com falinhas mansas pedir o voto aos descontentes (são muitos!), aos legitimamente frustrados, aos que viram goradas as suas expectativas ao longo destes cinco anos marcados pela crise internacional e pelos malefícios da pandemia COVID19. Todos têm razão para a frustração, o descontentamento e até para a raiva. Mas ninguém vai pôr um anel no focinho do porco votando no Galo Negro:  Nela ia ulu um kanu dia ngulu!

O candidato João Lourenço representa o MPLA de hoje e o de sempre. O Povo está com ele como sempre esteve com o MPLA. Por todas as razões e mais esta. Ele disse que as escolas, os hospitais, centros e postos de saúde construídos nos últimos cinco anos são de todos e servem todos os angolanos e não apenas os da sua cor política. 

O porta-voz do bando armado de Jonas Savimbi e cabeça de lista da UNITA disse que João Lourenço só faz promessas, não apresenta balanços da obra feita porque não fez nada. Teve resposta imediata. O líder do MPLA revelou ao eleitorado que no seu mandato, 472.000 famílias beneficiaram de energia eléctrica nas suas casas. Um milhão e meio de famílias passaram a ter água potável. As indústrias ficaram libertadas dos geradores e dos combustíveis. A iluminação pública garante mais segurança às comunidades durante a noite. 

O cabeça de lista da UNITA é que não tem balanços para fazer, só promessas e vãs. Anda a vender mentiras e ilusões porque mais nada tem para vender. Aquele que exultou com a destruição de Angola pelo bando armado de Savimbi, que confiscou o futuro a milhões de angolanos, hoje promete-nos um futuro melhor. 

Aquele que fez conferências de imprensa no estrangeiro onde anunciou, entusiasmado, que o bando armado de Savimbi ocupou dois terços de Angola, matou e escorraçou milhões de angolanos das suas terras de origem, hoje promete uma “agregação de valores” e que vai lutar pelo “resgate dos valores da família”.

Empresário angolano Álvaro Sobrinho terá mais álibis para escapar à justiça?

Segundo a justiça portuguesa, o ex-líder do BES montou um esquema ilegal que culminou no desvio de milhões de Angola. Investigadora crê que Álvaro Sobrinho continuará a usar todos os expedientes para escapar à justiça.

Num novo processo judicial tornado público há dias, o Ministério Público português acusa Álvaro Sobrinho pela alegada má gestão do extinto Banco Espírito Santo Angola (BESA), que levou a um buraco de 6 mil milhões de euros.

Outra acusação envolvendo o ex-banqueiro português Ricardo Salgado prende-se com a alegada burla do aumento de capital do Banco Espírito Santo (BES), em junho de 2014. Esta operação terá custado 3 mil milhões de euros ao BES de um crédito que a filial angolana nunca liquidou.

Cátia Miriam Costa, investigadora na área das Relações Internacionais do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (IUL), crê que Álvaro Sobrinho continuará a usar todos os expedientes, que a própria lei lhe garante, para escapar à justiça. 

"Teve de pagar uma das cauções mais elevadas da história da justiça portuguesa que lhe foi aplicada, mas ele encontrará mecanismos para ir prolongando este processo. Eu creio que o que vai acontecer é aquilo que tem acontecido em todo o caso do BES do universo do BES, que é tentar atrasar o processo", diz.

Na sua análise, Cátia Costa sustenta que é mera "coincidência" o surgimento do novo processo judicial quando decorre o processo eleitoral em Angola e que "afasta os holofotes de toda esta operação" no país.

"Parece que há até uma certa tolerância para com esta situação, que pode ser ilusória, porque agora estão a esgrimir-se argumentos eleitorais, porque existem outros processos em causa, porque existe até este diferendo depois da morte de José Eduardo dos Santos. Portanto, todas estas condicionantes poderão desviar a atenção da opinião pública", argumenta.

A académica portuguesa diz que a imprensa em Angola não tem dado grande relevo a este caso talvez porque o país enfrenta outros casos de corrupção com mais impacto a nível interno.

Portugal | IGREJA ANDA A TENTAR “ABAFAR” CASOS DE PEDOFILIA MAS NEGA

O título é esclarecedor e direto. A sensação dos portugueses que acompanham o escândalo de pedofilia na igreja face ao que vem sendo noticiado é que há os que na Igreja Católica Apostólica Romana de Portugal resistem o mais possível a ocultar a verdade e a existência de crimes de pedofilia praticados em pelo clero durante muitas décadas. O próprio cardeal patriarca Manuel Clemente “ocultou denúncia de abusos”, conforme notícia que dispomos em baixo.

Esse mesmo cardeal foi agora ao Vaticano encontrar-se com o Papa. Diz-se que para renunciar ao cargo… Era bom que assim acontecesse, para que ventos de decência bafejassem o escândalo e as claras tentativas de manobras cúmplices que se vislumbram para proteger a parte do clero pedófilo existente naquela organização clerical. O PR Marcelo disse acertadamente o que poderá ser melhor para a igreja que esconde os seus crimes: transparência. É o mínimo que se lhe pode exigir pois já basta a sua posição criminosa de ocultar a realidade das suas ações criminosas em Portugal fazendo de conta que por cá nada se passava apesar dos escândalos de crimes em tantos países do mundo, claramente imputados àquela igreja, a seus padres e bispos.

Outros países existem em que a referida igreja continua na resistência e negação de factos que à boca pequena são badalados e conhecidos, procurando escapar à limpeza e verdades que escondem entre batinas e trajes mais ou menos sumptuosos. É apontado que políticos e setor da justiça também poderão ser cúmplices. Não por acaso: E Timor-Leste como vai com a limpeza e verdade da sua libertação nos escândalos de pedofilia clerical. Já terá concretizado o que lhe compete?

Veja-se a seguir a notícia sobre o referido da situação em Portugal e do Cardeal de Lisboa no encontro com o Papa Francisco. De tudo o resto o que for soará... Ou não?

MM | PG


Manuel Clemente mostrou-se disponível para renunciar caso fosse esse o entendimento do Papa

Cardeal-Patriarca de Lisboa pediu reunião com Papa após notícias das últimas semanas sobre a questão dos abusos sexuais e colocou o seu lugar à disposição, segundo o Nascer do Sol.

Na conversa que manteve com o Papa Francisco esta sexta-feira, num encontro a seu pedido, o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, terá dito ao responsável máximo da Igreja Católica que se fosse necessário colocaria o seu lugar à disposição, avança o o jornal Nascer do Sol baseado em fontes próximas do bispo.

Manuel Clemente, que nos últimos dias foi alvo de várias notícias — depois de o Observador ter divulgado de que teve conhecimento de um caso de abusos sexuais por parte de um padre no ativo e que não denunciou à polícia (como as orientações do Vaticano obrigam desde 2020) — pediu uma audiência para tratar precisamente sobre o tema dos abusos em Portugal e o alegado encobrimento por parte da hierarquia da Igreja.

E nessa conversa, avança agora o Nascer do Sol, terá estado também a questão da sua continuidade no cargo. Clemente manteve, no entanto, a posição de que tanto ele como o seu antecessor, D. José Policarpo, cumpriram as orientações canónicas e civis em vigor à época, como aliás veio a dizer numa carta aberta que publicou no site do Patriarcado de Lisboa três dias após a notícia do Observador. Ainda segundo o Nascer do Sol, Francisco terá pedido a D. Manuel Clemente que permaneça no cargo até às Jornada Mundiais da Juventude, em agosto de 2023 se o seu estado de saúde permitir.

O patriarcado de Lisboa, sobre este tema, limitou-se a emitir um lacónico comunicado em que revela que o  “o encontro, pedido pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, realizou-se num clima de comunhão fraterna e num diálogo transparente sobre os acontecimentos das últimas semanas que marcaram a vida da Igreja em Portugal”.

É normal que os bispos reúnam com o Papa para tratar de assuntos diversos, no entanto, de acordo com os dados recolhidos pelo Observador, esta terá sido a primeira vez em que foi necessária a intervenção do Papa na crise dos abusos sexuais de menores na Igreja Católica em Portugal. Isto não significa, naturalmente, que o tema da proteção dos menores nunca tenha sido discutido antes entre o Papa e os bispos portugueses.

Desde 2020 que os padres são, segundo um manual de procedimentos emitido pelo Vaticano, obrigados a comunicar às autoridades policias todos os crimes de abuso sexual por parte dos membros do clero que lhes possam ser comunicados. No entanto, nem todos estes crimes são públicos e podem ser alvo de uma queixa sem ser pela inciativa da própria vítima ou pelo seu responsável, se for menor.

O crime de abuso sexual de menor de 14 anos é um crime público desde 2007 e qualquer pessoa que dele tenha conhecimento pode denunciá-lo. Já o ato sexual de relevo com menor entre 14 e 16 anos, segundo o código penal, depende de queixa da vítima ou do seu representante legal, salvo se dele resultar suicídio ou morte da vítima.

Sónia Simões | Observador

Ler em Observador:

Patriarca de Lisboa ocultou denúncia de abusos

Portugal | O VALOR DO EMPREGO PÚBLICO

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

É muito recorrente o discurso que desvaloriza o emprego público, que apresenta os trabalhadores da Administração Pública (AP) como pouco diligentes e privilegiados face aos do setor privado. Basta um pouco de reflexão, para se concluir que este discurso é injusto e é inimigo do Estado social de direito democrático.

55% do total dos trabalhadores que estão nas administrações públicas têm, no mínimo, licenciatura. No setor privado são apenas cerca de 20%. Para os governos disporem de trabalho técnico que sustente decisões acertadas e, acima de tudo, para os portugueses usufruírem de direitos com caráter universal na saúde, no ensino, na justiça, na segurança, na habitação, no sistema fiscal, na cultura, na proteção social, no apoio às empresas, é preciso fixar e aumentar o número de trabalhadores altamente qualificados. E a produtividade do emprego público devia medir-se pelos benefícios assegurados aos cidadãos, pois a sua atividade não é sobre produtos mercantilizáveis, com o objetivo do lucro.

Recentemente, o Governo aumentou em 52 euros o salário de entrada dos técnicos superiores, passando o valor para 1059,59 euros (estagiários) e para 1268,04 euros (licenciados). A remuneração dos doutorados foi um pouco mais valorizada, sendo agora de 1632,82 euros. Isto são privilégios? Não. São ajustamentos ainda insuficientes.

Nas comparações entre as condições de trabalhadores das categorias de assistente técnico e assistente operacional, com as de profissionais qualificados e não qualificados do setor privado, é preciso ter presente três factos: i) as estruturas do emprego e do sistema de qualificações dos dois setores são distintas; ii) no conjunto das administrações públicas há muitas funções de alto risco, como é o caso dos profissionais da Polícia ou dos militares, que devem ser compensados, o mesmo acontecendo com os que têm forte responsabilidade social; iii) o contrato de trabalho em funções públicas - que tem sido substituído por vínculos precários - assenta na necessidade de proteger os trabalhadores para que eles garantam aos cidadãos tratamento com equidade.

Alguns críticos dos trabalhadores da AP alcunham-nos de privilegiados por terem emprego certo. Já no tempo do fascismo se dizia, a propósito do emprego no Estado, "o salário é pouquinho, mas é certinho". Tal conceção confirma que a precariedade é velha, sendo retrógrada a ideia do emprego precário como modelo do futuro. A valorização do emprego público puxou pela melhoria dos direitos de todos os trabalhadores e contribuiu para uma sociedade mais inclusiva.

O atual retrato da Administração Pública é preocupante. As políticas de fundamentalismo orçamental impedem a sua modernização e o reforço das capacidades humanas. Em 2021, observou-se o número mais elevado de entradas e saídas na AP durante a última década, sendo um dos setores mais atingidos o da saúde. O envelhecimento dos trabalhadores aumenta - mais de quatro anos entre 2011 e 2020. A necessidade de rejuvenescimento até baixará a média salarial nos próximos anos, dado que os jovens são mais mal pagos. Entre 2009 e 2013, os trabalhadores da AP apenas tiveram dois ridículos aumentos salariais: 0,3% em 2020 e 0,9% em 2022.

Uma das áreas em que Portugal mais divergiu da União Europeia foi na política salarial para a AP. Prosseguir nestas práticas é alimentar a política de baixos salários e precariedade para todos, e criar obstáculos à existência de um Estado moderno.

*Investigador e professor universitário

Portugal | FAZER PRAIA EM CÉU DE CHUMBO? NÃO, OBRIGADO!

Nas imensas praias que rodeiam a capital, Lisboa, o céu de chumbo não tem dado tréguas. De manhã até a visita do vento muito "fresco" afasta os veraneantes e principalmente os banhistas, os "peixes" que adoram estar no mar durante horas.

O céu na imagem é testemunha de chumbo. Assim tem sido por quase toda a semana. Sol e temperatura mais amena só lá mais tarde. Prova de que isto está mesmo a mudar e as alterações climáticas estão a vencer. A memória de que as condições climatéricas como as desta semana se tivessem prolongado por tantos dias - parecendo que vão continuar - é escassa e para muitos nem tinha nunca ocorrido. Pois. Também achamos que não durante tantos dias seguidos. Lá se vão as férias de praia. E aqui fica o registo na Imagem Escolhida acima. Na praia da manhã até parece ser quase de noite. Assim não, obrigado!

Cuidado com as constipações. 

Consequências das provocações e sementeira da guerra dos EUA contra a China

Taiwan denuncia incursão de navios e aviões chineses e mobiliza tropas

Taipé denunciou hoje que os navios e aviões militares chineses voltaram a atravessar a linha média do Estreito de Taiwan num "possível ataque simulado" como parte dos exercícios anunciados por Pequim.

Numa mensagem publicada na sua conta oficial na rede social Twitter, o Ministério da Defesa Nacional da ilha disse que o alvo do ataque simulado seria um "bem de alto valor", sem especificar mais pormenores.

Em resposta, Taipé emitiu alertas e destacou patrulhas aéreas e navais, bem como ativou os sistemas de mísseis terrestres, tal como na sexta-feira, em resposta à "forte provocação" de "vários" navios e aviões chineses que atravessavam a linha média do Estreito de Taiwan.

Esta linha imaginária no estreito funciona como uma fronteira não oficial, mas tacitamente respeitada entre a China e Taiwan durante as últimas décadas.

Os movimentos do Exército de Libertação do Povo fazem parte dos exercícios militares desde quinta-feira, que incluem uso de fogo real e o lançamento de mísseis de longo alcance, e que vão continuar até domingo, numa retaliação de Pequim após a visita da líder da Câmara dos Representantes do Congresso dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.

Os exercícios decorrem em seis áreas à volta da ilha, uma delas a cerca de 20 quilómetros da costa de Kaohsiung, a principal cidade do sul de Taiwan.

Embora a China tenha realizado outros exercícios no Estreito de Taiwan nos últimos anos, os exercícios desta semana são diferentes porque "cobrem uma área maior, envolvem mais elementos militares e espera-se que sejam altamente eficazes", indicaram peritos de defesa chineses citados pelos meios de comunicação locais.

Taiwan descreveu a presença militar da China nas áreas como um "bloqueio", e a Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, chamou classificou de "irresponsável" a "ameaça militar deliberadamente elevada" da China.

A China, que chamou à visita de Pelosi uma "farsa" e uma "deplorável traição", reivindica a soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província separatista desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para o local em 1949, após perderem a guerra civil contra os comunistas.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Getty

COMO OS EUA APOIAM MILITARMENTE TAIWAN?

Governo americano é o principal apoiador militar de Taiwan e está aconselhando Taipei a comprar armamento projetado para mobilidade e precisão para combater uma eventual invasão marítima da China.

A China começou na quinta-feira (04/08) no entorno de Taiwan seus maiores exercícios militares em décadas, em resposta à visita da delegação de mais alto escalão do Congresso dos Estados Unidos à ilha em 25 anos.

A viagem liderada pela presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, foi criticada por alguns como um gesto arriscado e simbólico, em um momento em o realmente necessário é um trabalho mais de bastidores de Washington para reforçar as capacidades de defesa de Taiwan em face da crescente agressão chinesa.

"Devemos focar nosso relacionamento bilateral com Taiwan em ações discretas, mas altamente impactantes, que fortaleçam as defesas de Taiwan. Uma visita da presidente da Câmara dos EUA está perto do extremo oposto desse espectro", disse Kharis Templeman, especialista em Taiwan do Instituto Hoover, da Universidade de Stanford.

A presença avançada da Marinha dos EUA no Pacífico e no Mar da China Meridional serve como o principal obstáculo para a China na região.

De fato, nutrir a rede de alianças dos EUA na região do Indo-Pacífico foi o motivo declarado da viagem de Pelosi. Isso também envolve trazer países europeus, como a França e o Reino Unido, para participar das chamadas "manobras de liberdade de navegação" em águas internacionais que a China reivindica como seu território.

Tzu-yun Su, analista do Instituto de Defesa Nacional e Pesquisa de Segurança em Taiwan, disse que os exercícios militares da China pretendem ser uma "guerra psicológica estratégica" contra Taiwan, e um sinal de que Pequim quer "impedir que os militares dos EUA apoiem Taiwan".

Os Estados Unidos são o principal patrocinador militar de Taiwan, vendendo armas e tecnologia de defesa muito necessárias a Taipei. Por décadas, Washington vendeu armas para a ilha sob a Lei de Relações de Taiwan, que permite o fornecimento de armas "defensivas".

Desde 2019, Taiwan encomendou pelo menos 17 bilhões de dólares em equipamentos militares dos EUA, segundo o Defense News. Isso inclui um pedido de 8 bilhões de dólares por 66 caças F-16, ainda na gestão do ex-presidente Donald Trump - um dos maiores pedidos individuais de todos os tempos.

Em julho de 2022, o Departamento de Estado dos EUA aprovou a possível venda de "assistência técnica militar" no valor de 108 milhões de dólares para Taiwan. O Pentágono disse em comunicado que Taiwan solicitou peças de reparo para tanques e veículos de combate, armas pequenas, sistemas de armas de combate e itens de apoio logístico.

Em janeiro, em meio ao aumento das missões chinesas na zona de identificação de defesa aérea de Taiwan, o legislativo da ilha aprovou 8,6 bilhões de dólares extras em gastos com defesa, muitos dos quais provavelmente serão alocados para armas antinavio.

CHINA SUSPENDE COOPERAÇÕES COM OS EUA

Após visita de Nancy Pelosi a Taiwan, Pequim cancela colaboração em áreas como meio ambiente e defesa, e acusa Washington de minar sua soberania.

Após a piora nas relações entre Pequim e Washington, acirrada pela viagem a líder da Câmara dos EUA a Taiwan, a China anunciou nesta sexta-feira (05/08) que decidiu encerrar uma série de cooperações entre o país e os Estados Unidos em áreas como mudanças climáticas, políticas antidrogas e parcerias militares.

Os chineses prometeram adotar uma série de medidas para punir os EUA pela visita de Nancy Pelosi à ilha, que Pequim considera parte deu território.

As ações tiveram início com uma série de exercícios militares realizados em seis pontos da costa taiwanesa, que devem prosseguir até o domingo. A Defesa de Taiwan disse que mísseis chegaram a ser lançados por sobre a ilha.

A China costuma tradicionalmente protestar contra o fato de a província autogovernada manter contatos com governos estrangeiros, mas a reação à visita de Pelosi atingiu níveis sem precedentes, inclusive com o corte nas relações em uma série de áreas consideradas de grande importância.

As duas nações mais poluidoras do mundo se comprometeram no ano passado a acelerar nesta década as ações pelo clima, com reuniões bilaterais regulares para lidarem juntas com a crise climática.

Com o agravamento das relações entre Pequim e Washington, que atingiram o nível mais baixo dos últimos anos, esse e outros acordos estão ameaçados.

O Ministério Chinês do Exterior anunciou que o diálogo entre os comandantes militares regionais e dos Departamentos de Defesa será cancelado, assim como as conversações sobre a segurança militar marítima.

Também estarão suspensas as cooperações para o retorno de imigrantes ilegais, investigações criminais, crimes transnacionais, assim como ações conjuntas contra as drogas.

Defesa da soberania

A China acusa o governo de Joe Biden de atacar sua soberania, embora o presidente não tenha autoridade sobre a viagem de uma líder do Legislativo.

As reações chinesas vieram antes do congresso do Partido Comunista da China, onde o presidente Xi Jinping deverá receber um terceiro mandato de cinco anos para lidera o governo.

Com a economia do país enfrentado dificuldades, o partido governista reforçou o tom nacionalista e passou a lançar ataques diários ao governo de Taiwan, que se recusa a reconhecer a província como parte da China, no intuito de solidificar o apoio da população.

Deutsche Welle | rc (AP, AFP)

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