Nuno Ribeiro, em Madrid - Público
Sete colunas do movimento 15M, assim designado por a sua primeira iniciativa ter sido a manifestação de 15 de Maio, terão entrado ontem em Madrid rumo à Puerta del Sol. Oriundos de toda a Espanha, 535 "indignados" percorreram a pé ou de bicicleta centenas de quilómetros, levando as suas reivindicações a pequenas localidades numa caminhada de mais de um mês. Hoje, o protesto aumenta, com a chegada de 30 autocarros e a mobilização nos bairros da capital.
"Fizemos uma média de 25 quilómetros por dia." Esgotada, Paula, galega de Vigo, 24 anos, licenciada em Publicidade e Relações Públicas, sem trabalho mas com esperança, relata a epopeia, enquanto descansa o corpo franzino sobre a relva do Parque Colón, de Majadahonda, nos arredores de Madrid.
É a parte avançada da coluna do Noroeste, que reuniu a indignação da Galiza, Astúrias, e das cidades de Salamanca, León, Benavente, Zamora... que, ao princípio da tarde de sexta-feira, espera a chegada dos resistentes.
Paula foi evacuada para descansar. A seu lado, com o tornozelo mal tratado, está Alberto, metalúrgico desempregado de A Corunha, 32 anos. Ao pé-coxinho dá voltas ao camião Unimog, o veículo emblemático da coluna que partiu de Santiago de Campostela em 24 de Junho. "Isto tem de mudar, há que aproveitar este momento, estamos a fazer uma coisa nova", relata. "Estou ansioso por amanhã [sábado] e por domingo, vai ser muito bonito", antevê com um esgar de dor. Paula ampara-o. Ele sorri.
"Fomos bem recebidos nas pequenas povoações que estão mais isoladas e os meios de comunicação só desinformam", prossegue Alberto. Olha-nos fixamente. Testa a reacção. Paula intervém: "Há meios de comunicação e meios de comunicação, os piores são as televisões."
Não tem emprego, mas um sentido apurado de relações públicas. E uma boa capacidade de síntese. Da viagem recorda uma pequena terra: "Castronuevo, em Zamora, onde há três anos não têm água potável, descobri um país diferente, não pensava que houvesse tanta pobreza, pois vivemos num suposto Estado de bem-estar." O uso de fertilizantes químicos contaminou as águas subterrâneas de que se abastecia a população. "Agora só com camião-cisterna", conclui.
"Isto não funciona bem"
É a parte avançada da coluna do Noroeste, que reuniu a indignação da Galiza, Astúrias, e das cidades de Salamanca, León, Benavente, Zamora... que, ao princípio da tarde de sexta-feira, espera a chegada dos resistentes.
Paula foi evacuada para descansar. A seu lado, com o tornozelo mal tratado, está Alberto, metalúrgico desempregado de A Corunha, 32 anos. Ao pé-coxinho dá voltas ao camião Unimog, o veículo emblemático da coluna que partiu de Santiago de Campostela em 24 de Junho. "Isto tem de mudar, há que aproveitar este momento, estamos a fazer uma coisa nova", relata. "Estou ansioso por amanhã [sábado] e por domingo, vai ser muito bonito", antevê com um esgar de dor. Paula ampara-o. Ele sorri.
"Fomos bem recebidos nas pequenas povoações que estão mais isoladas e os meios de comunicação só desinformam", prossegue Alberto. Olha-nos fixamente. Testa a reacção. Paula intervém: "Há meios de comunicação e meios de comunicação, os piores são as televisões."
Não tem emprego, mas um sentido apurado de relações públicas. E uma boa capacidade de síntese. Da viagem recorda uma pequena terra: "Castronuevo, em Zamora, onde há três anos não têm água potável, descobri um país diferente, não pensava que houvesse tanta pobreza, pois vivemos num suposto Estado de bem-estar." O uso de fertilizantes químicos contaminou as águas subterrâneas de que se abastecia a população. "Agora só com camião-cisterna", conclui.
"Isto não funciona bem"
"Há que salvar a terra", está escrito no Unimog de Alberto. "Toma la calle" - Ocupa a rua - é outro dos cartazes que decoram o camião.
Anxo une-se à conversa. É de Vigo. Fica entusiasmado quando descrevemos a sua cidade. E muito agradado com a memória da Livraria Cervantes, com os seus dois andares de estantes e escadas de madeira. "Lá está, lá está", corrobora.
Tem 26 anos, sobrevive com "ganchos" como realizador de vídeos. "Todos estamos conscientes de que isto não funciona bem", diz Anxo, que em galego significa "anjo". Isto é tudo. "A corrupção, a economia, a justiça...", enumera, deixando em suspenso uma lista de nunca acabar.
Soam buzinas. Há aplausos. Chega a coluna. "Sou o dr. Ramón Murria, preciso de uma maca para atender as pessoas." Murria, médico de Avilês, 54 anos, pede por telemóvel uma maca à Cruz Vermelha.
Na mala do Honda Accord, há medicamentos, utensílios para pequena cirurgia, e quilómetros de rolos de gaze. "Por onde passávamos, os colegas dos hospitais davam-me medicamentos, tive que recusar, porque já não cabiam", relata. "Até a Guardia Civil foi impecável." E começa o tratamento de lesões, um sem-número de ampolas, e a atenção mais cerrada às diarreias.
Ao lado começa a distribuição de sandes e aquece-se a água para uma salada de massa. Ao jantar, arroz com molho de tomate. Depois, o duche no pavilhão desportivo de
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