segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

APONTAMENTOS DO LUBANGO “SÉCULO XXI” – I




Martinho Júnior, Luanda

Estive recentemente três dias na cidade do Lubango e do que pude constatar, sob o ponto de vista humano e ambiental, que para mim é essencial (até por que o Lubango é considerado duma pequena maravilha humana e da natureza), há motivos sérios para preocupações.

É bom chegar ao Lubango pela via que liga ao Namibe, a rodovia que vence a Leba, pois a cidade pode ser vista a partir dum plano elevado e desde logo é possível uma ampla radiografia do espaço físico-geográfico do seu casco urbano e periférico, bem como de sua inserção no planalto extenso e na multiplicidade de seus ambientes.

A imagem primeira que nos entra logo pela retina é a incompatibilidade duma paisagem característica do planalto de elevada altitude, onde os verdes perduram praticamente durante todo o ano, onde um ambiente natural privilegiado, com muita cobertura florestal, combina com correntes de ar que tocam as montanhas, onde micro climas tropicais de altitude e cadências de chuva doseadas pelas amplitudes térmicas se aproximam das temperaturas amenas, meio mediterrânicas, meio continentais, com o desregramento que existe na ocupação humana, que se aproxima dum verdadeiro caos.

A cidade em si não se pode queixar muito das contingências da guerra:

Quando da Operação Savanah realizada pelas SADF do regime do “apartheid”, a 23 e 24 de Outubro de 1975 a cidade sofreu alguns combates, junto ao aeroporto, uma zona de pouca ocupação na altura, entre as FAPLA e as tropas sob o comando de Jan Breytenbach.

As FAPLA, ao nível dum esquadrão, foram derrotadas e o seu comandante, Dak Doy foi morto em combate.

Os danos estruturais desse confronto bem localizado foram menores.

Durante a estadia dos sul africanos e depois da sua retirada, só pontualmente a cidade foi sacudida por outras operações militares, qualquer delas traumatizante:

- A 26 de Setembro de 1979 quatro aviões sul africanos Camberra bombardearam e destruíram por completo o complexo das Madeiras da Huila, causando um número elevado de mortos e feridos civis.

- A 28 de Outubro de 1979 unidades especiais das SADF actuaram na Serra da Leba e no túnel ferroviário do Humbi, objectivos próximos à cidade do Lubango, causando baixas civis e importantes estragos.

Desde então não houveram mais confrontos na cidade, nem sequer em função da actuação da guerrilha de Savimbi, pelo que o Lubango só sofreu efeitos indirectos e colaterais da guerra que se prolongaria até Fevereiro de 2002, ao contrário de outras cidades angolanas, entre elas o Huambo, Malange e Kuito.

No Lubango desde então para cá tem ocorrido um fenómeno que cada vez mais reflecte o impacto da arquitectura e a engenharia dum modelo de economia fomentada pelo capitalismo neo liberal, própria dos impactos da globalização que vão atingindo Angola, que fomentam assimetrias e desigualdades de todo o tipo e em toda a profundidade da sociedade.

Por essa razão foi-se incrementando a atracção duma importante massa de deserdados provenientes das áreas rurais, principalmente dos municípios mais distantes da Huila, que paulatinamente foram esvaziados sobretudo ao longo das duas últimas décadas.

Esses deserdados, uma parte substancial deles jovens, vieram animados por novas expectativas, emoções e aspirações, em busca de novas oportunidades, pois no Lubango manteve-se a tendência para a concentração de estruturas, infra estruturas e investimentos, ao contrário do que aconteceu nesses Municípios e Comunas rurais de suas origens.

Agora porém, é uma capital Provincial esgotada nas infra-estruturas básicas, como a água e a energia, que se nos deparou.

Para além do mais, muitos dos casebres foram instalados em áreas de risco: há mais de 5.000 famílias que correm perigo pois suas habitações foram instaladas em linhas de água que escorrem das montanhas e agora, em plena época das chuvas, não há capacidades suficientes para remover essas populações para melhor segurança.

As coisas estão de tal ordem que o actual governador, em nome da coerência e do pudor deliberou não se iluminar a cidade com as luzes de Natal, conforme às tradições!

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