MARTINHO JÚNIOR
SADC O ÚNICO ESPAÇO COM COESÃO EM ÁFRICA
1 ) A única região africana que se mostrou coesa em relação ao caso da Líbia foi a SADC, que actuou principalmente pela via do Presidente Jacob Zuma, suportando a oportunidade para conversações perseguindo uma trilha de paz com vista a encontrar soluções em que se valorizasse o diálogo e se introduzisse por essa via o contexto democrático.
2 ) A SADC teve em Jean Ping, Presidente da Comissão da União Africana, toda a audiência, mas depois a posição de outros países africanos alinhando com o AFRICOM/OTAN sabotaram os esforços iniciais, o que significa dizer que em África os agentes das potências ocidentais proliferam ao Mais Alto Nível…
3 ) A CPLP não teve, nem podia ter coesão: Portugal teve uma posição completamente alinhada à AFRICOM/OTAN, Cabo Verde foi-lhe na esteira e o Brasil emergente mantém até hoje uma posição carregada de ambiguidades, aceitando estar presente na Conferência organizada por Sarkozy...
4 ) A Guiné Bissau, que é já o principal prejudicado no quadro da CPLP pela situação na Líbia, tem agido com um critério mais digno do que Cabo Verde: não se decidiu ainda ao reconhecimento do CNT, impediu o hastear da bandeira do rei Idris na Embaixada da Líbia em Bissau e mantém expectativa sem ter projectado ainda um pronunciamento conclusivo.
5 ) Desconhece-se a posição de São Tomé e Príncipe, mas é importante conhecê-la tendo em conta sua posição no Golfo da Guiné e o seu emparceiramento em matéria de petróleo com a Nigéria, que reconheceu o CNT da Líbia, apesar dos assassinatos de muitos nigerianos migrados na Líbia, às mãos dos "rebeldes" (para esses pobres africanos não há “direitos humanos” que os valha)...
6 ) A coesão da SADC pode marcar uma viragem nos contenciosos internos da União Africana, pois o peso dos países da África Austral e o seu critério, estão a ser exponenciais, até pelo exemplo que a organização deu em relação ao caso de Madagascar, um dos membros da SADC.
7 ) Essa coesão é um indicativo que os relacionamentos internos ao nível da SADC vão sair fortalecidos e a organização pode distanciar-se da União Africana (conforme Kiambata), o que me parece contraproducente, uma vez que os riscos de se repetirem sucessos análogos ao caso Líbia são evidentes em África e necessário se torna não dar mais espaço ao AFRICOM/OTAN motivado pela “Obama doctrine”.
8 ) Há uma incógnita no que diz respeito à SADC: que relacionamentos vão ser mantidos pela organização e seus componentes com o AFRICOM/OTAN, com os países Europeus com presença militar na Líbia e outros que suportaram a agressão militar?
9 ) Neste quadro que questionamentos se vão levantar entre Angola e Moçambique, por um lado e Portugal por outro, sabendo que os relacionamentos militares entre eles têm como referência mensagens a condizer com o AFRICOM/OTAN (os militares portugueses em Angola e Moçambique estão deliberadamente a compor o corpo dum “cavalo de Tróia” enquanto “mensageiros introdutórios” dos interesses do binómio AFRICOM/OTAN)!
10 ) Quanto à CPLP, com referência a este caso da Líbia, é uma “manta de retalhos” que está destinada a perder o seu crédito em termos de políticas coordenadas de relacionamento interno e da organização com exemplar coesão perante o mundo.
11 ) África quer paz e a presença do AFRICOM/OTAN, com o uso ou não de fantoches, é um risco que não reforça as vias de diálogo, da busca pela via pacífica de soluções para os conflitos, nem serve de garantia para manter o continente fora da presença de armas nucleares, pelo que é pertinente que a SADC assuma uma posição mais frontal em relação às ingerências externas das potências neo coloniais.
12 ) Tendo em conta as notícias que se referem a uma enorme coluna militar líbia, supostamente com Kadafi, que entrou no Níger e se dirige ao que se indica para o Burkina Faso, o “far west” pode atingir o coração do continente…
13 ) Angola e Moçambique têm a oportunidade de rever seus relacionamentos militares, sobretudo os bilaterais com Portugal e Israel!
14 ) Essa questão é tanto mais pertinente quanto o governo de turno em Portugal ter várias plataformas de influência que também se torna necessário rever.
15 ) É de realçar no caso da Líbia, o explosivo “cocktail” que constitui o CNT tendo em conta gente que teve ou tem ligações à Al Qaeda, o que enfraquece os argumentos do AFRICOM/OTAN: então esses “terroristas” combatem-se, ou são mais um reforço de fantoches-aliados?
16 ) África deve exigir, à boa maneira da activista Cinthya McKinney, o AFRICOM/OTAN fora do continente, inclusive e para começar fora da sua neo colónia, a Líbia sob a bandeira do velho fantoche que foi o Rei Idris!
Gravura e comentários:
Um “cartoon” apropriado (NOVO FAR WEST) – com Kadafi a ir por terra pela via do Níger em direcção ao Burkina Faso, poderá aumentar o prémio pela sua cabeça e por isso em relação a Blaise Campaoré ele que se cuide, não vá acontecer-lhe o mesmo que ao heróico Thomas Sankara!
*Esta Rapidinha surge na sequência da entrevista a Kiambata, um veterano da diplomacia angolana, transcrita aqui no Página Global.
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