quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Angola | OS JORNALISTAS DO MEU QUADRO DE HONRA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Joca Luandense fazia um  muzongé com patas de galinha que era um luxo. Quando estava bem bebido sentava-se ao meu lado e ordenava: Escreve aí! Eu abria a minha hermes baby e escrevia o que ele despachava. Grandes crónicas! Únicas. Inigualáveis. Tudo se perdeu na precariedade da nossa vida de leões sem garras nem juba, escorraçados de todas as anharas. Muitos anos mais tarde conheci um repórter espantoso que usava mais ou menos a mesma táctica. Sentava-se ao meu lado e dizia: escreve aí mano! Grandes reportagens. Jornalismo de luxo. Pereira Dinis, um dos maiores repórteres angolanos de todos os tempos.

A sorte do repórter também é isto, conhecer profissionais de grande categoria. Na Emissora Oficial de Angola, uma redactora dava erros de ortografia muito graves. Um dia pedi-lhe para me consultar quando tivesse dúvidas sobre a forma de escrever determinadas palavras. Ela recusou. Eu tinha de perceber que as palavras se escrevem como cada um quer: És um quadrado, não mereces ser chefe! Ela depois fez carreira como jornalista em Portugal. Grande e merecido sucesso.

No Jornal de Angola criei quatro categorias de profissionais com os quais trabalhava todos os dias. Os que eram muito bons. Os que faziam grandes reportagens mas depois escreviam mal e organizavam a informação ainda pior. Os que escreviam bem mas não sabiam o que estavam a, escrever. E os que nem escreviam bem nem sabiam o que queriam escrever. Estes exigiam mais cuidados, consumiam mais tempo e atenção. 

Depois ainda existiam os excepcionais. Não sabiam escrever, não queriam saber e alinhavam as palavras por alturas. Alguns eram colunistas de grande sucesso. E continuam alegremente a massacrar quem tem de tornar os seus textos publicáveis.

Dito isto, li no Jornal de Angola uma peça assinada por Adebayo Vunge com um título na interrogativa, o que atropela as normas básicas do texto jornalístico: “E se o problema na TAAG for dos trabalhadores?” Mas isso nem se pergunta! Claro que se uma empresa tem pessoal a mais, a culpa é dos trabalhadores. Se a administração não respeita os recursos humanos da empresa, a culpa é dos trabalhadores. Se os salários são rastejantes, a culpa é dos trabalhadores. Se a gestão é abaixo de péssima, a culpa só pode ser mesmo dos trabalhadores. Se compram aviões como quem compra grades de cerveja, a culpa só pode ser dos trabalhadores.

Já sabia, meu caro Adebayo Vunge, que tu ias longe! Eu fiquei pelo caminho. Cansei-me de dar pérolas a porcos. Porque os suínos são cada vez mais e tenho cada vez menos pérolas para oferecer. Que alguém tenha sucesso na vida, nem que seja a escrever alegremente disparates como quem faz sexo oral ao filho do Cacau e à dona Ana Major. 

Aproveito para revelar que no meu tempo do Jornal de Angola, existiam grandes colunistas: Luís Alberto Ferreira, Arnaldo Santos, Fernando Costa Andrade (Ndunduma), Belarmino Van-Dúnem, Mário Pinto de Andrade, Filipe Zau, José Goulão. Todos excelentes. E depois tínhamos uma constelação de estrelas que escreviam com os pés e por sons. Mas nunca deixámos de publicar os seus hieróglifos. Ganhava a vida com o suor do meu rosto!

De repente as colaborações de alta qualidade desapareceram. Ficaram apenas os que tinham afinidades gramaticais com João Melo e o seu secretário de estado Celso Malavoloneke. Se eu tivesse juízo, no dia em que este energúmeno tomou posse, tinha o dever de romper com tudo o que cheirasse a poder do MPLA, enquanto ele estivesse no governo. Não tive coragem.

O Celso lançou sobre mim asquerosos ataques racistas no Semanário Angolense, quando o testa-de-ferro do pasquim era um bêbado da valeta, Graça Campos. O atacante racista era um produto acabado da UNITA, mas mais repugnante do que os galos negros originais. 

O edifício do Ministério da Comunicação Social tem sete andares e dois elevadores de serviço, Trabalham lá quase 300 funcionários. A medida mais importante que a dupla João Melo-Celso Malavoloneke tomou enquanto não foi corrida do poder foi esta: Um dos elevadores do edifício só podia ser utilizado pelo ministro e pelo secretário de estado. O outro era para o povo em geral. Parece mentira mas é verdade.

Um esclarecimento em nome da verdade toda. O João Melo sofre de claustrofobia, por isso ia para o gabinete pelas escadas. Portanto, o galo da UNITA tinha um elevador só para ele. Atenção. Estou a falar de um ministério do Executivo apoiado pela maioria parlamentar do MPLA. O racista desavergonhado, hoje é membro do comité central do partido. E faz figura de ideólogo. 

Faltas de respeito para com os trabalhadores, arrogância sem nome, ultrapassagem à UNITA pela direita, recrutamento de biltres como o Celso Malavoloneke e mesmo assim ganharam as eleições. É obra.

Hoje a TPA Notícias esteve quase uma hora a entrevistar um “perito” sobre a guerra na Ucrânia. A dona Úrsula von der Leyen quer um tribunal especial parra julgar os crimes de guerra cometidos pela Rússia. Como é? E o entrevistado. Pois é. Vem aí o holocausto nuclear. O presidente Biden avisou. A ponte da Crimeia a arder não justifica tanta violência dos russos. O Presidente João Lourenço falou ao telefone com o nazi Zekensky. 

Amigos, amigos, mas no fim ficamos ao lado do estado terrorista mais perigoso do mundo! Será que o MPLA ainda existe mesmo? Cá para mim é apenas um pesadelo

*Jornalista

Caso Lussati: Generais angolanos negam ter recebido malas de dinheiro

O general "Kopelipa" deve ser ouvido hoje em tribunal. O ex-chefe de Segurança de Angola é acusado de corrupção. Três outros gerais negaram acusações, apesar de um co-arguido reafirmar que entregou dinheiro aos oficiais

O antigo homem da segurança do falecido Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos, o general Manuel Hélder Vieira Dias "Kopelipa", é chamado como testemunha no mediático caso "Lussati".

Os arguidos são indiciados dos crimes de peculato, associação criminosa, recebimento indevido de vantagem, participação económica em negócio, abuso de poder, fraude no transporte ou transferência de moeda para o exterior, introdução ilícita de moeda estrangeira no país, comércio ilegal de moeda, proibição de pagamentos em numerário, retenção de moeda, falsificação de documentos, branqueamento de capitais e assunção de falsa identidade.

Nesta terça-feira (11.10), três generais foram ouvidos. Eusébio de Brito Teixeira, ex-comandante da Região Militar do Cuando Cubango e o general António Mateus de Carvalho "Dilangue", então comandante da Unidade Especial de Desminagem, negaram terem recebido malas de dinheiro. Afirmaram serem "inocentes" na história do enquadramento do pessoal fantasma na Casa de Segurança do Presidente da República, e negaram serem beneficiários  do remanescente da folha de salários dos efetivos da Casa Militar no Cuando Cubango.

Enquanto isso, o co-arguido, o coronel Manuel Correia, reafirmou ter entregue avultadas somas de dinheiro aos oficiais generais. 

Eusébio de Brito Teixeira exerceu as funções de comandante da Região Militar do Cuando Cubango e coordenador do Batalhão de Transporte e Desminagem no Cuando Cubango. O general António Mateus de Carvalho"Dilangue" foi o comandante da Unidade Especial de Desminagem do Zenza do Itombe.

Os dois foram arrolados como declarantes pela defesa do co-arguido Manuel Correia, antigo comandante do Batalhão de Transporte e Desmontagem,  que afirma ter dado em diferentes ocasiões várias malas de dinheiro às duas entidades militares.

Angola | O Fato do Casamento e um Mendigo com Sorte -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Festas de casamento, não frequento. Não vou ao meu funeral nem a nenhum. Mas às vezes temos de abrir excepções. Um dia a minha mana Lena Saraiva de Carvalho informou-me que o nosso Gigi ia casar e fazia questão que eu fosse à festa. Declinei o convite até porque ela sabia muito bem que não tenho roupa para essas coisas. Disse que me comprava a encadernação, mas tinha mesmo de ir. Até se ofereceu para me pagar a viagem entre Luanda e Pretória, onde ia decorrer a boda. O pai da noiva é o general Alexandre Rodrigues (Quito) na época embaixador de Angola na África do Sul. Não tinha escapatória.

Naquele tempo trabalhava de manhã até à madrugada e folgava um fim-de-semana de 15 em 15 dias. A festa calhou na minha folga. Em Joanesburgo fiquei num hotel que tinha ao lado uma grande superfície com roupa de categoria. Fui comprar o fato. Uma menina muito simpática ajudou-me a escolher o que “ia melhor comigo”. Era caríssimo. Fiquei com vontade de regressar a Luanda. Mas cedi. Ela ainda tentou vender-me uma camisa e um a gravata mas sem sucesso. No dia seguinte, à hora marcada, lá estava eu em Pretória, no local da boda. O Gigi quando me viu, correu a abraçar-me. Pela primeira vez na minha vida abracei a felicidade em pessoa.

Logo a seguir veio a noiva, resplandecente. Fomos fotografados. Eu de um lado, o Gigi do outro e a Tininha no meio, com uma auréola radiante. Guardo essa foto no livro que estou a ler. Agora é um perfil de D. António Barroso, uma obra editada em 1809. Muito importante para sabermos o que era Angola e Congo, naquele tempo. 

Indicaram-me uma mesa onde já estavam o comandante Xyetu, o comandante Kasesa (Mário de Almeida, médico) e o meu amigo do bairro da CAOP, Raul Hendrick, desportista, médico e general. Um convívio muito agradável mas que terminou cedo. Tinha que regressar a Luanda na manhã seguinte e não podia fazer uma noitada.

Quando saí do hotel levava um pequeno saco de viagem e o fato metido numa capa de plástico, pendurado num cabide. Nas imediações do hotel os mendigos pediam as suas migalhas de pão. E eu dei o fato a um deles. Recusou. Se a polícia me apanha com isso, diz logo que sou ladrão e prende-me. Um guarda do hotel testemunhou que o mendigo era mendigo mas não ladrão. O fato foi-lhe oferecido pelo dono. E assim me vi livre daquela encadernação.

Desse casamento resta a memória e a foto que tenho aqui. O Gigi faleceu. A minha mana Lena faleceu. Sei que a noiva radiante vive na África do Sul. Espero que sejas a mulher mais feliz do mundo, minha querida Tininha! Tu e os teus filhos.

Início de 1976. O comandante Tetembwa, pai do noivo, então comissário político do Corpo de Polícia Popular de Angola (CPPA) foi ter comigo ao Diário de Luanda e levou-me para o comando na Baixa. Era uma emergência. Quando chegámos ao seu gabinete, um jovem oficial entrou com um senhor civil, bem penteado e bem vestido. Tetembwa convidou-o a sentar-se num sofá. O jovem oficial retirou-se. E começou a falar:

Este senhor é o agente da PIDE que me montou a cilada lá no Leste. Fui a Benguela em serviço e quando saí do almoço, vi-o no passeio. Pedi a dois camaradas que o seguissem, sem lhe perderem o rasto. Ao fim da tarde fui a casa dele e trouxe-o para Luanda. Já contou tudo o que aconteceu naquela noite de traição. Chamei-te porque quero que ele repita à tua frente o que me contou a mim. E o homem contou. Mais tarde foi ouvido perante uma comissão. Ficou tudo muito claro. O comandante Tetembwa tinha sido vilmente atraiçoado e circulava a versão de que tinha traído!  

Até ao 25 de Abril de 1974 viveu em regime de prisão domiciliária na região de Banza Kitel-Kiminha. Mas nunca colaborou com o inimigo, Nunca apareceu na Voz de Angola apelando aos guerrilheiros do MPLA para se entregarem. Muita coragem. Muita força interior. Um comandante do MPLA! Depois de depor na comissão, o agente da PIDE (e do MPLA!) foi expulso de Angola.  Após a cilada, ele foi pago pela PIDE e enviado para Benguela com a mulher, com identidade falsa. Nunca imaginou vir a ter aquele encontro com o comandante traído.

A PIDE usou o comerciante de Cassai Gare como seu agente. Mas o MPLA também. Em 1972 Daniel Chipenda apareceu à frente de uma pretensa “revolta do leste”. A nível da direcção do MPLA todo o mundo ficou a saber quem era o agente duplo. Mas faltava saber quem foi o operacional da guerrilha que montou a cilada ao comandante Tetembwa. 

O comandante Ndalu um dia revelou-me que missão ia desempenhar na altura destes acontecimentos. Ele e um grupo numeroso de combatentes, bem treinados e bem armados, iam passar para Norte até ao Planalto de Malanje. A partir daí, as forças da guerrilha avançavam para a Baixa de Kassanje até atingirem a região de Kissama e Icolo e Bengo. Outra zona de infiltração fundamental era o caminho-de-ferro. Por comboio, Luanda estava a poucas horas de viagem dos guerrilheiros do MPLA. 

E pelo caminho existiam objectivos muito importantes como Lucala, Ndalatando, Dondo, Zenza, Catete até à capital. Se o comandante Ndalu tivesse êxito, a guerrilha de guerrilha ia avançar de uma forma radical. O colonialismo ia ser fustigado onde mais lhe doía.

ANGOSAT-2, O NOVO SATÉLITE ANGOLANO ENTROU EM ÓRBITA ESTA QUARTA-FEIRA

Angosat-2, o novo satélite angolano já está em órbita

Com o nome Angosat-2, o novo satélite angolano entrou em órbita esta quarta-feira, como previsto.

Chama-se Angosat-2, pesa duas toneladas e possui uma alta capacidade de transferência de informação. Com o novo satélite angolano, lançado esta quarta-feira (12.10), o Governo angolano promete colocar o país num lugar de destaque nas comunicações em África.

Já em órbita, o satélite foi construído pela russa ISS Reshetnev e transportado a partir do Cosmódromo de Baikanur, no Cazaquistão, tendo sido transportado pelo foguetão "Proton-M".

O satélite custou 320 milhões de dólares (cerca de 329 milhões de euros) e deverá possibilitar uma largura de banda de 13 gigabites em regiões onde chega o seu sinal, abrangendo a maior parte do continente africano e boa parte de Europa. 

Também se espera que Angola minimize as atuais dificuldades de acesso a comunicação.

EXÉRCITO MOÇAMBICANO DIZ QUE NAMPULA ESTÁ LIVRE DA AMEAÇA TERRORISTA

Comandante do ramo do Exército moçambicano diz que o objetivo da movimentação dos insurgentes rumo à província de Nampula era recrutar novos elementos.

"O movimento que o inimigo fez de Cabo Delgado para Nampula tinha o seu objetivo primário: o recrutamento de novos elementos e não a expansão", explicou à comunicação social Tiago Alberto Nampele, à margem do Conselho Superior Militar, encontro de dois dias que decorre em Nacala, na província de Nampula, norte de Moçambique.

Em causa estão os ataques registados no princípio de setembro em algumas aldeias e comunidades de dois distritos localizados no extremo norte da província de Nampula, na linha de fronteira natural com Cabo Delgado, incursões que provocaram pânico e que deixaram um número desconhecido de óbitos, incluindo uma freira italiana morta durante um ataque à missão católica em Chipene.

As incursões em Nampula provocaram um total de 47 mil deslocados, mas a maior parte voltou às suas zonas de origem com a melhoria das condições de segurança, segundo dados avançados à agência Lusa no início deste mês pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) em Nampula.

O “PARTIDO AMERICANO” EM ITÁLIA

Manlio Dinucci*

Os Partidos institucionais fazem campanha eleitoral não só na Itália, mas também nos Estados Unidos. O secretário do PD, Enrico Letta, em entrevista a um jornal norte-americano, declara: « Com a direita a Itália aproxima-se da Rússia, connosco aos EUA ». No mesmo jornal, o presidente da Copasir, Adolfo Urso, em visita a Washington, assegura que « para os EUA Giorgia Meloni (foto) é plenamente confiável ». Os partidos de todo o arco parlamentar concorrem assim para obter o consentimento de Washington, indispensável a qualquer governo que saia de eleições. Ao mesmo tempo agem de comum acordo quando se trata de aplicar as directivas de Washington. Por exemplo, a de boicotar o Tratado da ONU sobre a Proibição de Armas Nucleares, ratificado por 66 Estados e assinado por 20, mas boicotado pelos EUA e pela OTAN. Na reunião de Junho dos aderentes ao Tratado, a Itália, apesar de convidada, nem sequer participou como observadora.

Ainda em Junho, a 6ª Ala da Força Aérea Italiana em Ghedi recebeu o primeiro caça de ataque nuclear F-35A dos EUA que em breve estará armado com as novas bombas nucleares B61-12 dos EUA, prontas para serem usadas pela Força Aérea Italiana sob o comando dos EUA. A Itália viola assim o Tratado de Não-Proliferação ratificado em 1975, que afirma: « Cada um dos Estados militarmente não nucleares se compromete a não receber armas nucleares de ninguém, nem controlar tais armas, directa ou indirectamente ».

Como mais uma prova da sujeição da Itália aos EUA, em 15 de Setembro a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as causas do «desastre» do navio Moby Prince concluiu os seus trabalhos escondendo uma vez mais as verdadeiras causas do massacre ocorrido no porto Livorno, há mais de 31 anos, para cobrir um tráfico de armas feito na vizinha base dos EUA de Camp Darby. O mistificador relatório final, apresentado por Andrea Romano do PD, foi aprovado por unanimidade pelos representantes de todas os outros partidos. Em vez disso, a real dinâmica do massacre é mostrada neste episódio de Grandangolo por uma vídeo-investigação de candente actualidade, transmitida em 2016 pela Pandora TV de Giulietto Chiesa.

Manlio Dinucci* | Voltairenet.org | Tradução Alva

*Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016; Guerra nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra. Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.

GUERRA BOMBARDEIA A EUROPA

Francesco Cappello | em NATO EXIT

A guerra dos EUA contra a Rússia está atingindo os países europeus com muita força. A guerra, as sanções e a sabotagem visam cada vez mais aumentar a dependência europeia de Washington e boicotar as relações russo-europeias, ao mesmo tempo em que dificultam as relações com a China. Em vez do isolamento da Rússia, é alcançado o dos países da UE/OTAN. A sabotagem dos gasodutos foi um ato de guerra contra os países europeus. Eles viram o mundo inteiro de cabeça para baixo para tentar recuperar o terreno e restaurar a hegemonia perdida usando qualquer meio. Artigo de Francesco Cappello

#Traduzido em português do Brasil

Os EUA estão a privar a Europa Ocidental de qualquer possibilidade de fornecimento de gás a partir dos seus canais tradicionais. Não apenas o gás russo como alguns podem pensar ingenuamente (1). O gás liquefeito dos EUA é um chamariz europeu . Na verdade, eles não têm o suficiente nem mesmo para seus próprios usos internos.

A economia dos EUA também está em profunda crise. Lembre-se que a OPEP +, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, decidiu diminuir sua produção em 2 milhões de barris por dia; a diminuição da oferta tem como consequência um aumento previsível dos preços. Vai continuar por algum tempo com o gás acumulado nas reservas nacionais, mas as empresas europeias, já em dificuldades antes da guerra, encontram-se agora, desprotegidas, sob os bombardeamentos da guerra económica ...

Produção europeia em confinamento

Uma guerra económica que primeiro provoca uma redução da produção e depois cada vez mais encerramentos e falências. Muitas empresas, quando estão em condições de fazê-lo, migram (muitas vezes para os EUA). Milhões de empregos em risco. Em outras palavras, está em curso uma rápida desindustrialização da Alemanha e da Itália - as duas locomotivas da manufatura européia - que arrastará os demais países europeus para o vórtice da depressão. Os países europeus estão se afogando juntos sem conseguir se libertar uns dos outros enquanto afundam ... A economia desacelera muito rapidamente sujeita a sufocamento rápido e progressivo...

O processo inflacionário que consequentemente afeta a economia real é da pior espécie. Isso se deve à escassez daqueles bens cuja produção está desacelerando assustadoramente. Quando os bens, que não podem ser facilmente dispensados, estão em falta, seus preços disparam. A inflação, portanto, vem do lado da oferta e não do lado da demanda. O BCE, no entanto, aumenta o custo do dinheiro ao tratá-lo como se fosse a inflação causada pelo excesso de demanda ao mesmo tempo em que ameaça o fim do Quantitative Easing (PEPP) e a retomada das políticas de austeridade. Estas também são ações de guerra econômica contra os países da União e seus habitantes.

Rumo à depressão e superinflação

Os cenários que se abriram são de recessão tendendo à depressão com inflação crescente tendendo à superinflação. Colocar dinheiro, no entanto, em dívida, na economia só piora as coisas. Embora existam remédios muito importantes (ver, por exemplo, o plano de renascimento econômico), faltam forças políticas interessadas em promovê-los.

Outras armadilhas estão à espreita; colapsos do sistema bancário e do comissário do país usando instrumentos já preparados, como o ESM e similares , estão cada vez mais na agenda.

Do lado financeiro, as bolsas perderam cerca de 20%. A economia financeira está perdendo terreno apesar do apoio contínuo dos grandes bancos centrais que desde 2008 intervêm comprando ativos financeiros, apoiando-a artificialmente, mas até quando?

Quando a enorme bolha desinflar, os grandes investidores usuais (os super bilionários) vão tirar vantagem disso na debandada geral que será capaz de fazer um punhado de bens e riquezas que se tornaram insustentáveis ​​para a maioria.

ITÁLIA FORA DA GUERRA!

Devemos pedir em uníssono o fim das sanções contra a Rússia e trabalhar para o fim da guerra enviando diplomatas em vez de armas e dinheiro. Pare imediatamente de apoiaruma guerra que não poderia ser vencida claramente tem outro propósito: desindustrializar a Europa Ocidental e reverter suas relações econômicas/políticas com a Rússia e a China que, se deixadas ao seu desenvolvimento natural, teriam obscurecido a hegemonia dos EUA que, vice-versa, afirma reafirmar violentamente sua unipolaridade, enfrentando assim sua crise histórica diante de um mundo que agora é multipolar.

(1) O gás que chega via Áustria, bem como o da Argélia acusado de compra de armas da Rússia, está prestes a ser interrompido devido a sanções impostas pelos EUA; o fluxo da Turquia também está sujeito a sanções e o Azerbaijão compra dos russos para revendê-lo aos países do Leste Europeu que o revendem a preços patologicamente aumentados.

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G7 ALIMENTARÁ CONFLITO COM MAIS APOIO MILITAR A KIEV

Sustentabilidade de tais ajudas estão em questão

Global Times

Líderes do Grupo dos Sete (G7) convocaram uma reunião virtual na terça-feira para apoiar a Ucrânia após a escalada do conflito Rússia-Ucrânia. Observadores chineses acreditam que o Ocidente, de olho em uma prolongada guerra por procuração para esgotar a Rússia, continuaria a atiçar as chamas fornecendo mais armas à Ucrânia e deveria ser responsabilizado pelas atuais tensões crescentes. 

#Traduzido em português do Brasil

Observadores também disseram que um ponto-chave para a futura escalada do conflito está na atitude da Europa, e eles instaram a Europa a evitar se tornar um vassalo completo dos EUA para arriscar perder a independência e minar seus próprios interesses. 

O presidente dos EUA, Joe Biden, e os líderes do G7 realizaram uma reunião virtual na terça-feira para discutir seu compromisso de apoiar a Ucrânia e responsabilizar a Rússia por "agressão", incluindo seus recentes "ataques com mísseis em toda a Ucrânia", informou a Reuters. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, discursou na reunião e pediu ajuda para a criação de um escudo aéreo.

A reunião do G7 foi realizada depois que a Rússia lançou um ataque em larga escala contra alvos ucranianos na segunda-feira "em retaliação" por uma explosão mortal na ponte da Crimeia. Também ocorre em meio a uma iminente crise de energia na Europa que abalou sua unidade. 

Em relação à escalada das tensões do conflito Rússia-Ucrânia, Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, disse na coletiva de imprensa de rotina de terça-feira que os desenvolvimentos em andamento são preocupantes.

Ela disse que a China pede que as partes relevantes encontrem maneiras adequadas de lidar com as diferenças por meio do diálogo e da consulta, e que a China está pronta para trabalhar com a comunidade internacional e continuar a desempenhar um papel construtivo nos esforços de desescalada.

Um especialista de Pequim em estudos da Rússia, Europa Oriental e Ásia Central disse ao Global Times na terça-feira, sob condição de anonimato, que a reunião do G7 serve parcialmente para ajudar os EUA a reunir seus aliados em meio a rachaduras emergentes entre os EUA e a Europa e dentro da Europa com o escalada do conflito Rússia-Ucrânia, bem como o aprofundamento da crise energética. 

Enquanto isso, a reunião do G7 também visa desgastar a Rússia com apoio militar contínuo à Ucrânia, disse o especialista. Mais apoio militar à Ucrânia também será uma resposta do Ocidente ao ataque da Rússia a Kiev, disse o especialista.

EUA DESTRUINDO A EUROPA? SABOTAGEM DA ECONOMIA DA UE

Destruindo a Europa?  Washington está por trás da decisão da OPEP de cortar a produção de petróleo? Sabotagem da economia da UE

Peter Koenig e Press TV | Global Research - Entrevista da PressTV com Peter Koenig

As tensões estão esquentando entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita depois que a Opep liderada por Riad e os países produtores de petróleo aliados anunciaram um grande corte na produção. 

#Traduzido em português do Brasil

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, diz que o governo está trabalhando em estreita colaboração com o Congresso para revisar alternativas em relação aos laços com a Arábia Saudita. Isso é um dia depois que os 23 países, conhecidos como OPEP +, concordaram em reduzir a produção em 2 milhões de barris por dia a partir de novembro.

Os produtores de petróleo insistiram que querem impulsionar o mercado de petróleo que já sofre com a crise econômica global. Mas a decisão veio em meio à disparada dos preços da energia. Washington reagiu duramente à medida da OPEP +, chamando-a de “decisão míope”. Também prometeu reduzir o controle da Opep sobre os preços da energia. Os EUA alertaram o cartel do petróleo sobre as consequências incapacitantes de sua medida para a economia mundial.

As perguntas da entrevista se referiam à decisão da OPEP+ de reduzir a produção como instrumento para aumentar os preços, criar mais escassez de energia – tudo isso antes de um inverno frio previsto – e, assim, ajudar a mergulhar a Europa em um fiasco econômico.

E como o presidente Biden não conseguiu convencer a Arábia Saudita a aumentar a produção de petróleo da OPEP para manter vivas as economias de todo o mundo? Em vez disso, Washington pode estar acusando Riad de se aliar a Washington?

Respondendo, eu disse que isso era outra grande farsa; que Biden nunca tentou convencer a OPEP a aumentar a produção de petróleo.

Ao contrário, os EUA queriam destruir a Europa, e que melhor maneira de fazê-lo do que privá-los da energia que manteria a economia da Europa girando?

Ao fingir o contrário, Washington só queria garantir que eles fossem vistos como os “mocinhos”, querendo ajudar o mundo a obter energia suficiente para sustentar suas economias.

Aconteça o que acontecer nos dias de hoje, temos que colocar no contexto do Big Picture, e isso é quase sempre como a “Grande Reinicialização” ou a Agenda 2030 da ONU – suas situações desastrosas planejadas para a Europa e o mundo.

De fato, a redução da produção de petróleo da OPEP+ (2 milhões de barris por dia), se acontecer, será seguindo as instruções dos EUA. Washington é conhecida por dançar em vários casamentos ao mesmo tempo. Eles mostram isso o tempo todo.

Referindo-se à Segunda Guerra Mundial, como um dos exemplos mais flagrantes: os EUA estavam lutando oficialmente contra Hitler, ao mesmo tempo em que financiavam sua guerra contra a União Soviética. Com dinheiro diretamente do FED e com gasolina entregue pela Rockefeller's Standard Oil.

Hoje, estamos falando de um plano muito maior, conforme descrito no Great Reset, também conhecido como Agenda 2030 da ONU, visando uma Ordem Mundial, mergulhando todos os 193 países membros da ONU em um abismo de proporções inéditas. Associações de países, como o euro-bloco, bem como a soberania de países individuais, devem ser destruídas.

O plano é realmente devastar a Europa com a ajuda de dois dos políticos alemães mais corruptos e traiçoeiros, o presidente da Comissão Europeia e o chanceler alemão. Eles foram colocados em suas posições justamente por seu caráter traiçoeiro e falta de ética.

Ficou claro desde o início que os EUA / OTAN estavam por trás da sabotagem do Nord Stream 1 e 2, com o pleno conhecimento e aquiescência de Madame Ursula von der Leyen , e muito provavelmente também do Chanceler Olaf Scholz .

Afinal, há muitas evidências, incluindo Biden dizendo a um jornalista em 2 de fevereiro de 2022 que ele tem meios de interromper o fluxo de gás russo para a Alemanha e a Europa.

Veja a entrevista completa clique aqui para assistir no Youtube, 12 min.

*Peter Koenig  é analista geopolítico e ex-economista sênior do Banco Mundial e da Organização Mundial da Saúde (OMS), onde trabalhou por mais de 30 anos em todo o mundo. Ele leciona em universidades nos EUA, Europa e América do Sul. Ele escreve regularmente para jornais online e é autor de  Implosion – An Economic Thriller about War, Environmental Destruction and Corporate Greed; e   coautora do livro de Cynthia McKinney “When China Sneezes:  From the Coronavirus Lockdown to the Global Politico-Economic Crisis” ( Clarity Press – 1 de novembro de 2020).

*Peter Koenig é pesquisador associado do Centro de Pesquisa sobre Globalização (CRG). Ele também é membro sênior não residente do Instituto Chongyang da Universidade Renmin, em Pequim.

A fonte original deste artigo é Global Research

Copyright © Peter Koenig e Press TV , Global Research, 2022

Ler em GR - traduzir do inglês:

O senador Kyrsten Sinema foi comprado. “Outro democrata caiu por dinheiro”. Carta Aberta ao New York Times

DERROTAR O FASCISMO E REENCANTAR O BRASIL

Passado inspira, mas não mobiliza. Para vencer o pesadelo, há que trazer aos corpos e ruas a alegria e potência cultural do povo. No governo, Pontos de cultura, Caravanas e Festivais. Gerar milhões de empregos e afastar a unhaca paralisante

Célio Turino | Outras Palavras

Em um mundo desencantado, permeado pelo individualismo, desagregado nas relações de trabalho e comunidade, que promove competitividade, egoísmo e disputa entre as pessoas, só a Cultura pode salvar e reestabelecer relações e laços de solidariedade, respeito, criatividade e amor, entre as pessoas, comunidade, nação e povos. É a Cultura que dá sentido à vida. Quando falta sentido, falta esperança e triunfa o ódio.

Mas o amor há de vencer! O ambiente social e político do planeta, e particularmente do Brasil desde 2013, tem sofrido ataques contínuos de desumanização, desagregação das relações entre pessoas e cizânia social. Isso é resultado de uma ganância infinita, que está levando o planeta ao colapso. O Brasil está no epicentro desses ataques. É imperioso impedir que essa situação perdure, há que reencantar o Brasil e o mundo, e esse é o maior desafio à candidatura expressada por Luiz Inácio Lula da Silva. Não é uma candidatura que está em disputa, mas uma ideia que se expressa na estatura política, experiência e simbolismo do candidato.

Propostas e fórmulas antigas de fazer político, de programa e propostas de governo, já não dão conta dos desafios do momento. Ainda mais porque estamos em guerra, em uma Guerra Cultural eficientemente manipulada, até o momento, pelos inimigos da humanidade. Há que vencer essa disputa. É vencer ou vencer, não há outra opção. Enquanto eles deprimem e dividem a sociedade, através da mentira e da manipulação dos afetos tristes, como o medo, o desamparo, a ganância e o ódio, precisamos ativar os afetos da potência, como o amor, a alegria, a solidariedade e a criatividade. E fazer isso com propostas muito claras, diretas, exequíveis e demonstráveis. Não há mais tempo a perder! Há que chamar a sociedade para colocar em cena toda sua capacidade de agir e transformar o mundo. Pelo bem das pessoas, pelo bem do Brasil, pelo bem do planeta e todos os seres que habitam a nossa Casa Comum.

As propostas

I. Pontos de Cultura

5 mil Pontos de Cultura a partir de abril de 2023, com transferência anual de R$ 120 mil para cada organização cultural de base comunitária, abrangendo todo o território nacional, de favelas a coletivos de cultura digital, de culturas ancestrais a coletivos de arte de vanguarda, de grupos de jovens à comunicação comunitária, de grandes cidades a pequenos municípios, aldeias indígenas, assentamentos rurais e quilombolas. Pontos de Cultura a integrarem a identidade e a diversidade cultural brasileira, a Cultura Viva e a Cultura do Encontro, a música, a dança, o teatro, as artes visuais, a difusão científica e os saberes ancestrais e comunitários, o audiovisual, a mídia livre, a memória, o livro e a leitura, a literatura. Pontos de Cultura em todas as suas possibilidades e categorizações: Pontos de Memória, Pontos de Mídia Livre, Pontos de Leitura, Pontinhos de Cultura para a cultura da infância. Pontos de potência a ativarem as energias criadoras de nosso povo.      

É possível, é viável, já realizamos e comprovamos a eficácia. Entre 2004 e 2010, alcançamos 3.500 Pontos de Cultura no Brasil, em 1.100 municípios, beneficiando 9 milhões de pessoas, em sua maioria, jovens. A partir de 2011 essa experiência se espalhou pelo mundo, sobretudo na América Latina, e está presente em duas dezenas de países. Até o Papa Francisco a conheceu e é entusiasta, exatamente pelo que o Ponto de Cultura expressa enquanto estimulador da autonomia e protagonismo sociocultural das comunidades e no exercício da Cultura do Encontro.

A partir dos 5 mil Pontos de Cultura em 2023 poderemos retomar a meta do Plano Nacional de Cultura de 2010, que previa 20 mil Pontos de Cultura até 2026 a serem alcançados ao final de quatro anos de governo Lula. Com essa meta atingiremos a cobertura de ao menos um Ponto de Cultura por município, 60 milhões de pessoas diretamente beneficiadas, dos quais, 6 milhões de jovens em oficinas e atividades culturais regulares e 200 mil postos de trabalho (dados IPEA/2009 medindo o impacto de um Ponto de Cultura por comunidade).

CUSTO PARA 2023: R$ 600 milhões (R$ 120 mil por Ponto de Cultura)

FASCISTAS, VÃO PARA A VOSSA TERRA!

Para quê tentar fazer desta terra “grande outra vez” se podem fazer uma que seja grande desde o começo?

Madalena Sá Fernandes* | Público | opinião

Trump gravou um vídeo a apoiar Bolsonaro onde diz: “Ele é um líder fantástico. É respeitado por todos em todo o mundo.” Estou habituada a ouvir o antigo presidente americano fazer declarações que não têm nenhuma correspondência com a realidade, mas esta deu-me uma ideia.

Sei que parte da estratégia de Trump é repetir tantas vezes uma mentira, e com tanta convicção, que ela acaba por tornar-se verdade. Fazer com que o homem que disse que as vacinas nos poderiam transformar em jacarés seja admirado por todas as pessoas do mundo parece-me um processo trabalhoso. Mas eu tenho uma sugestão.

A quantidade de vídeos de líderes da extrema-direita um pouco por todo o mundo a apoiarem Bolsonaro, uma espécie de “vamos dar as mãos e cantar uma canção”, fez-me sonhar com a união de todos eles. Mas longe daqui. Estas trocas de afectos e de elogios, e a confusão entre os seus anseios pessoais e políticos e as necessidades do mundo, pôs-me a pensar se não seria mais fácil, em vez de tentarem tão activamente destruir a terra, irem inaugurar outra e fazerem por lá o que bem entenderem.

Trump refere-se a um qualquer mundo onde a totalidade das pessoas respeita e admira Bolsonaro. É visível por esta e por tantas outras afirmações de Trump e afins que já existe, na cabeça deles, um outro mundo, um mundo muito próprio, onde coabitam. Resta mudarem-se para lá. Por outras palavras: Fascistas, vão para a vossa Terra! Ela espera por vocês. E pode ser feita à vossa medida, ao contrário desta aqui que, parecendo que não, ainda tem muitas liberdades. Para quê tentar fazer desta terra “grande outra vez” se podem fazer uma que seja grande desde o começo?

Convenhamos que a pátria de que falam não é tanto o próprio território, como querem alegar, quanto os ideais que partilham. E esses podem ser implantados em qualquer outro sítio. Sugiro que longe desta imundice aqui que lhes ia dar uma trabalheira a limpar.

A minha sugestão, que transformarei num exercício lúdico e infantil, seria juntarem-se todos numa nave. Trump, Bolsonaro, Ventura, Le Pen, Orbán, Putin, Salvini etc., partiriam em excursão, como as da escola. Imagino-os com chapéus coloridos onde estava escrito “Deus Pátria e Família”. Felizes, a entoar cânticos vários, liderados por Bolsonaro no banco de trás: “Imbrochável, imbrochável!”, apoiado pelos urros da bancada parlamentar do Chega. Nas mochilas levariam um lanche e uma arma.

Temas de conversa não iriam faltar. Esgotados os elogios salientando as qualidades de liderança de uns e de outros, poderiam rir-se dos pacóvios que acreditaram que quiseram algum dia combater a corrupção, enquanto revelavam os respectivos esquemas de lavagem de dinheiro e de corrupção que usam. A energia gasta na bajulação e companheirismo rapidamente se esgotaria. E passariam então aos projectos de construção da sua Terra prometida.

Talvez se apercebessem logo na viagem de que não têm um plano concreto além de odiar, e que isso se torna mais complicado se não tiverem o que odiar.

Sem mulheres para maltratar, sem ninguém para mandar castrar quimicamente, sem minorias para matar, sem a Amazónia para destruir, sem imigrantes para mandar embora, sem orientações sexuais para hostilizar, sem terras para invadir e subjugar, restaria apenas um doloroso vazio.

Talvez começassem a entrar em pânico ao perceber que não são nada sem os objectos do seu ódio. Rapidamente se voltariam uns contra os outros. Começariam por insultar-se e acabariam por pegar nas armas.

A nave iria explodir. De cá de baixo, da terra, poderíamos assistir à explosão a iluminar o céu. E debaixo desse fogo-de-artifício, falo por mim, seria muito difícil não dançar.

* Licenciada em literatura, trabalha em Gestão de Redes Sociais

ESTAMOS QUILHADOS!

Bom dia. A seguir vai poder ler o Curto do Expresso, resultado do jogo de palavras da jornalista eloquente Isabel Leiria, lá do burgo do tio Balsemão, Impresa, Expresso, SIC e outros filhotes. Um império, uma Fábrica de Ideias e Distorções à medida dos guiões Bilderberg e afins. Muitos, parece que a maioria, vão atrás disso pela larga avenida dos parolos e idiotas. Mas é assim. A inundação de lavagens ao cérebro é o que cada vez mais nos ataca. E lá vamos na onda. Faz parte, excepto aos que são diferentes, desassossegados e põem em causa tudo, todos e eles próprios. Adiante.

O Curto refere a guerra. Aquela em que os EUA mandataram os seus lacaios europeus com cargos de monta na UE antes e depois de passarem a procuração à Ucrânia para se abespinhar contra a Rússia com os seus magotes de nazi-fascistas assassinos. Depois do golpe de Estado foi um acelerar de ataques à Rússia e às populações. A história é longa e muito divulgada se souberem procurar nos sítios certos. Está por aí na net tudo que podemos aprender, esclarecer ou recordar. Certo é que por arrasto a Europa também acabou por ser levada para uma guerra que a está a destruir e a gerar mortes horrendas, fome e miséria. Com a escalada tudo vai ser ainda pior por cá, pela Europa. Olhando para os EUA vimos que estão a ganhar do bom e do melhor com esta tal guerra contra a Rússia e a Europa sem excepções. São os povos europeus que sabem bem que é assim. A palavra de ordem é sofrer em prol da hegemonia dos EUA. Assim, a Europa não é mais nem menos que uma flagrante colónia dos EUA. Depois de tanta mortandade, destruição e desgraça que tal a UE exigir que as questões sejam resolvidas diplomaticamente e sem mais interferências e venenos dos EUA? Proposta ingénua? Talvez. Afinal os execráveis senhores das guerras e dos roubos aos povos existem e ocupam altos cargos  de ambos os lados do Oceano Atlântico, nos EUA, na UE, no Reino Unido. Por isso mesmo tudo isto pode vir a redundar no nuclear. Fica claro que não é nem a Rússia nem a China que são inimigos do Ocidente mas sim os EUA e os lacaios que na Europa os servem no objetivo de os elevar a completamente donos do mundo, do planeta e, se possível, do cosmos e de outros planetas. Felizmente que acertadamente existem terráqueos que acreditam que os EUA nessa parte se vão dar muito mal... E todos nós neste planeta Terra também. Dai tempo ao tempo.

Avancemos porque se faz tarde. 

No Curto vêm aí temas como o OE 2023. Assim se vê como o PS usa o S de Saqueador dos que trabalham e não de Socialista. A famigerada inflação é palavra de ordem, o FMI também aqui consta e os cúmplices dos ladrões-mor (que ladrões são) içam os chicotes do esclavagismo para desancar a ralé produtiva e fazê-la viajar aos trabalhos e sobrevivência forçada, desumana.

No Curto o título inclui que ainda está por vir o pior. Pois está. Se os povos continuarem a deixar-se manipular. Tempo de frontalmente se saber dizer e pôr em prática: abram os olhos mulas!

Avancemos. O Curto já a seguir. Por falta de melhor pergunte-se: o que é que eles e elas andam a aprender nas universidades? Desumanidades? Contemplações doentias dos seus próprios umbigos? O quê?

Estamos quilhados!

MM | PG

Portugal | MEDINA SABE O QUE ESTÁ A FAZER?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Desde 2010 que pagamos mais impostos para salvar as contas do Estado. Foi uma emergência. O Orçamento do Estado para 2023 devia agora responder a outra emergência: salvar as contas dos que defenderam o Estado em 2010. Não é isso que está a acontecer.

Que realidade é que este governo está a ver para negociar um acordo de Concertação Social a quatro anos que quase nada dá aos trabalhadores - e o pouco que promete já prevê que não será cumprido, ao depender de uma evolução positiva da economia?... (E como é que a UGT assinou aquilo?!...)

Que realidade é que este governo está a ver para fazer um Orçamento com o pressuposto de apenas 4% de inflação em 2023 (ninguém acredita, nem o Presidente da República!...)?

Que realidade é que este governo está a ver para achar suficiente enfrentar a subida dos juros à habitação com uma manobra inócua no IRS e uma paternal recomendação ao povo: "Negoceiem com os bancos!"?...

O busílis é este: não se analisou seriamente a hipótese de responder à crise corrente com uma maior ambição nas metas de aumentos salariais.

Se a subida salarial tivesse acompanhado a inflação desde 2010 até ao ano de 2020 quem, antes da chegada da troika, recebesse 899 euros mensais (o salário médio da altura) e tivesse o salário atualizado todos os anos deveria estar a ganhar, uma década depois, 1506 euros. Na verdade, o salário médio dos portugueses em 2020 foi, apenas, de 1042 euros.

Houve, portanto, uma perda média de poder compra do lado do trabalhador, ao fim de 10 anos, de 464 euros mensais nominais. É muito.

Até aceito que fosse irrealista, dada a sucessão de crises (dívida soberana, austeridade imposta pela troika, pandemia e, agora, guerra na Europa), manter no país uma subida salarial que respeitasse escrupulosamente uma regra de acompanhamento da inflação.

Mesmo assim, qualquer mente sã compreende que o fosso cavado entre o que se ganhava em 2010 e o que se recebe hoje em dia é demasiado profundo - e a injustiça disto é amargamente ressentida pela sociedade e refletida no voto zangado.

Esta política de empobrecimento de trabalhadores só foi parcialmente contrariada nos anos da "geringonça", que registaram um aumento médio anual do salário médio de 2,6%, contra uns escassos 0,3% registados nos anos de Passos Coelho.

Oiço imensa teoria económica papagueada há imensos anos a defender essas políticas de baixos salários "para melhorar a competitividade", dizem.

Por acaso, ó ironia, nessa década o país só teve crescimentos acima de 3,5% do PIB no quinquénio final, precisamente quando o salário médio mais cresceu. Se esses cinco anos consecutivos (interrompidos em 2020 pela pandemia e pelo fim da "geringonça") não servem, pelo menos, para duvidar, para problematizar, para refletir um bocadinho sobre todas essas certezas absolutas, então não posso confiar na sanidade desses raciocínios.

Por acaso, ó contradição, se olharmos para a década de Cavaco Silva, de 1985 até 1995, quando houve um ano em que o salário médio até subiu 19%, temos, coincidentemente, o período em que o valor do PIB português mais subiu em democracia, algumas vezes acima de 20% - também este facto não abala as certezas desta gente?....

Talvez pudessem admitir que a economia portuguesa se afunda se não tiver uma população com um poder de compra minimamente aceitável?...

Acham que o país se aguenta quando as pessoas continuarem, depois de dois anos de pandemia, a cortar nas despesas de restaurante, no "take away", na compra de jornais, num novo telemóvel, numa substituição da velha máquina da roupa, na casa alugada para férias, nas roupas, na farmácia, nos cosméticos, no automóvel?

E o que vai acontecer à economia, às empresas, quando as famílias, como já está a acontecer, aflitas, cortarem até nos consumos mais primários e mais básicos? Quando já decidem comprar um pão mais pequeno?... E quando deixarem de pagar a prestação da compra da casa? E quando as empresas, sem vendas por falta de consumidores, despedirem em massa?...

A folha de Excel do ministro das Finanças até deve estar certa, mas não corresponde à interpretação política correta do estado em que o país se encontra - agora, no meio desta guerra e desta inflação, as contas certas são relevantes, mas não podem ser o mais importante: prever um défice de apenas 0,9% e deixar o país na fronteira da fome é mesmo aviltante.

Fernando Medina e António Costa deviam ir a um grande hipermercado, sábado de manhã, falar com as pessoas que lá estão. Talvez assim percebessem, finalmente, que os salários têm mesmo de subir mais e que o acordo de concertação e o Orçamento que fizeram, simplesmente, não prestam.

*Jornalista

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